Às vezes fico pensando como é possível inspirar-se para estudar, compor, ler, poetizar, pensar em projetos de vida, de mundo, de sociedade, aos domingos...
E não estou pensando sob o ponto de vista de o domingo ter uma relação direta com a preguiça, o descanso, a família e demais conflitos de “sem compromisso” X “é compromisso” da vida privada moderna. Não, falo (de novo) sob o ponto de vista daquilo que os domingos nos oferecem.
Por um lado, é “Vídeo cassetada” espalhado a torto e a direito e vídeos sobre bichos (ai que saudade do “Mundo Animal”, que passava na televisão lá longe, na minha infância) comentados com o absoluto olhar civilizado. Quadros até interessantes, mas sempre apresentados com o mais grotesco ar de humor, típico da TV brasileira, principalmente a de platéia... Prêmios, viagens de “volta às origens”, a história daquela campanha de “paguem meus impostos” da Globo, como era o nome mesmo??? Hum... sim... Criança Esperança! Fausto Silva, Silvio Santos (quantos anos esse cara tem????), Gugu Liberato, Tom... E o mais interessante é que é um mundo de gente que fala “são todos chatos”, que não agüentam mais ouvir suas vozes e coisa e tal. E, para nós, pobres mortais do NO e NE (acho que os gaúchos irão concordar comigo também), é aquele sotaque que parece que tem que ser nacionalizado e, quando não, tratado sempre pejorativamente.
Ah! E tem o futebol... Globo, Record e Bandeirantes. Pelo menos este final de semana não tivemos que agüentar Luciano do Vale e Galvão Bueno (ufa!) que, dizem as más (?) línguas, dão um azar danado quando narram jogo importante. Mas, há anos o espírito da transmissão de jogos nas telinhas brasileiras é transmitir jogos das “grandes torcidas”. Ta, os jogos do Corinthians, na Série B, não estão sendo transmitidos. Mas os programas jornalísticos-esportivos só falam de seu breve retorno à série A... desde a primeira partida do Brasileiro da Série B.
E os programas/matérias que adoram mostrar a vida (dor) alheia? Microfones agindo quase que como armas, invasoras das particularidades humanas, mas aceitos quase que solicitando “me mostra, mostrem minhas lágrimas e meu sofrimento”, porque aprenderam que isso é bom... Quem dá mais? Quem dá mais?
Por que não é mais comum darmos aos domingos a atenção de viver plenitunamente aquela sensação de “Direito à Preguiça” de Paul Lafargue? Por que parece cada vez mais difícil vislumbrarmos a possibilidade de os nossos domingos (não apenas, claro) serem verdadeiramente momentos de livre criação e, sim, crítica e criativa?
Digam-se: quando foi a última vez que fostes a um sarau de poesia, música e infinitas viagens literárias? Faça um na sua casa...
Digam-se: quando foi a última vez que fostes conhecer um lugar novo, diferente... um museu, uma paisagem, um parque, uma praça?
Digam-se: quando foi a última vez que colocastes aquela música para ESCUTAR! Eu disse, para ESCUTAR, não para preencher um vazio sonoro ou, pior ainda, para vencer a música do vizinho?
Digam-se: quando foi a última vez que arrumaste suas fotos? Ou as cartas que guardamos (já que guardamos)?
Digam-se: quando foi a última vez que pegaste o telefone e telefonaste para alguém para “E aí? Tudo bem?... Pois é, liguei para saber da vida...”. Dizem que, aos domingos, a ligação é metade do preço.
Digam-se: quando foi a última vez que pegastes um livro para ler, ler, ler... Se tens cachorros (como eu), sentas-te ao lado deles e ler... ler... ler...
Digam-se: quando foi a última vez que pegaste seu violão, seu cavaquinho, seu pandeiro, seus metais, seu berimbau, seu agogô, seu teclado (ou sentaste em frente ao seu piano), seu acordeom para simplesmente apreciá-lo, colocá-lo à viagens novas, criativas, diferentes...
Digam-se: quando foi a última vez que pegastes um papel em branco, uma tela, um pano velho e passasse a colori-los, a rabiscá-los, e “desdenhá-los” sem pressa de acabar, sem idéia do que virá?
Digam-se... quando foi a última vez que olhaste para o mundo e pensaste: “Precisa ser diferente! Precisa ser ludicamente diferente!”...?
Venham todos... venham todos...
Vida Longa!
Marcelo “Russo” Ferreira
P.S.: Ontem foi domingo... deu uma preguiiiiiiça!
ótimo texto, e nada melhor q passar o domingo preguiçosamente lendo na rede junto com Pit Pitoca..seus cães já aprenderam, a dormir na rede com vc?...rs abraços Heliana
ResponderExcluirGostei do texto Marcelo,na Cuncast podemos levantar a bandeira: "Contra a ditadura da televisão!" hahaha...
ResponderExcluirEm busca de tranformar uma realidade!
Marcos Alcantara.