RESPEITÁVEL PÚBLICO!

VENHAM TODOS! VENHAM TODAS!

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Deu na Carta Capital: BBB 12


Um país que crianças elimina (...)
Que permite um estupro em cada esquina
E a certeza da dúvida infeliz (...)
Um país onde os homens confiáveis
Não têm voz, não têm lei nem diretriz
Mas corruptos têm voz e vez e biz
E o respaldo de estímulo em comum (...)
Um país que perdeu a identidade
Sepultou o idioma português
Aprendeu a falar pornofonês
Aderindo a global vulgaridade (...)
Tô vendo tudo, tô vendo tudo
Mas fico calado, faz de conta que sou mudo
Calado..calado...mas tô vendo tudo
(Meu País - Orlando Tejo / Gilvan Chaves / Livardo Alves)

            Parece profecia... Quem lê o artigo publicado por Nirlando Beirão, na Carta Capital da semana passada diria que o nobre colunista sabia o que iria rolar n”A casa”.
            O BBB nunca foi nossa preferência de publicações nesta Lona de Circo. No máximo, citações an passan. Mas, os acontecimentos desta semana e a covardia do Poder (a Globo) e do Capacho (o modelo expulso) demonstram que, de certa maneira, deveríamos ter dedicado mais tempo a este tema. Claro, estabelecendo as claras e devidas diferenças entre o grotesco picadeiro do BBB e o humilde e sempre revolucionário picadeiro de nosso Universal Circo Crítico.
            Mas, neste momento, ajudamos a divulgar o artigo da Carta Capital, suprema em sua análise e... profecia.

O Império da indigência
BBB confirma o papel de usina de trapaças a serviço da mediocridade.

            “Bota a bunda pra dentro!” – comanda o poeta e intelectual Pedro Bial, MC do BBB, à baianinha chorona Jakeline, que diz ter saudades do galo Fabiano e da galinha Nicole, “mãe de Paulinho”, que ela deixou em casa, com o coração partido, em busca de seus 79 dias de fama e, quem sabe, do prêmio de 1,5 milhão de reais. “A bunda deve estar dentro do carro”, reitera Bial, biógrafo do patrão Roberto Marinho e porta-voz daquela UDN do Baixo Leblon no manjado circuito Jobi-Bracarense.
            Bial ancora há dez anos o Big Brother Brasil, que chega agora à sua edição número 12. Tem demonstrado considerável denodo em dilapidar sua própria biografia. Mas já que já limites até mesmo para o mais blindado cinismo, Bial tenta justificar-se na condição de herdeiro do Chacrinha, “o Velho Guerreiro”, e, em sua piscadela ao público Cult, trata de citar coleguinhas de rimas, de Casimiro de Abreu a Arnaldo Antunes. É como se ele quisesse dizer: não me confundam com a vulgaridade que eu promovo.
            Vai se difícil. Nesse exato momento, dia de estréia do BBB 12, Bial orquestra, com sarcasmo cruel, a primeira “prova de resistência” da competição. Trata-se do desafio de amontoar os 16 concorrentes dentro de um veículo reiteradamente identificado como sendo da marca Fiat. O último a sair ganha o carro e a “imunidade”: não pode ser despachado do programa já na primeira votação. Da para pensar se não foi a concorrência que pautou a tarefa. Trata-se, com certeza, do jeito mais estúpido de promover um automóvel: pelo desconforto que ele pode propiciar.
            “Isso, ao”, esbaforiu-se o colorido mineirinho João Carvalho. O brother mais sensível e mais veterano não resistiu a cinco minutos de metaconfinamento, ou seja, de prisão dentro da prisão. Bial adverte: é só o começo. Pois é, é só o começo.
            Aquinhoado por verbas publicitárias milionárias e pela ansiedade do espectador em pagar para ter seu fugaz momento de imperador romano, decretando por telefone ou mensagem de texto a morte ou a salvação dos gladiadores, o BBB chega mais uma vez para reiterar seu papel de usina da indigência de um espetáculo solúvel, lixo reciclado e enlatado made by Endernol.
            Festa infantilóide que, se a gente olhar em volta, não dá para comparar nem com os programas da Xuxa, nem mesmo com as atuais prévias do Partido Republicano, nos Estados Unidos. Quem assiste ao BBB 12 fica com escrúpulos de pertencer ao gênero humano – se é que alguém ali faz parte do gênero humano.
            Analice, Ronaldo, Mayara, Renata, Jonas, Kelly, Yuri, Monique, Laísa... Acolhidos pela intimidade do primeiro nome, espera-se de brother e sisters a contrapartida de uma espontaneidade nua e crua, se descortinando à frente do apetite voyeur do ilustre espectador aquela esfregação langorosa entre pit bulls e saradonas, exercício descerebrado, mera flex/ao de músculos, de atropelos gramaticais e de banalidades explícitas.
            Pelo histórico do BBB, costuma brilhar uma única estrela com luz própria, nesse blecaute da inteligência, apagão total de talento. Refiro-me ao edredom. O edredom é, ao longo da maratona de amassos, o único sinal de sutileza expressiva e de dramaticidade aguda – aguda e, literalmente, por baixo do pano. Sem o edredom, o Big Brother Brasil não é nada. O edredom encobre a cupidez dos personagens, mas, sobretudo, aguça a fantasia dos espectadores. Tão triste quanto a mediocridade dos brothers e sisters é a vocação que a platéia, ela sim, tem para a mediocridade.
Já houve tempo em que o reality show da Globo simulava amostra mais ampla, em suposto respeito à nossa biodiversidade, mas se percebe hoje que a seleção da colorida fauna se norteia não mais pelos critérios etnográficos e geográficos ou pelos estereótipos da sociedade. A produção diz que levou oito meses para eleger os candidatos. Bastava ir até meia dúzia de academias de musculação. O BBB é o lugar onde a geometria encontra a anatomia. Dos homens espera-se apenas o volume do peitoral. Mulheres só têm serventia se desenvolverem elefantíase em determinada parte do corpo que se diz aqui no Brasil ser a preferência nacional.
Enquanto o carnaval não vem, será aquele desfile cotidiano, 24 horas ao dia, de muita prótese de silicone, excesso de tatuagens, exagero de protuberâncias, intenso ensaboar masturbatório sob chuveiros indiscretos – e, se alguém notar, em meio àquela torrente de energia libidinal, que neurônios estão sendo acionados, poucos que sejam, é bom avisar o Boninho, o diretor, do programa, porque inteligência e raciocínio não fazem bem ao escript.
Do Bam-Bam, o básico, o primeiro campeão, à Grazi, rara celebridade que dura; do truculento Alemão à suave Maria, a última contemplada – o BBB já em seu elenco de duvidosos heróis. Lembre-se do Jean, estrela incomum do BBB 5. O sestroso baiano quebrou o pacto. Naquela dinâmica de cartas marcadas, cabia a ele o papel da bichinha vulgar e alcoviteira, mas eis que, com lampejos de astúcia e repentes de sinceridade, ganhou o respeito de humanista e livre-pensador e passou os dias de clausura lecionando não para seus pares, mas para toda a nação inculta e bela. Jean é hoje o combativo deputado federal Jean Wyllys, do PSOL do Rio.
A cada edição, e essa aí não nos deixa mentir, o BBB muda para não mudar. São acertos cosméticos apresentados com estardalhaço, como se fossem enormes surpresas. “A casa”, essa entidade quase mística, foi redecorada em extravagância multicromática, que leva a gente a crer que todo aquele kitsch resulta de uma inesperada parceria entre Jeff Koons e o carnavalesco da Grande Rio.
No fundo, reality shows ao estilo BBB, e a ninhada que já fez proliferar, continuam sendo o que são, em sua secreta propensão para a malvadeza e seu apelo irrestrito ao masoquismo. É justificada a suspeita de que tais programas tenham sido inventados no hospício de Charenton pelo notório Marquês de Sade, o que torna ainda mais intrigante o fato de que pobres enclausurados demonstrem, ante o olhar de milhões de sádicos virtuais, tão sorridente orgulho com a humilhação a que são submetidos. Não há edredom libidinoso ou promessa de fama que pague o preço, ou há?
Anos atrás, este escriba lamentou ver Pedro Bial fazendo as honras da casa no BBB, “desperdício tão flagrante como seria ter Sarah Berbhardt na bilheteria do Théâtre de La Renaissance, em Paris”. Bial, “cultor de Guimarães Rosa, no meio de tantos que jamais abriram um livro”, tinha agora de se resignar “a não mencionar nem Elliot e muito menos Keats, seus poetas de cabeceira, pois haveriam de ser confundidos com gatos de estimação de alguma grã-fina de folhetim”.
O constrangimento muito bem remunerado de Bial, dez edições depois, é do tipo que se confunde com a filosofia do próprio BBB. A gente fica sem saber o que é realidade e o que é fingimento. Citando Roland Barthes, de quem Bial certamente já ouviu falar em suas horas de folga, a virtude desse tipo de espetáculo é abolir causa e efeito: “o que me interessa é o que se vê, e não o que se crê”. O show modela a sua própria realidade.
Por Nirlando Beirão
(Carta Capital – 18 de janeiro de 2012 / nº 680 – Seção Plural: Televisão)

Aqui, ninguém dá uma olhadinha... o Circo é de Todos e Todas!

Venham Todos!
Venham Todas!

Vida Longa!

Marcelo “Russo” Ferreira
PS.: O Vídeo da Música na voz de Zé Ramalho tem inúmeras versões na internet. Assisti a três e todas elas tem, sempre, alguma imagem a qual não faria referência. Vale mais, também, pela canção que, claro, não tem espaço na mídia, na indústia cultural e nem recebe/paga "jabas".

10 comentários:

  1. Marcelo Radicchi18 janeiro, 2012

    Gostei da transcrição da carta capital e da atualidade em um tema tão despercebido.

    Costumo dar uma passada aqui no Circo de vez em quando e parei para ler esta brilhante reflexão.

    Penso que não há como descrever a excrescência deste formato de programa sem recorrer à riqueza de detalhes e sensações que a metáfora provoca.

    Me faz refletir esse episódio também um fato básico desconsiderado no caso do "assédio"... a sumária culpabilidade do camarada, sem antes verificar se tal fato procede ou não... não seria esse um direito constitucional? Ser inocente até que se prove o contrário???

    Não querendo defender o cara, mas foi sumariam e arbitrariamente excluído do programa... que se for pensar sacanagem é o que mais rola por lá, pegaram um "judas" para aliviar a tremenda mer@#$da que exala do programa... e o melhor que isso dá mais audiência... e viva a Indústria Cultural...

    Um abraço daqui de Floripa (férias meu amigo),

    Marcelo Radicchi
    ICSEZ/UFAM/Parintins

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  2. É, prezado Marcelo Radichi.
    MAS também ficamos numa encruzilhada... se comentamos o estado da arte do BBB, estamos dando crédito ao programa. Se ficamos em silêncio, para justamente não dar a sombra de pouco valor do próprio, corremos o risco de vê-lo entrar, sorrateiramente, em nossas casas...
    E assim, mostramos que as trincheiras, também culturais, precisam ser construídas.
    Vida Longa, camarada!

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  3. Poi é meu caro Amigo....às vezes fico me perguntando se foi pra isso que lutamos um dia por" Liberdade de expressão", será que é isso que é "liberdade de expressão"? Ver uma cena grotesca dessas encenada para dar " audiencia" pra um programinha falido e completamente absurdo? Acho que não. Pior é o tamanho que essa farsa, completamente ensaiada e combinada vem tomando`.É claro que o fato em si seria um absurdo passivel de punição se verdadeiro, mas é triste, muito triste perceber que as pessoas ainda acreditam e assistem um horror desses
    bjs
    Telma

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  4. Olá, Telma.
    Bom te ver por aqui.
    Eu nem assisto, só fiquei atento um pouco aos acontecimentos da semana passada pela absurda postura “livre” da Globo. Caraca... Na minha opinião, houve sim ou estupro ou algo próximo a isso, um abuso sexcual sobre uma pessoa significativamente inconsciente (ninguém pode dizer, de fato, o que aconteceu embaixo do edredom, pois não dá p’ra “olhar”).
    Mas, é impressionante como o silêncio impera nos meios de Comunicação vinculados à Globo. De tal forma que nem o apetite da TV Record consegue, de fato, fazer muito efeito.
    Venham sempre ao nosso Circo.
    Abraços
    Há braços!

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O Universal Circo Crítico abre seu picadeiro e agradece tê-lo/a em nosso público.
Espero que aprecie o espetáculo, livre, popular, revolucionário, brincante...! E grato fico pelo seu comentário...
Ah! Não se esqueça de assinar, ok?
Vida Longa!
Marcelo "Russo" Ferreira