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segunda-feira, 10 de novembro de 2008

O Universal Circo Crítico... Conversas ao pé de ouvido com Ághata Lídice...

"Desde criança sempre gostei do meu nome,
não só por achar bonito mas também pela sua história
que sempre ouvia ser relatada por meus pais
às pessoas que freqüentemente revelavam
curiosidade em torno de sua origem”
(minha Tia Sacha Lídice, 1985)

Bem vinda, querida Ághata Lídice... Bem vinda!
Sua chegada é celebrada tanto pela chegada em si, como, também, pelo fato de conhecer seus pais (Cidinha e Aquiles, o nosso querido “Quarta-feira” – depois pergunte ao seu Tio João Alberto porque chamamos seu pai assim), pessoas importantes, em especial nos últimos cinco anos de minha vida aí por essas terras candangas.
Mais do que falar do dia 09 de novembro, dia que comemoraremos, ano após ano, a sua chegada, a vinda de Ághata Lídice em nossas vidas, quero aqui viajar profundamente nas histórias de seu dia e de seu nome que, podes ter a mais absoluta certeza, são imensas e intensas.
Sobre o novembro há muito o que contar.
Em outros dias do mês de novembro, encontramos muitas histórias de significativos aprendizados: a memória de Zumbi dos Palmares, um dos poucos e verdadeiros heróis brasileiros (derrotado e morto no dia vinte, em 1695); o nascimento do abolicionista Joaquim José da Silva Xavier – o Tiradentes (1748); a partida de “Aleijadinho” (1814), um dos (se não o) mais importantes escultores brasileiros. Sem falar naquilo que irás aprender também na escola (como o 15 de novembro – proclamação da República do Brasil) e o que, possivelmente, não será a escola que irá te ensinar (o assassinato de Carlos Marighella, em 1969, um dos principais líderes da luta armada contra a ditadura militar no Brasil e amigo de meu velho avô, Hiram de Lima Pereira).
Mas se tu chegasse dois dias antes, dia 07, ah! que data especial na história da luta do homem contra o poder, pois foi em 07 de novembro de 1917 que, liderados por Vladimir Lenin, os bolcheviques tomam o poder na Rússia e derrubam o governo provisório de Alexander Kerensky. E é por ser lúcido pôr essa memória da humanidade que a desejo lutadora, sempre, por ti, por sua família, por seus amigos e por aqueles que não conhecerás, mas saberá que existem e esperam sua solidariedade permanente.
Mas se fosse dois dias depois, vale a pena assinalar, estaríamos também comemorando o aniversário da Independência de Angola (1975). Mas a escola fala mais da Independência dos EUA.
É na véspera de seu nascimento que indianos homenageiam a morte de cerca de mil pessoas que morreram em seu país na passagem de um ciclone, com ventos de 200 quilômetros por hora, em 08 de novembro 1996. Por isso, minha pequena Ághata Lídice, respeite a mãe de todas as mães da vida e de todos os seres vivos, a natureza, pois ela não está longe de ti.
Mas, em exatos 09 de novembro, a história do homem e da humanidade registram outros importantes acontecimentos (não vou contá-las cronologicamente, certo?):
Foi neste dia, em 1799, que Napoleão Bonaparte chegou ao poder na França através de um golpe de Estado e, cerca de século e meio depois, durante os anos da Primeira Grande Guerra, um navio italiano (Ancona) é afundado por torpedos alemães com 272 pessoas à bordo e Guilherme II, imperador alemão, se exila na Holanda e a Alemanha é proclamada uma república, em 1915 e 1918 respectivamente. Lembre-se, querida Ághata Lídice, sempre encare e enfrente com coragem e ousadia toda e qualquer forma de autoritarismo; toda e qualquer forma de opressão; toda e qualquer forma de desumanização em nome de poderes que não venham a ser o da liberdade e da justiça popular.
Foi em 1889, com o Império brasileiro mal das pernas, que aconteceu o Baile da Ilha Fiscal, a última vez que Dom Pedro II apresenta-se com honras de imperador. Durante o Baile, dizem os mais informados, era realizada no Clube Militar do Rio de Janeiro uma reunião republicana para a derrubada da monarquia e pela instauração da república. Só não sei lhe dizer se é o mesmo Clube Militar que anda dando com os ombros à vontade do povo brasileiro de conhecer à fundo a história da ditadura no nosso país. E aqui, mais uma lição de seu aniversário: a luta do homem contra o poder é a luta da memória contra o esquecimento (Milan Kundera – autor e músico tcheco).
Foi em 1953 que o Camboja (que em 1884 passou a ser tratado como parte da Indochina francesa, vai entender...) tornou-se independente da França, depois de ter procurado sua proteção em 1863. É preciso sempre conhecer a fundo a nossa história, para saber o que isso representa em nossas vidas, mesmo que em países distantes... vais entender isso mais adiante, neste texto mesmo.
Foi também neste dia especial p’ra ti (e para nós) que a Ponte Rio-Niterói foi inaugurada, em 1968 – aliás, quem a inaugurou foi a rainha inglesa Elizabeth II (hein?) – e a saudosa Telebrás, privatizada a preço de banana (que nem anda tão barata assim, mas fica pelo conto popular, ta?) foi criada em 1972. Mais uma pequena e importante lição: nunca permitas que, em nome do poder econômico, marcos do povo sejam bagatelados aos mentirosos donos da força de produção mundial.
Foi em 09 de novembro de 1989 que o muro de Berlim, que dividia a Alemanha em Ocidental e Oriental, fora derrubado. A queda do muro passa a ser um dos marcos do fim da Guerra Fria. A unificação oficial do país acontece no ano seguinte. Já sobre o que significou o fim da Guerra Fria (teve gente que dizia que era o “Fim da História”), penso que ainda irás vivenciar muito em seus certos longos anos de vida.
Ah! aprenda a jogar xadrez, que jogo magnífico. E foi em 1985 que o soviético Gari Kasparov é proclamado pela primeira vez campeão mundial de xadrez.
Mas, nesta longa viagem histórica, sua chegada tem algo de especial, ah! realmente muito especial: seu nome.
Quando seus pais me disseram “É uma menina!”, comentei sobre os nomes de minha mãe e tias (todos muito bonitos) e eles gostaram do nome Lídice, pela história que contei a eles e que está marcado também na história de minha tia Sachenka (Sacha Lídice). Foi uma alegria imensa saber que eles escolheram este nome para compor o seu primeiro nome, assim como o foi com minha tia. E, por isso, em breves palavras, te conto ao pé de ouvido, o que significa chamar-se Lídice.
Lídice era um pequeno povoado da antiga República da Tchecoslováquia, invadida e massacrada por alemães-nazistas em 10 de junho 1942.
O massacre, em si, foi uma resposta vingativa ao assassinato realizado por agentes da resistência tcheca ao alemão SSO Reinhard Heydrich, em 27 de maio daquele ano. Heydrich resistiu até o dia 04 de junho.
Após este dia, foram presos e mortos mais de 1000 acusados por aquele assassinato, além de 3000 judeus deportados dos guetos e executados em Theresienstadt. Em Berlim, no dia da morte de Heydrich, em represália pelo atentado e morte de seu comandante, 500 judeus foram presos, sendo que 152 deles foram executados.
Segundo o historiador Adriano De Toni “Sob o pretexto de que haviam abrigado os assassinos, Hitler ordenou que a pequena Lidice, fosse ‘riscada do mapa’, deveria ser completamente destruída e todos os mapas do Reich fossem re-impressos, não constando mais a pequena vítima, para que fosse esquecida pela história”. Naquele povoado, como uma aclamação às vontades de Reich, todos homens e garotos com idade acima de 16 anos foram fuzilados e as mulheres (esposas e mães) deportadas para o campo de concentração de Ravensbrück, onde seriam posteriormente exterminadas. Já as noventa crianças que vivian na vila foram enviadas ao campo de concentração de Gneisenau, onde posteriormente seriam mandadas para orfanatos nazistas, por terem traços arianos (cor dos olhos, cor do cabelo etc.). A cidade foi simplesmente “riscada do mapa”, como assim queria o império nazista... mas não foi esquecida pela história.
A pequena Lídice foi reconstruída após o final da guerra, ainda que não no mesmo lugar. Neste, foi erguido um monumento para que as futuras gerações não se esqueçam do ocorrido e para que talvez nunca mais volte a ocorrer um fato tão grotesco.
Encontrarás, também, no mapa brasileiro, uma cidade chamada Lídice, também em homenagem ao pequeno vilarejo tcheco. A antiga Santo Antônio do Capivari, a cerca de 40 quilômetros de Angra dos Reis, abriga sinais dessa história, como a estátua de uma Fênix (a mitológica ave que renasce das cinzas) na praça central. No seu Centro Cultural há marionetes tradicionais da República Tcheca, quadros e exposições sobre o país do Leste Europeu. Uma história distante perto de nós.
E foi assim que Hiram de Lima Pereira e Célia Pereira (meus avós) batizaram minha bela Tia Sachenka: Sacha Lídice Pereira e seu nome e sua homenagem correu o mundo e chegaram naquele pequeno povoado reconstruído. Minha tia tem um orgulho histórico de seu nome e já me contou muito sobre isso e, agora, espero que também tenhas orgulho infinito sobre o que significa chamar-se Ághata Lídice que, traduzindo ousaria chamar-te: Pedra Preciosa da Luta Popular Mundial.
Por fim, pequena Ághata Lídice, não posso deixar de lembrar que em um 09 de novembro partia, aos 64 anos, a poetisa brasileira Cecília Meireles, a primeira mulher a ter um livro reconhecido pela Academia Brasileira de Letras (que passados 44 anos, parece-me que ainda é um centro literário-intelectual machista) e, pesquisando um pouquinho sobre essa importante poetiza brasileira, encontrei uma obra publicada postumamente e que aqui, celebrando sua chegada, a reproduzo:
“Ou se tem chuva ou não se tem sol, / ou se tem sol ou não se tem chuva! / Ou se calça a luva e não se põe o anel, / ou se põe o anel e não se calça a luva! / Quem sobe nos ares não fica no chão, / Quem fica no chão não sobe nos ares. / É uma grande pena que não se possa / estar ao mesmo tempo em dois lugares! / Ou guardo dinheiro e não compro doce, / ou compro doce e não guardo dinheiro. / Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo... / e vivo escolhendo o dia inteiro! / Não sei se brinco, não sei se estudo, / se saio correndo ou fico tranqüilo. / Mas não consegui entender ainda / qual é melhor: se é isto ou aquilo.” (Ou isto ou aquilo – Cecília Meireles).
É isso, minha pequena Ághata Lídice. Seja bem-vinda!

Venham Todos! Venham Todas!
Vida Longa à Ághata Lídice!
Vida Longa!

Marcelo “Russo” Ferreira

3 comentários:

  1. Puxa Vida, Meu Sobrinho Querido!!! Parabéns!!!!


    Você arrebentou nesta homenagem a Agatha Lidice e de quebra ainda me senti lisonjeada. Lógico, pela sugestão do nome para sua amiga, pela constatação a todo instante do grande valor que você dar a sua familia e a sua história. Pois é meu querido sobrinho, felizes os que reconhecem e valorizam os que lhes antecederam na construção de uma história familiar. E nossos pais, nossos avós, bisavós nos deixaram um grande legado e merecem nosso respeito e nossa homenagem. Sempre tive vontade de ver mais uma Sacha Lidice nascer na familia. Será que eu vou ver? rsrsrsrsrs... Que nome lindo!!!. rsrsrsrsrsrs...

    Quem quiser saber mais sobre essa história acesse este link http://picasaweb.google.com.br/sachalidice/CorrespondNciaComATchecoslovQuia# .

    Abraço

    Tia Sacha Lidice

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  2. Uau! Que lindão!
    Quando eu tiver um filho ou uma filha vou escolher um nome com história...significado...por que até hoje não sei o que significa "Linnesh"...
    hehehhe
    beijão!

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  3. muito lindo marcelo!

    e tbm uma grande homenagem as duas lidices!

    abraços!

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O Universal Circo Crítico abre seu picadeiro e agradece tê-lo/a em nosso público.
Espero que aprecie o espetáculo, livre, popular, revolucionário, brincante...! E grato fico pelo seu comentário...
Ah! Não se esqueça de assinar, ok?
Vida Longa!
Marcelo "Russo" Ferreira