“(...) - Amigo é prá essas coisas
- Tá...
- Tome um cabral
- Sua amizade basta
- Pode faltar
- O apreço não tem preço, eu vivo ao Deus dará”
(Silvio Silva Júnior/Aldir Blanc).
Salve, Salve, caríssimo/a e velho/a amigo/a.
Saudações... quanto tempo.
Mudanças, caríssimo/a... mudanças. Propriamente dito.
Passei um tempo em silêncio, mas por conta das conjunturas processuais de mais uma mudança de CEP, Endereço, Cidade. Fazendo as contas direitinho, foram, até hoje, 19, nada mais, nada menos do que 19 endereços diferentes, em 6 cidades diferentes de quatro estados, desde os tempos na Vilinha, em Sampa. Já pensei (não seriamente) em me qualificar no ramos de mudanças.
Lembro de uma canção de Oswaldo Montenegro: “Se você já perguntou, agora muda de assunto. Hoje eu sei que mudar dói, mas não mudar dói muito” que, claro, trata-se de uma canção espirituosa, não física. Ou apenas física. Mas, é um trecho de canção que gosto muito, pois me desafia constantemente e que, nestes tempos de arrumação da nova casa vem me acompanhando. Aliás, arrumada bem virginianamente, diga-se de passagem: livro por livro, quadro por quadro, prateleira por prateleira e por aí vai...
Mudar-me de Belém para Castanhal tinha elementos, em princípio, pontuais da relação doméstica com a de trabalho. Mesmo sendo uma cidade próxima de onde morava, tornava-se cansativa a rotina de ida e volta, principalmente considerando que a volta era mais complicada, a estrada está mais judiada, cheia de remendos. E ‘tô p’ra ver o lugar onde encontraremos motoristas – profissionais ou amadores – que respeitem suas próprias vidas e a dos outros. Na estrada, então.
Mas, como ia dizendo, apesar de bem importante (agora, demoro 15 minutos no percurso casa-Universidade, mesmo considerando a possibilidade de pegar vários cruzamentos de sinal fechado), não se tratava apenas de estabelecer uma relação, digamos, mais humanizada de deslocamento casa-trabalho e vice-versa. Tratava-se, também, de realmente dar “organicidade” (na acepção política da palavra mesmo) daquilo que defendemos em nossas vidas, em nossa militância, em nossos Projetos Históricos. Veja se não concorda comigo...
Primeiro, a própria relação de dedicar-se à militância da sala de aula, da relação pedagógica que denominamos “ensino”. É verdade, e nunca me iludi disso, que temos sempre aqueles/as alunos/as nossos que ou nos testam (isso é muito bom) e/ou que não concordam com nossos olhares e, até mesmo, métodos. Assim, estabelecem a resistência. Por isso mesmo que não podemos deixar de ver essa relação, seja no ensino básico (da qual o Tio Marcelo aqui já vivenciou e tem saudades), seja no ensino superior, como uma relação de militância, não é verdade?
Mas, também fora desta relação do ensino, outras frentes nos convocam a olhar para o interior (onde eu, particularmente, estou vinculado em nível de atuação profissional). Sempre nos acostumamos a entender que tudo acontece na capital e/ou nos grandes centros urbanos. E nossa juventude, em particular, assim entende. E o que isso significa? Nossos jovens cada vez em maior número e mais rapidamente dão as costas às suas raízes. Não é, também, querer ser romântico ou puritano demais, no sentido de “oh! Neguem a modernidade e os avanços tecnológicos e fiquem no seu interior, naquela vidinha que passa devagar”. Isso, sim, seria de um, no mínimo, bairrismo tacanho, não concorda? Mas é justamente de ver sua raiz como uma vida boa e que precisa ser melhorada, numa relação de conflito e harmonia entre suas tradições e os avanços tecnológicos.
Ou seja: o interior, pra compor minha decisão de mudança, é um lugar que precisa também de militância, de identidade. Um lugar onde precisamos mais aprender do que “ensinar”. E é interessante isso. Com a estrada que já rodei, os aprendizados e as canções, ainda é um exercício profundo, paciente, pedagógico e militante não vir para o interior com “eu sei de tudo!”, mas, justamente o exercício dialético contrário. Ou contrário dialético... Égua, da viagem! Mas é um “eu sei um tanto assim”, com “vocês sabem um tanto assado” que deve ser priorizado e, claro, trata-se de uma grande aprendizado.
Mas, é verdade, algumas coisas são pontuais e benéficas por esses novos ares.
A molecada voltou ao bom e velho convívio de varanda. Qualquer dia mando as fotos. Eles realmente se sentem bem melhores em poder passar um final de tarde de fim-de-semana, as noites durante a semana e até mesmo o amanhecer na varanda de casa, vendo o lado de fora da casa com uma perspectiva bem maior de visão. Até o pêlo deles está melhor, bonito (o banho ajuda). Só não levei para passear ainda. Parece característica de interior os “cães pela rua”. Daí, preciso de uma nova maneira de sair tranquilamente com eles.
Apareça por aqui... é só avisar que abro aquela cachaça (que sabes que aqui sempre é ordem ter uma cachaça de “prêma" p’ra receber os amigos), fazemos um “ajeitadinho” para comer e jogamos conversa afora. Como nos sempre, velhos e futuros tempos.
No mais, caro/a amigo/a, espero que desculpe o silêncio deste que te escreve. Mudanças são assim mesmo. É verdade que algumas eu as fiz mais rápido. Mas, sei lá, essa foi diferente...
Marcelo “Russo” Ferreira
P.S.: isso é apenas uma carta. Ajuda para retomar o espaço do Universal Circo Crítico e falar com velhos/as e queridos/as amigos/as. Não é, acredito, algo que valha a pena ser plagiado.
Leio mais, tanto minhas literaturas, quanto para o trabalho... Por falar nisso, eu e uma camarada mineirinha (uai! Hehehe) iniciamos um projeto bacana em um Assentamento Campesino da região, do MST. Estamos bastante confiantes que será um belo e grandioso trabalho. Até para “mobilizar” nossos estudantes, em sua pelo menos curiosidade de “o que é que faríamos em um Assentamento? Ah! Vou entrar nessa p’ra descobrir”. Descobrir! Que bela palavra para nossos jovens se apropriarem...
Fazia tempo que eu não recebia uma carta desse amigo :-)
ResponderExcluirBons ventos pra tu!!
bj
Joanna
Olá querido...
ResponderExcluirComo sempre subjetivo né?"a dialética contrária" essa é bacana... Estou pensando em criar um glosário com as palavras e expressões que vc usa hehehe.Mudanças são sempre estranhas...Mas,necessárias...Adorei saber do projeto no assentamento quero conhecê-lo!Tbm quero tomar uma cahaça na tua nova casa rsss.
Patrícia
ôbaaa! cachaçaaa!
ResponderExcluirQuando eu for em belém, vou cobrar conhecer a casa nova em castanhal e revê os meninos, alpem de bater um longo papo com aquela chachaça e uma comidinha que não tenha caragueijo né?
Um beijo maninho!
temas sobre mudanças sempre balançam com a gente, por mais que tenham sido várias, cada uma é nova, e tudo "mais uma vez".
=***
Saudades!!
Meu caro amigo, espero que as mudanças em sua vida sejam sempre p´ra melhorar, sinto falta de nossos longos e bons bate papos, hoje nos reunimos na casa de Betânia para uma roda de caranguejo e sentimos sua ausência.
ResponderExcluirEstarei aguardando esse convite!!!
Abraços
Oi Marcelo... por um minuto me senti pertinho conversando contigo.
ResponderExcluirMudanças fazem mesmo parte da tua vida hein, 19? Nooossa, só tu mesmo, pelos menos das pessoas que eu conheço, só tu! Mas é isso aí, tu pareces mesmo ser uma pessoa em constante mudança seja ela doméstica ou pessoal.
Tenho orgulho de ter cruzado contigo na Universidade... é muito bom sentir alguém com uma fé grandiosa de fazer diferente pra viver num mundo mais harmonioso e não apenas sentar e dizer: "Eu sozinho não vou mudar o mundo..." O que geralmente as pessoas falam quando exponho algo com essa fé que tbém tenho.
Enfim... quero conhecer tua casa e bom saber que é em Castanhal... espero ser tua vizinha um dia, adoooooro essa cidadde que tem o fim de tarde mais bonito que já vi: tranquilo, um sol forte mas que não "queima", uma paisagem bonita e um ventinho bom de começo de noite... Aaaahhh uma pontinha de inveja boa... =)
Felicidades!
Beijo duplo!
19 vezes!… existia uma brincadeira no meu tempo de criança onde “encarnávamos” em alguém que se mudava muito: “vc peidou na igreja foi?!” (rsrs). Até hoje não sei por que falávamos isso.
ResponderExcluirPf. Grande abraço e continuemos na luta de tentar aliviar (nem que seja por um instante) a dor do oprimido e trazer um pouco de Paz às pessoas ao nosso redor, mas não a Paz que uma ideologia egoísta implanta na sociedade e sim aquela onde até mesmo em momentos difíceis podemos abrir a boca e afirmar com convicção: eu estou bem! Esta Paz ninguém consegue entender.
até mais irmão
Thyêgo
Olá Marcelo,
ResponderExcluirHoje é um dia muito especial. Sabes por quê? Ao abrir meu e-mail,recebi um belo presente o endereço de seu Blog. Não resisti a tanta curiosidade e acessei imediatamente, nossa! perfeito. Quanta sabedoria vindo de você não poderia ser diferente não é mesmo.
és uma pessoa iluminada. Deus te proteja!
Carinhosamente,
Tê
Saudades de receber cartas de amigos(as) que contem como anda a vida... e vida longa esta sua hein... depois de tantas mudanças!
ResponderExcluirComo não poderia deixar de me escalar (por isso alpinista), qualquer dia passoa ai por estas bandas pra tomar aquela cachacinha, aquela?...
bjs e boa estadia neste seu novo refúgio.
Aniele
Olá coração,
ResponderExcluirEm beijo para este coração que se alegra, como o meu, pela educação e seus encantos e desencantos...
Ei não se esqueça da minha promessa no último Círio, seu carro irá todo enfeitado para o Café na casa da Zaira e Robson no sábado.
bjs
A melhor coisa quando escrevemos uma carta, o que sempre esperamos com ansiedade, é a resposta. Joanninha querida, Pat brava lutadora, Linna Linna, meu velho camarada Robson, Elys que tanto gosto, Thyêgo bravo ator popular, Tê (saudade de ti), Aniele Bacana, Suellen... Que bom receber notícias por essas bandas.
ResponderExcluirSejam sempre bem vindos...
Vida Longa!
Abreijos
Ha braços!
As mudanças são sempre estressantes... mas sempre fale apena.
ResponderExcluirEspero que goste, tanto quanto eu, desta nova cidade.
OH!!!!!
Nem imaginas o quanto foi bom ler está carta... me vez lembrar minha vinda para Castanhal, comigo foi um pouco diferente chorei bastante...me sentir em um beco sem saída, quando deixei minha colônia e passei a encarar de frente a zona urbana. Por muito tempo fiquei assustada, não sabia que poderia encontrar bons amigos que facilitasse minha existente neste espaço rsrsrsr Hoje depois de quase 5 anos, percebo que o dificil é a primeira vez, pois na segunda traz experiência...
Bjos DIELLE Nascimento
Olá, Di...
ResponderExcluirQue bacana te receber em nosso picadeiro.
O interessante é que venho fazendo, de certa maneira, o caminho contrário: saí de uma metrópole como São Paulo, passei por Recife, Brasília (e, em ambos, pelos locais centrais e periféricos) e Belém... fui indo "pro interior". Então, o que chamas de urbano, na minha vida e história, nem é tanto assim... que coisa, né? Daqui a pouco moro num sítio...
Mais uma vez o nosso circo manifesta sua alegria em receber-te.
Vida Longa!
Abreijos!
Há braços!
Marcelo, tudo bem. Muito boa sua carta e deu vontade de aparecer sim, embora não beba cachaça, quem sabe um suco? Sobre o assentamento e estudantes; houve um projeto bem bonito entre a UNICAMP e um assentamento em Campinas, acho até que ainda deve existir. O pessoal da Educação Física trabalhava com lazer, da engenheria de alimentos, grupo encabeçado pelo agora Anjo Vitor Negrete, cuidava desta ´parte de nutrição, alguns da arte e música desta parte mesmo... Deve ter ficado alguma coisa escrita, foi algo bem prático, mas sempre tem alguém que se lembra de transformar em pesquisa ou textos.
ResponderExcluirMuvabreijos
Camila
Oi, Camila, querida...
ResponderExcluirQuanto tempo, hein?
REalmente, a UNICAMP é uma referência muito importante nesta relação com os movimentos sociais organizados, em particular os campesinos. Lembro de ter testemunhado o primeiro encontro de Jovens Sem Terra na Unicamp, com a imprensa batendo em cima.
E quanto à "cachacinha", é simbólico. Recebemos com cachaça, uma comidinha, um violão, um bate-papo e por aí vai...
Seja sempre bem vinda.
MVbjs
Que bom ter notícias tuas! Há muito não tinha.
ResponderExcluir"Respirar com o corpo inteiro
se livrar de algum medo
trocar de bem com a vida
descobrir que a beleza está muito mais num olhar
É tão bom quando tudo dá certo!"Essa era a canção que lembrava enquanto lia tua carta. EAcredito que Castanhal é um pouco assim, embora eu não a conheça bem.
Mas mudanças virginianas? Essas eu conheço muito bem!! Aliás antecipo os meus parabéns pelo seu aniversário. Fique bem. Fique muito bem!
Olá, Myrian, querida...
ResponderExcluirQue bom te encontrar em nosso picadeiro.
Adorei a reflexão, acho que é também um pouco disso que procuro, Mas, também vou atrás de nossa militância, tao necessária no interior do nosso país, né?
E lembre-se... a cachaça é a expressão simbólica de nosso "seja bem vinda"...Vida Longa
abreijos
Que linda carta...Que bom saber que você e seus "filhos" estão bem!
ResponderExcluirVi um pouco da história do Alexs em sua carta, mas fico feliz por vocês dois terem se aventurado no interior, pois assim, tive a oportunidade de me apaixonar pelo Alexs, então ... fique espero, tem alguém por ai que já está de olho em você!!!
Um grande abraço de toda família:
Mi, Alexs e Gabi.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirOlá, Marcelo, estive lendo alguns de seus textos(somente agora, eu sei um tanto tardio) e pude perceber uma expressão talvez nova(não nova no sentido da palavra), "égua", não estou lhe recriminando, quem sou eu. Curiosidade, ainda tens seu sotaque? Vou apropriar-me de sua saudação, abreijos!
ResponderExcluirOlá, Alessandra...
ResponderExcluirNão importa o tempo, sempre ficamos felizes com todas as nossas visitas e espero que sempre apareça em nosso Circo.
Sou, acho, um tanto quanto cosmopolita. Paulistano com sotaque pernambucano que fala termos do PA! acho que é isso...
Apareça sempre que puderes, tá?
abreijos
Vida Longa!