“Um pouco mais de sol – eu era brasa,
Um pouco
mais de azul – eu era além.
Para
atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao
menos eu permanecesse aquém...”
(Quase – Mario de Sá-Carneiro)
O
ambiente político (social, econômico, policial, midiático, jurídico e o
escambal) brasileiro hoje chega a um estado da arte tão complexo, que, claro,
para um picadeiro de terra batida e lona furada, até fica difícil acompanhar e
manifestar alguma coisa mais organizada.
Mesmo
com os nossos limites (e a atenção a nossa mania de prolixidade), mas com nosso
olhar atento, mesmo com o pouco alcance que este espaço tem (em meio a tantos
blogs sérios de um lado, e estúpidos – mas populares – de outro), ainda assim,
tentamos organizar um pouco nossas ideias.
O nosso
público é pequeno, também o sabemos. Mas é com ele quem dialogamos. Assim, a
ideia de pensarmos nossas reflexões em “Atos”, além da alusão ao perfil lúdico
deste blog, também é uma forma de ajustar nossas reflexões e, de repente, ter
nestes poucos uma possibilidade de ampliar o nosso público.
Ato I – O
Golpe:
O Golpe,
para nós que somos da Educação Física, é considerado – dentre outras
possibilidades – como aquele gesto construído em um particular domínio técnico,
muito próprio das Artes Marciais e, talvez também, da Capoeira. Mas, fiquemos
na primeira.
Trata-se,
no final ao cabo, de um ato específico e pontual de uma prática social,
construída em combate (acho que podemos usar este termo aqui, sem crise). Este
combate se dá de maneira direta e tática entre duas pessoas, no tatame, e que estabelecem
os caminhos para usufruir taticamente das possibilidades de aplicar um golpe.
Portanto,
um oponente, claro, é necessário. Ainda que nas artes marciais também existam
os “combates invisíveis” – o Kata – até este é construído se identificando a
“presença” do opositor. De qualquer maneira, entra-se no tatame para lutar COM
o outro.
Assim
entendido, o golpe não é artimanhoso.
O golpe
não é construído no escuro. Até o Kata é uma luta às claras.
O golpe
não é, principalmente, desonesto, desvirtuoso ou indigno. Quando o é, mesmo que
o “golpeador” saia vitorioso, fica desmoralizado perante o oponente e perante
aqueles que acompanham o combate.
Claro,
não somos ingênuos. Haverá próximo a este “golpeador” quem o admire e o tome
como modelo, como espelho do desejo daquilo que um dia pretende ser.
– Batedores
de Panela, usuários da camisa da CBF em atos contra a corrupção, defensores da
Intervenção Militar e outra tuia de gente... (Palhaço).
– Esses,
com certeza, Strovézio.
Mas,
para nós, o principal é que o Golpe pode existir... mas dentro destes limites.
Daí
nossa tese provocativa. Realmente, o que está acontecendo no atual cenário de
impeachment, NÃO É GOLPE... e não o é, porque o que está acontecendo não é
honesto, nem virtuoso, muito menos digno, o que dizer justo. O que está acontecendo é MUITO PIOR.
Claro,
não queremos aqui diminuir o tamanho das bandeiras que clamam “Não vai ter
Golpe!”. Não é o nosso caso, aqui.
Aqui, é
preciso registrar: não apoiamos este governo. O não o fazemos, não por conta do
blá-blá-blá do discurso hipócrita de estelionato eleitoral. Oras: se um
candidato se lança a tal, prometendo vida melhor a todos, e quando assume, só
privilegia parte (pequena) da sociedade, então, isso seria estelionato
eleitoral.
– Posso
explicar? (Palhaço)
– Diz
aí, Strovézio...
– “Se eu
for eleito, trabalharei para a melhoria da Educação, da Saúde e da Segurança
Pública. Essas serão minhas grandes prioridades. E também enfrentaremos o
desemprego que assola o nosso país!”
– Ok,
Strovézio... daí o cabra é eleito.. Que acontece?
– Na
Educação, abre as portas para a gestão privada, diminui o número de salas,
contrata professores ao invés de concurso público, arrocha os salários dos
professores, e DESVIA DINHEIRO DA MERENDA... Na saúde, privatiza os serviços de
primeiro atendimento, estabelece convênios com a Rede Privada de Saúde para
cobrança de taxas, arrocha os salários dos profissionais da saúde e desvia
dinheiro de ambulância e remédios... Na segurança pública, desce a porrada na
juventude negra, pobre, periférica... e avança da perda de direitos
trabalhistas.
– Isso
também é estelionato eleitoral. Tanto quanto dizer que irá defender os direitos
dos trabalhadores e ataca-los.
Pois
bom.
Somos
contra o governo porque, à bem da verdade, vem aplicando as mesmas políticas estilo
“Plano Temer”, “Plano Levy” (ops! Era Plano do Governo), “Plano Agenda Brasil”
do Senador Renan Calheiros, Plano MBL/#VemPraRua/RevoltadosOnLine... a única
diferença é a velocidade deste processo.
Entretanto,
já dissemos aqui, não estamos do lado destes oportunistas acima. Para nós,
expressam exatamente o antagônico do Projeto de Sociedade e de Humanidade que
acreditamos. Representam o que há de mais grotesco e perigoso nos fascistas que
estão saindo do armário.
O
Impeachment da Presidenta é para acabar com a corrupção?
Oras, me
poupem. Este discurso faz com que o Pai dos Burros tenha que rever o
significado da palavra hipocrisia, porque nem ela dá conta, hoje, de explicar
esta postura pra lá de oportunista.
O
Impeachment da Presidenta é para afastá-la do governo que está desorientado?
Que está levando o país a uma profunda crise econômica?
– Ó, Pai
dos Burros! Perdoem... eles não sabem o que estão fazendo com as palavras
hipocrisia e idiotice (Strovézio).
O
Golpe....
Poderíamos,
à luz do que dissemos no começo, dizer que quem está dando o golpe, tático,
observando o opositor no tatame, não é esta oposição oportunista. Arriscaria
dizer que é o próprio governo.
Nas
regras do tatame (as regras que os donos do tatame definiram), em combate COM
os Trabalhadores e seus direitos tomados, os Campesinos e sua Reforma Agrária
parada, os Indígenas e suas terras banhadas de sangue, os Professores e a Educação
Pública privatizando-se, os golpes estão sendo dados dia-a-dia, enquanto o
cenário midiático, jurídico, político, empresarial e o escambal vai fazendo
pior.
Mas no
tatame não existem golpistas.
E, sim,
não há dúvidas: o tal “impeachment” é meramente político. Política é poder e
quem o faz, se faz como golpista. Quando o golpe é dado pelas costas, com violência, com insanidade...
Mas
falamos apenas do Ato I...
O Ato
II? A farsa do Dominó...
Venham
Todos!
Venham
Todas!
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Espero que aprecie o espetáculo, livre, popular, revolucionário, brincante...! E grato fico pelo seu comentário...
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Marcelo "Russo" Ferreira