Conversas por aí... Dia da Criança!

“E se as histórias para crianças passassem a ser de leitura obrigatória para os adultos? Seriam eles capazes de aprender realmente o que há tempo têm andado a ensinar?” (José Saramago – a Maior Flor do Mundo)

            Hoje, além da padroeira do Brasil, experimentamos o feriado com o apelido de Dia das Crianças. Claro que tínhamos a obrigação (obrigação?) de celebrar esta data... a das Crianças.

            Porém, em tempos de eleições, coisas estranhas referindo-se à este segmento (a infância) tem surgido de maneiras as mais estranhas, cibernéticas, algumas quase que intelectualizadas (em tese, inquestionáveis)... enfim, já não bastava o quanto que esta data (Dia das Crianças) há tempos se transformou numa expressiva e necessária programação de consumo (nem fala-se mais do ECA neste dia), mas a própria protagonista desta data – a criança – se tornou o próprio objeto de uso e consumo das mais diversas maneiras. Claro, por adultos.

Parece que a infeliz mania de achar que as crianças são o futuro, sempre o futuro (e, portanto, não tem presente e muito menos passado), legitimou o descambado caminho para o fútil... Mais do que isso, descambou para o violento.

Se não bastasse a hipocrisia da reles religiosa deste país (pra ficar apenas em nossas referências soberanas), de defender a vida quando suas instituições protegem, escondem, escamoteiam os inúmeros casos de pedofilia atrás da Sacristia...

Se não bastasse a confusão que se faz de um debate legal, necessário, importante para a saúde pública deste país (mulheres pobres fazem aborto em risco, mulheres ricas fazem aborto com segurança e... sem risco à saúde. Aff!)...

Se não bastasse transformarmos cada vez mais os sonhos de nossa infância em fetiches, em consumo exacerbado, em individualismos na mais tenra idade...

Se não bastasse tudo isso, nas últimas semanas, em conversas por aí, na internet, descobri uma nova expressão de bullying... o bullying político!

Uma criança cujos pais votaram, no primeiro turno, em Dilma e Mercadante (ou seja, nas terrinhas paulistas) chega na escola um dia após o primeiro turno. Suas amiguinhas (sic!) a cercam, palavras duras, violência nos olhares, nos gestos, um soco e um pontapé, a pressão em torno dela... “Sua mãe votou numa mulher que mata criancinhas” era a frase central, principal, vociferada aos ouvidos de uma criança em seus 9 anos de idade... Os pais destas “amiguinhas” votaram em Serra e Alkmin (a fala das crianças em questão, não há o que questionar, foi proferida pela esposa de José Serra, na semana que antecedeu o primeiro turno das eleições a presidente).

...

Hoje em dia, estamos mais próximos da rapidez das notícias, assim como mais próximos da rapidez dos boatos. E quando os boatos viram notícias e essas formam nossas crianças? Aliás, formam nossa juventude também...?

Sinto, pela primeira vez desde os bons tempos do ArcaMundo (antes de inauguramos o Universal Circo Crítico), uma triste e infeliz incapacidade... daquela que o nosso palhaço sente quando vê seu Circo pegar fogo.

Pela primeira vez, me ocorre a sensação de ceticismo... Em pleno Dia da Criança.

E isso ocorre não por falta de indignação e/ou esperança. Essas continuam, até porque uma não existe de fato sem a outra... perdeu a capacidade de indignar-se, não pode ser esperançosa. Perdeu a esperança, nada mais abala sua vida. Quanto a isso, acho que ainda resistimos revolucionariamente.

Mas basta um passeio rápido nos “youtubes” e até mesmo alguns blogs mundo afora (e nem precisa gastar dinheiro com a Veja, Folha, Estadão e essas porcarias que se autodenominam jornalismo) para realmente percebermos a fonte desta sensação... Poderíamos estar testemunhando um “anônimo bullying virtual”, com poucas possibilidades de darmos conta de invertermos essa triste realidade, justamente pela aparente virtualidade dela

Assim, resta-nos, ao Universal Circo Crítico, na sempre expressão de convites que ousamos fazer vez por outra, fazer mais um: diga não! E não apenas isso, mas comece por isso: Diga não! Não a toda e qualquer expressão de intolerância, de racismo, de xenofobia, de desrespeito... Mais ainda, não à hipocrisia! Essa, dura expressão característica da raça humana e, à bem da verdade, de uma parcelazinha conhecida e abastada da raça humana.

E que possamos, agora sim falando em futuro, construir algo mais digno para nossas crianças (já que estamos no dia delas, mas não apenas para elas)... José Saramago assim esperava...

Venham Todos!

Venham Todas!

Vida Longa!

Marcelo “Russo” Ferreira

PS.: O Universal Circo Crítico é crítico quanto ao Governo Lula, principalmente quanto às ações macro que concorrem à Política Nacional de Esporte – campo de atuação deste que escreve. Já dissemos aqui, nosso voto foi para Ivan Pinheiro (ainda que eu não tenha votado, pois estava fora de meu Colégio Eleitoral)... Neste segundo turno, tomamos partido contra o nazi-facismo explícito, contra a propaganda política suja e baixa, contra o PIG (Partido da Imprensa Golpista): Dilma Presidente!