RESPEITÁVEL PÚBLICO!

VENHAM TODOS! VENHAM TODAS!

domingo, 12 de setembro de 2010

“Pagarei com a minha vida a lealdade do povo" (Salvador Allende)...


Foi ontem, é verdade...
Mas passei o dia assistindo programas, reportagens, acessando o que se passava na internet sobre o 11 de setembro e, fica evidente, a nossa memória parece sempre conduzida pelo poder do Império, pela elite mundo afora.
Lamentamos, e isso não poderia ser diferente, as mortes de trabalhadores (prioritariamente os que, no WTC, serviam, limpavam, conduziam...), de bombeiros, de enfermeiros e médicos, dos passageiros das três aeronaves lançadas em dois prédios que, à bem da verdade, eram símbolo do império americano... Evidente que lamentamos.
Mas, perguntas que me saltaram à mente neste 11 de setembro de 2010:
1.    E o Haiti, o que se passa? Como está seu povo? Seus Pobres? Seus enfermos?
2.    E o povo afegão e iraquiano, o que sabemos da herança da invasão norte-america e demais países do império nestes anos de guerra infundada?
3.    E a carnificina cometida pelo Estado Colombiano, ainda sob a batuta do Presidente Álvaro Uribe, na região de Meta, no pequeno povoado de La Macarena, onde foi encontrada (a meros 200 km ao sul de Bogotá) a maior fossa comum da história recente da América Latina (cerca de 2.000 cadáveres), pessoas desaparecidas e que eram líderes sociais, campesinos e defensores comunitários... assassinados pelo exército colombiano? Por que não sabemos disso?
4.    E, olhando para nosso umbigo territorial, quem sabe como estão os municípios de João Alfredo, Aliança, Vicência, Araçoiaba, Belo Jardim, Cachoeirinha, Palmares, Branquinha, Murici, Viçosa, Capela, Rio Largo e os mais de 75 municípios atingidos pelas chuvas torrenciais que atingiram (principalmente) os Estados do PE e AL (mas não atrapalhou a programação jornalística durante a Copa do Mundo)?
5.    E o recente assassinato de José Valmeristo Soares (o Caribe), uma das lideranças do Acampamento Quintino Lira, no último dia 03 de setembro, cujo suspeito (mandante ou executante) é o Deputado Federal Josué Bengstson (PTB)? Por que não temos notícia?
Mais do que simplesmente “assistimos” o silêncio para a tragédia humana permanente revelada nestes e numa infinidade de fatos que nossa história, na forma fantasiosa do jornalismo sério (particularmente o da elite tupiniquim) que, quando a contam, é temporal, serve-se apenas para manter a audiência, o Universal Circo Crítico expressa sua pública opção de classe: lembrar um OUTRO 11 de setembro que teve, como conseqüência, a morte de mais de 3 mil pessoas, entre elas crianças de até 12 anos e mulheres grávidas e grande parte destas mortes como conseqüência de tortura.
Mais uma vez, expressamos nosso pesar sobre as mortes que se consumaram no atentado ao WTC, em 11 de setembro de 2001... Mas, enquanto nos apegarmos apenas a memória dos poderosos, da elite mundial, do Império Capitalista, continuaremos a dar as costas aos pobres, pretos, mulheres, campesinos, militantes, índios e velhos que não “servem” ao acúmulo da riqueza alheia.
E, para não deixarmos de lado nosso exercício poético e aprendiz de lutador, nossa homenagem a Salvador Allende, que in-ques-ti-o-na-vel-men-te, proferiu palavras mais sólidas e históricas do que o ex-presidente americano em outro 11 de setembro. Trata-se da última mensagem difundida pelo então presidente chileno, antes das antenas da Rádio Magallanes serem atacadas pelo exército, na manhã daquele 11 de setembro de 1973.
Com vocês, Salvador Allende:
"Certamente, esta será a ultima oportunidade em que poderei dirigir-me a vocês. A Força Aérea bombardeou as antenas da Rádio Magallanes.
As minhas palavras não têm amargura, mas sim, decepção. Que sejam elas um castigo moral para quem traiu o seu juramento (…)
Colocado num transe histórico, pagarei com a minha vida a lealdade do povo. E digo-lhes que tenham a certeza de que a semente que entregamos à consciência digna de milhares de chilenos, não poderá ser ceifada em definitivo.
Eles têm a força, poderão subjugar-nos. Porém, os processos sociais não se detêm nem com crimes nem com a força. A história é nossa e é feita pelo povo.
Trabalhadores da minha Pátria: quero agradecer-lhes a lealdade que sempre tiveram, a confiança que depositaram num homem que foi apenas intérprete de grandes anseios de justiça, que empenhou a sua palavra no respeito à Constituição e à Lei, e assim o fez.
Neste momento definitivo, o último em que posso dirigir-me a vocês, quero que aproveitem a lição: o capital estrangeiro, o imperialismo, unidos à reacção criaram o clima para que as Forças Armadas rompessem a sua tradição, que lhes fora ensinada pelo general Schneider e reafirmada pelo comandante Araya, vítima do mesmo sector social que hoje estará à espera, com mão alheia, de reconquistar o poder para continuar a defender as suas mordomias e os seus privilégios.
Dirijo-me a vocês, sobretudo à mulher modesta da nossa terra, à camponesa que acreditou em nós, à mãe que soube da nossa preocupação pelas crianças. Dirijo-me aos profissionais patriotas que continuaram a trabalhar contra o levantamento popular estimulado pelas associações de profissionais, associações classicistas que também defenderam as vantagens de uma sociedade capitalista.
Dirijo-me à juventude, àqueles que cantaram e doaram a sua alegria e o seu espírito de luta. Dirijo-me ao homem do Chile, ao operário, ao camponês, ao intelectual, àqueles que serão perseguidos, pois no nosso País o fascismo já esteve presente várias vezes: nos atentados terroristas, explodindo pontes, cortando linhas ferroviárias, destruindo oleodutos e gasodutos, perante o silêncio daqueles que tinham a obrigação de tomar providências.
Eles estavam comprometidos. A história irá julgá-los
Certamente, a Rádio Magallanes será calada e o metal tranquilo de minha voz já não chegará até vocês. Mas isso não é importante. Vocês continuarão a ouvi-la. Ela estará sempre junto de vós. Pelo menos a minha lembrança será a de um homem digno que foi leal com a Pátria.
O povo deve defender-se, mas não se sacrificar. O povo não pode deixar-se arrasar nem se deixar balear, mas tampouco pode humilhar-se.
Trabalhadores de minha Pátria, tenho fé no Chile e no seu destino. Outros homens hão-de superar este momento cinza e amargo em que a tradição pretende impor-se. Prossigam vocês, sabendo que, bem antes que o previsto, de novo se abrirão as grandes alamedas por onde passará o homem livre, para construir uma sociedade melhor.
Viva o Chile! Viva o Povo! Viva os Trabalhadores!
Estas são minhas últimas palavras e tenho a certeza de que o meu sacrifício não será em vão. Tenho a certeza de que, pelo menos, será uma lição moral que castigará a deslealdade, a covardia e a traição.
Salvador Allende”

Vida Longa a Salvador Allende!
Vida Longa aos lutadores e lutadoras do povo!

Venham Todos!
Venham Todas!

Vida Longa!

Marcelo “Russo” Ferreira



6 comentários:

  1. Olá Marcelo
    Relembrar esta data é sempre uma tentativa de causar uma certa comoção...Do tipo:"Óóó coitadinhos dos americanos" foram vítimas de "atentados terroristas",em que "milhões de inocentes" foram mortos...Parece que a mídia não se cansa de fazer isso! Passou até um filme na rede globo tratando do assunto.Pena que ainda existam tantas pessoas que não conhecem a história do imperialismo norte-americano no mundo...Não conhecem por exemplo, o significado de "América para os americanos"!Lamento pela ignorância daqueles que por motivos diversos (como por exemplo a falta de acesso à educação pública de qualidade e dos demais direitos sociais,garantidos por lei!!!) tomam como "verdade absoluta" aquilo que é divulgado através da mídia...O que me preocupa mesmo é que estamos na época de eleição e, mais uma vez, estamos sendo bombardiados com propagandas enganosas de políticos corrúptos e sem escrúpulos como Jáder Barbalho e, que provavelmente vai vencecer mais uma vez...Enquanto isso, o povo continua na *%4@$#...Rsss. Esse é o Brasil:um país onde "não tem guerra" nem um povo soberano(pelo menos por enquanto...). Vamos à luta!!!
    Patrícia

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. O mais triste é vermos que por aqui as coisas não são diferentes (e falo de uma forma bem simplista, dados os meus conhecimentos ainda rareados)ja que pessoas se utilizam deste tipo de comoção barata (com todo respeito a dor das familias envolvidas) para nos ludibriar de forma tão covarde. Como é o caso de nosso ilustre candidato a Deputado Estadual Alessandro (dono de uma rede de postos na região) que de maneira apelativa adotou o sobrenome Novelino (coisa que não havia feito nas eleições passadas) numa tentativa lamentavel de comoção, por conta do episódio de assassinato de seus irmãos. Infelizmente é assim que a banda toca por aqui... é lamentavel, mas você tem toda razão Marcelo.

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  4. Camaradas querida/o, Pat e Diego...
    NOssa luta é muito mais árdua, permanente (como diria Trotsky, em Revolução Permanente) e é bom reconhecermos jovens que também tem a verdadeira capacidade de indignar-se. É assim de se constrói a esperança...
    o Universal Circo Crítico agradece a presença de voces...
    Vida Longa!

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  5. Gostei da sua lembrança sobre outros 11 de setembro. Nada que diminua o horror que foi o 11 de setembro em 2010 nos EUA, assim como nada tira o horror das bombas atômicas em agosto no Japãp, das crianças vietnamitas sofrendo barbáries, etc...
    O que nos resta é abolir toda forma de violência, violência que os poderes sempre arrumam para justificar, mas que nunca terá justificativa. Violência que as crianças palestinas sofrem e que as crianças judias sofreram no holocausto.
    É preciso abolir e se indignar com todas para construirmos uma humanidade mais justa, nunca a justiça passa por caminhos violentos e opressivos, sempre pela democracia, diversidade e respeito.
    E a luta de classes? É preciso encará-la de frente, mas nunca acreditar que a violência seja o caminho para vencê-la. Mandela, Gandhi, Luther King, Betinho, Lula e tantos líderes que trilham por caminhos desta crença. Eu fecho com eles.
    Belo texto e ótima lembrança.
    Mvbjs

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  6. Olá, Camila...
    Essa semana eu li uma entrevista de Chico Oliveira. Em síntese: não dá pra esperar acabarem as águas e as florestas (fauna e flora) para descobrirmos que dinheiro não se come. E, quando penso no texto e nesta entrevista, não consigo pensar em outra coisa, senão aquela que me diz que muitas vezes, mas muitas vezes mesmo, os inimigos da humanidade (imperialismo, patrões, elite etc.) não vão se convencer disso. E por que? Porque a resposta destes é "é, mas vai acabar a comida da relé primeiro... então, terei tempo para me proteger", mesmo sem água, mesmo sem florestas...
    Um tema realmente para se refletir muito...
    Ah! E claro, o Universal Circo Crítico é sempre honrado por ter sua visita.
    Vida Longa!
    MVBjs

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O Universal Circo Crítico abre seu picadeiro e agradece tê-lo/a em nosso público.
Espero que aprecie o espetáculo, livre, popular, revolucionário, brincante...! E grato fico pelo seu comentário...
Ah! Não se esqueça de assinar, ok?
Vida Longa!
Marcelo "Russo" Ferreira