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terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

Jacinta Passos... comunista, baiana... Mulher!

Capa do livro Canção da partida, de Jacinta Passos.
ilustração Lasar Segall



“Acabem com isto!
 Façam o sol parar!
 Predam Zebedeu
 esvaziem o mar!
 Meu Deus, que aflição!
 Fuzilem Maria,
 tapem o vulcão!”

(Pânico Burguês/1951
 – Jacinta Passos).





A poesia é algo entre o misterioso e o inimaginável, com incontáveis outros temperes envolvidos.
Às vezes, pelas andanças das cordas de meu violão, quando consegui expressar ideias, vontades, esperanças, amor em canções como “O Menino e o Palhaço” ou, dantes, “Os Sinos de Londres” (letras já divididas por este picadeiro de terra batida ou ainda nos tempos do fantástico ArcaMundo), me perguntava “como essas palavras se organizam em minha cabeça? Como as transformo em música? E por que essas músicas, essas melodias?”.
Em um país como o nosso, e em tempos como estes, palavras escritas com tantos detalhes e contextos (sim, nossas canções tentavam ser assim) parecem, à bem da verdade, não fazer tanto sentido assim.
Hoje, penso nisso neste picadeiro...
Todas as conversas ao pé de ouvido que tivemos e ainda teremos...
Todas as despedidas...
Todas nossas pequenas viagens sobre o contexto de assombro e vigilância que cada vez mais se fazem presente – com o cada vez mais ainda silêncio das panelas e camisas amarelas...
Todas as relações humanas que, parecem, insistem em vigiar qualquer semente de “amor a humanidade” que queira brotar e vencer a secura de nossos corações... inclusive as sementes em terras de corações revolucionários...

E particularmente, nestes tempos destes dias de Carnaval – que também tem lá suas várias faces de resistência sendo oprimidas, ou pela força, ou pelo silêncio – lembrei-me de uma baiana...
Uma comunista...
Uma Mulher...
Ela não deverá, tão cedo, ser enredo de Escola de Samba...

Seu nome: Jacinta Passos!



Jacinta Passos “chegou” em minha história ainda no ano passado, em minhas várias pesquisas particulares sobre a história de Lutadores e Lutadoras do Povo.
E, na busca por sua literatura, encontro este pequeno livro de poemas, em um sebo. Sensível pelo corroer do tempo, assim como as palavras que dançam e se comungam em suas páginas: Poemas Políticos.



Novamente falando de tempos como os que vivemos, não parece-me demorar muito os dias em que livros como estes, com “títulos como estes” serão “perseguidos” e jogados na fogueira.
É... preciso prevenir-me...

Jacinta Passos nasceu em 1914, em Cruz das Almas, Recôncavo Baiano. E despediu-se em 28 de fevereiro de 1973.
Por isso... neste 28 de fevereiro, nossa humilde homenagem a esta Mulher...
Comunista...
Baiana...

Seus últimos anos de militância e poesia enfrentaram as portas que se abriam para a Ditadura Militar (civil, empresarial, midiática e de reconhecida intervenção norte-americana). Mas a levaram períodos “findouros” de ausência de memória e pobreza.
 
http://jacintapassos.com.br/album-de-fotos/ 

Quando conheci a obra de Jacinta Passos, foi como aprender novamente o valor da poesia na Luta e o quanto elas são mais sublimes e verdadeiras.

O Universal Circo Crítico “reabre” as portas neste ano de 2017.
Com a “Canção Simples” de Jacinta Passos...
Com sua poesia, com sua luta, com suas lições.

Lições de uma Baiana...
Lições de uma Comunista...
Lições de uma Mulher que dava vida às palavras “Lutadora do Povo”...

“A Flor caída no rio
 que a leva para onde quer
 sabia disso e caiu,
 seu destino é ser mulher.

 Leva tudo e segue em frente,
 amor de homem é tufão,
 o de mulher é semente
 que o vento enterrou no chão.

 Mulher que tudo já deu,
 homem que tudo tomou,
 é mulher que se perdeu,
 é homem que conquistou.

 Mulher virgem, condição
 para homem dar – nobre gesto –
 resto duma divisão
 se a divisão deixou resto.

 No sangue, honra é lavada
 de homem que mulher engana,
 mulher que vive enganada
 coitado! fraqueza humana.

 A flor caída no rio
 que a leva para onde quer,
 sabia disso e caiu,
 seu destino é ser mulher”

Sim... a burguesia também teme a poesia!


            Venham Todos!
Venham Todas!

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Espero que aprecie o espetáculo, livre, popular, revolucionário, brincante...! E grato fico pelo seu comentário...
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Vida Longa!
Marcelo "Russo" Ferreira