RESPEITÁVEL PÚBLICO!

VENHAM TODOS! VENHAM TODAS!

sábado, 27 de fevereiro de 2016

Os mais ricos do mundo...


“Miséria é miséria em qualquer canto/
Riquezas são diferentes/
Miséria é miséria em qualquer canto/
Fracos, doentes, aflitos, carentes/
Riquezas são diferentes/
O Sol não causa mais espanto/
Miséria é miséria em qualquer canto/
Cores, raças, castas, crenças/
Riquezas são diferenças”
(Paulo Mikos, Sérgio Britto e Arnaldo Antunes)

            Não é novidade...
            Em janeiro deste ano, meio que no centro dos blocos de notícias da Operação Lava-jato da Polícia Federal (em meio acerca de suas 300 operações em 2015) – já que outros temas da política brasileira estavam de férias – e dos blocos de carnaval que se aqueciam para o fevereiro que se aproximava, uma notícia deveria ter sido recebida como espanto e indignação, daqueles de fazer bater panelas de marca: a ONG britânica Osfam (com as devidas suspeitas) divulgava os resultados de um estudo sobre a concentração econômica mundial: o 1% mais rico do mundo já detém a riqueza equivalente ao resto do mundo.
            Na matemática curta e grosseira, algo mais ou menos assim:
            Somos 7,4 bilhões de habitantes no mundo. Destes, 74 mil pessoas detêm a mesma riqueza que “7,4 bilhões menos 74 mil”.
            O funil, entretanto, é maior.
            Tentei encontrar, nestes 74 mil, quem são os seus 1% (740) mais ricos... Tarefa difícil para quem não é economista, acho. Claro, não consegui. Mas achei os 63 “top-money”, ou seja, menos de 1% dos 1%, dos 1% mais ricos do mundo.
            Apenas nestes “top-money”, a riqueza é algo em torno de $ 1,761 trilhão de dólares. Só esses 63 indivíduos.
            – Tudo dinheiro honesto, fruto da meritocracia e do “Deus apontou pra mim” e tals, certo? (Strovézio).
            – Receio que não, caro palhaço...
            – ‘Tava sendo irônico...
            – ... ops!
            Seguimos...
            A mesma fundação também concluía que este seleto grupo de 63 indivíduos tem tanto dinheiro e bens (talvez mais o segundo do que o primeiro) quanto a metade da população do planeta... são 63 pessoas que possuem riqueza e bens equivalentes a 3,7 bilhões de pessoas.
            Parece-me que responde a ironia do Strovézio.
            Pois bom...
            Em 1776, o economista Adam Smith (nascido na Escócia e, portanto, amadurecido em um contexto de desenvolvimento das forças produtivas da Economia Inglesa) afirmava: “Onde quer que haja grande propriedade, há grande desigualdade. Para cada pessoa muito rica DEVE HAVER no mínimo quinhentos pobres, e a riqueza de poucos supõe a indigência de muitos. A fartura dos ricos excita a indignação dos pobres, que muitas vezes são movidos pela necessidade e INDUZIDOS PELA INVEJA a invadir as posses daqueles”. Isso está na Obra “A riqueza das Nações” e a caixa alta é de minha responsabilidade.
            Ou seja: possivelmente o mundo reúne, hoje, cerca de 3,7 bilhões de habitantes (lembrem-se: é uma conta grosseira) movidos pela indigência da riqueza alheia, indignados, porquanto movidos pela necessidade e, também, pela inveja. Adam Smith, o “pai da economia moderna” e talvez avô respeitado da economia pós-moderna (que conhecemos como neoliberal), parece que nos dava mais do que uma conta inicial. Claro, era um economista.
            Quanto publicou sua obra, o mundo tinha aproximadamente 800 milhões de habitantes.
            – Vais fazer conta, Russo (Strovézio)?
            – Vou sim, Strovézio... Mas, continha simples, sem calculadora científica...
            Cada 1 habitante rico para cada 500 pobres invejosos implicaria, à época, na existência de 1 milhão e 600 mil ricos e, por outro lado, 798,4 milhões de incompetentes (mas necessários) pobres... invejosos.
            Eis que cerca de 2 ½ séculos depois, esta matemática original de Adam Smith alcança números impensáveis, talvez, até para ele mesmo. Se minha “regra de três” não me enganou, temos algo como 117 milhões de pobres (invejosos, culpados por sua pobreza, não nos esqueçamos) para cada um dos 63 abençoados pelo lugar ao sol dos 1% mais ricos. Os demais 1% não têm do que reclamar...
            Enfim, um outro dado que parece-nos importante: a abençoada competência daqueles 63 indivíduos concentra áreas como tecnologias, telecomunicações, bebidas e comidas, roupas e supermercados (que vendem tecnologias, telecomunicações, bebidas e comidas e roupas), além de outras particularidades. Ou, de outro ponto de vista, a incompetência (e inveja) daquele balaio de pobres mundo afora, precisam dominar a produção de tecnologias, telecomunicações, bebidas e comidas e vestimenta... além dos supermercados, claro. Enquanto isso, consomem o que aqueles produzem... 


            Para Adam Smith, no século XVIII, e para a corja social burguesa que seu pensamento continuou reproduzindo até os dias de hoje, são, portanto, culpados os povos que recebem lixos tecnológicos
           
http://sustentabilidadenaoepalavraeaccao.blogspot.com.br/2009/08/
lixo-tecnologico-criancas-envenenadas.html
            São culpados os que precisam dos lixões para comer e beber...
           
http://wwwamazonia-dyuli.blogspot.com.br/
            São culpados os que, nos porões mais escondidos – e de trabalhos análogos ao escravo – não sabem fazer suas próprias roupas e, as que fazem, é para o fetichismo humano, inclusive dos tantos e tantos que acham que podem entrar no “top-money”, apenas usando suas marcas... sujas de exploração.

http://www.gilgiardelli.com.br/blog/sapatos-lustrosos-e-os-homens-sem-sapatos-da-india/
            Pensem nisso quando comprarem seus aparelhos eletrônicos, suas roupas de marcas famosas e caras, seus lanches, refrigerantes e outras tantas refeições afora...

            Não... não somos hipócritas.
            Temos nossas contradições e nossa luta é enfrenta-las todos os dias.
            Das roupas de marca, penso já ter superado. Nada como calças sem marca, sandálias de couro e camisetas mais simples – quase um franciscano... ainda que ateu – para ajudar neste exercício.
            Das tecnologias, venho cumprindo o sólido (apesar de individual e, portanto, sem efeito) exercício de não trocar o que tenho por algo novo só porque é mais novo... Claro, isso me leva a “ir ficando” atrasado nas tecnologias. Tipo, “vou e fico, fico e não vou!”.
            Assim também com o que como e bebo.
            Ademais, confiamos no que acreditamos e, do que acreditamos, na nossa capacidade de ser cada vez mais a síntese de nossa prática social.

            Venham Todos!
            Venham Todas!

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Conversa ao Pé de Ouvido de Maria Luíza...


            “Hoje escolhi passar o dia cantando/ De hoje em diante /
Eu juro felicidade a mim / Na saúde, na saúde, juventude, na velhice/
Vou pelos caminhos brandos/
A minha proposta é boa, eu sei
De hoje em diante tudo se descomplicará/ Com um nariz de palhaço/
Rirei de tudo que me fazia chorar/ Cercada de bons amigos me protegerei
Numa mão bombons e sonhos/ Na outra abraços e parabéns...
(Vanessa da Mata)


            Salve, salve, nossa pequena Maria Luiza... nossa Pequena Lutadora do Povo, filha de Joice e Netto.
            Joice, nossa jovem professora em formação, a qual pudemos compartilhar alguns momentos de trabalho pedagógico na UFPA. Netto, que esperamos os caminhos da vida nos proporcionar um encontro.
            Chegas Maria Luiza em 10 de fevereiro... Bom, se tu tivesses nascido um dia antes apenas, eu só iria falar de Frevo, uma das expressões mais fantásticas e expressivas do carnaval em nossas terras.
Mas, nascestes um dia depois... E todos os dias têm suas lições.
            Chegas Maria Luíza, Soberana Guerreira, segundo o significado de seus dois nomes... Ou seja, já nasce com nome de Lutadora do Povo. Mas ser Lutadora do Povo (ainda que assim, pequenininha) não é algo que está no DNA ou algo assim. A história faz isso. E é também na e com um pouco de história que gostaríamos presentear sua chegada.
            Das datas, suas histórias... Nem todas são boas. Outras tantas são fantásticas e emocionantes. Mas, tem o dialético, o “em movimento” das histórias. Quando, por exemplo, começam de um jeito e seguem outro caminho.
            Pois bom (como diria o saudoso Pantalão Pereira Peixoto)...
            Foi em 10 de fevereiro de 1980 que o Partido dos Trabalhadores foi fundado, numa histórica reunião no Colégio Sión, em São Paulo. Nasceu revolucionário, lutador e compromissado com as lutas dos trabalhadores e da população sofrida de nosso país. Aquela que Renato Russo, anos depois, cantaria em “Faroeste Caboclo” ao dizer que João de Santo Cristo, quando foi a Brasília, queria “falar com o presidente pra ajudar toda essa gente que só faz sofrer!”...
            Na carta de fundação, o compromisso:
“As grandes maiorias que constroem a riqueza da Nação querem falar por si próprias. Não esperam mais do que a conquista de seus interesses econômicos, sociais e políticos venha das elites dominantes. Organizam-se elas mesmas, para que a situação social e políticas seja a ferramenta da construção de uma sociedade que responda aos interesses dos trabalhadores e dos mais setores explorados pelo capitalismo”.
Mas, capitulou...
Não se dá para enfrentar o capitalismo “melhorando” o capitalismo. Está na sua raiz a exploração e a destruição, pois é movido pelo individualismo, pelo “ter mais do que o outro”. Quando se acredita que pode melhorar alguma coisa, melhorando mais ainda aquilo/aquele que não a deixa melhorar, nada muda... nada se transforma.
Então, Maria Luiza, vamos combinar o seguinte: não queira mais brinquedos que as outras crianças. Isso já será um bom começo. E, aprendendo e vivenciando “como é bom dividir com alguém o que eu gosto e tenho”, não apenas o que me sobra. E, assim, espero que consiga ter isso firme em sua vida: que transformando-nos todos os dias, transformamos tudo que está a nossa volta. E acredite: já chegas fazendo isso.
            Tem três pessoas que nasceram no mesmo dia que você, Pequena Maria Luiza. Bom, na verdade, tem gente pra dedéu que nasceu neste dia. Mas, três em especial.
            A primeira, é um poeta... mais do que um poeta, ele era um cara que também fazia teatro. Teatro é algo que, espero, em breve irás conhecer. Pode ser até os dedinhos de seus pais brincando contigo no berço e te contando histórias.
            Mas eu falo de um que nasceu do outro lado do oceano. Chama-se Bertold Brecht. Sua obra, minha Pequena Maria Luiza, é incrível. Todo mundo que acredita num mundo melhor, mais solidário, mais humano sempre tem um verso, um poema, um conto de Bertold na ponta da língua.
            É até difícil escolher algo que possa traduzir a homenagem deste nosso picadeiro de terra batida e lona furada à sua chegada. Mas, como falávamos, acima, sobre solidariedade, lembrei-me de um verso de “Canção do Remendo e do Casaco”... Um poema que falava da busca por remendos, por pães velhos, do operário ao seu patrão e os demais trabalhadores, indignados com a migalha, respondiam:
 

“Não precisamos só do remendo, precisamos do casaco inteiro./
Não precisamos de pedaços de pão, precisamos de pão verdadeiro./
Não precisamos só do emprego, toda a fábrica precisamos./
E mais o carvão./
E mais as minas./
O povo no poder./
É disso que precisamos./
Que tem vocês a nos dar?”



Esse cara, Maria Luiza, era um humanista. E, portanto, sempre se incomodou tanto com a miséria de seu povo quanto com a Guerra (que normalmente levava o povo pobre às suas trincheiras). Se vivo, hoje, não tenho dúvida de que suas peças e seus poemas estariam repletos de aviso à humanidade “Parem de Guerras! Deixem de lado essa vontade de morrer matando os seus... não ficarão nem vocês, nem os seus!”... Afinal, nós trabalhadores lutamos "a guerra entre gananciosos", como diria Marx.
E se desde cedo aprenderes a brincar com as letras, não deixe de experimentá-las poeticamente... Liberte-as assim que as aprendê-las.

Mas quatro anos antes de Brecht, aqui no Brasil, nascia Mãe Manininha do Gantois: baiana, era, na religião afro, Yálorixá no Terreiro do Gantois (pode pronunciar “gantoá”).
Segundo consta, em tempos em que a perseguição ao candomblé era lei (a chamada “Lei de Jogos e Costumes”), Mãe Menininha foi uma das principais articuladoras do término das restrições e proibições, estabelecendo, já a época, até relações com a Igreja Católica para tal intento
Em tempos em que assistimos um Papa católico (que, na humilde opinião deste picadeiro, ainda deve desculpas acerca do silêncio da Igreja Católica durante a Ditadura de seu país, a Argentina) desafiando tradições religiosas em nome da paz, parece-me que uma de suas inspirações pode ter vindo, também, desta pequena mulher do candomblé... e que era católica, também.
Imagina, Pequena Maria Luiza... no século passado, tempos em que apenas os homens tinham poder, em que apenas os ricos tinham poder, em que apenas os brancos tinham poder... lá estava Mãe Menininha do Gantois, mudando tudo. Claro, enfrentou muita coisa também.
Sua mãe sabe um pouco disso, de enfrentar tanto as adversidades quanto os poderosos, pois também é uma Lutadora do Povo, nas fileiras do Movimento Estudantil... Ah! Tens grandes ensinamentos em sua vida.

“A beleza do mundo, hein/ Tá no Gantois
E a mãe da doçura, hein/ Tá no Gantois...”
(Oração de Mãe Menininha – Dorival Caymmi)

            

Por fim, a terceira pessoa que quero te apresentar. É uma cantora que eu acho ar-re-ta-da! E, para celebrar sua chegada, vai aí sua música de “Parabéns pra você!” para ires ensaiando quando completares seu primeiro aniversário.
            

           
            Isso mesmo: a fantástica Vanessa da Mata nasceu em um 10 de fevereiro e, melhor ainda, fez uma canção de “Aniversário”. Né mole não, né?

            É isso, nossa Pequena Maria Luiza...
            O Universal Circo Crítico celebra sua chegada. Com poemas e música, com pequenas lições (na contradição da história) de solidariedade e luta.
Vamos planejar um belo futuro pra logo mais...
           
Vida Longa, Maria Luiza!
           
            Venham Todos!

            Venham Todas!

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Propaganda: alma de tudo o que foi destruído...



“Todo mundo vestiu a camisa
e tá fazendo o possível
pra tentar minimizar
os danos que a gente causou”
(Luisa Nunes – Samarco)


            Assistindo (porque mesmo atentos com os “desvios” jornalísticos, precisamos assistir) o Jornal Nacional, a uma semana atrás (dia 15 de fevereiro), eis que me deparo com o comercial da Samarco... “Samarco Histórias” com o título "É sempre bom olhar para todos os lados"


            Essa vinheta comercial, pelo que levantamos de informação, não se contentou com pouco. Passou no intervalo do programa dominical da Globo, “Fantástico”. O custo de cada comercial, de 30 segundos, girava em torno de 550 mil reais. Foram seis exposições... 3,3 milhões e mais alguns barris de lama...
            Bom... alguns dias depois deste comercial, pensamos que “vamos chover no molhado”. Mas, pensando bem, poucas vezes fomos tão “em cima da hora” em nossas reflexões e postagens. Meio que é essa a dinâmica deste humilde espaço.
            Também vimos aqui e ali algumas postagens, em blogs outros, alguns sites... passeamos até no site da SAMARCO. Nele, logo na “saudação” a seguinte mensagem: “MAPA DE AÇÔES: A Samarco não tem poupado esforços e recursos para garantir o atendimento humanitário e a remediação ambiental em Minas Gerais e no Espírito Santo. Acompanhe o andamento dos trabalhos em cada cidade”.
            – Tá explicado, ué! Entre os esforços e RECURSOS, os 3,3 milhões em propaganda na Globo... (Strovézio).
            – É vero...
            Além dessa chamada, o site (e, portanto, a empresa) está repleta de imagens, links, vídeos que reforçam esse processo propagandístico de limpar a imagem junto à opinião pública. Em que pese eu desconfiar que nem deve estar tão suja assim, considerando o desequilíbrio de cobertura jornalística investigativa brasileira.
            Mas, cá pra nós, ainda que o tema já tenha causado indignações Brasil afora, provocado o Ministério Público Federal a cobrar esclarecimentos sobre os custos daquela propaganda, além do (claro) silêncio consensioso e cúmplice da TV dos Marinho, pensamos também algumas otras cositas.
            Primeiro (e, talvez, por isso a cumplicidade propagandística da Globo) é o jornalismo acusatório e justiceiro seletivo.
            Vamos combinar: se nosso jornalismo brasileiro é tão bom para investigar (e pautar a Justiça) os caminhos mais escondidos da corrupção à brasileira, como, passado mais de três meses após o rompimento da barragem de dejetos da Samarco a gente não vê o mesmo ímpeto investigativo? E, mais ainda, se permite a esse tipo de comercial?
            “Ah! Mas também tem os comerciais da Petrobrás, com corrupção investigada até o talo, né não?”,            perguntariam os nossos instigados público e artistas.
            Claro, faz sentido... mas, a Petrobrás não somente está sendo investigada até o talo. Está nos jornais todos os dias e numa agenda política e jurídica forte. A Samarco...?
            Segundo, e isso nos tocou mais ainda: o uso dos funcionários da empresa na propaganda que, à bem da verdade, tinha o único objetivo de “limpar a imagem”. E, para tanto, nada como colocar uma funcionária (acreditaremos que realmente seja uma funcionária) com a frase “os danos que a gente causou”...
            É bem possível que os empregados tenham se colocado a disposição de construir este material. Não duvidaria, se isso fosse confirmado. Mas, para nós, neste picadeiro de terra batida e lona furada, isso representa, por um lado, a covardia institucional de uma empresa que, por sua ânsia por riqueza (e destruição ambiental) coloca as pessoas que já explora pelo trabalho para defender a empresa. Pior ainda, assumirem a culpa pelo crime desta empresa.
            É como colocar (e colocam) funcionários dos Bancos para falarem bem de seus patrões, não importa o quanto aqueles sigam sempre amedrontados pelo desemprego e estes enriquecendo ao “deus-dará”. E os funcionários dizerem, quando o banco falir: “ficamos todos tristes e pobres!”.
 
Jornal Brasil de Fato
            Mas, mais ainda...
            Não sei...
            Se neste país de indignados, que vão as ruas com camisas da CBF protestar contra a corrupção e bater panelas nos horários (não todos), me pergunto o quanto estamos tão pequenos em nossa capacidade de fazer de indignações seletivas em algo que realmente enfrente esta voracidade do grande capital sobre a natureza, as pessoas, as riquezas de ambas e a justiça...
            A resposta, talvez, buscaremos em reflexões futuras.
            Da nossa parte, e voltando aos comerciais de TV da Samarco, diríamos que se ainda estivéssemos nos tempos do saudoso “ArcaMundo” (blog que inaugurou nossas reflexões e da qual o Universal Circo Crítico germinou), este tema seria realmente interessante. Afinal, nós tínhamos, naqueles tempos (2007-2008) um único mote para nossos escritos, sempre aos domingos à noite: “Síndrome do Fantástico”. Nela, nossa manifestação de que quando chegava domingo à noite, pensávamos no que viria no dia seguinte, uma segunda-feira.
            Da herança destes tempos, a sensação de que estamos vivendo uma noite de domingo sem fim... e com um comercial hipócrita da Samarco no meio... 
           
Venham Todos!
            Venham Todas!
                                   


domingo, 14 de fevereiro de 2016

Recomeçamos...


“Quando os trabalhadores perderem a paciência/
Não terá governo, nem direito, nem justiça/
Nem juízes, nem doutores em sapiência/
Nem padres, nem excelências”.
(Mauro Iasi)



            Deixamos passar um mês, após um ano de 2015 à qual esse picadeiro de terra batida e lona furada entendeu-se por muito feliz pela jornada percorrida, ainda que muitos temas nos incomodavam e incomodem profundamente.
            Mas, a Mídia burguesa continuou...
            Mas, o Congresso continuou...
            Mas, a violência também continuou...
            Continuaram a intolerância, o racismo, o preconceito, o machismo... continuam negros, mulheres (negras mulheres), gays, pobres, velhos sofrendo as mazelas do interesse que move o capital...
            Continuou...
            Continuou a Justiça... A In-justiça... A tendenciosa justiça injusta...
            Mariana perde para Samarco, Vale e BHP e sua derrota é, também, a derrota de quilômetros de rios e margens, meio ambiente, comunidades, produção agrícola. Aliás, este picadeiro de terra batida nem saberia (sem, claro, uma boa e paciente investigação no minúsculo jornalismo sério deste país) detalhar o quanto de destruição a ânsia pelo lucro destas empresas deixarão de rastro para além do caminho que os dejetos que ela soltou percorreram...
            Mas, hoje, inauguramos 2016 (com vontade de falar de um monte de coisa) para nos solidarizarmos, em particular, com os professores do Paraná.
            Em 29 de abril de 2015, o Governo daquele estado (incrível como foi preservado pela mídia tupiniquim) e seu Secretário de Segurança autorizaram uma IN-DIS-CU-TÍ-VEL ação de barbaridade contra professores (em sua maioria) que protestavam contra votações na Assembleia Legislativa que prejudicavam a categoria.
            Com boa dose de consumo midiático (assistir para mudar de canal, depois) a imprensa cobriu o conflito, omitindo questões e informações como, por exemplo, os helicópteros que lançavam bombas de gás lacrimogêneo... além dos ataques por terra, ataques aéreos.
            E eis que a Vara da Auditoria da Justiça Militar paranaense, através de seu promotor Misael Duarte Pimenta, mandou arquivar o inquérito policial militar que investigava os abusos (pra dedéu) cometidos pela força policial naquele dia, na que ficou – conhecida como Batalha do Centro Cívico...
            – Misael Duarte Pimenta? Tá explicado... (Palhaço).
            – Como assim, Strovézio?
            – Oras... “Pimenta” nos olhos dos outros, é arquivamento...
            – Haja sentido...
            Arrumando ainda, para 2016, o nosso picadeiro e nossa lona furada, pensando em novas ideias, novas viagens, viagens antigas, essa notícia – que, reconheçamos, não é a pior notícia deste mundo de poço sem fundo, mas que dói em nossos corações tanto quanto nos abalou.
            É verdade que quem mandou arquivar foi a Justiça Militar.
Portanto, não dá pra dizer que, em um “promotor” estudando e se posicionando, no alto de sua magistratura, se houve ou não abuso das forças policiais naquele dia, e ao concluir seu parecer, enaltece a atuação das mesmas, nos causou surpresa... Claro que não. Não somos ingênuos, do ponto de vista de quem promove o ato violento, ele "foi necessário".
A única imagem que me veio a cabeça foi...
http://informecritica.blogspot.com.br/2015/08/a-essencia-contrarrevolucionaria-do-pos.html

Mas, assim que soubemos deste parecer, lembrei-me de tantas notícias, de tantas lágrimas alheias (e rendosas imagens à nossa mídia carnívora), de tantos atos de protestos conclamando “JUSTIÇA” e tantas vezes assistindo, sem reação, o quanto ela é parcial... o quanto nós iremos ainda suportar silenciosamente.
Começamos 2016...
Sinceramente, não começamos como gostaríamos de começar...
Não é ressaca...
Não é falta de assunto...
Não nos falta inspiração...
Apenas começamos... e, parece, será realmente um ano difícil. 

Por isso mesmo...
Venham Todos!
Venham Todas!