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domingo, 29 de maio de 2016

A cada 4 minutos...






 
“Porque o medo da mulher
 da violência do homem
 é o espelho do medo do homem
 da mulher sem medo”
 (Eduardo Galeano)




Em um 8 de março passado, dizíamos, aqui neste picadeiro de terra batida e lona furada: “As mulheres do Universal Circo Crítico sempre serão razão de nossa existência”. Falava, à época, das mulheres de minha vida.
Houve momentos outros em que trouxemos o saudoso Eduardo Galeano (que novamente nos saúda) e uma de suas obras singelamente denominada “Mulheres”.
Em março último, também no dia 8 mais especificamente, escrevemos: “Ainda um machista”.  E não se tratava de falsa humildade, mas sim, de dizermos com a verdade que todos os dias provoca nossas mais escondidas entranhas machistas dentro de nós: “eu sei que você está aí dentro e vou enfrenta-lo... até o dia que a certeza desta vitória esteja clara e inconteste”...
Meu machismo está lá dentro de mim, escondido e junto com o racismo, a homofobia, a intolerância, o preconceito... Eu sei que está.
Todos os dias, o silêncio de meus ouvidos me provoca: a violência contra a mulher (tantas, inclusive, menores de idade) é todos os dias, várias vezes ao dia.
O fato de eu não ver a cada 4 minutos de minha vida uma violência sexual, física, psicológica ou o escambal acontecendo contra uma mulher, não quer dizer que “não existem”.
Uma mulher a cada 4 minutos????
Igualmente, o fato de muitos colocarem em cheque o termo “Cultura do Estupro”, não nos dá também muitas condições de dizer que ela não existe.
Não existe????
A cada 4 minutos uma violência contra uma mulher no Brasil... É claro que isso já é cultural. E quem disse que não existe cultura ruim? A história da humanidade nos dá incontáveis provas disso.
E nestes dias, os quais das coisas que mais se falaram, noticiaram, lemos, procuramos mais notícias... Nestes dias em que muitos (e “muita mais muitas”) foram as ruas dizer “Machistas, não passarão!” e outras palavras de ordem... Nestes dias em que até a estupidez midiática comercial que transforma cada segundo dos últimos dias de uma adolescente no Rio de Janeiro (mas não de cada uma das mulheres “a dada 4 minutos”) em um bom negócio e matéria exclusiva... pensei em todas as manifestações da idiotice se expressar.
Elas, a cada 4 minutos, são as culpadas.
“Se estivesse em casa...”, “Se usasse roupas adequadas...”, “Se tivesse valores morais...”, “Se estivesse na Igreja... na escola... trabalhando...”
De 4 em 4 minutos... elas estão exatamente lá...
Em ônibus, em metrô, na rua, na escola ou na Universidade, na igreja (é, meus “caros”, na igreja), no local de trabalho, no elevador, na praia, no parque e uma dúzia infinita de lugares aqui e alhures... Todos os dias e nossos ouvidos em silêncio.
No Seriado da Globo, no comercial de perfume e cerveja, no STF de gilmar mendes e seu Habbeas a abdelmassih... Nas piadas aplaudidas de rafinhas e danilos...


Por que nossos ouvidos ficam em silêncio?
33...
Precisamos de 33 homens para percebermos o silêncio de nossos ouvidos...?
Curiosamente (sim, arriscaremos a ousadia), foram 33 homens. Que curioso número cristão.
E quando olhamos ao redor, estamos cercados de outros representativos 33 homens...
Eles estão recebidos no Ministério da Educação, em tempos obscuros de governo interino... Já não bastava a perda de direitos? Teremos 33 homens também bem representados?
Bem representados em nossas Casas Legislativas, do mais miudinho município até a Câmara Federal. Eram 33 homens representados pelo o PL 5069 que obstaculariza qualquer ato desta moça, menor de idade, de evitar engravidar... dos 33, bem representados pelo que há de pior de nossa classe política, tão bem sintetizada pelo B... de boi, de bala e de bíblia.
“Ah!”, dirão os incautos defensores da moral, “mas o PL apenas indica a necessidade de se fazer o B.O. como condição legal.”...
Aquela jovem no Rio fez... quase uma semana depois. E o Delegado que a ouviu ainda perguntou a ela se ela tinha o hábito de participar de orgias sexuais.


E o silêncio ensurdecedor de meus ouvidos...
Que bom que somos oriundos do mundo Universitário, onde sempre estaremos cercados de pessoas (jovens e docentes) esclarecidas e imputadas da melhor moral e respeito aos valores humanos.
Um espaço em que as festas para receber novos/as alunos/as (os/as calouros/as) sempre serão realizadas na mais absoluta respeitabilidade e carinho:
“Sejam bem vindos!
 Sejam bem vindas!
 Nós pagamos a bebida e a música...
 Aqui, entre nós, veteranos, vocês receberão apenas carinho... muito carinho!
 E se alguém, por algum acaso, passar dos limites, não os perdoaremos. Não admitimos excesso de ninguém... A não ser excesso de carinho.
 Mas não passem, vocês, calouras, do limite, ok? Senão, serão as culpadas pelo que acontecer”.
E assim foi culpada, na UFRRJ, a estudante Izadora Cézar... uma não mais aluna de Educação Física, uma não mais futura professora que não aguentou a dor e a pressão de uma Universidade silenciosa... por três anos.


E o silêncio ensurdecedor alcança as Instituições mais respeitadas...
E uma a menos para ensinar nossas crianças e jovens qual a linha de fronteira entre a mera admiração e a violência. Frágil fronteira.

Cultura do estupro?
Bando de esquerdistas e feminazis que não sabem o que é amor... não sabem o que é o recato, a beleza e o lar.
Não sabia, também, Araceli... 8 anos... Espírito Santo... 1973... Em um 18 de maio. Quase que a jovem carioca vira “celebração a Araceli”, pelo caminho da violência.
Os estupradores e assassinos? Paulo Constanteen Helal e Dante Michelini, de famílias influentes ligadas ao Governo Militar. Um ganhou honrarias na Assembleia Legislativa capixaba. Outro, virou nome de Avenida. Não é rua, não é praça, não é “largo”, não é “retorno”... É avenida.

A cada 4 minutos, uma mulher...
Este picadeiro de terra batida e lona furada de circo passou quatro dias tentando dizer alguma coisa. Nunca nos foi tão difícil dizer alguma coisa.
E nestes quatro dias, 1.440 mulheres foram violentadas...
Não violentei nenhuma delas... Mas meu silêncio se reproduz a cada 4 minutos.
E não sabemos sequer como lhes pedir desculpas pelo machista que está escondido dentro da gente...

Hoje, Strovézio preferiu o silêncio... principalmente de sua porção Mulher!

www.fotolog.com 

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Marcelo "Russo" Ferreira