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quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Conversa ao Pé de Ouvido de Maria Luíza...


            “Hoje escolhi passar o dia cantando/ De hoje em diante /
Eu juro felicidade a mim / Na saúde, na saúde, juventude, na velhice/
Vou pelos caminhos brandos/
A minha proposta é boa, eu sei
De hoje em diante tudo se descomplicará/ Com um nariz de palhaço/
Rirei de tudo que me fazia chorar/ Cercada de bons amigos me protegerei
Numa mão bombons e sonhos/ Na outra abraços e parabéns...
(Vanessa da Mata)


            Salve, salve, nossa pequena Maria Luiza... nossa Pequena Lutadora do Povo, filha de Joice e Netto.
            Joice, nossa jovem professora em formação, a qual pudemos compartilhar alguns momentos de trabalho pedagógico na UFPA. Netto, que esperamos os caminhos da vida nos proporcionar um encontro.
            Chegas Maria Luiza em 10 de fevereiro... Bom, se tu tivesses nascido um dia antes apenas, eu só iria falar de Frevo, uma das expressões mais fantásticas e expressivas do carnaval em nossas terras.
Mas, nascestes um dia depois... E todos os dias têm suas lições.
            Chegas Maria Luíza, Soberana Guerreira, segundo o significado de seus dois nomes... Ou seja, já nasce com nome de Lutadora do Povo. Mas ser Lutadora do Povo (ainda que assim, pequenininha) não é algo que está no DNA ou algo assim. A história faz isso. E é também na e com um pouco de história que gostaríamos presentear sua chegada.
            Das datas, suas histórias... Nem todas são boas. Outras tantas são fantásticas e emocionantes. Mas, tem o dialético, o “em movimento” das histórias. Quando, por exemplo, começam de um jeito e seguem outro caminho.
            Pois bom (como diria o saudoso Pantalão Pereira Peixoto)...
            Foi em 10 de fevereiro de 1980 que o Partido dos Trabalhadores foi fundado, numa histórica reunião no Colégio Sión, em São Paulo. Nasceu revolucionário, lutador e compromissado com as lutas dos trabalhadores e da população sofrida de nosso país. Aquela que Renato Russo, anos depois, cantaria em “Faroeste Caboclo” ao dizer que João de Santo Cristo, quando foi a Brasília, queria “falar com o presidente pra ajudar toda essa gente que só faz sofrer!”...
            Na carta de fundação, o compromisso:
“As grandes maiorias que constroem a riqueza da Nação querem falar por si próprias. Não esperam mais do que a conquista de seus interesses econômicos, sociais e políticos venha das elites dominantes. Organizam-se elas mesmas, para que a situação social e políticas seja a ferramenta da construção de uma sociedade que responda aos interesses dos trabalhadores e dos mais setores explorados pelo capitalismo”.
Mas, capitulou...
Não se dá para enfrentar o capitalismo “melhorando” o capitalismo. Está na sua raiz a exploração e a destruição, pois é movido pelo individualismo, pelo “ter mais do que o outro”. Quando se acredita que pode melhorar alguma coisa, melhorando mais ainda aquilo/aquele que não a deixa melhorar, nada muda... nada se transforma.
Então, Maria Luiza, vamos combinar o seguinte: não queira mais brinquedos que as outras crianças. Isso já será um bom começo. E, aprendendo e vivenciando “como é bom dividir com alguém o que eu gosto e tenho”, não apenas o que me sobra. E, assim, espero que consiga ter isso firme em sua vida: que transformando-nos todos os dias, transformamos tudo que está a nossa volta. E acredite: já chegas fazendo isso.
            Tem três pessoas que nasceram no mesmo dia que você, Pequena Maria Luiza. Bom, na verdade, tem gente pra dedéu que nasceu neste dia. Mas, três em especial.
            A primeira, é um poeta... mais do que um poeta, ele era um cara que também fazia teatro. Teatro é algo que, espero, em breve irás conhecer. Pode ser até os dedinhos de seus pais brincando contigo no berço e te contando histórias.
            Mas eu falo de um que nasceu do outro lado do oceano. Chama-se Bertold Brecht. Sua obra, minha Pequena Maria Luiza, é incrível. Todo mundo que acredita num mundo melhor, mais solidário, mais humano sempre tem um verso, um poema, um conto de Bertold na ponta da língua.
            É até difícil escolher algo que possa traduzir a homenagem deste nosso picadeiro de terra batida e lona furada à sua chegada. Mas, como falávamos, acima, sobre solidariedade, lembrei-me de um verso de “Canção do Remendo e do Casaco”... Um poema que falava da busca por remendos, por pães velhos, do operário ao seu patrão e os demais trabalhadores, indignados com a migalha, respondiam:
 

“Não precisamos só do remendo, precisamos do casaco inteiro./
Não precisamos de pedaços de pão, precisamos de pão verdadeiro./
Não precisamos só do emprego, toda a fábrica precisamos./
E mais o carvão./
E mais as minas./
O povo no poder./
É disso que precisamos./
Que tem vocês a nos dar?”



Esse cara, Maria Luiza, era um humanista. E, portanto, sempre se incomodou tanto com a miséria de seu povo quanto com a Guerra (que normalmente levava o povo pobre às suas trincheiras). Se vivo, hoje, não tenho dúvida de que suas peças e seus poemas estariam repletos de aviso à humanidade “Parem de Guerras! Deixem de lado essa vontade de morrer matando os seus... não ficarão nem vocês, nem os seus!”... Afinal, nós trabalhadores lutamos "a guerra entre gananciosos", como diria Marx.
E se desde cedo aprenderes a brincar com as letras, não deixe de experimentá-las poeticamente... Liberte-as assim que as aprendê-las.

Mas quatro anos antes de Brecht, aqui no Brasil, nascia Mãe Manininha do Gantois: baiana, era, na religião afro, Yálorixá no Terreiro do Gantois (pode pronunciar “gantoá”).
Segundo consta, em tempos em que a perseguição ao candomblé era lei (a chamada “Lei de Jogos e Costumes”), Mãe Menininha foi uma das principais articuladoras do término das restrições e proibições, estabelecendo, já a época, até relações com a Igreja Católica para tal intento
Em tempos em que assistimos um Papa católico (que, na humilde opinião deste picadeiro, ainda deve desculpas acerca do silêncio da Igreja Católica durante a Ditadura de seu país, a Argentina) desafiando tradições religiosas em nome da paz, parece-me que uma de suas inspirações pode ter vindo, também, desta pequena mulher do candomblé... e que era católica, também.
Imagina, Pequena Maria Luiza... no século passado, tempos em que apenas os homens tinham poder, em que apenas os ricos tinham poder, em que apenas os brancos tinham poder... lá estava Mãe Menininha do Gantois, mudando tudo. Claro, enfrentou muita coisa também.
Sua mãe sabe um pouco disso, de enfrentar tanto as adversidades quanto os poderosos, pois também é uma Lutadora do Povo, nas fileiras do Movimento Estudantil... Ah! Tens grandes ensinamentos em sua vida.

“A beleza do mundo, hein/ Tá no Gantois
E a mãe da doçura, hein/ Tá no Gantois...”
(Oração de Mãe Menininha – Dorival Caymmi)

            

Por fim, a terceira pessoa que quero te apresentar. É uma cantora que eu acho ar-re-ta-da! E, para celebrar sua chegada, vai aí sua música de “Parabéns pra você!” para ires ensaiando quando completares seu primeiro aniversário.
            

           
            Isso mesmo: a fantástica Vanessa da Mata nasceu em um 10 de fevereiro e, melhor ainda, fez uma canção de “Aniversário”. Né mole não, né?

            É isso, nossa Pequena Maria Luiza...
            O Universal Circo Crítico celebra sua chegada. Com poemas e música, com pequenas lições (na contradição da história) de solidariedade e luta.
Vamos planejar um belo futuro pra logo mais...
           
Vida Longa, Maria Luiza!
           
            Venham Todos!

            Venham Todas!

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Vida Longa!
Marcelo "Russo" Ferreira