RESPEITÁVEL PÚBLICO!

VENHAM TODOS! VENHAM TODAS!

domingo, 17 de agosto de 2008

O Universal Circo Crítico... carta a um(a) amigo(a)...

“Meu caro amigo me perdoe por favor,

se não lhe faço uma visita.

Mas como agora apareceu um portador,

mando notícias nesta fita”


(“Meu Caro Amigo” – Chico Buarque e Francis Hime)
Belém, 17 de agosto de 2008.
Olá, meu/minha velho/a amigo/a. Quanto tempo!
Pois é... mesmo eu tendo lhe escrito em janeiro (http://www.arcamundo.blogspot.com/), e tu tendo me respondido, demoro novamente a lhe responder. Mas isso vai se ajustando com o tempo.
Como sempre, espero que esta o/a encontre bem, assim como os seus... Suas últimas notícias e fotos (não só as suas) mostram que o tempo não lhe fez mal, muito pelo contrário. Lhe trouxe beleza e um ar de maturidade e sabedoria fantástico.
Bom, como podes perceber no cabeçalho, vim para o Norte, vim para o Pará... até escrevi sobre essas bandas e o que eu vou ter que aprender por aqui, no Universal Circo Crítico que, sei bem, já visitaste. Aqui, como açaí dia sim, o outro também. Já experimente a tremedeira dos lábios e da língua uma tuia de vezes comendo jambú... Como tenho lá minhas raízes paulistanas, experimentei-o também na pizza. Já conheci o Ver-o-peso e o Ver-o-Rio, o Mangar das Garças, Icoaraci e, claro, as casas dos muitos amigos que temos por aqui.
Em Belém, onde moro a cerca de dois meses, coisas interessantes para reaprender: dirigir aqui me fez resgatar todas as manias de “direção defensiva”, e duplamente. Em Brasília, eu reclamava da falta de gente nas ruas, aqui, passo a ter cuidado com elas o tempo todo, gente a pé ou de bicicleta. Interessante isso, pois mostra como realmente o mundo estabelece realmente, em todas as formas de relação (o trânsito, por exemplo) uma relação de poder. Em alguns lugares, é mais pedestre e bicicleta do que carro e a impressão é que, de um lado, os primeiros são um bando de kamikazes e o segundo com um medo danado de fazer uma besteira. É verdade que, vez em quando, é o contrário. Mas, veja se não é realmente interessante: em Brasília, que tem uma cultura interessante de grupos de camelos (como chamam bicicleta lá) e acidentes/atropelamentos a toda hora. Isso com toda uma cultura, o movimento “Rodas pela Paz” e coisa e tal e, aqui em Belém, é uma cultura de ter a bicicleta como meio de transporte, diferente de Brasília. Ainda pretendo observar melhor isso.
Tem também a volta a convivência com vizinhos, coisa que literalmente não existia em Brasília, haja vista os muros altos e a mania de aquele povo (principalmente no Plano Piloto) de se esconder em seu mundo-residência. E, incrível, já convivo com aquelas coisas de “vizinho-boa praça” e “vizinho enjoado”... Mas, no geral, eles só reclamaram de Kaia, Hércules e Janis (lembra deles, meus cachorros?) porque latiam... Sei lá, de repente queriam que eles miassem... Mas, por outro lado, as faces dos valores capitalistas se mostram também na relação com vizinhos. Sabe aquela sensação de estranhamento, do tipo: de onde vem a postura “não fui com a sua cara?”. Será que é porque ainda tenho cabelos compridos? Ou porque tenho cachorros grandes (caramba! O Hércules é boa praça p’ra caramba!). Mas é realmente estranha essa sensação de ter vizinho com muros baixos separando nossas casas e não conseguir trocar um “Bom dia”, “Boa tarde”, “Boa noite”... é claro que não são todos...
As aulas na UFPA iniciam-se essa semana e estou contando os dias... Fiz umas propostas de mudança na disciplina de Prática de Ensino, que é a disciplina à qual fui aprovado em concurso e irei ministrar já a partir deste semestre (nem falei direito sobre isso... Pois é, agora sou professor na UFPA). Já conheci Castanhal, o Campus onde ministrarei as minhas aulas de Prática de Ensino e, claro, Políticas Públicas em Educação Física, Esporte e Lazer... acho que foi um pouco da herança dos cinco anos em Brasília e os quase três em Recife. Mais uma pequena mudança em meus ares de educador, já que sempre trabalhei ou com crianças ou com jovens agentes sociais (nem sempre estudantes ou professores) e com outra forma de sistematização. Quem sabe a gente não troque umas cartas falando sobre nossas experiências profissionais.
Ah! Tem uma coisa super-interessante no Pará. A dois dias, dia 15 é feriado no Estado. E por que é interessante? Porque trata-se do “Dia da Adesão do Pará à Independência” que, prometo, vou estudar um pouco mais para te falar em breve sobre essa história. O que eu sei é que há quem diga que a data correta é dia 11, quando os ingleses deram a posse do Pará à membros da corte imperial... ou algo assim.
No mais, continuo caminhando e cantando hehehe... O violão vem resgatando coisas importantes na minha memória de compositor (que ainda não re-apareceu), bem como algumas brincadeiras musicais interessantes. Mais novos amigos, outros que deram as caras novamente (coisas de orkut), e outros/as tantos/as que, ele de novo, mostram sua essência a partir de relações de poder, como sempre, o velho poder... queres conhecer o homem...”. Mas como é rico esse negócio de amizade, né? Aliás, sem ela, nem estaria te escrevendo.
Também continuo me deparando com os lutadores e lutadoras do povo, bem como com os ódios profundos que tantos mundo afora têm por eles... Ah! E até com “vizinhos” a gente aprende que a luta é realmente profunda e permanente. Também continuo percebendo as meias palavras, palavras oportunas, alpinistas de todo o tipo, públicos ou não. Das minhas incoerências, conforme comentei em minha última carta, já as venho identificando-as como contradições, e isso realmente é muito bom.
Bom, meu/minha bom/boa e velho/velha amigo/a... O mais importante é que volto a escrever-lhe e quero te dizer que fiquei realmente feliz com sua resposta, torcendo que tu perdoe este velho amigo pela demora, mais uma vez... Está sendo um ano de muitas mudanças, ainda bem que a grande maioria delas tem sido “grandes mudanças”. Lembro que recordaste, em sua resposta, o quanto que trocávamos correspondência outrora e o quanto que curtíamos isso... Como disse naquela oportunidade, escrever para as pessoas, para os amigos... isso é muito bom. Pois são nossas notícias que também continuam falando da gente, não é mesmo?
Por fim, lembre-se, caro/a amigo/a: continuo no mesmo lado da trincheira, continuo tentando arregimentar novos e velhos lutadores, continuo com minha boa sina de trabalhar com formação... E, mais ainda, continuo aprendendo... sempre.
Vida Longa, caro amigo...
Vida Longa, cara amiga...
Marcelo “Russo” Ferreira
Obs.: Essa é uma carta... só uma carta. Guarde-a no melhor lugar que merecer.

Venham todos! Venham todas!

4 comentários:

  1. Curto essa sua sensibilidade de conhecer sem pré - conceitos o que a vida lhe trás de novo. É uma tamanha curiosidade, aquela que as crianças nunca perdem, que faz a gente buscar a percepção de algo que cotidianamente está diante de nossos olhos, mas insistimos em não ver. Se a maré estiver forte demais, não tem nada melhor que um (a) bom (a) e velho(a) amigo(a). Não para jogar a bóia e tirá-lo da água, mas para dar-lhe energia e apoio para novas e fortes braçadas. BJ e até o sarau. Zaira

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  2. Olha, fico muita orgulhosa de ler seu blog,e aprender muita coisa que pouquissímas vezes a gente nem percebe, por exemplo, a bela Belém,é legal percebe-la pelos olhos de quem ainda a desconhece, tu estás fazendo isso...de forma detalhada...e percebo q tbm não conheço..rsrs.Engraçado isso não é?Outro orgulho é saber q meus amigos estão muitos inspirados poeticamente,li o comentário da Zaira , achei um "moust"...irei lê-los mais, pra ver se aprendo com vcs a fazer belas poesias..rsrs,bjs pra vcs!!!
    Joselene

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  3. Mano querido, grata pela poética carta, por vezes percebi minha alegria e leve sorriso no rosto (de encantamento, creio, por ser 'transportada' para o teu espaço de maneira tao tranqüila...
    Om Tare!

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  4. Marcelo
    A tecnologia nos aproxima no mundo virtual de pessoas que estao longe da gente no plano geografico. Mas como é bom contar com o amigo que se encontra no mesmo lugar que a gente. Nos encontra no mesmo lado da trincheira, mas tao longe geograficamente. Que bom ver voce contando sobre as relaçoes de vizinhança, sinto me privilegiada por poder conviver com visinhos a tanto tempo e compartilhar coisas da vida que vai além de pedir um copo de açucar. Mas como nao tenho como te pedir um copo de açucar, fico muito feliz de ouvir suas palavras e pode pedir que continue poetizando a vida, e nos fazendo acreditar que podemos contar com as pessoas nesse mundo tao egoista.
    Abrejos plagiando voce. Do alto do cerrado Renata

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O Universal Circo Crítico abre seu picadeiro e agradece tê-lo/a em nosso público.
Espero que aprecie o espetáculo, livre, popular, revolucionário, brincante...! E grato fico pelo seu comentário...
Ah! Não se esqueça de assinar, ok?
Vida Longa!
Marcelo "Russo" Ferreira