“É tão tarde / a manhã já vem
Todos
dormem / a noite também
Só eu
velo / por você, meu bem
Dorme
anjo / o boi pega neném;
Lá no
céu / deixam de cantar
Os
anjinhos / foram se deitar
Mamãezinha / precisa descansar
Dorme,
anjo / papai vai lhe ninar”
(Acalanto – Dorival Caymmi)
– Alô! (Palhaço)
– Alô... Quem é?
– Oi, Russo...é Strovézio...
– Oxi?!?!?! Me ligando? Essa eu não entendi...
Tá me ligando por que?
– Pra te avisar que nasceu Gustavinho.
– E desde quando tu me liga pra falar da
chegada de nossos pequenos amigos?
– É que hoje é 7 de março...
– E...?
– Ué!
Foi quando aquele cara chamado Graham Bell inventou o telefone, ué! Quer melhor
maneira de avisar que Gustavinho nasceu do que te dando um telefonema????
– .... Só tu mesmo, Strovézio!!!!!
Viva! Viva! pequeno Gustavo... Ou já podemos chama-lo
de Gustavinho?
Nosso picadeiro
de terra batida e lona furada celebra sua chegada, dia 7 de março, com muita
alegria. Afinal, ela também celebra nossa amizade com Fernando e Kaori, seus
pais.
Como sempre
fazemos por essas bandas circenses, celebramos com um bom “papo de ouvido” e de
lições. Lições, são sempre lições, servem para levarmos em nossa vida e nos ajudam
a tomar decisões sobre “pra que lado vou”, “com quem vou”, “se vou ou espero” e
por aí vai.
Muita
coisa aconteceu em um 7 de março. Muita gente nasceu e outras tantas se
despediram neste dia. Nós escolhemos aquelas que, aos nossos olhos, valem a
pena não serem esquecidas.
Diz a
lenda que nasceste no dia de “Deus Sol Invicto”. Não se trata apenas de uma
expressão pagã. Aliás, tem todo um complexo histórico que envolve Imperadores e
a Igreja Romana. Papo pra quem gosta deste campo da história (e precisaria
fazer uma tuia de estudos aqui e ali) e trata com seriedade essas questões de espiritualidade
(até para quem não acredita). De tudo o que sabemos deste “Deus Sol Invicto”, o
que nos importa, aqui, é que se trata da mudança do dia de descanso bíblico do
sábado para o domingo.
Bom... tu nasceste numa segunda-feira. Mas, pra
nós, que somos um Circo, interessa pontualmente que você nasceu no Dia DO Domingo!!!! E Domingo é dia de Circo!!!!!
Mas há
outro lado da história, pequeno Gustavo, um lado que também é de tristeza. E
este picadeiro não poderia silenciar-se. Afinal, está na nossa essência. A
história precisa ser colocada em nossas mãos, pois ela nos guia em nossos
passos.
Em 1965,
num “domingo sem circo”, a história manchou suas páginas pela intolerância e
racismo. Afinal, o tal “berço da democracia” (Estados Unidos... espero
sinceramente que nunca tomes este país como exemplo de vida e humanidade)
testemunhou o chamado “Domingo Sangrento”, ocorrido numa cidadezinha de nome “Selma”,
no Estado do Alabama. Uma cidade em que haviam 15 mil habitantes (maioria
negros) e apenas 30 brancos podiam votar... E reivindicar o direito ao voto se
transformou em uma transmissão ao vivo de um ato de violência que, hoje,
diríamos “inexplicável”... mas quase que fundado na legalidade na época.
A
intolerância, o racismo e o preconceito, pequeno Gustavo, são péssimos, os mais
horríveis valores que temos em nossa sociedade. Nele se fundam, também, os sentimentos
mais obscuros da humanidade. Claro, não estão apenas “dentro” de nós, mas fazem
parte de todo um sistema de relações econômicas, políticas e o escambal. Talvez
essas letras farão sentido pra ti mais lá na frente.
O
principal para nós, em nossa humildade circense, é a lição: que possas sempre
nutrir em seu coração o que chamamos de “amor à humanidade”. Se na história dos
conflitos, do uso da força em nome da intolerância, algo pode nos deixar de
bom, são lições como essa.
Gente
bacana nasceu ou partiu num 7 de março, pequeno Gustavinho. Sempre há quem
nasce (como você), sempre haverá quem parta.
E
começamos com um atleta brasileiro que, infelizmente, não aglutina milhares de
fãs, não é rico e famoso, não faz comerciais de TV, não é “intocável”. Talvez ele
nem quisesse ser, pois teria que ficar com “rabo preso” a outros interesses.
Em
tempos em que ficamos ofuscados por atletas ricos e famosos, mesmo envolvidos
em “lambanças” financeiras e coisa e tal, celebramos sua chegada com Diogo Silva, atleta de Taekwondo
olímpico brasileiro, que também nasceu em um 7 de março.
Foi nos
Jogos Olímpicos de 2004, em Atenas (Grécia) que, ao conquistar a medalha de
bronze, ele desferiu seu golpe mais épico e revolucionário. Com uma luva preta
na mão direita, ele reproduziu o gesto do Movimento dos Panteras Negras
norte-americano, em protesto contra os grandes donos do esporte brasileiro.
Para
nós, a segunda lição, com nossa homenagem também a Diogo Silva, acompanha a
linha da primeira lição: nunca aceitar o preconceito e a intolerância como
coisa normal, nem o poder do mais forte como coisa natural.
Outro cara
ar-re-ta-do nasceu em um 7 de março: Danilo
Caymmi... um dos fantásticos músicos filhos de Dorival Caymmi... Eita que massa,
né não? Afinal, ganhaste de presente (e abre nosso papo ao pé de ouvido) até
uma “canção de ninar”... É com “Acalanto” (cantado também por Nana Caymmi) que
saudamos nosso papo aqui.
Mas,
para a alegria da veia rockeira de nosso Picadeiro, também nasceu em 7 de
março, Felipe Andreoli... Não, não é
aquele do CQC... Falamos do baixista de Angra
(e de outros trabalhos musicais). Pense num baixista de primeira linha e num
reconhecido multi-instrumentista de mão cheia!
(Kiko
Loureiro e Felipe Andreli – Isso é que é duelo!)
A
Música, Gustavinho... e a música verdadeira, sem marcas de mercado e uso do
corpo alheio e da imbecialização de nossa juventude (com suas letras vazias) é
sempre bem-vinda. E espero que a Música faça parte de sua vida, como faz parte
da vida deste picadeiro. No samba, na MPB, na música clássica, no hip-hop, no
frevo, no funk (sim, tem coisa boa no funk), no rock’n’roll... ou outros tantos
estilos musicais que dão sentido à vida e às palavras da gente.
Queremos,
já chegando pertinho do final deste papo “de ouvido”, falar de mais dois fatos
históricos que, também, possam deixar suas lições.
Estás
chegando em tempos turbulentos no país. Tempos em que saíram dos livros de
história os acontecimentos do Golpe Civil-Empresaria-Militar de 1964 e voltaram
às ruas e fora delas. A Mídia, os Empresários (nacionais, mas, principalmente,
internacionais), os políticos da direita (e o que há de pior na direita e,
também, os de meia pataca), saudosos da Ditadura Militar, Banqueiros e
Latifundiários passaram a não querer mais o pacto Capital e Trabalho dos
últimos 13 anos de Governos Lula/Dilma. Governos que atuaram melhorando as
condições de vida (material e de consumo, acesso a educação entre outros), mas
que não mexeram num fio de cabelo dos grandes poderosos deste país, que
continuaram a enriquecer.
Esses
que hoje vão as ruas com camisa da CBF (corrupta até a “alma”), o fazem em
defesa de um hipócrita discurso de combate à corrupção.
Pois
bom: foi em 7 de março que na Palestina (que enfrenta a relação bélica de
estado dos EUA e Israel – volto a dizer: não se encante pelos Estados Unidos) o
seu Congresso Legislativo, após suas primeiras eleições – e com o
reconhecimento de 60 Nações, menos aquelas duas ali – inaugurou seus trabalhos,
no que foi conhecido como o “Dia da
Democracia”.
A luta
por democracia é sempre uma luta complexa, mas que revela um pouco do que
mencionamos lá no início, sobre intolerância. Se a democracia que se defende é
aquela em que “uns são mais iguais que outros”, verdadeiramente, há de se lutar
contra isso.
Lutar,
Pequeno Gustavo, é um verbo intransitivo-inquestionável... Ok, ok... Na língua
portuguesa ele é transitivo. Mas, aqui, caminhamos – como circo que somos – na alegoria.
E uma “alegoria concreta”. Lutar é para quem saber ter amor a humanidade. E
amor a humanidade é uma expressão que sempre vale a pena repetir.
E aqui o
segundo fato histórico: em 7 de março de 1990, partia um dos principais
lutadores deste país: Luis Carlos
Prestes, o Cavaleiro da Esperança.
Livro de sua filha, Anita Leocádia Prestes |
Sua
história é intensa, é de luta... e é de contradições... Mas é a história de um
valor que este picadeiro de terra batida e esta lona furada não abre e não
abrirá mão, pequeno Gustavo: o valor do comunismo!
Sabemos
que é, sempre, uma lição complexa. Mas, como dissemos lá em cima. As lições nos
servem para dizemos que lado vamos, com quem iremos, onde não ficaremos...
É isso,
Pequeno Gustavinho...
– Russo,
Russo, péra um cadim... (Palhaço)
– Que
foi Strovézio...
–
Encontrei a música quem embalou o namoro de Fernando e Kaory, mas que eles
nunca reveleram...
– Vigi!!!!!! Arrebentou!!!!
– É de Matthew
Fischer, um músico britânico que nasceu em um 7 de março... Tudo calculado,
moleque! Tudo Calculado!
www.drielydesnuda.blogspot.com |
Celebramos,
Gustavo!
Viva
Gustavo!
Vida
Longa!
Venham
Todos!
Venham
Todas!
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O Universal Circo Crítico abre seu picadeiro e agradece tê-lo/a em nosso público.
Espero que aprecie o espetáculo, livre, popular, revolucionário, brincante...! E grato fico pelo seu comentário...
Ah! Não se esqueça de assinar, ok?
Vida Longa!
Marcelo "Russo" Ferreira