Hélio Oiticica |
Salve,
Salve, Débora.
Mas,
eita que chamamos uma “Salva de Salve’s” para nossa pequena Débora.
Este
picadeiro de terra batida e lona furada de circo lhe recebe com esta pequena e
inxirida conversa ao pé do seu ouvido. Fazemos isso sempre que recebemos alguém
que acaba de chegar por essas bandas da humanidade. E, pra ti, claro, não seria
diferente. E por razões várias, algumas muitíssimo especiais.
Afinal,
chegas (como diria as formas populares de expressão da vida) na condição de
“Sobrinha torta”. Ou, falando daqui, te recebo como e “Tio torto”. Afinal, de
fato, de fato, Silvinha (sua mãe), não minha irmã-irmã. Mas é como se fosse e,
à bem da verdade, essa é história de família “torta” já tem aí seus 22 (e
tantos) anos, quando conheci sua mãe e ela ainda era uma menina 10 anos mais
nova do que eu.
–
Russo... (Strovézio)
– Diz,
Strovézio...
– Tipo
assim: ela continua 10 anos mais nova. Isso não muda...
– ...
Pois
bom.
Teu pai
ainda não conheci. Mas, conhecendo Silvinha, sua história, disciplina,
trabalho, alegria e coisa e tal, só consigo achar que é gente boa pra dedéu...
Viva Igor!
Tem uma
coisa massa na sua chegada, Pequena Débora.
Chegas
em 22 de março. Sua mãe e eu nascemos em um 22 de setembro. E há 22 anos
conheci sua mãe.
Diz o
cantador de Bingo que “22” são Dois Patinhos na Lagoa. Tá... 22 pode ser um
monte de coisa. Uma das coisas que vimos por aí é que 22 significa algo como
“em breve você terá um encontro”. Algo como “sempre terás alguém junto contigo”.
Considerando
o tamanho e a alegria da família que te recebe, disso não temos a menor dúvida:
irás ter encontro todos os dias. Mas, para este picadeiro de terra batida e
lona furada de circo, vale-nos a expressão que nos é mais importante: vens para
não ficar só. E em um mundo o qual o individualismo parece fazer mais sentido
às pessoas do que o coletivo, penso que esta pode ser uma primeira lição que,
em nossa humildade, podemos deixar. Nunca se deixa pensar que está só.
Vamos
adiante.
É
preciso registrar, pois, sem isso, poderíamos ser tomados pela
irresponsabilidade. Somos um circo, pequeno, virtual, mas não somos desatentos
ao nosso compromisso com a verdade. E a verdade, para nós, é sempre revolucionária.
Chegas
em tempos estranhos, muito estranhos. Aqui em terras brasileiras e fora delas.
Aqui, é o tango-do-branco-maluco, uma coisa de “ir às ruas contra a corrupção”
usando camisas da CPF (corrupta), defendendo a permanência de figuras sinistras
(e corruptas) para avançar no combate a corrupção, mantidos por entidades
privadas (que bancam a corrupção)... Vigi, que é uma “corrupconfusão” arretada.
Mas,
fora daqui, a coisa tá feia também. E, lamentavelmente, chegas num dia em que
mais um atentado na Europa se deu, com medo, mortes e feridos. É uma coisa meio
“Frankenstein”, em que a criatura se volta contra seu criador.
Mas,
aqui, mais uma e permanente lição, Pequena Débora: que nutra todos os dias, o
tempo todo, seu amor a humanidade. Muito há o que se fazer, mas muito temos o
que oferecer e se nosso amor a humanidade estiver presente, sempre haverá
esperança por outros tempos.
E o 22
de março nos oferece a cultura. E, nela, a música.
Ah! Se
não fosse a música, o que seria deste humilde picadeiro. Teve muita gente que
chegou ou partiu (sempre tem, também) neste dia. Uns que a gente nem gosta
muito, sabe como é.
Bom...
tem uma banda que sempre estará na história da música mundial e que, digamos
assim, iniciou sua trajetória justamente num 22 de março, quando lançou seu
primeiro álbum. Falamos do “The Beatles” e o álbum Please, Please me.
– Não é
o “The Besouros”?? (Strovézio).
– Não
avacalha, Strovézio!
– O bode saiu com a cabra pra passear a pé! A bode
mordeu a cabra, e a cabra gritou ‘Mééééééé”! Você mordeu meu pé-é-é! Você
mordeu meu pé!
– Nossa letra é melhor.. depois a gente canta...!
Também
nasceu, em um 22 de março, um cara fantástico e pertencente a um dos estilos
musicais que mais apreciamos: o rock. Keith Relf fez história com, dentre
outras bandas, o The Yardbirds, que teve
guitarristas do quilate de Eric Clapton, Jeff Back e Jimmy Page – que, digamos
assim, transformou o Yardbirds no Led Zeppelin... mágico. Keith também fez
parte de um outro grupo que também adoramos por aqui, o Renaissanse, que
tinha uma pegada mais de “rock progressivo”, uma coisa com músicas de 10, 20
minutos, até mais e uma combinação com a música clássica arretada.
Bom, com
tanta coisa legal que a gente poderia colocar aqui para cantar sua chegada
rockeanamente, optamos pela matriz, um som conhecido das antigas do The
Yardbirds:
Mas,
ó... tem um das terras brasileiras que a gente dá o maior valor, mesmo não
sendo assim fanzão dele e tals.
Lá pelas
bandas de 1945, nasceu Jorge Benjor (que a gente conheceu ainda nos tempos de
Jorge Ben). Bom... o cara tem história, criou maneira própria de tocar e cantar
em pleno auge da MPB e Bossa Nova. É legal pra dançar...
De
qualquer maneira, sempre a-do-ra-mos falar de música ao pé de ouvido de quem
sempre chega por aqui e, inxiridamente, fazemos à luz daquilo que gostamos,
para falar da multiplicidade de manifestações em torno da cultura e da qual a
música é apenas um pedacinho.
Daí,
Pequena Débora, nossa lição para ti é simples: cante, dance, leia, poetize,
interprete. E pinte, também, como pintava (e questionava) Hélio Oiticica, sendo
marginal e sendo heroína, nossa saudação no início deste papo.
E, se
possível, tudo junto. Se é verdade que transformamos o mundo transformando-o
para o mundo, se tudo isso fizer parte desta transformação, melhor ainda. E, cá
pra nós... Em Recife? Em Pernambuco? No Nordeste? Vigi, que não vai faltar
opção!
E por
isso mesmo, para este pricadeiro, a música também é revolucionária. E também
queríamos te apresentar Pío Leyva, um grande Mestre do Cuaguancó, um dos
maravilhosos e deliciosos ritmos cubanos. Esse compañero participou de uma das mais belas produções musicais de
nossa história (e está entre as nossas 10 preferidas) e que rodou o mundo:
Buena Vista Social Club. E o fez com cantores do quilate de Ibrahim Ferrer,
Omara Portuondo, Puntillita e Compay Segundo. Para nós, também representa todo
um povo revolucionário, um país “deste tamainho” e que sofreu mais de meio
século de bloqueio econômico do país mais imperialista do mundo. Saudamos, ao
presentar-te Pío Leyva, o Povo Cubano.
Assim,
Debi, a música é nosso ritmo de transformação... de transformação
revolucionária, sem a qual o que dissemos no início deste papo ao pé de seu
ouvido não cessará.
Pois
bom... normalmente os diálogos musicais e artísticos vem, nestes papos ao pé de
ouvido, no final. Mas, invertemos nossa lógica e por uma razão especial.
Foi em
um 22 de março de 1913 nas nascia uma mulher chamada Sabiha Gökçen, uma turca
que é considerada a primeira a pilotar aviões de combate na história. Bom,
claro que não é legal ser “avião de combate”. Mas para a época (década de 30 do
século passado) e por ser uma mulher, isso é bem interessante.
Aliás,
Pequena Débora, o nome dela tem tudo a ver com sua história. O sobrenome dela,
Gökçen, vem de Gök que significa céu e o sobrenome dela significa “pertence ao
céu”.
Assim,
ficam algumas lições a mais sobre essa história: voar é para os pássaros, mas
também para nossos sonhos e nossas metas. Que as suas escolhas sejam realmente
do tamanho e da altura de suas potencialidades e que seu combate seja sempre o
bom combate, e pela humanidade. Sempre pela humanidade.
Mas, voar
lembra a este humilde apresentador, mais do que isso... Lembra uma imagem, uma
foto que aqui guardo e que hoje, pela primeira vez, vem ao picadeiro deste
circo de lona furada, quase que como uma de nossas artistas principais. E,
aqui, o que reunimos de melhor acerca de sua chegada. O que significa,
inclusive, seu nome e a imagem que aqui apresentamos.
Não
vamos nos inxirir por demais, pois sua mainha é infinitamente melhor do que
este picadeiro para contar tudo o que precisas saber sobre seu nome e o
significado dele em sua chegada.
Chega
com o nome de Débora. Dizem que vem do hebraico Debhoráh e que significa abelha. Talvez a abelha rainha, a mulher
trabalhadora (que, nos tempos estranhos que já comentamos, também não é
significado menos importante).
Mas,
mais do que isso, é Débora por conta de minha “irmã torta”, a irmã de sua irmã,
a sua tia... que, há tempos, já não está entre nós. Outros quase 22 anos.
E chegas
Débora no dia mundial da água. Chega para lavar-nos de emoção e celebração com sua
chegada.
Como
disse, sobre sua tia, optamos por guardarmo-nos em nossa humildade e deixar pra
sua mainha, sua vó, tias, tios e tals e todos os zilhão de pessoas importantes
na vida de sua Tia Débora contarem o que significa, o que você significa, o que
sua história já chega contando.
É isso,
Pequena Débora.
Nunca,
talvez, neste picadeiro, as palavras a seguir tiveram tanto sentido particular
como agora terão para ti.
Vida
Longa, Pequena Débora!
Sempre
Vida Longa!
Venham
Todos!
Venham
Todas!
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O Universal Circo Crítico abre seu picadeiro e agradece tê-lo/a em nosso público.
Espero que aprecie o espetáculo, livre, popular, revolucionário, brincante...! E grato fico pelo seu comentário...
Ah! Não se esqueça de assinar, ok?
Vida Longa!
Marcelo "Russo" Ferreira