Capa do livro Canção da partida, de Jacinta Passos. ilustração Lasar Segall |
“Acabem
com isto!
Façam o sol parar!
Predam Zebedeu
esvaziem o mar!
Meu Deus, que aflição!
Fuzilem Maria,
tapem o vulcão!”
(Pânico Burguês/1951
– Jacinta
Passos).
A poesia
é algo entre o misterioso e o inimaginável, com incontáveis outros temperes
envolvidos.
Às vezes,
pelas andanças das cordas de meu violão, quando consegui expressar ideias,
vontades, esperanças, amor em canções como “O Menino e o Palhaço” ou, dantes, “Os
Sinos de Londres” (letras já divididas por este picadeiro de terra batida ou
ainda nos tempos do fantástico ArcaMundo), me perguntava “como essas palavras se organizam em minha cabeça? Como as transformo
em música? E por que essas músicas, essas melodias?”.
Em um
país como o nosso, e em tempos como estes, palavras escritas com tantos
detalhes e contextos (sim, nossas canções tentavam ser assim) parecem, à bem da
verdade, não fazer tanto sentido assim.
Hoje,
penso nisso neste picadeiro...
Todas as
conversas ao pé de ouvido que tivemos e ainda teremos...
Todas as
despedidas...
Todas
nossas pequenas viagens sobre o contexto de assombro e vigilância que cada vez
mais se fazem presente – com o cada vez mais ainda silêncio das panelas e
camisas amarelas...
Todas as
relações humanas que, parecem, insistem em vigiar qualquer semente de “amor a
humanidade” que queira brotar e vencer a secura de nossos corações... inclusive
as sementes em terras de corações revolucionários...
E
particularmente, nestes tempos destes dias de Carnaval – que também tem lá suas
várias faces de resistência sendo oprimidas, ou pela força, ou pelo silêncio –
lembrei-me de uma baiana...
Uma
comunista...
Uma Mulher...
Ela não
deverá, tão cedo, ser enredo de Escola de Samba...
Seu
nome: Jacinta Passos!
Jacinta Passos
“chegou” em minha história ainda no ano passado, em minhas várias pesquisas
particulares sobre a história de Lutadores e Lutadoras do Povo.
E, na
busca por sua literatura, encontro este pequeno livro de poemas, em um sebo.
Sensível pelo corroer do tempo, assim como as palavras que dançam e se comungam
em suas páginas: Poemas Políticos.
Novamente
falando de tempos como os que vivemos, não parece-me demorar muito os dias em
que livros como estes, com “títulos como estes” serão “perseguidos” e jogados
na fogueira.
É...
preciso prevenir-me...
Jacinta Passos
nasceu em 1914, em Cruz das Almas, Recôncavo Baiano. E despediu-se em 28 de
fevereiro de 1973.
Por
isso... neste 28 de fevereiro, nossa humilde homenagem a esta Mulher...
Comunista...
Baiana...
Seus
últimos anos de militância e poesia enfrentaram as portas que se abriam para a
Ditadura Militar (civil, empresarial, midiática e de reconhecida intervenção norte-americana).
Mas a levaram períodos “findouros” de ausência de memória e pobreza.
Quando
conheci a obra de Jacinta Passos, foi como aprender novamente o valor da poesia
na Luta e o quanto elas são mais sublimes e verdadeiras.
O
Universal Circo Crítico “reabre” as portas neste ano de 2017.
Com a “Canção
Simples” de Jacinta Passos...
Com sua
poesia, com sua luta, com suas lições.
Lições
de uma Baiana...
Lições
de uma Comunista...
Lições
de uma Mulher que dava vida às palavras “Lutadora do Povo”...
“A Flor caída no rio
que a
leva para onde quer
sabia
disso e caiu,
seu
destino é ser mulher.
Leva
tudo e segue em frente,
amor de
homem é tufão,
o de
mulher é semente
que o
vento enterrou no chão.
Mulher
que tudo já deu,
homem
que tudo tomou,
é mulher
que se perdeu,
é homem
que conquistou.
Mulher
virgem, condição
para homem
dar – nobre gesto –
resto
duma divisão
se a
divisão deixou resto.
No
sangue, honra é lavada
de homem
que mulher engana,
mulher
que vive enganada
coitado!
fraqueza humana.
A flor
caída no rio
que a
leva para onde quer,
sabia
disso e caiu,
seu
destino é ser mulher”
Sim... a burguesia também teme a poesia!
Venham Todos!
Venham Todos!
Venham
Todas!
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O Universal Circo Crítico abre seu picadeiro e agradece tê-lo/a em nosso público.
Espero que aprecie o espetáculo, livre, popular, revolucionário, brincante...! E grato fico pelo seu comentário...
Ah! Não se esqueça de assinar, ok?
Vida Longa!
Marcelo "Russo" Ferreira