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VENHAM TODOS! VENHAM TODAS!

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Cartas revolucionárias...




“Vivemos para a alegria, /
por ela fomos para o combate /
e por ela morremos: /
Que nunca se junte /
a tristeza ao nosso nome”
(Julius Fučik – 19 d maior de 1943,
na prisão da GESTAPO em Praga)







          Em 11 de fevereiro de 1955, o Legado da República da Tchecoslováquia no Rio de Janeiro, o sr. Jirí Kadlec, em carta endereçada a Hiram de Lima Pereira (meu avô, preso/torturado/desaparecido pelos porões da ditadura dos anos de chumbo, jornalista e militante histórico do Partido Comunista Brasileiro), comentava:
          “Quanto ao retrato de Fučik (Preso no dia 24/04/1942, pela Gestapo – nota milnha) vou remetê-lo agora, em separado, numa caixinha de madeira, e estou certo que desta vez não haverá contratempos”. Nesta época, Julius Fučik tratava-se de um jornalista tcheco, executado pelos nazistas, em 08 de setembro de 1943.
          O contexto da carta já foi descrito por aqui, quando demos boas vinda a Ágatha Lídice (Conversas ao pé de ouvido de Agatha Lídice... de 10 de novembro de 2008). Trata-se da histórica relação que minha tia Sacha Lídice tinha com a pequena cidade Tcheca (Lídice), invadida pelo exército nazista e liberta pelos soldados camaradas vermelhos da antiga União Soviética.
          E, nas lições desta pequena carta que recebia meu velho lutador do povo Hiram, uma história de mais um grande lutador do povo, que reconfortava e alimentava, anos depois, a luta de Vietnamitas, Cubanos e Latino Americanos contra o imperialismo norte-americano. A importância deste nome – que, sinceramente, não conhecia – ganhou um poema de Pablo Neruda que afirmou, durante o II Congresso dos Defensores da Paz, em 1950, o seguinte: “vivemos na época que amanhã se chamará a época de Fucik, época do heroísmo simples… Em Fucik há o sentido não só de um cantor da liberdade mas de um construtor da liberdade e da paz”.
          A morte prematura (40 anos de idade), as condições objetivas daquele período (escrever em cárcere e, anos depois, ter seus escritos publicados é realmente de impressionar até o mais vil conservador burguês de nossa atualidade), o amor incondicional pela humanidade, pela liberdade dos trabalhadores e trabalhadoras do mundo e, no seu singular, por sua amada companheira Gusta Fuciková (Gustina) e a história de seu povo natal (a Tchecoslováquia brutalmente invadida pelos nazistas na II Grande Guerra) nos mostram como que os homens são imensuravelmente injustos com sua própria história, ao ponto de não encontrarmos nada sobre esse bravo lutador, nem nos livros de história das escolas, nem na imprensa, na mídia etc.
          Mas aqui, o que mais me chamou a atenção da história deste homem, está em suas cartas escritas ainda em cárcere que, com a ajuda de um guarda da prisão de nome Kolinsk, viabilizou que pudessem chegar às mãos de sua amada companheira Gustina e, assim, transformar-se na pequena, mas histórica obra “Reportagem sob a Forca” que, possivelmente, será encontrado em algumas pequenas livrarias de sebo país afora... o meu livro assim foi adquirido.
          Ao saber que sua Gustina seria deportada para o trabalho forçado na Polônia, dizia o jovem Fučik que, mesmo com a saúde abalada, tinha o “coração cheio de Gustina” e a força para continuar a escrever sua obra.
          Porém, uma passagem na vida destes me leva, inevitavelmente, a meus avós, o Velho Hiram e “Dona” Célia (como painho a chamava): em tempos de tortura – o que coloca a ditadura militar e o nazismo da II Grande Guerra no mesmíssimo patamar – ameaçou o chefe da seção da Gestapo ao jovem Fučik ante a negativa e o silêncio dele: “Tem uma hora para reflectir. Se passado este tempo aquela cabeça teimosa não ceder, são fuzilados esta tarde. Os dois”, já se dirigindo à ainda encarcerada Gustina. Sua resposta, colocando o projeto de General no seu devido tamanho, não poderia mais humana: “Senhor comissário, isso para mim não é uma ameaça. É o meu último desejo. Se o executarem a ele, executem-me a mim também”. Penso que a luta de meus avós tinham esta exata medida...
          Poderiam tirar-lhes a vida... mas o amor entre eles e sua honra jamais. Eis um princípio de falarmos sempre “Vida Longa!”... Que as idéias sempre tenham Vida Longa!

          Venham Todos!
          Venham Todas!



          Vida Longa... sempre!



Marcelo “Russo” Ferreira



PS.: mais sobre esta pequena obra e seu nome, Julius Fučik, é encontrado em http://www.avante.pt/noticia.asp?id=10765&area=19&edicao=1654 (do Partido Comunista Português) e http://darlanreis.blogspot.com/2009/05/julius-fucik.html (do historiador carioca em terras cearenses Darlan Reis Jr.), que me foram importantes instrumento de consulta.


6 comentários:

  1. Olá,Marcelo,eu posso dizer: "bacana como remoeste, escavaste o que faz parte da história da tua família e do país".Esse embate entre capitalismo e socialismo, o despotismo e a democracia são visões manequeistas que as vezes podemos perguntar porque existem então? Para sair da rotina, quebrar o equílibrio social para talvez amenizar nossa existência. Entre tudo existe esplicação até mesmo em visão opostas.

    Até!

    Daniel Dias.

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  2. Caro Daniel, meu frequentador assíduo...
    Há tempos que vinha estudando como fazer o contar da história da família, principalmente quando penso na imagem que foi meu avô...
    EU não tenho dúvida: o Socialismo não viria para amenizar nossa existÊncia... precisamos dele para salvar a existência humana...
    Vida Longa!, camarada!

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  3. Vida Longa Menestrel!!!!

    Acessei o Universal Circo ontem.. Sensacional...!!! realmente uma reflexão...

    “Vivemos para a alegria, / por ela fomos para o combate / e por ela morremos: / Que nunca se junte / a tristeza ao nosso nome”
    (Julius Fučik – 19 d maior de 1943,
    na prisão da GESTAPO em Praga)
    Saudações,
    Carlos Magno

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  4. Grande abraço Marcelo.
    Rogério

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  5. Oi Marcelo,lendo esses relatos, me lembrei de tudo que li sobre os horrores da guerra, mas sei que o que aconteceu realmente jamais poderá ser descrito nos livros, revistas...por que a dor provocada é indescritível e talvez insuperável!!!
    bj

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  6. Pois é, minha cara "Anônima" (hehe, você não assinou)...
    E a história não nos deixa enganar, o poder, a elite, os capitalistas históricos sempre aproveitam para falar de suas "verdades"... Na Nicarágua foi assim, com seu "presidente interino", no Haiti está sendo assim (os EUA sugaram o povo Haitiano até a alma), na Ditadura nos Países Latinos foi assim (e hoje somos meramente revanchistas), é assim com os Movimentos Sociais país e mundo afora... nossa atenção é nossa luta!
    Há braços!

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O Universal Circo Crítico abre seu picadeiro e agradece tê-lo/a em nosso público.
Espero que aprecie o espetáculo, livre, popular, revolucionário, brincante...! E grato fico pelo seu comentário...
Ah! Não se esqueça de assinar, ok?
Vida Longa!
Marcelo "Russo" Ferreira