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terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Conversas ao pé de ouvido de Vinícius...



            Salve, Salve, pequeno Vinícius... Filho de Josafá e Etiene... Cá estamos nós, nos somando as homenagens que certamente se seguiram à sua chegada.
            Chegaste com a alcunha em seu nome de pequeno cultivador (aquele que cultiva a uva), mas rogado a destacar-se por sua nata ousadia e criatividade que seu nome traz consigo. Ao compreendermos o significado de seu nome, caro “camaradinha”, lembramos de Paulo Freire, que, em suas inigualáveis reflexões sobre a educação (sobretudo a educação do oprimido, do pobre, do adulto/velho analfabeto), quando refletia sobre a forma de alfabetizar as pessoas, associando letras e fonemas, nos levava a refletir: “Ivo viu a uva! Mas quem é Ivo? O que ele vê na uva? Quem plantou, cuidou, adubou a parreira onde Ivo, além de ver, possa ter colhido a uva?”... Assim, pequeno Vinícius, o Universal não apenas “vê” sua chegada, mas, como sempre, procura os sentidos e significados dela e cá estamos, orgulhosos de podermos participar desta celebração.
            Ao viajar sobre estes sentidos e significados, e suas importantes lições, o seu nome já nos permite, quando dialogamos com Paulo Freire, a tirar uma primeira lição para sua longa jornada entre nós: olhar e ver são coisas realmente distintas e precisamos, cada vez mais, aprender a ver, tanto quanto aprender a ouvir. Ver com olhos de criatividade e ousadia (como o seu nome) é sempre necessário para nos fazermos humanos, cada vez mais. Sempre procure ver, certo Vinícius?
            Datas marcaram o dia de sua chegada. O “12 de janeiro”, na história da humanidade, a marca com conquistas e obstáculos. Nasceste em um dia em que a natureza, por exemplo, diz que está viva e que tem suas maneiras de dizê-la.
            Em 12 de janeiro de 2009 (a um ano atrás, portanto), o sofrido e explorado povo do Haiti viveu uma experiência que, somada a sua história de povo explorado por nações ricas (sobretudo França e Estados Unidos), a colocou próxima a mais difícil das lições: sobrevivência. Afinal, um terremoto abalou a metade haitiana da ilha localizada na frágil (democrática e ambientalmente) América Central em 7,3 graus na escala de Richter (ah! Isso eu não vou explicar, visse?). Destruição de ponta a ponta, divulgada pelo jornalismo internacional durante ininterruptos 15 dias. Após este período, a cobertura midiática internacional foi se esvaindo, esvaindo... Recentemente, retomou por conta do surto de cólera, apenas uma entre inúmeras doenças que a um ano (mais significativamente) abala um país pobre e explorado.
            Logo de cara, pequeno Vinícius, a lição mais difícil (e que tem exemplo em nosso país): natureza e exploração não são compatíveis. Ambas avançam conforme sua lógica e interesse: a natureza, apenas pela necessidade de adequar-se as transformações às quais está sempre sujeita, principalmente pelas mãos dos homens, mas também por sua própria lógica natural. A exploração, esta inexplicável enquanto ato natural. Durante dois séculos, aquele pequeno e pobre país foi explorado, tendo que pagar “indenização” por sua independência e sendo usada (uma nação é sempre uma nação, não importa o seu tamanho) como moeda de troca entre países poderosos do hemisfério norte (França e EUA, com já disse acima). Que sua natureza, Vinícius, seja a de nunca aceitar a exploração como natural à sobrevivência da sociedade e que um povo nunca seja renegado a sofrer por conta dela. Lição difícil, mas necessária...
            Também em nossas terras, o 12 de janeiro marca nosso povo e assim foi, lamento, exatamente no dia de sua chegada. A natureza deu seu recado em cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, talvez os estados mais ricos do país. Mas, desta, volto ao sentido do “ver”... E como os desastres, parecem-me, são combustíveis para determinadas profissões. Como entender, pequeno Vinícius, uma família chegando sabe-se lá de onde, carregando os poucos trapos que conseguiu salvar de sua casa destruída, em meio a pequenas trilhas, na chuva permanente e cobertos de lama e tristeza, sendo abordada por uma repórter da TV Globo perguntando justamente à criança que acompanha essa família: “O que mais você gostaria de ter agora?”. Por que o jornalismo gosta tanto de achincalhar o sofrimento alheio? Com seus olhos curiosos e ousados de ver, meu pequeno camaradinha, espero que possa contribuir com a humanização das nossas obras, das nossas profissões, da capacidade que tem o ser humano de criar seu labor e, ao criá-lo, nunca deixar de vê-lo humanizado.
            Mas há outros importantes feitos em 12 de janeiro e que também nos servem importantes lições:
            Em 1616 Belém é fundada... Já pensaste se tivesse nascido por lá, e não em Castanhal? A cidade inteira iria festejar seu aniversário, hein?
            Também foi em 12 de janeiro, desta vez de 1915, que as mulheres norte-americanas vivenciaram o primeiro grande enfrentamento de seu protagonismo: a luta pelo direito ao voto. Naquele ano, o congresso daquele país rejeitou a proposta (claro, era composto por homens, apenas). Mas, veja que interessante: Leis (como a que dizia – e também no Brasil – que mulheres não podem votar) são combatidas e mudadas. Assim como com o direito a voto das mulheres, dos negros, dos analfabetos. Se mulheres, negros e analfabetos, dentre outros, não podiam votar, quem iria lutar pelas leis a seu favor? Nunca sinta-se derrotado, pequeno Vinícius, quando aparentemente perde algo. A derrota (assim como a vitória) nunca será eterna. E assim, tiramos mais uma pequena lição, a de que a derrota só se fortalece quando deixamos de lutar e lutar é um direito. Lute sempre...
            Mas, o 12 de janeiro também é suspense, esporte e música, camaradinha. Afinal, apesar de serem datas de “despedida”, foi em 1976 que a literatura perdeu Agatha Christie... Ah! Camaradinha, acho que todos devem ler, pelo menos uma vez, Agatha Christie e seus suspenses com o detetive belga Hercule Poirot. Aprendemos a ler (e, lembrando Paulo Freire de novo, ver as letras destas leituras) de várias maneiras. Eu aprendi com Agatha Christie.
            No esporte, foi em 2001 que perdemos Adhemar Ferreira da Silva, bi campeão olímpico de salto triplo (Helsinque/1952 e Melbourne/1956). Aliás, foi o único bi-campeão olímpico brasileiro durante 48 anos (equivalente a 12 Edições seguidas dos Jogos Olímpicos)... Negro, pobre, atleta com poucos recursos. Uma pena que em nosso país apenas atletas ricos viram lendas. De Adhemar, camaradinha, a lição do salto: sempre salte longe, mas sempre parta de um lugar seguro para saltar e saiba chegar ao final dele. Nunca salte sobre pessoas, apenas salte distâncias e nunca as salte sem saber o que tem no percurso.
            E na música... Ah! Na música... Temos ainda vivo nosso criativo Nando Reis que, em sua história na, talvez, maior banda de rock brasileiro (Titãs) solidificou sua audácia musical... Um roqueiro de várias tribos, diria até. Mas, ainda ficarei nas despedidas e, de novo, com alguém que nossos jovens, nosso povo, nossa memória (um povo sem memória em um povo sem história e sem caminho a seguir) aceita desconhecer: um dos criadores de um instrumento de percussão que, certamente, seus pais têm em casa e, bem possivelmente, tomarão o (equivocado) cuidado de não deixares tocar... pelo menos enquanto tal: o prato e a faca. Falo de João da Baiana, que despediu-se de nós em 1974, contemporâneo de artistas que vão de Pixinguinha a Heitor Villa-Lobos (também pouco conhecidos de nossa juventude) e que abre esta nossa homenagem. Mas acho que nas suas primeiras refeições independentes, quando passares a manusear sua colher no prato de comida, inevitavelmente terás contato com a música... Se aceitares um empurrãozinho, estamos aí.
            Na música, deixamos nossa última lição: que a criatividade e ousadia de seu nome possam fortalecer as mais profundas raízes de nossa cultura, de nossa música, de nossos compositores, artistas, cantores, musicistas populares, tão conhecidos em suas terras, tão ignorados em sua nação. Que sua vida, seu caminho possa trazer a harmonia da faca no prato de João da Baiana e que a “comida (que) é arte” convivam diariamente em sua longa jornada.

            Para nós, do Universal Circo Crítico, esse é o dia 12 de janeiro...
            Dia de João da Baiana, de Adhemar Ferreira da Silva, do povo Haitiano, dos trabalhadores que vivem nos morros brasileiros, das mulheres, negros, analfabetos e suas lutas... Dia de Vinícius!
            Vida Longa a Vinícius!

Venham Todos!
Venham Todas!

Vida Longa!

Marcelo “Russo” Ferreira

2 comentários:

  1. Vinicius, muita saúde, que Deus te abençõe, muita paz e alegria aos teus papaizinhosss....bjinhosss Thaise de Bagé RS

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  2. Vinícios, pra você como canção de ninar.

    Saiba (Adriana Calcanhotto)
    Saiba!
    Todo mundo foi neném
    Einstein, Freud e Platão, também
    Hitler, Bush e Saddam Hussein
    Quem tem grana e quem não tem...

    Saiba!
    Todo mundo teve infância
    Maomé já foi criança
    Arquimedes, Buda, Galileu
    E também você e eu...

    Saiba!
    Todo mundo teve medo
    Mesmo que seja segredo
    Nietzsche e Simone de Beauvoir
    Fernandinho Beira-Mar...

    Saiba!
    Todo mundo vai morrer
    Presidente, general ou rei
    Anglo-saxão ou muçulmano
    Todo e qualquer ser humano...

    Saiba!
    Todo mundo teve pai
    Quem já foi e quem ainda vai
    Lao-Tsé, Moisés, Ramsés, Pelé
    Gandhi, Mike Tyson, Salomé...

    Saiba!
    Todo mundo teve mãe
    Índios, africanos e alemães
    Nero, Che Guevara, Pinochet
    E também eu e você...

    Beijinhos de Rosani
    Belém - Pa

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O Universal Circo Crítico abre seu picadeiro e agradece tê-lo/a em nosso público.
Espero que aprecie o espetáculo, livre, popular, revolucionário, brincante...! E grato fico pelo seu comentário...
Ah! Não se esqueça de assinar, ok?
Vida Longa!
Marcelo "Russo" Ferreira