RESPEITÁVEL PÚBLICO!

VENHAM TODOS! VENHAM TODAS!

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

O Preconceito à deriva...


 
 
¿Que caso tienes quitarnos
el pasamontañas
si para ustedes
todos los índios
son iguales?
(Por que temos
que tirar o capuz
se, para vocês,
todos os índios são iguais?”)
(Subcomandante Marcos)



            Alunos de Direito (e tantos outros, em nível superior ou secundaristas. declaram: “Morte aos Nordestinos” e o “Fim dos Índios do Norte!”.
            No interior de São Paulo, em outro Campus Universitário, mais uma edição dos Jogos Universitários da UNESP (que confraternizam) e as atividades paralelas: festas, bebidas, sexo, drogas e... “Rodeio das gordas!” (que, no português correto, parece mais com “Rodeio NAS gordas”!).
            No Rio Grande do Sul, nazistas e neo-nazistas ameaçam senador e ex-ministra negros... não por conta de alguma denúncia comum no mundo da política, mas por serem negros.
            No período eleitoral, na silenciosa carona do pseudo debate em torno do tema aborto (já comentado aqui) o ódio expresso (e não apenas religioso, diga-se) à defesa dos direitos civis aos casais homossexuais.
            Sem contar os casos de “bullyng político”, em que crianças cujos pais votaram em Serra/Alckimn amedrontavam crianças cujos pais votaram em Dilma/Mercadante (em São Paulo)
            Possivelmente, nos declinaríamos em exemplos incontáveis: o rico que se incomoda com a ascensão econômica do pobre que passa a freqüentar lugares comuns; homossexuais que passam a ter seus direitos CIVIS conquistados e garantidos; mulheres solteiras que querem ter filhos... se sairmos de nossas fronteiras nacionais, veremos os índios bolivianos querendo decidir sobre seu país, revolucionários colombianos lutando pela soberania pátria e pequenas ilhas da América Central lutando para que sua riqueza pertença a seus filhos. Ah! O direito de votar sem ser ameaçado por ninguém.
            Negros/as, gordos/as e nordestinos/as é, à bem da verdade, a menor parcela que conseguiu se tornar “notícia pública” daquilo que todos os dias se constrói em nossa sociedade: a tolerância tem um limite de tolerância; “não respirem o mesmo ar que eu respiro” é a fronteira.
            Cada um dos exemplos citados expressa, à sua maneira, uma mesma postura e, por parte de nosso picadeiro e respeitável público, o mesmo dilema: quem está educando nossas crianças e jovens? Quem está formando e fortalecendo os valores de intolerância de nossa sociedade? Por que parece-me bastante evidente que os mesmo que condenam os “terroristas” que enfrentaram a Ditadura Militar (meu avô? Um terrorista? Sem chance...) evocam fim aos nordestinos, aos negros, aos pobres (“mantenham em número suficiente para ter um porteiro e uma empregada doméstica à minha disposição” diriam), aos gays, aos índios?
            Não é lugar incomum os “atletas do Rodeio das Gordas”, os xenófobos internautas contra o Nordestino e o índio da Amazônia e os nazistas do sul, dentre outros. Frequentam o mesmo lugar, com os mesmos princípios e os mesmo valores e continuarão a defendê-los.
            Quando montar em mulheres gordas passa a ser apenas uma “brincadeira”, quando desejar a morte aos nordestinos passa a ser apenas uma “manifestação espontânea de pleito eleitoral”, quando o nazismo passa a ser defendido apenas como uma “ideologia”, parece-me cada mais evidente, sombrio e concreto, o clamor de Rosa Luxemburgo a quase um século (1916): “Socialismo ou Barbárie”.
            A barbárie, nestas expressões todas, se caracteriza justamente pelo caminho que nosso conhecimento, nossa cultura percorre, a um fatal encontro com a intolerância.
            Não se trata de buscarmos nos livros escolares, nos lares (o conservadorismo tradicional de famílias tradicionais) ou na ausência de Leis esta resposta. E não se trata de uma resposta que procure encontrar o “fim do preconceito”... Trata-se de olharmos para tudo aquilo que nos rodeia e acreditar “opa! Eles podem estar errados”.
            Nos ensinam cada vez mais que o poder econômico, o poder de compra (que, em síntese, significa qual é a TV que tenho, quantos computadores existem na minha casa, qual carro eu dirijo e a altura da música que ele toca) é cada vez mais importante do que o que somos (o que eu assisto na TV, o que pesquiso e escrevo no computador, de onde e para onde vou com meu carro, que música eu escuto). Mais ainda, este “o que somos” ser entendido coletivamente, societariamente, a partir e na direção das relações sociais.
            Mais ainda... enquanto neste “não saber quem somos” não buscarmos o “que mundo queremos”, o nosso futuro e nosso legado será a derrota da bradação de Rosa: a barbárie!
O Subcomandante Marcos prefaciou este dia do Universal Circo Crítico... Ele o termina também (já utilizei este texto nos tempos do ArcaMundo).
"Em abril de 1994, o São Francisco Chronicle referiu-se ao subcomandante Marcos, voz dos zapatistas revolucionários em Chiapas, México, dizendo que tinha trabalhado num restaurante de São Francisco, mas que havia sido despedido por ser gay. A imprensa governamental do México lançou-se no ar: Um maricas revolucionário! Os Zapatistas responderam com o seguinte comunicado: Marcos é um gay em São Francisco, um negro na África do Sul, um asiático na Europa, m chicano em San Isidro, um anarquista na Espanha, um palestino em Israel, um índio maia nas ruas de San Cristóbal, um judeu na Alemanha, um insurrecto no Ministério da Defesa, um comunista no pé da Guerra Fria, um artista sem galeria nem portfólios, um pacifista na Bósnia, uma dona de casa só num sábado à noite em qualquer bairro do México, um repórter escrevendo histórias que enchem as páginas negras, uma mulher solteira às dez da noite, um camponês sem terra, um trabalhador desempregado, um estudante fracassado, um dissidente no meio da economia de livre-mercado, um escritor sem livros nem leitores, e, sobretudo, um zapatista nas montanhas do sudeste do México. Assim é Marcos, tão humano como qualquer outro neste mundo. Marcos é todas as pessoas exploradas, marginalizadas, as minorias oprimidas, resistindo e dizendo ‘Basta!’ – El Despertar Mexicano”
            Ainda dá tempo...!

Venham Todos!
            Venham Todas!
            Vida Longa!
            Marcelo “Russo” Ferreira

5 comentários:

  1. Estava anciosa pra ver o que vc escreveria sobre o resultado da eleição. Uma mulher no comando de um paíscomo o Brasil, parece tão "irreal". Gostei mesmo da reflexão que fizestes sobre xenofobia, preconceito...E sobre os valores capitalistas. Lembrei de um dos trechos de OSHO que diziam:"Você deve ensinar a seu filho que todas as religiões são belas por que são únicas"... "não existem religiões perfeitas"..."Os pais que amam seus filhos devem ensiná-los a ser livre e a respeitar a si mesma, pois ela só poderar respeitar o outro e deixá-lo ser livre se ela tbm conhecer a liberdade e o respeito..."
    Se os próprios pais ensinam as crianças a agirem dessa forma, tirando sua inocência,impondo-lhes aquilo que gostariam que elas fossem,por frustração, egoísmo e ignorância, então como podemos pensar em uma sociedade que possua valores mais humanistas? Eis o grande desafio de todos, da nossa presidente e dos próximos que virão...
    Vamos á luta
    Há braços

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  2. Olá, Patrícia...
    Grato sempre por suas passagens por aqui.
    Li, há algum tempo, Osho... no geral, tenho resistências sobre o pensamento como um todo, mas, nas particularidades, como as que descatastes, acho uma boa referência para as relações sociais, quer no âmbito micro-familiar, quer na sociedade como um todo.
    Mas, nunca nos esqueçamos: também ensina-se pela ausência...
    Vida Longa!

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  3. Amei o seu texto professor Marcelo! Concordo plenamente sobre as disputas políticas estarem influenciando negativamente(como na maioria dos casoas)as relações humanas. Muito bom!!!Um grande Abraço!

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  4. Olá, Paula.
    Seja bem-vinda ao nosso picadeiro, nossa lona e nosso pequeno Grande espetáculo...
    Há mais, muito mais por trás das questoes que envolvem as relações humanas. A política deveria, à bem da verdade, ser a menor delas.
    Vida Longa!

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  5. O que poderiaia ser dito, além de "viva lá revolucion?"!!!

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O Universal Circo Crítico abre seu picadeiro e agradece tê-lo/a em nosso público.
Espero que aprecie o espetáculo, livre, popular, revolucionário, brincante...! E grato fico pelo seu comentário...
Ah! Não se esqueça de assinar, ok?
Vida Longa!
Marcelo "Russo" Ferreira