"Tem dia que a gente se sente
Como quem partiu e morreu.
A gente estancou de repente
ou foi o mundo então que cresceu..."
(Chico Buarque)
Lembro, quando ainda era uma criança entrando na fase de
adolescência, que havia, em casa, uma dinâmica particular com a Televisão.
Claro, houve um tempo “nebuloso”, quando a rua ainda não me era o lugar de
relações sociais intensas, e os “enlatados” da Globo e da Record (eram os
inúmeros seriados americanos que passavam na TV) quase que tomavam conta da
programação em casa.
Mas houve momentos ímpares e interessantes que, de certa
maneira, iam construindo meu mundo político e artístico particular. E esses
momentos tinham seu lugar de encontro: a TV Cultura de São Paulo.
Três fatos marcaram minha relação com a TV Cultura, não
necessariamente aqui numa relação cronológica ou de qualquer outra ordem.
1. Quando
a saudosa banda de Rock de meus tempos paulistanos (o Afã – a qual já postei
algumas de suas canções aqui) tocou em um Festival da canção do Liceu de Artes
e Ofícios (onde estudava o nosso baterista) e, nos palcos da TV Cultura
ganhamos o Festival de 1989 – com Negro Albatroz;
2. Quando, nos tempos de Colégio Salesiano, participamos
do Programa “É Proibido Colar” (e lembro que fizemos uma paródia com a música
“Ponteio”;
3. Alguns programas monumentais que fui assistindo ao
longo dos tempos: “Daniel Azulai”, X-tudo, Som Pop (Rock’n’roll de
primeiríssima), Ensaio, Viola Minha Viola, o próprio “É Proibido Colar” (com o
jovem Antônio Fagundes) e... Roda Viva.
Cheguei a assistir ainda em minha adolescência o Roda
Viva, que sempre passava às segundas-feiras. Lembro uma vez em que nosso
saudoso Professor Antônio Carlos (Português e Literatura) nos chamou a atenção
sobre o que assistíamos na TV e eu tinha assistido o Roda Viva na véspera (com
Leonel Brizola) e comentei em sala... Quase viro o “quadradão” da turma e por
pouco não sou “expulso” do fundão.
Muitos anos se passaram e muitas personalidades de
qualidade passaram pelo Roda Viva. Assisti Marilena Chauí, Washington Novaes, o
saudoso Milton Santos, a fan-tás-ti-ca entrevista de Sebastião Salgado (quando lançou
Êxodos, trabalho seguinte ao fabuloso ensaio “Sem Terra”), Lula (antes de ser
Presidente), Almino Afonso, Lobão (ainda com algum miolo no juízo), João Pedro
Stédile. Também nomes como Marco Maciel (DEM de Pernambuco, ex-vice presidente
de FHC), à qual não convirjo em qualquer patamar político e ideológico, mas que
possibilitava debate COM conhecimento... E com entrevistadores que faziam jus
ao convidado, inclusive com um perfil que permitia o debate divergente e até
antagônico...
Mas, o “Roda Viva”, nos últimos anos, e sob o domínio
político de 24 anos do PSDB paulista está morrendo... e muito.
Nesta última segunda, com a não mais independente TV
Cultura articulada com a Editora Abril e o Panfleto “Veja”, o Programa convidou
uma das personalidades mais vazias que já vi no cenário político brasileiro. E,
claro, um perfil de convidados (e de mediador) tão superficial quanto sua
capacidade (absurdamente ausente) de respeitar a história daquele centro,
daquela “cadeira” no meio do Roda Viva.
Trata-se
do tal “criador” do “Vem Pra Rua”, Rogério Chequer.
Em
síntese...
Nenhuma pergunta sobre “por que fazer o ato em 15 de
março?” (teria que dizer da saudade da posse de presidentes da Ditadura ou da
Marcha da TFP de 1964).
Nenhuma
pergunta sobre “Já que vão pra rua contra a corrupção, por que vocês poupam os
casos de Corrupção do PSDB Paulista (Metrô) e Mineiro (Furnas)?”.
Nenhuma
pergunta sobre “se vocês são suprapartidários, por que entrar na campanha de
Aécio Neves em 2014?”.
Ou “e
por que a camisa do Brasil/CBF, se também é representativa da corrupção e
ditadura do Futebol brasileiro e para quem o ‘Queremos Saúde e Educação padrão
FIFA’ também era para ser endereçado nos atos de 2013?”.
Nenhuma
questão que o provoque sobre as primeiras bandeiras de luta de 2013 que era o
aumento das passagens de ônibus em São Paulo e a violência policial
(acompanhada do descaramento dos Jornalões em mentir sobre o que acontecia nos
atos do Movimento Passe Livre).
Uma bancada de entrevistadores comprometida com o Grande
Capital, com os principais Meios de Comunicação – Abril, Estado de São Paulo,
Folha de São Paulo – e com a notícia de um lado só.
E um entrevistado de meia pataca, que é “empresário de
apresentação de power point” (mas com grande capacidade de eloquência), que se
coloca contra a regulação da imprensa (sem sequer conseguir explicar o que é
“Liberdade de Imprensa” e o que ele acha da ação do Governo do Estado de São
Paulo – PSDB – na TV Cultura) e que mal consegue responder questões sobre a
organização financeira do “Vem pra Rua”.
Longe, mas uma eternidade de “longidão” do que era o
“Roda Viva” de muitos anos atrás.
Mas, o que sempre preocupa nossos Artistas, de nossa lona
de circo furada e nosso picadeiro de chá batido não é apenas o que eles
destroem (pois para a destruição do Capital sobre os Trabalhadores, sempre há
resistência e Luta, sempre existirão os Lutadores e Lutadoras do Povo)... mas,
também – e talvez, principalmente – o que estão fazendo renascer e crescer.
Ao final do que assisti nesta segunda-feira, dia 23 de
março, uma única certeza: a imbecilização
ganha força, atrai mentes e corações. Aí, o grande perigo.
Venham Todos!
Venham Todas!
Marcelo
“Russo” Ferreira
PS.: uma matéria interessante: vale a pena:
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Marcelo "Russo" Ferreira