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segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Propaganda: alma de tudo o que foi destruído...



“Todo mundo vestiu a camisa
e tá fazendo o possível
pra tentar minimizar
os danos que a gente causou”
(Luisa Nunes – Samarco)


            Assistindo (porque mesmo atentos com os “desvios” jornalísticos, precisamos assistir) o Jornal Nacional, a uma semana atrás (dia 15 de fevereiro), eis que me deparo com o comercial da Samarco... “Samarco Histórias” com o título "É sempre bom olhar para todos os lados"


            Essa vinheta comercial, pelo que levantamos de informação, não se contentou com pouco. Passou no intervalo do programa dominical da Globo, “Fantástico”. O custo de cada comercial, de 30 segundos, girava em torno de 550 mil reais. Foram seis exposições... 3,3 milhões e mais alguns barris de lama...
            Bom... alguns dias depois deste comercial, pensamos que “vamos chover no molhado”. Mas, pensando bem, poucas vezes fomos tão “em cima da hora” em nossas reflexões e postagens. Meio que é essa a dinâmica deste humilde espaço.
            Também vimos aqui e ali algumas postagens, em blogs outros, alguns sites... passeamos até no site da SAMARCO. Nele, logo na “saudação” a seguinte mensagem: “MAPA DE AÇÔES: A Samarco não tem poupado esforços e recursos para garantir o atendimento humanitário e a remediação ambiental em Minas Gerais e no Espírito Santo. Acompanhe o andamento dos trabalhos em cada cidade”.
            – Tá explicado, ué! Entre os esforços e RECURSOS, os 3,3 milhões em propaganda na Globo... (Strovézio).
            – É vero...
            Além dessa chamada, o site (e, portanto, a empresa) está repleta de imagens, links, vídeos que reforçam esse processo propagandístico de limpar a imagem junto à opinião pública. Em que pese eu desconfiar que nem deve estar tão suja assim, considerando o desequilíbrio de cobertura jornalística investigativa brasileira.
            Mas, cá pra nós, ainda que o tema já tenha causado indignações Brasil afora, provocado o Ministério Público Federal a cobrar esclarecimentos sobre os custos daquela propaganda, além do (claro) silêncio consensioso e cúmplice da TV dos Marinho, pensamos também algumas otras cositas.
            Primeiro (e, talvez, por isso a cumplicidade propagandística da Globo) é o jornalismo acusatório e justiceiro seletivo.
            Vamos combinar: se nosso jornalismo brasileiro é tão bom para investigar (e pautar a Justiça) os caminhos mais escondidos da corrupção à brasileira, como, passado mais de três meses após o rompimento da barragem de dejetos da Samarco a gente não vê o mesmo ímpeto investigativo? E, mais ainda, se permite a esse tipo de comercial?
            “Ah! Mas também tem os comerciais da Petrobrás, com corrupção investigada até o talo, né não?”,            perguntariam os nossos instigados público e artistas.
            Claro, faz sentido... mas, a Petrobrás não somente está sendo investigada até o talo. Está nos jornais todos os dias e numa agenda política e jurídica forte. A Samarco...?
            Segundo, e isso nos tocou mais ainda: o uso dos funcionários da empresa na propaganda que, à bem da verdade, tinha o único objetivo de “limpar a imagem”. E, para tanto, nada como colocar uma funcionária (acreditaremos que realmente seja uma funcionária) com a frase “os danos que a gente causou”...
            É bem possível que os empregados tenham se colocado a disposição de construir este material. Não duvidaria, se isso fosse confirmado. Mas, para nós, neste picadeiro de terra batida e lona furada, isso representa, por um lado, a covardia institucional de uma empresa que, por sua ânsia por riqueza (e destruição ambiental) coloca as pessoas que já explora pelo trabalho para defender a empresa. Pior ainda, assumirem a culpa pelo crime desta empresa.
            É como colocar (e colocam) funcionários dos Bancos para falarem bem de seus patrões, não importa o quanto aqueles sigam sempre amedrontados pelo desemprego e estes enriquecendo ao “deus-dará”. E os funcionários dizerem, quando o banco falir: “ficamos todos tristes e pobres!”.
 
Jornal Brasil de Fato
            Mas, mais ainda...
            Não sei...
            Se neste país de indignados, que vão as ruas com camisas da CBF protestar contra a corrupção e bater panelas nos horários (não todos), me pergunto o quanto estamos tão pequenos em nossa capacidade de fazer de indignações seletivas em algo que realmente enfrente esta voracidade do grande capital sobre a natureza, as pessoas, as riquezas de ambas e a justiça...
            A resposta, talvez, buscaremos em reflexões futuras.
            Da nossa parte, e voltando aos comerciais de TV da Samarco, diríamos que se ainda estivéssemos nos tempos do saudoso “ArcaMundo” (blog que inaugurou nossas reflexões e da qual o Universal Circo Crítico germinou), este tema seria realmente interessante. Afinal, nós tínhamos, naqueles tempos (2007-2008) um único mote para nossos escritos, sempre aos domingos à noite: “Síndrome do Fantástico”. Nela, nossa manifestação de que quando chegava domingo à noite, pensávamos no que viria no dia seguinte, uma segunda-feira.
            Da herança destes tempos, a sensação de que estamos vivendo uma noite de domingo sem fim... e com um comercial hipócrita da Samarco no meio... 
           
Venham Todos!
            Venham Todas!
                                   


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Marcelo "Russo" Ferreira