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VENHAM TODOS! VENHAM TODAS!

domingo, 20 de abril de 2008

O Universal Circo Crítico... o racismo não se esconde...


“A gente fica por aqui, um ótimo domingo
e uma ótima semana para vocês. Tchau!”

(a fala dos apresentadores de TV no final do programa)


Em novembro de 2007, ainda escrevendo no arcamundo (http://www.arcamundo.blogspot.com/), fiz uma referência à infeliz (mas consciente) manifestação do Nobel da Ciência, Mister Watson, quando afirmou que “brancos eram comprovadamente mais inteligentes do que negros”. À época, as matérias jornalísticas não fizeram muito alarde, noticiaram an passan essa declaração e, mais ainda, as desculpas do mesmo ao povo africano (centro de sua manifestação pseudo-científica).


O circo da mídia, atualmente, mantém a platéia num grande BBB jornalístico, com o caso de assassinato da pequena Isabella, em São Paulo. Durante os dois últimos dias, sempre que sintonizava-se os canais-horários de notícias, as matérias sobre o caso se repetiam, incansavelmente... para os jornais. Mas não é sobre esta infelicidade que passearei a refletir no palco do Universal Circo Crítico de hoje.


Vez por outra, tanto no ArcaMundo, quanto neste nosso espaço, trago os fatos que cruzam meus caminhos, quer em casa, quer na rua. Assim o foi quando falei do Mendigo e do “Precinho Carrefour” num sinal de trânsito, para falar do “Sanfoneiro”, bem como para comentar a cobertura jornalística sobre a Segunda Encíclica de Bento XVI. Assim o fiz, também, em algumas oportunidades em que comentei passagens dos programas dominicais.

Hoje, passei o dia em casa, separando algumas coisas para estudo e alinhando o violão. Numa parada, liguei a TV, que já estava sintonizada da TV Record, mais exatamente, no programa “Tudo é Possível” da Eliana (capa dos semanários fofoqueiros atuais, pois, todos querem saber, está de namorado novo).

A cena: um comediante fazendo papel de mágico que iria transformar “um gato” em dois (um rapaz jovem, musculoso, tatuado, pele queimada do sol, possivelmente, “sonho de consumo” de uma razoavelmente significativa parcela feminina – em sua grande maioria, claro). Um caldeirão, uma loira ajudando, uma cesta com várias frutas (ingredientes mágicos) que, inclusive, não batiam com a lista inscrita num cartaz exposto ao lado do mágico. Pequeno equívoco de contra-regra.

Colocados os ingredientes, com o jovem modelo escondido dentro do caldeirão, coloca-se um pano laranja sobre ele e, logo em seguida, o “mágico” solicita aos, agora, dois jovens gatos, para que levantem-se, o que o fazem ainda com o pano sobre eles.

Ao ser retirado o pano, lá está o mesmo jovem e, ao seu lado, um negro, mas baixo, com um penteado estranho. A conclusão do mágico: “É, não deu muito certo... ele saiu um pouco ‘queimado’”. E assim, onde Tudo é Possível, Eliana se despede de seu animado auditório, sob aplausos.


Espero, realmente, que a maior parte de meus poucos leitores tenham encontrado algo melhor para fazer num domingo, quer de sol, quer de chuva. Eu apenas pausei-me de minhas pequenas e particulares tarefas para ligar a TV e me deparar com essa cena infeliz, racista e preconceituosa.


O interessante disso tudo é que esta semana, no fechamento de uma ação de Formação de Agentes Comunitários de Esporte e Lazer no entorno de Brasília, quando a discussão era sobre o não cumprimento rigoroso dos horários da programação, comentei com esses agentes que cumprir horário é uma decisão revolucionária e de responsabilidade coletiva, pois a elite, a direita, os grandes poderosos deste país cumprem horário e, todos os dias, entram em nossas casas com hora marcada. Estava, obviamente, falando das programações das TV’s abertas e pagas.

Era o horário de crianças na sala... era o horário de famílias se preparando para almoçar, almoçando ou terminando o almoço (caso tivessem comida em casa)... Era o horário de dar uma pequena amostra de como permitimos que conceitos racistas e preconceituosos entrem tranqüilamente em nossas casas e fortalecem os valores individualistas de nossa sociedade.

Eles também têm seu circo... E nós assistimos...

Venham Todos! Venham Todas!
Vida Longa!


Marcelo “Russo” Ferreira

3 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Oi Marcelo,

    Interessante, tb vi esse momento na tv, coisa rara pois como vc sabe não tenho muito hábito de tv. Meu pai, um dorminhoco de tv acordou, olhou o quadro e fez uma cara de "mofa". Mas, interessante mesmo é quando começamos a contabilizar o volume de conteúdo racista (negros, mulheres, homosexuais etc) vinculado na tv e que não tem recebido o devido tratamento da nossa parte. Parabéns por vc ter se manifestado e me possibilitar tb expor minha indignação.
    Beijos,
    Nêta

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  3. Olá, Russo! Não se você se lembra de mim, mas nos encontramos no CONBRACE ano passado e no reencontro do MEEF, na casa de Gi. Pois bem, estou aqui para confraternizar a reflexão que você sugere no texto. O circo, não- crítico, da mídia nos mantém expectadores e telespectadores, sim. Invadem nosso lar, nosso trabalho, nossas intimidades sem ao menos pedir licença. Quando menos se espera, estamos ali, rindo com eles das mais brutais manifestações de racismo e violência, mesmo que esta seja simbólica. Sei que não aprofundou em seu texto, mas há diversos dias estamos inundados pelo intitulado "Caso Isabela", nos submetendo a condição de especuladores e investigadores, quando minimamente não assumimos nosso papel cidadão de refletirmos criticamente sobre a manipulação midiática. O Brasil continua com fome...e com sede de VIDA! Tem gente abandonando o picadeiro cada vez mais cedo, por que será? É um prazer estar aqui e confraternizar com todos esta indignação, mesmo que tenha me permitido aceitar por vezes essa invasão midiática. Um forte abraço e beijos!

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O Universal Circo Crítico abre seu picadeiro e agradece tê-lo/a em nosso público.
Espero que aprecie o espetáculo, livre, popular, revolucionário, brincante...! E grato fico pelo seu comentário...
Ah! Não se esqueça de assinar, ok?
Vida Longa!
Marcelo "Russo" Ferreira