“A vida Humana não tem significado
senão depois de ter estado muito tempo
a serviço de algo infinito.
Para nós, a humanidade é esse infinito”
(Adolf Ioffé, em carta de despedida à Léon Trotsky)
(Adolf Ioffé, em carta de despedida à Léon Trotsky)
Estranho e interessante os caminhos com os quais seguimos numa relação recíproca e dialética de ensino-aprendizagem de nossos valores, no meu caso, valores socialistas.
Sempre afirmo com convicção e tranqüilidade quase humilde: não sou um lutador do povo, continuo aprendendo a sê-lo. Espero, com paciência e ousadia revolucionárias, que meu(s) neto(s) venham a ser verdadeiros lutadores do povo, tamanho e histórico é o caminho que ainda a humanidade tem a trilhar para a construção de um mundo verdadeiramente livre de toda forma de opressão e exploração do homem pelo homem.
Porém, não é o caso de dizer que apenas as crianças que vierem daqui a duas gerações serão verdadeiramente revolucionárias. Esse processo não é estanque, quadradinho, ajustado à vontades singulares, no máximo particulares. E, recentemente, a história (e, de certa maneira, o Pará) me deu uma lição-demonstração disso.
Passaram-se cerca de duas semanas de meu aniversário, quando visitei um casal de amigos e, sua filha, Júlia, veio com um pequeno embrulho com jeito de presente. Na verdade, era um presente, verbalizado como “atrasado” porque foi dado depois de minhas completas 3.9 primaveras.
Dentro do pacote uma camisa (com desenhos rupestres) e um CD e foi justamente este que chamou minha atenção. Na capa, fotos da pequena “Jujuba” desde bem pequenininha e dentro dele, músicas, cerca de 20 canções, de Zeca Baleiro e Ed Mota (“Eu sou da Arca e você quem é que é?”) a RBD e Xuxa (caramba! Cantando Chico).
Tinha canções de nossa infância e que ainda persistem heroicamente na cultura infantil (ainda que muitas vezes na voz de Xuxa que, todos sabem, é ajustada em estúdio, dada a sua conhecida desafinação musical): “Fui no Itororó beber água, e não achei...”, “O sapo não lava o pé, não lava porque não quer...”, “A dona aranha subiu pela parede! Veio a chuva forte e então a derrubou! Bum! (bum??? Eita da aranha pesada!)”. Ah! uma que minha professora (Tia Rosana, não esqueço) da 3ª séria do primário (ensino fundamental) cantava sempre que tentava organizar a fila para nos dirigirmos à sala de aula no antigo Externato Santa Terezinha: “Minhoca! Minhoca! Me dá uma beijoca! Não dô! Não dô! Não dô!” (é assim mesmo, dô).
E a saga amorosa do rato, que é um rato que a gente gosta, porque prefere o beijo brilhando da Lua “Declaro ser o seu mais lindo amante! (...) e fazer da noite escura o nosso altar!”... E vem a Nuvem Redonda que cobre o Luar, num altar de céu imenso; e vem a Brisa Macia que destrói a Nuvem, num altar de vento; e vem a Parede Parada que para a Brisa, num altar da terra; e, finalmente, a Ratinha Dentuça que cavoca a parede que barra a Brisa que destrói a Nuvem que cobre o Luar e que faz da natureza o altar, “Esperando um grande queijo... Ops! Esperando um grande beijo!”. Lembrava Saltimbancos.
Sempre afirmo com convicção e tranqüilidade quase humilde: não sou um lutador do povo, continuo aprendendo a sê-lo. Espero, com paciência e ousadia revolucionárias, que meu(s) neto(s) venham a ser verdadeiros lutadores do povo, tamanho e histórico é o caminho que ainda a humanidade tem a trilhar para a construção de um mundo verdadeiramente livre de toda forma de opressão e exploração do homem pelo homem.
Porém, não é o caso de dizer que apenas as crianças que vierem daqui a duas gerações serão verdadeiramente revolucionárias. Esse processo não é estanque, quadradinho, ajustado à vontades singulares, no máximo particulares. E, recentemente, a história (e, de certa maneira, o Pará) me deu uma lição-demonstração disso.
Passaram-se cerca de duas semanas de meu aniversário, quando visitei um casal de amigos e, sua filha, Júlia, veio com um pequeno embrulho com jeito de presente. Na verdade, era um presente, verbalizado como “atrasado” porque foi dado depois de minhas completas 3.9 primaveras.
Dentro do pacote uma camisa (com desenhos rupestres) e um CD e foi justamente este que chamou minha atenção. Na capa, fotos da pequena “Jujuba” desde bem pequenininha e dentro dele, músicas, cerca de 20 canções, de Zeca Baleiro e Ed Mota (“Eu sou da Arca e você quem é que é?”) a RBD e Xuxa (caramba! Cantando Chico).
Tinha canções de nossa infância e que ainda persistem heroicamente na cultura infantil (ainda que muitas vezes na voz de Xuxa que, todos sabem, é ajustada em estúdio, dada a sua conhecida desafinação musical): “Fui no Itororó beber água, e não achei...”, “O sapo não lava o pé, não lava porque não quer...”, “A dona aranha subiu pela parede! Veio a chuva forte e então a derrubou! Bum! (bum??? Eita da aranha pesada!)”. Ah! uma que minha professora (Tia Rosana, não esqueço) da 3ª séria do primário (ensino fundamental) cantava sempre que tentava organizar a fila para nos dirigirmos à sala de aula no antigo Externato Santa Terezinha: “Minhoca! Minhoca! Me dá uma beijoca! Não dô! Não dô! Não dô!” (é assim mesmo, dô).
E a saga amorosa do rato, que é um rato que a gente gosta, porque prefere o beijo brilhando da Lua “Declaro ser o seu mais lindo amante! (...) e fazer da noite escura o nosso altar!”... E vem a Nuvem Redonda que cobre o Luar, num altar de céu imenso; e vem a Brisa Macia que destrói a Nuvem, num altar de vento; e vem a Parede Parada que para a Brisa, num altar da terra; e, finalmente, a Ratinha Dentuça que cavoca a parede que barra a Brisa que destrói a Nuvem que cobre o Luar e que faz da natureza o altar, “Esperando um grande queijo... Ops! Esperando um grande beijo!”. Lembrava Saltimbancos.
No meio destas canções todas, uma com jeito mais de formação cristã, mas com uma passagem muito bonita: “Como pode o Rei nascer sem riqueza para receber? Sem festejo para o acolher? (...) Tão humilde, seu tesouro somos nós”... A Igreja Romana tenta, luta, escreve Encíclicas e a mídia mundial superficializa, mas ‘tá aí uma lição cristão-revolucionária. Pois é assim que pensam os grandes líderes revolucionários de nosso tempo, inclusive os que tombaram (e continuam sendo): os lutadores do povo são a única e grande riqueza da humanidade. Pode até ser que a canção em questão não tivesse intenção de formar revolucionários, mas nada como tirar as lições importantes à humanidade daquilo que o poder produz.
Mas, o principal deste lindo presente que recebi é o sentido e significado que ele tinha. Era o CD das canções mais importantes, mas significativas daqueles 5 anos de Júlia e não apenas isso fez deste presente uma jóia rara, mas, e mais importante ainda, o olhar que a pequena Júlia deu a um presente no dia do meu aniversário (que foi planejado para o seu aniversário). Seu presente foi sua história, contada por músicas infantis, cantada também por nomes que não gosto, mas que fazem parte do Universo infantil dela. E, no conteúdo expresso em seu presente, a importância superadora que Júlia fez sobre a industria cultural, em particular a que manipula e molda os ídolos de música mundial. Um presente que, precisamente, diz a sua história... a história de uma criança de 5 anos de idade. E isso é revolucionário.
Por que “Lições de Che” no título deste artigo? Porque, por mais ridículo que possa parecer, este grande líder entendia que um verdadeiro revolucionário é movido por um sentimento profundo e verdadeiro de amor. Desde pequena, Júlia fez de seu presente de aniversário (o seu e, no meu universo particular, o meu) uma manifestação absolutamente revolucionária de amor.
Vida Longa à pequena Júlia!
Vida Longa aos pequenos Lutadores do Povo, do campo e da cidade!
Venham Todos! Venham Todas!
Vida Longa!
Mas, o principal deste lindo presente que recebi é o sentido e significado que ele tinha. Era o CD das canções mais importantes, mas significativas daqueles 5 anos de Júlia e não apenas isso fez deste presente uma jóia rara, mas, e mais importante ainda, o olhar que a pequena Júlia deu a um presente no dia do meu aniversário (que foi planejado para o seu aniversário). Seu presente foi sua história, contada por músicas infantis, cantada também por nomes que não gosto, mas que fazem parte do Universo infantil dela. E, no conteúdo expresso em seu presente, a importância superadora que Júlia fez sobre a industria cultural, em particular a que manipula e molda os ídolos de música mundial. Um presente que, precisamente, diz a sua história... a história de uma criança de 5 anos de idade. E isso é revolucionário.
Por que “Lições de Che” no título deste artigo? Porque, por mais ridículo que possa parecer, este grande líder entendia que um verdadeiro revolucionário é movido por um sentimento profundo e verdadeiro de amor. Desde pequena, Júlia fez de seu presente de aniversário (o seu e, no meu universo particular, o meu) uma manifestação absolutamente revolucionária de amor.
Vida Longa à pequena Júlia!
Vida Longa aos pequenos Lutadores do Povo, do campo e da cidade!
Venham Todos! Venham Todas!
Vida Longa!
Marcelo “Russo” Ferreira
Caraca, Marcelo!
ResponderExcluirTu fizeste eu me derramar em lágrimas agora!Que análise profunda fizeste dos 5 anos de vida de Julia através de um CD.Um texto cheio de poesia pra falar de revolução....caraca!!!!Obrigada por ter dado a atenção merecedora do presente simbólico q ela te deu,não é somente pelos escritos no teu blog, mas principalmente por ter tido a paciencia de ouvir atenciosamente o conteúdo das canções que foram siginificativas nos seus primeiros 5 anos de vida, isso tbm não deixa de ser um presente pra nós...e lá estou aqui cheia de de emoção..(snif, snif...rsrsrs...)coisas de mãe... não te preocupas...Pronto!Já me recuperei...Tu sabes que a idéia foi dela, ela lembrou dos CD's e me pediu pra te presentear, no dia cheguei a estranhar,afinal de contas foi o brinde dos 5 anos, ela já está com 6 como tu bem sabes (estavas lá na comemoração).A atitude dela não deixa de ser uma representação de afeto, amizade e confiança que ela tem por ti....e isso é muito nobre da parte dela e que me enche de orgulho...ai, ai!Julia é minha filha,é o meu símbolo de amor, de esperança, de luta,de revolução...hoje e sempre!
Meu querido e velho amigo, obrigada pela emoção....valeu mesmo!!!
Um beijo e pra não perder o costume: te cuida!
Jose
Lindíssimo! Faz a gente lembrar das brincadeiras de infância. E que coisa linda mesmo que fizestes para tal pequena, não? Deve ser uma garotinha muito especial para quem a conhece, e muita esperta também. O gesto dela nos ensina um bocado né?
ResponderExcluirNo mês de outubro...
Fiquei bem reflexiva...Acho que se fosse a mãe já estava a chorar também, hehe!
Bom conhecer o circo!O visitarei sempre! Obrigada pelo convite!
Beijinhos.
Olá, Marcelo Russo
ResponderExcluirobrigada pela visita e pelo comentário. Lendo seu texto sobre a pequena Julia percebe-se sua sensibilidade. Fico feliz por ter te tocado com meu pequeno conto.
Vó Bina era (é) uma doçura.
Vida longa a nossa capacidade de nos emocionar!
Caro Professor!Quando te conheci não nos aproximamos o suficiente para estreitar nossos laços de amizade,na verdade, até te achava um pouco chato.No entanto, aprendi a te admirar,observando a tua relação com as crianças(teus alunos).As lições que expressavas era de muito carinho e respeito! lembro que Yuri, Ravi,e
ResponderExcluirLara adoravam as tuas brincadeiras...e é claro as tuas problematizações acerca dos esportes,das manifestações culturais, do lazer,e como não poderia deixar de ser, da vida cotidiana.Ao ler esse texto,em que falas com tamanha sensibilidade da demonstração de afeto de Júlia,percebo que o professor dos meus filhos foi fundamental na formação afetiva,ética e cidadã deles.Parabéns e continue contaminando esse mundo "sério", com suas brincadeiras e o desejo de conquistar um mundo justo para nós nossos filhos!Estou com saudade!Você faz muita falta no PELC!Abreijos,de nós todos,eu,Yuri,Lara e Carlinho.
"...uma manifestação absolutamente revolucionária de amor".
ResponderExcluirÉguaaaa!!!!
Lí o texto há alguns dias e alguma coisa em mim se mexeu e não consegui escrever. Se fosse a mãe da Julinha também iria às lágrimas e, a despeito de não ser, fui.Rs
Bonito. Sensível.
Muitas coisas vieram a tona quando li sobre essa "manifestação revolucionária".
Esse negócio de mãe, criança, poesia, me lembrou um meninozinho - o Cainã- que me visitou por uns tempos e foi embora porque, parece, tinha muito trabalho em outras paragens... outros planos... Esse revolucionou o amor em mim...
Depois, lembrei de outra coisa que li a quase um ano, num e-mail que um querido e também muito sensível amigo me escreveu. Ouvira de outro desses homens sensíveis, que a Vida, neste planeta nos condena: "estamos todos condenados a AMAR". Cara doido! Boliu com meu juízo!
Agora me vêm tu, roqueiro-socialista-performático (kkk... depois dos 80´s...), falar essa coisa que me move... revolução amorosa! É isso que busco comigo, com o outro, com a Vida!
Inevitável lembrar da música que agora compartilho contigo e quem mais quizer:
Por Quem Merece Amor
De Silvio Rodriguez Dominguez
Te perturba esse amor ? Amor de juventude
Meu amor é amor de virtude
Te perturba esse amor ? Sem máscaras por trás
Meu amor é uma arte de paz
Te perturba esse amor ? Amor de humanidade
Meu amor é amor de verdade
Te perturba esse amor ? Com todos ao redor
Meu amor é uma arte maior
Meu amor, minha prenda encantada
Minha eterna morada
Meu espaço sem fim
Meu amor não aceita fronteira
Como a primavera
Não escolhe jardim
Meu amor, não é amor Libertado
Esse amor tão sangrado
Não se tem pra lucrar
Meu amor é tudo quanto tenho
E se eu vendo ou empenho
Para que respirar
Meu amor, alivia e acalma
É o remédio da alma
Pra quem quer se curar
Meu amor é humilde é singelo
E o destino mais belo
É torná-lo maior
Meu amor, o mais apaixonado
Pelo injustiçado, pelo mais sofredor
Meu amor abre o peito pra morte
E se entrega pra sorte, por um tempo melhor
Meu amor, esse amor destemido
Arde em fogo infinito
Por quem merece amor...
Versão Miltinho (Milton Lima dos Santos) Música gravada pelo MPB4
A Julinha, que do alto da sua inteireza e, provavelmente sem consciência que faria tantos adultos viajarem, nos fez lembrar de reconhecer o amor na simplicidade da Vida.
Obrigada, mano!
Olá Marcelo,
ResponderExcluirpreciso de sua ajuda,
já escutei essa canção de Zeca Baleiro e Ed Mota (“Eu sou da Arca e você quem é que é?” mas não consigo acha-la para download e bem como a letra completa, pensei em encena-la pra crianças que trabalho.
Se puder me ajudar poderia me enviar millakids@gmail.com.
Desde já agradeço pela atenção,
Mirella Márcia