Aqui é o local onde o picadeiro tem realidade e fantasia.
Os artistas são personagens e pessoas reais.
A música perpassa nossa história e nosso povo.
É onde sempre nos encontramos...
Vida Longa!
Mais
um ano que, como nosso picadeiro faz todo ano, sempre defendo: não é
verdadeiramente fim de algo, início de outro algo.
O
Universal Circo Crítico, mesmo entendendo que a grande maioria de nossos
artistas (e nós também) passaremos a virada de ano entre pessoas queridas,
bebendo nossa bebida, comendo nossa comida, compartilhando alegria,
brincadeiras, carinho e amizade, celebrando nossos sonhos e nossas lutas, celebrando
nossos/as companheiros/as, camaradas e nossas bandeiras.
No
final do ano, recebemos alguns presentes de amigos/companheiros/camaradas mundo
afora e selecionamos esse que, no dia em que celebramos 54 anos da Revolução
Cubana, também nos dá lições de luta. E a lição abaixo é silenciosa. E,claro, a
imprensa em terras tupiniquins também o foi...
O
Universal Circo Crítico não...
“Viva
Zapata!
Viva
Zumbi!
Antonio
Conselheiro!
Todos
os Panteras Negras...
...
eu tenho certeza, eles também cantaram um dia!”
No
dia 21/12/2012, enquanto o mundo brincava de apocalipse, os verdadeiros
descendentes dos maias, vivos e reais, nos mandaram das montanhas de Chiapas
uma importante mensagem, que surpreendeu o México hoje de manhã.
Em
diferentes municípios da região Sudeste, milhares de indígenas integrantes do
Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN) iniciaram o dia em grandes
marchas por diferentes estradas e cidades.
A
manifestação, organizada até a véspera em sigilo, foi pacífica e
surpreendentemente silenciosa. Em todas as marchas, o silêncio foi absoluto.
Nenhuma palavra de ordem, nenhum cântico, nenhum grito de protesto. Ao final do
dia finalmente foi divulgado um comunicado oficial do líder máximo do EZLN,
Subcomandante Marcus, dizendo apenas:
“Escutaram? É o som do mundo de vocês
desmoronando. E do nosso ressurgindo”.
Como
sabemos, os maias nunca falaram em “fim do mundo” (tampouco jamais conceberam
essa ideia). Ao contrário, em um gigantesco silêncio, nos disseram hoje que um
mundo novo, uma nova era, está começando. E que os ideais zapatistas estão de
volta.
Abaixo, texto do Educador Popular Raimundo Gomes da Cruz Neto, de Marabá/PA... Mais uma liderança camponesa tomba... Mais um Lutador do Povo que cai por suas ideias, seu humanismo, sua luta constante por uma vida melhor para todos e todas... Inclusive Todos e Todas do Universal Circo Crítico...
Por essas e outras continuams Circo, continuamos Universal, continuamos Crítico... continuamos aprendizes de Lutadores e Lutadoras do Povo.
Vida Longa a Mamede!
"Hoje, às 10 horas, nos despedimos de mais um grande
companheiro das nossas fileiras de lutas pela verdadeira reforma agrária e pela
transformação da sociedade. Foi enterrado o corpo de Mamede Gomes de Oliveira,
assassinado brutalmente na manhã do dia 23 de dezembro. O assassinato ocorreu
no seu lote, a 200 metros de sua casa, no Projeto de Assentamento Mártires de
Abril, município de Mosqueiro, Estado do Pará.
O assassino é casado com a filha de um também
assentado, não residia no Projeto de Assentamento, já foi identificado e preso
mas até o momento não revelou qual a sua motivação ou interesse para tirar a
vida de Mamede, com o disparo de dois tiros fatais sem que a vitima pudesse se
defender.
Para nós foi uma perda imensurável, por tratar não apenas
de um assentado, como deverá ser divulgado pela imprensa medíocre deste país,
mas por tratar de um exemplar de homem que viveu para construção de uma
humanidade, que ainda está por ser construída por todos(as) aqueles(as) que não
se cansam e nem se entregam diante das barreiras impostas.
Mamede tinha 57 anos muito bem vivido como fazem todos(as)
que desde cedo encaram o desafio de construir seu próprio destino. Nasceu no
Estado do Piaui, viveu sua juventude até adulto no Estado do Maranhão, no
município de Pedreiras, no final da década de 1980 veio para o Pará, trajetória
de muitos nordestinos, em busca da terra prometida.
Foi no ano de 1999 que militantes do MST e Mamede tiveram o
grande prazer de se encontrarem, nas mobilizações realizadas na cidade de
Ananindeua, área metropolitana de Belém do Pará, para ocupação dos latifúndios
naquela região. Nesta época Mamede militava na Comunidade Eclesial de Base, com
a experiência trazida do Maranhão. Experiência desenvolvida para enfrentar a
opressão imposta pelas famílias latifundiárias, corruptas e assassinas daquele
Estado, dentre elas a de José Sarney.
Com a luta organizada as famílias de trabalhadores
conquistaram uma área de terra no município de Mosqueiro, que depois as
famílias e o movimento fizeram ser criado um projeto de assentamento, pelo
INCRA,o Projeto de Assentamento Mártires de Abril, em memória ao massacre de 17
de abril de 1996, na curva do S, no município de Eldorado de Carajás, contra
militantes do MST, realizado pela policia do Estado, quando governador Almir
Gabriel.
Ali no assentamento Mamede se realizava e construía
experiências e ensinamentos para companheiros(as) e para o mundo. Junto com sua
esposa passaram a se dedicar em um grande projeto que viesse apontar para a
transformação da sociedade. Homem culto, não abonava suas leituras dos
revolucionários, de Marx, os marxistas, ao poeta Maiakóvski.
Pelo seu afinado conhecimento e forma de lhe dar com as
pessoas desempenhou importante papel como comunicador, educador e dirigente do
movimento, sem nunca se propor a abandonar a luta e deixar de enfrentar as
grandes dificuldades que se apresentavam no dia a dia.
A sua dedicação maior, sem desprezar a militancia, a
educação e acultura, mas fazendo destas uma interação necessária e
produtiva, foi com a agroecologia. Seu lote era um exemplo de
diversificação de cultivos de plantas para fins medicinais, ornamentais e para
produção de alimentos, e a criação de pequenos animais. Dedicação na transformação
de plantas em produtos de uso medicinal e alimentício.
Mas como para a crueldade não há defesa e precaução
suficiente par evitá-la quando ela nos ronda permanentemente,em um momento de
vivência e dedicação com seu a fazer, Mamede foi covardemente assassinado
quando reparava a situação de umas colméias.
Portanto, não foi só o MST, mas sim o mundo que perdeu, na
flor da idade, um grande exemplar de homem educador, comunicador, dirigente,
defensor e praticante da agroecologia, que acreditava na transformação da
sociedade, com a destruição do capitalismo a partir de de acúmulos de
fundamentações teóricas pelos indivíduos mas também necessariamente com a
prática.
Lamentamos profundamente que a barbárie se alastra pelo
mundo sem que nossas forças sejam suficientes para barrá-la. Lamentamos
profundamente que diante da situação muitos(as) valiosos(as) lutadores(as) do
povo se deixem levar pelos imbróglios da conjuntura política retrógrada e
alienante que impera no país. Lamentamos profundamente pela perda de mais um comunista.
Como foi na casa de Mamed, quando da participação de um
encontro estadual do MST, que tomei conhecimento do poeta russo Maiakóvski, em
memória vou citar um dos poemas que de imediato me chamou a atenção:
O Universal Circo Crítico foi apenas presenteado...
e, para nós, os presentes que recebemos a todos e todas pertencem...
O Monólogo de Natal de Aldemar Paiva foi declamado
acerca de 20 anos, em um dos episódios da Escolinha do Professor Raimundo, pelo
personagem de Lúcio Mauro, o Aldemar Vigário... um xará, talvez, proposital.
Na imperialista rede de televisão, possivelmente
passou discreta e seu público. Da gente, por exemplo, acabou passando...
Reencontramos alguns anos depois.
Ao nosso Público e nossos artistas, nosso registro:
não somos insensíveis (ah! Isso não somos mesmo!), nem céticos... Não odiamos o
Natal, não temos ojeriza da festa Cristã... Somos realistas, somos
revolucionários, celebramos nossa capacidade de continuir lutando para que esta
festa seja, verdadeiramente, de todos e de todas. Talvez, apenas talvez, quando
isso acontecer, essa festa nem exista mais. Mas porque outra será celebrada,
com muito mais sentido e significado!
Com vocês, com um dia de atraso, nosso Presente:
"Eu
não gosto de você, Papai Noel!
Também não gosto desse seu papel de vender ilusões à burguesia.
Se os garotos humildes da cidade soubessem do seu ódio à humildade, jogavam
pedra nessa fantasia.
Você talvez nem se recorde mais.
Cresci depressa, me tornei rapaz, sem esquecer, no entanto, o que passou.
Fiz-lhe um bilhete, pedindo um presente e a noite inteira eu esperei, contente.
Chegou o sol e você não chegou.
Dias depois, meu pobre pai, cansado, trouxe um trenzinho feio, empoeirado, que
me entregou com certa excitação.
Fechou os olhos e balbuciou: “É pra você, Papai Noel mandou”.
E se esquivou, contendo a emoção.
Alegre e inocente nesse caso, eu pensei que meu bilhete com atraso, chegara às
suas mãos, no fim do mês.
Limpei o trem, dei corda, ele partiu dando muitas voltas.
Meu pai me sorriu e me abraçou pela última vez.
O resto eu só pude compreender quando cresci e comecei a ver todas as coisas
com realidade.
Meu pai chegou um dia e disse, a seco: “Onde é que está aquele seu brinquedo?
Eu vou trocar por outro, na cidade”.
Dei-lhe o trenzinho, quase a soluçar e, como quem não quer abandonar um mimo
que nos deu, quem nos quer bem, disse medroso: “O senhor vai trocar ele?
Eu não quero outro brinquedo, eu quero aquele.
E por favor, não vá levar meu trem”.
Meu pai calou-se e pelo rosto veio descendo um pranto que, eu ainda creio,
Tanto e tão santo, só Jesus chorou!
Bateu a porta com muito ruído, mamãe gritou; ele não deu ouvidos. Saiu correndo
e nunca mais voltou.
Você, Papai Noel, me transformou num homem que a infância arruinou. Sem pai e
sem brinquedos.
Afinal, dos seus presentes, não há um que sobre para a riqueza do menino pobre
que sonha o ano inteiro com o Natal.
Meu pobre pai doente, mal vestido, para não me ver assim desiludido, comprou
por qualquer preço uma ilusão e, num gesto nobre, humano e decisivo, foi longe
pra trazer-me um lenitivo, roubando o trem do filho do patrão.
Pensei que viajara, no entanto, depois de grande, minha mãe, em prantos,
contou-me que fôra preso.
E como réu, ninguém a absolvê-lo se atrevia.
Foi definhando, até que Deus, um dia, entrou na cela e o libertou pro
céu."
(Monólogo
de Natal - Aldemar Paiva)
O Universal Circo Crítico recebeu seu presente de
Natal de uma outra revolucionária... Cantada de Natal assim, popular, não tem
espaço na festa consumista e elitista que o Natal de transformou há muito
tempo... Em nosso picadeiro, são Artistas que aplaudimos de pé!
Saudações aos nossos
queridos Pequenos Lutadores do Povo... Eva e Guilherme. Nossa Lona furada,
nosso picadeiro de chã batido e nossos artistas revolucionários saúdam, mais
uma vez, em 2012. Eva no dia 11 de dezembro e Guilherme no dia 12.
É realmente interessante
as coisas que acontecem de um dia para o outro. Num dia, chega Eva, a “Progenitora
da humanidade”, no pensamento cristão. No dia seguinte, chega Guilherme, o Protetor.
Talvez viessem, Eva (filha de Sônia) e Guilherme (filho de Eleona e Eleonai),
para exatamente isso: ser mãe de uma nova humanidade, de homens e mulheres
novos/as, revolucionários/as e para protegê-los todos os novos e novas
Lutadores e Lutadoras do Povo. Nascimento e Proteção coletivos... seria isso?
E, claro, a história da
humanidade nos mostra (e suas lições) como muitas coisas acontecem de um dia
para o outro. Mas, assim como a chegada de vocês, Eva e Guilherme, vocês não
chegaram assim, de um dia para o outro... Tudo foi acontecendo, sabíamos que
vocês chegariam. A data? Ah! Essa, talvez, só quando estávamos próximos de
recebê-los.
Algumas vezes, pequenos
Eva e Guilherme, um dia demora muito tempo para o dia seguinte e, desde a
chegada de vocês, estávamos pensando exatamente isso: quanto tempo leva para um
dia terminar e outro começar?
...
Viagem, né? Nem tanto:
Vocês chegam em um mundo
em que cada vez mais as coisas nos são mostradas desta maneira: de repente, é
outro dia. E, assim, cada vez mais não entendemos porque as coisas acontecem de
um dia para o outro.
Por que crises econômicas
acontecem?
Por que escolas são
fechadas?
Por que guerras são
declaradas (e algumas não)?
Por que países são
criados e reconhecidos (e por quem)?
Por que acordos são
propostos?
E, assim como vocês, por
que pessoas nascem...? E, principalmente, para que?
E, pensando, pensando,
pensando, chegamos a algumas conclusões, que nunca as são, de verdade, mas que
nos ajudam em nossas sempre lições. E nós aqui, sedentos por dar nossas boas
vindas a vocês, trouxemos poucas mas significativas reflexões... nelas, talvez
lições.
De todas as datas que
conseguimos encontrar (e precisamos, urgentemente, de um “Wikipédia do povo”,
porque as datas que encontrarmos como importantes sempre são dos algozes, da elite,
dos generais... quase nada das vítimas, do povo, dos soldados), nos deparamos
com exatamente o que estava a conduzir o “quanto tempo leva para um dia começar
e outro terminar?”.
Diz a lenda que em 11 de
dezembro de 1946, um grande empresário americano doa um terreno em Nova York
para a construção da sede das Nações Unidades, a ONU, mesmo ano em que é
fundada a UNICEF (que, mais de 65 anos depois, não conseguiu resolver o
atendimento das necessidades básicas das crianças no mundo, razão de sua
criação).
Décadas depois, em 1997, houve
a abertura do processo de assinatura do Protocolo de Quioto que, para sermos
simples e direto, obrigava a quem mandava fumaça e poluição mundo afora a
diminuir essa quantidade em pouco mais de uma década. E o país mais poluidor do
mundo (e o que mais promove guerra também) não quis assinar. E, claro, a ONU é
promovedora do tratado.
É a mesma ONU que
declarou, em 2002, o dia 11 de dezembro como o “Dia Internacional das Montanhas”,
meio que preocupada mais com as questões urbanas (afinal, os morros das grandes
cidades recebem a parcela mais pobre de suas cidades até o “olhar empreendedor”
de nossos empresários imobiliários se estabelecerem – com segurança – nesses locais
de vista privilegiada), mas também envolvendo as questões ambientais, de aquecimento
da terra, como aquelas do Tratado de Quioto.
Mas são também nas
montanhas (principalmente nos países do Hemisfério Sul) que existem as
riquezas minerais mais ambicionadas do mundo e, portanto, atenção do grande capital
mundial.
... tudo isso no dia 11
de dezembro.
No dia 12 de dezembro,
nosso povo perdeu um dos seus brasileiros mais importantes (e que nossos livros
escolares pouco valorizam), o sertanista brasileiro Orlando Villas-Bôas que,
tempos antes, fez a denúncia abaixo:
Lá estavam eles: índios ianomâmis,
na sede da ONU, sendo civilizados para pensarem e aceitarem o desenvolvimento
urbano, capitalista, branco, ocidental... De instituição em instituição, de
tratados em tratados, de montanhas em montanhas, o dia vira noite e a noite
vira dia e cada vez mais temos a certeza de que celebraremos todos os dias a
chegada de novos Pequenos e Pequenas Lutadores e Lutadoras do Povo, pela
certeza absoluta que é nessa condição que vocês nasceram... a história, claro,
nos provará.
Pequena Eva, Pequeno
Guilherme, nossos novos Pequeno/a Lutadora e Lutador do Povo: não se trata de
fardo grandioso. Se realmente vierem para o nascimento de um novo tempo e de
novos homens e mulheres e para a proteção daqueles que, no longo e histórico
tempo de “um dia para o outro”, lutam para que a chegada de vocês continue
sempre celebrada, é porque entendemos que de um dia para o outro, nossos olhos
tem que estar abertos, nossa mente concentrada e nosso coração
revolucionário... E ouso colocar “revolucionário” aqui, como adjetivo, para
saudá-los. Porque para nós, do Universal Circo Crítico, revolucionário é mais
do que adjetivo. É condição...
Assim como é condição,
também, que as nossas celebrações tenham sempre música. E 11 e 12 de dezembro,
para nós, também é Dia de Guardel, Dia de Lamarque, Dia de Tango, Dia de Noel, Dia
de Ravi, Dia de Tiso. E com tantos dias assim, não foi fácil pensarmos qual
música tocarmos e cantarmos para saudá-la/o.