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VENHAM TODOS! VENHAM TODAS!

domingo, 6 de junho de 2010

Conversas por aí... princípios

“Há algum sentido nesta vida passageira.
Que algum dia nos levará em algum lugar”

(Procuro por uma luz/1987)
Marcelo Russo e Sandro Ricardo)


          Era uma viagem das muitas viagens que faço, acerca de dois anos, de Castanhal (onde trabalho) para Belém (onde moro). Viagem meio enjoada, por conta de uma estrada meio perigosa (o caminho contrário ela é mais inteira, conservada), normalmente já cansado do dia de trabalho e sempre concorrendo com as imprudências e incompetências de outros motoristas... mas, neste caso, é o país inteiro, não tem como fugir (só desistindo de dirigir).
          Nestes dois anos, muitas foram as caronas, quer de alunos (a grande maioria), quer de colegas de trabalho (professores). Conversas de todo tipo, com vários assuntos: meus cães e os cães dos outros, minha vida profissional em PE e Brasília e os desafios do mundo do trabalho dos meus alunos (em breve professores), as viagens de sempre, algumas estórias, os “porqueres” de estarmos aqui e não acolá, orientações de pesquisa e “inxirimentos” nas pesquisas dos outros. De tudo um pouco.
          Também foram muitas as expressões musicais nas minhas caronas. Ah! Isso era claro que iria acontecer: Cordel do Fogo Encantado, Ira, Legião Urbana, Led Zepellin, Queen, Ednardo, Zeca Baleiro, Chico Buarque, Raíces de América, Iron Maden, Paulinho da Viola (ninguém acredita), Saltimbancos, Renaissence, Yes, PFM... Rock progressivo, Música Popular Brasileira, Música Latina, Estórias para escutar, Samba. Até “brega” – com certa resistência, reconheço – já passou nos acompanhamentos das idas a Castanhal e, principalmente, das voltas.
          Nunca pensei nisso, mas daria para escrever um livro de crônicas, “caronas com o professor” (escrito pelos alunos) ou “carona aos estudantes” (escrito por mim). Neste caso, talvez eu desse outro nome. Sei lá, talvez, “quando a carona também é sala de aula”... Coisas de minhas viagens.
          Mas, como eu falava, reflito sobre “uma das muitas viagens” e essa, em particular, provocou a minha decisão de escrever um novo tema no Universal Circo Crítico: Conversas por aí. Tanta coisa a gente aprende conversando, que nem percebemos.
          No “cd-player” (antigamente era toca-fita, mas não chamamos de toca-CD o que colocamos no carro...), Legião Urbana Acústico. Tocava a segunda música, Índios. “Quem me dera ao menos uma vez que o mais simples fosse visto como o mais importante...”.
          Eu, um espírita (mais filosófico do que religioso), marxista, socialista, lutador do povo em constante aprendizado. Revolucionário...? ainda não. São muitas as características para eu atingir este nobre status.
          Ele, aluno de uma das minhas turmas da Faculdade de Educação Física, rapaz mais “quieto” e observador. Evangélico e de uma paz constante e profunda, testemunhada por seus colegas de labuta estudantil.
          A conversa envolvia também o debate religioso e espiritual! O comentário: “essa música é quase uma oração”. E a oração era aquele momento em que você conversava consigo mesmo, com o seu íntimo, dentro de suas particularidades e introspecções, dialogando com seus sonhos, com seu caráter, com suas contradições, projetando algo adiante.
          Princípio! A palavra chave de uma conversa que fez da cansativa viagem de volta a Belém algo agradabilíssimo! Palavra colocada, para duas pessoas bem distintas em seus projetos de homem, mundo e sociedade, sob olhares diferentes para a oração e provocada por uma música dos anos 80 do século passado. A oração que introspecta, a oração que revoluciona.
          Como é interessante isso: duas pessoas, com pensamentos espirituais distintos, possivelmente divergentes, silenciosamente antagônicos (difícil falar em antagonismo em religião: Deus X Lúcifer?) e uma palavra, quase revolucionária (“princípio”), aproxima suas idéias e desejos de um mundo diferente.
          Princípio, que evidencia o “ser” ante o “ter”. Que destaca o coletivo ante ao individualismo. Que busca o abraçar superando o afastar. Que defende o bem, não o bem ingênuo, mas o bem necessário à própria existência da raça humana na terra, em detrimento do mal, aquele que faz as pessoas passarem por cima de quem quer que seja para conseguir seus objetivos, que normalmente resumem-se no ter.
          É assim que ensinamos e aprendemos... É assim, penso eu, que a Universidade (já que falo das caronas com meus alunos) precisava agir, construir-se.
          Ver nossos/as estudantes como sujeitos que não irão (ou que não devam) se vender à estrutura de sociedade que os destrói cotidianamente, mas, sim, como jovens que tem necessidade e capacidade de transformar essa sociedade em busca do bem coletivo.
          Um grande desafio!
          Pois grande é o Princípio!



          Venham todos!
          Venham todas!



          Vida Longa!



Marcelo “Russo” Ferreira



P.S.: a epígrafe é de uma canção escrita junto com um grande amigo dos tempos de Escola. Um dia conto esta história, com a letra completa.

7 comentários:

  1. hoje que levo o dia todo pensando em que projeto de humano tenho, para minha própria existência e por consequencia para a sociedade em que me produzo e que eu também produzo, suas palavras ecoam sincronicamente... esquecemos que aprendemos muito (ou só assim aprendamos no fundo!) em nossas conversas... por isso, fundamental falar com "toda diferente gente", para aprender mais... para ter muitos e inúmeros princípios a cada vida!!!! saudades, meu carinho... abreijos, Adriana Castro

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  2. Marcelo...q viagem heim?????
    Espero um dia ser protagonista de uma das histórias....vai ser massa!
    Bjocas!
    Céres

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  3. Um dos mais belos textos que escreveu, Marcelo.
    ...Sobre Ter ou Ser Fromm escreveu um livro, chamado "Ter ou Ser", que discute o que quase todas as religiões possuem em comum: esta busca por um princípio ético universal. A prática de todas budista, islâmica ou cristã, levaria a uma humanidade com pura tolerância entre todas e nenhuma injustiça, exploração do homem pelo homem e do homem contra a natureza... O que nos falta, ainda, é aprendermos a praticá-las no cotidiano.
    Muvabreijos

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  4. Drika querida... saudações.
    E as "conversas de preto"? hein? Quantas vezes descuidamos de escutar aqueles que tem experiência p'ra dar e doar (porque seria um insulto a eles propor comprar...).
    Não escutamos mais, não dialogamos mais... Precisamos resgatar, principalmente em nossas crianças e jovens que cada vez estão mais perto de emitirem grunhidos ao invés de palavras, a arte do diálogo...
    Vida Longa, Drika.
    Abreijos

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  5. Ceres, minha querida amiga cabana...
    Eita, e precisamos marcar mais um café bacana como aqueles, né? Até para também aprendermos em nossas conversas com Sophia!
    Abreijos
    Vida Longa!

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  6. ... é, Camila...
    è transformarmos o extraordiário em cotidiano.
    Praticar o diálogo é o maior critério de verdade das nossas "conversas por aí"...
    MVBjs!

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  7. Marcelo, dpois q terminar a qualificação vamos fazer a maior comilança....adorarei!
    Bjocas!
    Céres

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O Universal Circo Crítico abre seu picadeiro e agradece tê-lo/a em nosso público.
Espero que aprecie o espetáculo, livre, popular, revolucionário, brincante...! E grato fico pelo seu comentário...
Ah! Não se esqueça de assinar, ok?
Vida Longa!
Marcelo "Russo" Ferreira