RESPEITÁVEL PÚBLICO!

VENHAM TODOS! VENHAM TODAS!

sexta-feira, 1 de abril de 2016

21 de 21... a conta certa!


Cena - Lua Nova do Penar

“O meu melhor Natal.
O Meu melhor Natal foi de 1974. Que eu estava com os meus avós, pai, mãe etc. Mas depois que meu avô sumiu nunca mais eu tive um Natal bom”.
(Carlos Pereira Von Soshten – 14/11/1978)



Chegamos a mais um 31 de março e entramos em 1º de abril.
Data “pra não esquecer”.
O calendário dos milicos diz que foi em um 31 de março, mas, gosto mais da tese de que os tanques saíram dos quartéis em 31 de março e apenas no dia seguinte, 1º de abril, de fato consolidou-se o Golpe Militar (civil, empresarial, jurídico, midiático e o escambal) no Brasil.
Aliás, a própria caserna, os saudosos de pijamas, e os energúmenos que vão as ruas com camisa da CBF pedir intervenção militar, chamam de Revolução o que aconteceu, na verdade, no dia 1º de abril de 1964. Ou seja, a tal Revolução foi uma grande mentira.

De qualquer maneira, sob qualquer data, o 31 de março ou 1º de abril de 1964 praticamente abriu as portas para os Golpes outros que Argentina, Chile, Bolívia, Uruguai, Peru e Equador conheceram a seguir. Como no nosso último texto (“O tango verdadeiro...”), alguns bastante sanguinários, como jogar corpos sonolentos e dopados ao mar ou o rapto de bebês que nasciam nos porões das ditaduras, doados “legalmente” e, portanto, sob conhecimento do Estado (repito... bebês raptados em seu nascimento), para aquelas famílias que apoiavam a ditadura. Não era registro de adoção, registre-se.
Sempre dissemos por aqui, de uma maneira ou de outra, o que foram 21 anos de escuridão neste país.
Perto do que existe publicado sobre os relatos deste período (1964-1985) – para ficarmos apenas nos porões – o que nós fizemos, esboçamos, registramos neste picadeiro de terra batida foi muito pouco.
Ainda assim, só quem não quer saber e ainda acredita que os 21 anos de Ditadura no país foram os melhores de nossos últimos tempos ainda abre mão de procurar e estudar o enorme material e registro sobre o Regime Militar.

Mas, podemos arriscar uma síntese:

Durante 21 anos, a Liberdade de Imprensa se limitava a ter liberdade de aceitar a verdade do governo e não criticá-lo, em que pese parte da “imprensa livre” estar muitíssimo a vontade com os governo militares...
– Né, Marinho? (Strovézio)
Durante 21 anos, nem era problema usar camisas vermelhas... As ideias, se aparentassem vermelhas, já era bastante perigosas.
Durante 21 anos, o conhecimento, o saber escolar era vigiado. O que se ensinava na escola não perpassava por qualquer clivo docente. E não tínhamos projetos de lei sobre “Crime de Assédio Ideológico” ou “Escola Sem Partido” para essas vigilâncias. O conjunto dos Atos Institucionais e, principalmente, o conhecido AI-5 – que retirou todos os direitos – foi suficiente para esta mordaça nos bancos escolares.
Durante 21 anos, qualquer mínima crítica ao governo era absoluta e abertamente proibida. Pesquisem lá, General Newton Cruz...
– Vai uma mãozinha? (Palhaço).


– Fico imaginando um Ministro atual fazendo isso, Strovézio. O que teria de frentes e instituições pedindo sua cabeça.
Durante 21 anos, pessoas perderam pessoas... Muitas daquelas sem ter o direito de saber o que aconteceu com seus desaparecidos e mortos. E tantos destes tantos o saberem, mas não poderem despedir-se, enterrarem, cremarem seus próximos. E isso ainda hoje perdura.
E, assim, durante 21 anos, torturas foram constantes, foram regra... a Violência desmedida, arriscaríamos dizer, realizadas requintes de crueldade e sentimento de prazer por seus torturadores. E com o acompanhamento profissional médico.
O simples fato de se pensar diferente do hegemônico (e institucional), durante 21 anos, era risco à própria vida.
Ódio e medo, como pares perfeitos durante 21 anos.
E hoje, 21 anos após 21 anos, tem muita coisa estranha no ar.

Quando nos deparamos com a notícia de que um profissional da saúde (em que pese privada, ou seja, “cuido se me pagar”), médico pediatra (portanto, cuida de uma especialidade focada na infância), se nega a atender uma criança porque a mãe pertence a coligação política A ou B, algo estranho de mais está presente:
E o Sindicato Médico do Rio Grande do Sul aprova o ato.

Pois bom... Nossa viagem é simples.
Lá pelas bandas de 1978, Carlinhos fez uma pequena Redação. Minha Tia Sacha Lídice (mãe de Carlinhos) guardou a redação por todo este tempo e hoje, ela (a redação) está no Documentário “Lua Nova do Penar”, que versa sobre nosso grande avô, Hiram de Lima Pereira (http://www.hirampereira.com/#!documentario/c1xdu).
– Hiram de Lima Pereira, Presente! (Strovézio).
– Sempre presente...!
A redação, diz a lenda, rendeu duas imediatas consequências. Carlinhos tirou “Regular” (ou seja, sem "estrelinhas" da Professor) e Sacha Lídice foi chamada na escola.
Durante 21 anos, a vigilância e a intolerância se expressavam desta maneira.
Após 21 anos, uma médica (pediatra, que cuida de bebês) diz à sua mãe: não mais atenderei seu filho...

– Será que ela pensou “... sua petista, bolivarianista, comunista”? (Strovézio)
– Se pensou, pensou errado...

O Medo, a Intolerância, o rancor, a vigilância são os mesmos. São exatamente os mesmos.
E ainda vem mais pela frente.
Diz a matemática que 21 mais 21 dão 52... Um professor, recentemente, disse-me o seguinte: “coloque os números sob tortura, e verás se eles também não mentem”.
Neste caso, parece-me que não. São exatamente iguais.
E que nunca mais devamos saber de cenas assim em nossos dias...



Venham Todos!

Venham Todas!


Nenhum comentário:

Postar um comentário

O Universal Circo Crítico abre seu picadeiro e agradece tê-lo/a em nosso público.
Espero que aprecie o espetáculo, livre, popular, revolucionário, brincante...! E grato fico pelo seu comentário...
Ah! Não se esqueça de assinar, ok?
Vida Longa!
Marcelo "Russo" Ferreira