RESPEITÁVEL PÚBLICO!

VENHAM TODOS! VENHAM TODAS!

terça-feira, 8 de março de 2016

Ainda um machista...


“É preciso auto-disciplina interior,
maturidade intelectual,
seriedade moral,
senso de dignidade e de responsabilidade,
todo um renascimento interior
do proletariado.
com homens preguiçosos, levianos,
egoístas, irrefletidos e indiferentes
não se pode realizar o socialismo”.
(Rosa Luxemburgo)


Era de se esperar. Começamos o dia 8 de março com notícias na TV, notas e homenagens nas redes, palavras várias às mulheres próximas da gente. Por nós ou por outros.
E vi mensagens revolucionárias, que vem neste dia um Dia Internacional de Classe que se expressa e conduz, também, a luta da Mulher Internacional.
Mas vi aquelas que, ainda que aos olhos de um homem, parecem-me não serem suficientes. Algo como “Não quero bombons e flores, quero respeito!” ou “Dia do Homem levar sua mulher a um bom restaurante!”.
Não nego, claro, o direito de a Mulher ser respeitada. Não é isso que está em xeque. Mas, se o respeito, no lugar de bombons, flores e jantares, não alterar todas as formas de exploração da humanidade – que se expressa também em bombons, flores e jantareis – será, de fato, respeito?
Pois bom.
Por essas e pelo que já vinha pensando esses dias, penso que ainda me sinto um machista.

http://www.com.ufv.br/caixapreta/wp-content/uploads/2015/12/
Charge-para-parte-3-620x264.jpg

Ainda me sinto um machista...
Ainda não sei o que é sofrer de violência, em casa ou socialmente. Não sei o que significa um tapa na cara, um soco no olho, uma cotovelada, uma rasteira, um empurrão. Não sei o que é escutar “vadia!”, “gostosa”, “Vem aqui, vem!” e ter se seguir em silêncio.
Ainda me sinto um machista...
Pois não sei verdadeiramente o que é receber menos pelo mesmo trabalho desempenhado por outro no mesmo local de trabalho, na mesma função.
Aliás, quanto a isso, me sinto um machista branco também...
Ainda me sinto um machista...
Pois não sei nem de perto o que é se sentir-me assediado... moral, sexual, psicologicamente. Não tenho ideia do que significa ser visto pelo corpo que tem e ser usado, por isso, para conquistar espaços melhores de vida e carreira profissional.
Ainda me sinto por demais machista...
Pois ainda não tenho terceiro, quarto turno de trabalho. O meu turno sou eu quem organiza.
Machista, machista, machista...
Porque acho que, por questionar, criticar, denunciar, ojerizar o machismo dos outros, já me é suficiente para achar que ainda não sou machista. Algo como “ainda me reconheço no que denuncio”
Sou machista, porque ainda acho que as Mulheres que lutam são diferentes das mulheres que tem medo de lutar e só reconheço as primeiras. Ou porque acho que aquelas são tanto quanto os que sempre foram... os homens.

http://assediosexualnotrabalho.blogspot.com.br/2014/04/
assedio-sexual-no-trabalho.html

Sou machista porque ainda vivo em uma sociedade em que vejo mulheres lutando por emancipação política, não por emancipação humana... e acho que isso já está bom.
Porque acho “du canário” as mulheres socialistas.
Porque não entendo NA PELE que 8 de março existe por causa das mulheres socialistas (ainda que os livros neguem), que lutavam pela superação do capitalismo.
Porque elas ainda apanham, morrem, são assediadas, são exploradas.
A minha única, humilde e singela redenção: procuro o machismo dentro de mim todos os dias... todos os dias...
Encontro-o e enfrento-o.
Encontro-o e também me amedronto diante dele, não acreditando que ele ainda está ali.
Encontro-o e me surpreendo.
No medo e na surpresa, enfrento-o novamente.
...
Enquanto procuro-o dentro de mim, percebo uma sociedade à minha volta.
Uma sociedade que ainda precisa criar Leis para defender o que a Emancipação Humana tem como princípio. É o “de onde partimos” transformado em “o que podemos ter”... e não é pra todo mundo.
Humildemente eu reconheço... Por mais que este picadeiro de terra batida e lona furada de circo atue determinantemente contra toda e qualquer opressão e injustiça contra qualquer pessoa e, em particular, contra a Mulher, em qualquer tempo e lugar no mundo (isso é de Che), ainda assim, reconheço: ainda sou machista.
Evolui!
Muito a caminhar.

Viva 8 de março!
Vivem 8 de março... todos os dias!

Organización Fraternal Negra Hondureña OFRANEH

Nossa homenagem e Berta Cáceres, líder indígena hondurenha, assassinada no último dia 5 de março... ameaçada a anos por Militares, Policiais e Paramilitares... Uma mulher enfrentando O estado e seus capachos. Era quase 8 de março...
Berta Cáceres Vive!
E por ela, busco, também, o machismo que há dentro de mim...

Venham, à frente, Todas!
Venham Todos!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

O Universal Circo Crítico abre seu picadeiro e agradece tê-lo/a em nosso público.
Espero que aprecie o espetáculo, livre, popular, revolucionário, brincante...! E grato fico pelo seu comentário...
Ah! Não se esqueça de assinar, ok?
Vida Longa!
Marcelo "Russo" Ferreira