“Todo
mundo vestiu a camisa
e tá
fazendo o possível
pra
tentar minimizar
os danos
que a gente causou”
(Luisa
Nunes – Samarco)
Assistindo
(porque mesmo atentos com os “desvios” jornalísticos, precisamos assistir) o
Jornal Nacional, a uma semana atrás (dia 15 de fevereiro), eis que me deparo
com o comercial da Samarco... “Samarco Histórias” com o título "É sempre bom olhar para todos os lados"
Essa
vinheta comercial, pelo que levantamos de informação, não se contentou com pouco.
Passou no intervalo do programa dominical da Globo, “Fantástico”. O custo de
cada comercial, de 30 segundos, girava em torno de 550 mil reais. Foram seis
exposições... 3,3 milhões e mais alguns barris de lama...
Bom...
alguns dias depois deste comercial, pensamos que “vamos chover no molhado”.
Mas, pensando bem, poucas vezes fomos tão “em cima da hora” em nossas reflexões
e postagens. Meio que é essa a dinâmica deste humilde espaço.
Também
vimos aqui e ali algumas postagens, em blogs outros, alguns sites... passeamos
até no site da SAMARCO. Nele, logo na “saudação” a seguinte mensagem: “MAPA DE
AÇÔES: A Samarco não tem poupado esforços e recursos para garantir o
atendimento humanitário e a remediação ambiental em Minas Gerais e no Espírito
Santo. Acompanhe o andamento dos trabalhos em cada cidade”.
–
Tá explicado, ué! Entre os esforços e RECURSOS, os 3,3 milhões em propaganda na
Globo... (Strovézio).
–
É vero...
Além
dessa chamada, o site (e, portanto, a empresa) está repleta de imagens, links,
vídeos que reforçam esse processo propagandístico de limpar a imagem junto à
opinião pública. Em que pese eu desconfiar que nem deve estar tão suja assim,
considerando o desequilíbrio de cobertura jornalística investigativa
brasileira.
Mas,
cá pra nós, ainda que o tema já tenha causado indignações Brasil afora,
provocado o Ministério Público Federal a cobrar esclarecimentos sobre os custos
daquela propaganda, além do (claro) silêncio consensioso e cúmplice da TV dos Marinho, pensamos também algumas otras cositas.
Primeiro
(e, talvez, por isso a cumplicidade propagandística da Globo) é o jornalismo acusatório
e justiceiro seletivo.
Vamos
combinar: se nosso jornalismo brasileiro é tão bom para investigar (e pautar a
Justiça) os caminhos mais escondidos da corrupção à brasileira, como, passado mais de três meses após o rompimento da
barragem de dejetos da Samarco a gente não vê o mesmo ímpeto investigativo? E,
mais ainda, se permite a esse tipo de comercial?
“Ah! Mas também tem os comerciais da
Petrobrás, com corrupção investigada até o talo, né não?”, perguntariam os nossos instigados
público e artistas.
Claro,
faz sentido... mas, a Petrobrás não somente está sendo investigada até o talo.
Está nos jornais todos os dias e numa agenda política e jurídica forte. A
Samarco...?
Segundo,
e isso nos tocou mais ainda: o uso dos funcionários da empresa na propaganda
que, à bem da verdade, tinha o único objetivo de “limpar a imagem”. E, para
tanto, nada como colocar uma funcionária (acreditaremos que realmente seja uma
funcionária) com a frase “os danos que a
gente causou”...
É
bem possível que os empregados tenham se colocado a disposição de construir
este material. Não duvidaria, se isso fosse confirmado. Mas, para nós, neste
picadeiro de terra batida e lona furada, isso representa, por um lado, a
covardia institucional de uma empresa que, por sua ânsia por riqueza (e
destruição ambiental) coloca as pessoas que já explora pelo trabalho para
defender a empresa. Pior ainda, assumirem a culpa pelo crime desta empresa.
É
como colocar (e colocam) funcionários dos Bancos para falarem bem de seus
patrões, não importa o quanto aqueles sigam sempre amedrontados pelo desemprego
e estes enriquecendo ao “deus-dará”. E os funcionários dizerem, quando o banco
falir: “ficamos todos tristes e pobres!”.
Mas,
mais ainda...
Não
sei...
Se
neste país de indignados, que vão as ruas com camisas da CBF protestar contra a
corrupção e bater panelas nos horários (não todos), me pergunto o quanto estamos tão
pequenos em nossa capacidade de fazer de indignações seletivas em algo que
realmente enfrente esta voracidade do grande capital sobre a natureza, as
pessoas, as riquezas de ambas e a justiça...
A
resposta, talvez, buscaremos em reflexões futuras.
Da
nossa parte, e voltando aos comerciais de TV da Samarco, diríamos que se ainda
estivéssemos nos tempos do saudoso “ArcaMundo” (blog que inaugurou nossas
reflexões e da qual o Universal Circo Crítico germinou), este tema seria
realmente interessante. Afinal, nós tínhamos, naqueles tempos (2007-2008) um
único mote para nossos escritos, sempre aos domingos à noite: “Síndrome do
Fantástico”. Nela, nossa manifestação de que quando chegava domingo à noite,
pensávamos no que viria no dia seguinte, uma segunda-feira.
Da
herança destes tempos, a sensação de que estamos vivendo uma noite de domingo
sem fim... e com um comercial hipócrita da Samarco no meio...
Venham Todos!
Venham
Todas!
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Marcelo "Russo" Ferreira