Se a Universidade fosse uma empresa...
... certamente muitos dos alunos que
hoje vivem nesta universidade não estariam nela... mesmo em tempos de pandemia
e de desmotivação que este período vem causando.
... bem possivelmente, o orgulho de
dizer “sou da UFPA” (por exemplo) seria diferente, porque se fosse uma empresa,
só estaria estudando nela pagando uma gorda mensalidade... e ainda faria
propaganda de graça para a empresa.
... não duvida-se que o ensino seria
cada vez mais “à distância”, pois sendo uma empresa, diminuir custos não seria
uma mera questão de “boa gestão”... mas, pelo contrário, de gestão de lucros.
... os docentes? Ah, se fôssemos uma
empresa, o processo seletivo talvez fosse menos transparente. Acho até que
alguns achariam, também, menos “desgastante”, bastando uns bons vídeos de ‘como
se comportar em entrevistas” e respondendo o que querem ouvir – não a sua
opinião concreta e verdadeira – para se prepararem.
... ProfessorAs (isso, AS professoras)
certamente seriam em menor número... Negras, indígenas, LGBTQI+ então, não
teriam as mesmas condições de disputar uma vaga docente. Podem até dizer “os
tempos são outros”... mas todos os dias os exemplos de todas as formas de
segregação, opressão, violência e discriminação por gênero, raça e orientação
sexual saltam à nossa frente, e não são “casos isolados”... é estrutural.
... e a pesquisa? Se fôssemos uma
empresa, que pesquisas essa universidade desenvolveria? Identidade do
Professor? Estudos Feministas... ou Marxistas? Hanseníase nos rincões perdidos
mundo afora? Síndrome de Burnout? Idosos... alguns até teriam chance: se
valessem a pena do ponto de vista “o que a empresa ganha com isso?”... mesmo
que apenas na “boa imagem” (em tempos de “Solidariedade S.A.” talvez rolasse),
um marketing bacana. Que pena depender de marketing para pesquisas tão
importantes.
... e os/as pesquisadores/as? Ah, não é
apenas a “pesquisa” que interessaria ou não à “empresa”... não duvido nada, mas
certamente, a empresa diria: “queres pesquisar? Fique a vontade... mas fora do
seu horário de trabalho”... e, portanto, fora da folha de pagamento.
Aulas?
Olha, te aguenta, porque (para ser
bonzinho) a empresa colocaria 80 alunos/as na sua sala... por baixo. Mas tudo
bem, porque se fôssemos uma empresa, já teríamos “robôs” para corrigir provas e
o seu papel docente seria algo como “tutor”... nome bonito para aquela pessoa
que aperta o play da vídeo-aula do dia (ou da noite).
– Mas
eu vou ser o autor da vídeo-aula!!!! (dirá, feliz, o docente da empresa).
– É...
legal... apois... então te joga (Strovézio)
– Salve
Strovézio... quanto tempo, não?
– Tava
numas palhaçadas remotas aqui, resolvi não seguir.
– Apois...
Ah... e
se fôssemos uma empresa, seria melhor se acostumar com o “elogio reverso”.
Saca, aquele lance de “você é bom demais para nós”? Típico das empresas que já
conhecemos, neste ramo do mercado educacional do ensino superior (igual aos
demais) que demitem doutores e contratam animados e entusiasmados
recém-formados para dar aula? Claro, não coloco em dúvida ou em xeque a
disposição e disciplina destes últimos... mas a intenção da empresa e o quanto
ela quer investir (e lucrar) em seu quadro docente.
Aliás,
se fôssemos uma empresa, teríamos a possibilidade de “escolher” entre dois ou
três patrões no máximo... e nenhum destes patrões entende de Educação e
Pesquisa... Só de mercado financeiro, especulação, gestão de lucros... Kroton,
BR Investimentos, GP Investimentos, seus verdadeiros nomes.
Então...
se fôssemos uma empresa, tudo que docentes pesquisadores poderiam ficar
desencanados, despreocupados seria, justamente, sobre educação e pesquisa.
Se
fôssemos uma empresa? Nada de reunião de docentes em colegiado... nada de
assembleia de estudantes... pode esquecer. Teria lá um “ombudsman”, que é tipo “sindicato
que combina com o patrão primeiro”.
Liberdade
de cátedra? De associação institucional?
Direito
a participar de eventos científicos? Oras... se hoje já pagamos, olha, não
duvido nada você ter que pagar à empresa pelas horas que ficarás fora nestes
eventos, visse?
Se
fôssemos uma empresa...
Docentes
demitidos ou perseguidos por ousarem serem “cientistas mulheres”... Isso mesmo:
se em concursos públicos as cientistas mulheres precisa “enfrentar” bancas machistas,
colonizadores e o escambal.. porque se fôssemos uma empresa, “cientistas
mulheres” são perigosas demais. O padrão “30%” já está mais do que suficiente para
ela.
E
também seriam (seríamos) demitidos por ousarem serem “críticos”... por ousarem
em inscrever-se em associações que vão na contramão do que o “dono da empresa”
determina. Tipo uma Havan do mercado educacional.
Aff...
Como se
nós tivéssemos (com algumas “tradicionais” e parciais e muito ímpares exceções)
exemplos de um desenvolvimento comprometido com a melhoria da qualidade de vida
da população vindo das instituições privadas de ensino superior
Ah, se
fôssemos uma empresa...
O
problema não é o público, em si... não é a Instituição do estado (que está no
olho do furacão do acordo imprensa-governo sobre a reforma administrativa e sua
métrica de mão única) que incomoda o “ah, se fôssemos uma empresa”.
É a
vontade de mais poder que orienta esse lamento geral liberal de “pena não
sermos uma empresa”.
A luta
realmente não é fácil, quando ela precisa ser travada também dentro da
instituição que defendemos.
Mas não
seremos derrotados pelos desejos escondidos do capital educacional... e nem do
Capital mundial.
A Luta
é dura... mas ainda vale a pena!
Venham Todos!
Venham Todas!
PS. Imagens captados na boa e velha pesquisa no Google.
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