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quinta-feira, 3 de setembro de 2020

Ah, se Fôssemos uma empresa... (a Universidade)

Se a Universidade fosse uma empresa...



... certamente muitos dos alunos que hoje vivem nesta universidade não estariam nela... mesmo em tempos de pandemia e de desmotivação que este período vem causando.

... bem possivelmente, o orgulho de dizer “sou da UFPA” (por exemplo) seria diferente, porque se fosse uma empresa, só estaria estudando nela pagando uma gorda mensalidade... e ainda faria propaganda de graça para a empresa.

... não duvida-se que o ensino seria cada vez mais “à distância”, pois sendo uma empresa, diminuir custos não seria uma mera questão de “boa gestão”... mas, pelo contrário, de gestão de lucros.

... os docentes? Ah, se fôssemos uma empresa, o processo seletivo talvez fosse menos transparente. Acho até que alguns achariam, também, menos “desgastante”, bastando uns bons vídeos de ‘como se comportar em entrevistas” e respondendo o que querem ouvir – não a sua opinião concreta e verdadeira – para se prepararem.

... ProfessorAs (isso, AS professoras) certamente seriam em menor número... Negras, indígenas, LGBTQI+ então, não teriam as mesmas condições de disputar uma vaga docente. Podem até dizer “os tempos são outros”... mas todos os dias os exemplos de todas as formas de segregação, opressão, violência e discriminação por gênero, raça e orientação sexual saltam à nossa frente, e não são “casos isolados”... é estrutural.

... e a pesquisa? Se fôssemos uma empresa, que pesquisas essa universidade desenvolveria? Identidade do Professor? Estudos Feministas... ou Marxistas? Hanseníase nos rincões perdidos mundo afora? Síndrome de Burnout? Idosos... alguns até teriam chance: se valessem a pena do ponto de vista “o que a empresa ganha com isso?”... mesmo que apenas na “boa imagem” (em tempos de “Solidariedade S.A.” talvez rolasse), um marketing bacana. Que pena depender de marketing para pesquisas tão importantes.

... e os/as pesquisadores/as? Ah, não é apenas a “pesquisa” que interessaria ou não à “empresa”... não duvido nada, mas certamente, a empresa diria: “queres pesquisar? Fique a vontade... mas fora do seu horário de trabalho”... e, portanto, fora da folha de pagamento.

Aulas?

Olha, te aguenta, porque (para ser bonzinho) a empresa colocaria 80 alunos/as na sua sala... por baixo. Mas tudo bem, porque se fôssemos uma empresa, já teríamos “robôs” para corrigir provas e o seu papel docente seria algo como “tutor”... nome bonito para aquela pessoa que aperta o play da vídeo-aula do dia (ou da noite).

– Mas eu vou ser o autor da vídeo-aula!!!! (dirá, feliz, o docente da empresa).

– É... legal... apois... então te joga (Strovézio)

– Salve Strovézio... quanto tempo, não?

– Tava numas palhaçadas remotas aqui, resolvi não seguir.

– Apois...

 


Ah... e se fôssemos uma empresa, seria melhor se acostumar com o “elogio reverso”. Saca, aquele lance de “você é bom demais para nós”? Típico das empresas que já conhecemos, neste ramo do mercado educacional do ensino superior (igual aos demais) que demitem doutores e contratam animados e entusiasmados recém-formados para dar aula? Claro, não coloco em dúvida ou em xeque a disposição e disciplina destes últimos... mas a intenção da empresa e o quanto ela quer investir (e lucrar) em seu quadro docente.

Aliás, se fôssemos uma empresa, teríamos a possibilidade de “escolher” entre dois ou três patrões no máximo... e nenhum destes patrões entende de Educação e Pesquisa... Só de mercado financeiro, especulação, gestão de lucros... Kroton, BR Investimentos, GP Investimentos, seus verdadeiros nomes.

Então... se fôssemos uma empresa, tudo que docentes pesquisadores poderiam ficar desencanados, despreocupados seria, justamente, sobre educação e pesquisa.

Se fôssemos uma empresa? Nada de reunião de docentes em colegiado... nada de assembleia de estudantes... pode esquecer. Teria lá um “ombudsman”, que é tipo “sindicato que combina com o patrão primeiro”.

Liberdade de cátedra? De associação institucional?

Direito a participar de eventos científicos? Oras... se hoje já pagamos, olha, não duvido nada você ter que pagar à empresa pelas horas que ficarás fora nestes eventos, visse?

Se fôssemos uma empresa...

Docentes demitidos ou perseguidos por ousarem serem “cientistas mulheres”... Isso mesmo: se em concursos públicos as cientistas mulheres precisa “enfrentar” bancas machistas, colonizadores e o escambal.. porque se fôssemos uma empresa, “cientistas mulheres” são perigosas demais. O padrão “30%” já está mais do que suficiente para ela.



E também seriam (seríamos) demitidos por ousarem serem “críticos”... por ousarem em inscrever-se em associações que vão na contramão do que o “dono da empresa” determina. Tipo uma Havan do mercado educacional.

Aff...

Como se nós tivéssemos (com algumas “tradicionais” e parciais e muito ímpares exceções) exemplos de um desenvolvimento comprometido com a melhoria da qualidade de vida da população vindo das instituições privadas de ensino superior

Ah, se fôssemos uma empresa...

O problema não é o público, em si... não é a Instituição do estado (que está no olho do furacão do acordo imprensa-governo sobre a reforma administrativa e sua métrica de mão única) que incomoda o “ah, se fôssemos uma empresa”.

É a vontade de mais poder que orienta esse lamento geral liberal de “pena não sermos uma empresa”.

A luta realmente não é fácil, quando ela precisa ser travada também dentro da instituição que defendemos.

Mas não seremos derrotados pelos desejos escondidos do capital educacional... e nem do Capital mundial.

A Luta é dura... mas ainda vale a pena!

 


Venham Todos!

Venham Todas! 


PS. Imagens captados na boa e velha pesquisa no Google.

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