RESPEITÁVEL PÚBLICO!

VENHAM TODOS! VENHAM TODAS!

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

A Tortura...




“Ajude-nos a proteger sua própria vida e a de seus familiares”
(Texto da Ditadura Militar brasileira, anos 60 a 80 do século passado, incentivando a delação de militantes de esquerda)




O Universal Circo Crítico já se prestou a inúmeras ousadias, sobre temas os mais variados. Usamos de nosso constante aprendizado de Lutadores e Lutadoras do Povo a ousadia ensinada por Lênin, a ousadia como sentido a vida.
Também já andamos por caminhos tortuosos, alguns muito difíceis e duros aos nossos princípios, pois já tivemos que colocá-los (nossos princípios) em choque.
  Mas sempre nos orgulhamos dos caminhos trilhados, das ousadias experimentadas e dos seus aprendizados, como também nossos ensinamentos.
E cá estamos, novamente, nesse exercício.
Não apenas votamos no Governo que hoje temos. Defendemos, nesse picadeiro e debaixo de nossa lona rasgada a sua eleição (por exemplo: http://ouniversalcircocritico.blogspot.com.br/2010/10/hipocrisia-final-nossa-propria.html) e fizemos de nossos espaços do dia-a-dia o chão para compreendermos pelo que, por quem e contra o que/quem estávamos lutando. E não nos arrependemos... o seu contrário certamente seria pior.
Colocamos na Presidência da República um operário que continuou falando “nóis” mesmo quando presidente, para a urticarização dos ouvidos de nossa elite tupiniquim. Colocamos, depois, não apenas uma mulher (a primeira), mas uma que fez parte das bravas fileiras contra a Ditadura Militar brasileira, inclusive sendo julgada por isso nos tempos de campanha, em 2010.
E por isso, dói em nossos corações de aprendizes de Lutadores/as do Povo, de filhos e netos daqueles/as que tombaram nos porões da Ditadura Militar e que ainda tombam ante a Ditadura do Capital, do Latifúndio, da Ditadura Econômica que assola Estados e preserva Banqueiros, essa nossa declaração de hoje.
Alguns de nossos artistas e público estão no Serviço Público Federal. Na docência, na polícia, nas fiscalizações, nos hospitais, nos setores administrativos e em outros setores que estão em greve, uns desde maio, outros mais recentemente.
A síntese desta queda-de-braço entre Servidores Federais e Governo Federal? Que vivemos um processo de tortura.
Longe de nós querermos comparar esse processo atual com o horror que Brasil, Argentina, Chile, Paraguai, Uruguai entre outros países Latino-americanos viveram entre os anos 60 e 80 do século passado. Claro que não! Aquelas histórias de pessoas presas, torturadas, mortas a bala ou por conseqüência da tortura, desaparecidas, afastadas de suas famílias (crianças recém-nascidas que iam para o colo dos Torturadores como se fossem, deles, filhos/as) e de seus amigos porque enfrentavam, às vezes apenas com palavras, um inimigo poderoso, rancoroso, raivoso e cruel.
Mas... por que Tortura?
O Torturador usa de sua força, não importa com qual proporção ou de que maneira o faça. O Torturador é forte. Mas é protegido. O Torturador não corre risco de ser preso, julgado ou condenado pela tortura que faz à pessoa alheia. Ele faz sob os auspícios da lei (principalmente no Brasil, claro).
O Torturador tem o tempo sempre à sua disposição. Ele não se importa com o tempo, pois o Torturador gosta de se manter nessa posição, a de Torturante... quanto mais ele tortura, mais ele continua Torturador. Ele não quer que acabe antes do planejado... cientificamente planejado.
Mais ainda, o Torturador não age sozinho. Ele se protege não apenas pela Lei, mas também pela (não) denúncia. Ele não tem medo de seu rosto, seu nome, os fatos denunciados por aqueles que se beneficiam do poder. Econômica, política, socialmente.
Por outro lado, o Torturado é aquele que é perigoso ao Torturador, por mais fraco, desarmado, sozinho e amedrontado que esteja (ou pareça) frente ao Torturador. Faça o que fizer, machuque, invalide, cegue até mate o Torturado, o Torturador não conseguirá matar sua ideia e sua palavra. E o Torturado sabe disso.
Mas a ideia do Torturador também é cansar o Torturado, até ás últimas possibilidades de vencê-lo. A Tortura é do tempo, do cansaço, de vencer pelo tempo a convicção e, também, as conseqüências da convicção de seu Torturado.
O Torturador diz ao Torturado: “vamos, acabe logo com isso e você volta pra casa, pra sua família. Não percebe que você está fazendo sua família sofrer? Esses que você protege, não estão nem aí pra você. Eles estão lá fora, você aqui. Acabamos logo com isso e você vai embora e não deixamos nada acontecer com você!”. No meio disso tudo, ninguém precisa saber que o Torturado ficou preso, apanhou, passou fome e ficou com medo (não covardia, apenas receoso) do futuro – que poderia não existir mais – e fazia o que fazia pela liberdade e pelos direitos não apenas dele e de sua família, mas de todo seu povo. Sim... o Torturado dos porões da Ditadura Militar agia em defesa de seu povo. O Torturador, não.
(...)
A greve é assim: nós não lutamos apenas pelos nossos salários, pelos nossos Planos de Cargos e Carreira, pelas nossas condições de trabalho. Lutamos pelo bem que isso acarretará ao povo (soberano). E lutamos com a convicção de que lutamos pela verdade.
Mas, sofremos em nossas greves. Pois assim como o Torturado quer estar com sua família, com seus amigos, no seu trabalho, nós (em particular, professores) queremos estar em sala de aula, em nossas pesquisas e em nossos projetos.
Nós queremos estar ensinando e colocando nossos conhecimentos à prova, sempre, todos os dias.
Nós queremos que nossa sala de aula (não importa que sala de aula) esteja sempre repleta de pessoas, de crianças, jovens, adultos e idosos, passando por uma formação de qualidade, com alegria a cada conhecimento, com a curiosidade aguçada a cada pequena descoberta e instigação.
A greve nos tortura quando o Torturador sabe disse, e tira proveito desse nosso bem querer pelo ensino, pela pesquisa, pelo conhecimento e pela formação.
Nos torturam em nossa alma, em nossa docência, em nossos sonhos e em nosso trabalho.
Nos torturam naquilo que construímos e queremos continuar construindo.


E pior: nos torturam em nosso companheirismo... Pois eles, que nos torturam, aprenderam isso, como Torturados. Como Torturados aprenderam que “O povo não deve temer o seu governo o governo deve temer o seu povo.” (de “V de Vingança”). Hoje, como Torturadores, colocam o povo contra aqueles que o defendem.
A eles, a lição que esqueceram, de que nunca mais devemos permitir toda e qualquer tortura contra seu povo. A nós, a perseverança e a certeza de que seguimos lutando!

A dor é torturante, mas alimenta nossa Luta! E, nela, estamos firmes!

Venham Todos!
Venham Todas!

Vida Longa!

Marcelo "Russo" Ferreira

2 comentários:

  1. Marcelo, escrevi algo neste caminho em 2009:
    http://profacamilatc.wordpress.com/2009/09/01/primeiro-de-setembro/

    Concordo e apoio!
    Vamos à luta!

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  2. Oi Camila.
    Acho que a postagem que se refere é a posterior a essa, sobre o 1º de setembro.
    Claro que lembro de sua postagem de 2009, até comentei à época.
    Vamos sim... à Luta!
    Abreijos
    Ha braços!

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O Universal Circo Crítico abre seu picadeiro e agradece tê-lo/a em nosso público.
Espero que aprecie o espetáculo, livre, popular, revolucionário, brincante...! E grato fico pelo seu comentário...
Ah! Não se esqueça de assinar, ok?
Vida Longa!
Marcelo "Russo" Ferreira