“(...) A
grande paciência do tempo, e outra, não menor, do dinheiro, que, tirante o
homem, é a mais constante de todas as medidas, mesmo com as estações variando.
De cada vez, sabemos, foi o homem comprado e vendido. Cada século teve seu
dinheiro, cada reino o seu homem para comprar e vender por morabitinos, marcos
de ouro e prata, reais, dobras, cruzados, réis, e dobrões, e florins de fora.
Volátil metal vário, aéreo como o espírito da flor ou o espírito do vinho: o
dinheiro sobe, só para subir tem asas, não para descer. O lugar do dinheiro é
um céu, um alto lugar onde os santos mudam de nome quanto vem a ter de ser, mas
o latifúndio não”
(Saramago, Levando do Chão).
O Latifúndio não...
A Igreja não...
O Banco não...
Não as grandes corporações do Capital...
E não o nosso Congresso...
Não será, este texto, uma construção de
palavras em defesa do Governo.
Entendo-o em sua totalidade.
Se é verdade que não tem crime comprovado que
justifique o instituto jurídico do impeachment (e, no tanto que domínio deste
tema, ainda me coloco no campo de “não há!”), também é verdade o já dito em
textos recentes: o Governo Dilma atua em favor do Capital, contra a Classe
Trabalhadora e, também, inclinada a manter as políticas de corte neoliberal.
Para este humilde picadeiro de terra batida e
lona furada de circo, não se trata de meramente cravar o termo “democracia” no
limite de um lado ou outro de um Muro. Se trata de dizer, também, em favor de
quem e como se caminhará na direção de uma verdadeira emancipação humana.
Mas, acompanhamos com certo ar de preocupação
que ia além do que estava em jogo (a democracia representativa e presidencial
brasileira), o mandato da presidente Dilma.
O que nos preocupava era o resultado da melhor
demonstração, um a um dos deputados e deputadas, do que era este Parlamento.
Nós teríamos a melhor oportunidade para saber no que estamos metidos no
Congresso Brasileiro. E foi revelador.
Mas não era apenas isso. A história reservou
para que tudo acontecesse num 17 de abril. E não era qualquer 17 de abril.
Neste 17 de abril, a história se repete... E,
desta vez, pontualmente, à luz de Marx, como farsa.
A
tragédia: 17 de abril de 1996.
Monumento em Homenagem aos Trabalhadores Sem Terra - Eldorado dos Carajás |
Foram 19 Sem Terras assassinados brutalmente em
Carajás, com ordem do Governador do Pará (Almir Gabriel) e ciência do
Presidente da República (Fernando Henrique Cardoso)... ambos reeleitos após
este mandato com sangue nas mãos.
As investigações – depois de muitos rumores de que
havia sido os Sem Terras que teriam simples e loucamente avançando na PM –
demonstraram que foi assassinato coletivo, frio e com a orientação de reprimir
ou reprimir. Deu no que deu.
De um lado, mortos e feridos...
De outro, a convicção de que seria apenas mais
um massacre do Estado contra o povo pobre e excluído que, assim como os
anteriores, contariam com o silencio da mídia e da memória.
Passaram-se 20 anos, e voltamos ao mesmo dia. E
a tragédia se transforma e farsa.
A farsa: 17 de abril de 2016.
Um Congresso Nacional sujo e corrupto... e todo
mundo sabe/acha isso.
Um Congresso Nacional dos piores de nossa
história... e todo mundo sabe/acha isso...
Um Congresso Nacional dos mais conservadores,
com o que há de pior na representação do armamento civil, da Igreja (que
insiste em implantar um Estado Cristão), do latifundiário e outros tantos asseclas
da vida pública.
A farsa se repete com as falas em defesa do que
não está sendo julgado.
Em nome de Deus, muita morte, assaltos,
privações já se escreveu na história da humanidade.
Em nome da família, da própria família, nada
representa os votos recebidos para seu mandato.
Em nome do combate a corrupção já é sabido do
quão hipócrita é essa manifestação.
De resto, não gostar da Presidenta, pelo
futuro, pelas criancinhas, pela oração, beijinhos pra mãe, tia e papagaio...
Teve Deputado que pagava seus funcionários domésticos com salário da Câmara,
enaltecimentos à “República de Curitiba” e, um dos mais impressionantes
manifestos de hipocrisia:
“(...)
pelo meu Estado de São Paulo, governado a
20 anos por políticos honestos do meu partido” de um deputado tucano paulista (não vou fazer
propaganda gratuita pra esse aí).
E não vou deixar de me inclinar a lembrar que,
também, há entre os que disseram “não”, quem esteja com as mãos sujas. Ainda
que em número proporcionalmente menor.
Ademais e em síntese, algumas horas de dor no estômago
e uma certa vergonha ao testemunhar, um a um (faltaram dois), 367 Deputados/as
que, em sua maioria, pareciam mais estar participando do quadro “Se vira nos 30”
e os papagaios de pirata ao lado do microfone onde era proferido o voto.
Isso tudo em cadeia nacional e plateia internacional.
E há um bom candidato.
Deputado Federal Wladimir Costa - representação do lixo político paraense |
Mas, quando vemos homenagens a Torturadores,
como “sombra” dos que ainda estão vivos (não apenas a presidenta), ou dos que
não estão mais entre nós, mas com familiares e amigos vivos e em dor. Quando a
celebração da tortura para defender um voto (e o povo que vibra) se manifesta,
há algo realmente estranho no ar.
– Estou indignado, Russo! (Strovézio).
– Oxi, e por que Strovézio?
– Achei um absurdo a atitude do Deputado Jean
Willys, quando cuspiu no Bolsonaro.
– Como assim, meu caro? Por que essa
indignação?
– Sinceramente? Uma coisa eu não perdoo: ter
errado a pontaria.
Não nos iludíamos muito com o resultado (e se
fosse o contrário, também não iríamos nos iludir).
Para a juventude que não sabe como é uma
Eleição Indireta, espero que tenham entendido a lição.
Mas a ilusão está se tornando hegemônico... E
quando isso acontece, a história da humanidade já nos deu lições mais do que
suficientes.
Venham Todos!
Venham Todas!
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