desenho de Vitor Teixeira em http://webjornalunesp.com/2014/11/14/eu-preciso-tu-precisas-ela-precisa-feminismo-para-que/ |
Por esses dias, vi/li um texto que falava de um tal de
Zyzz (e o “um tal” não é deboche). Fiquei espantado com minha ignorância. Como
assim, eu, professor de Educação Física e que forma professores de Educação
Física nunca ouvir falar deste sujeito?
O texto em questão tinha um título: “ACADEMIA NÃO TRAZ
RESULTADOS? CONHEÇA A HISTÓRIA DE VIDA DE ZYZZ”, assim, em caixa alta mesmo.
Não faltam textos e referências na internet.
Zyzz...
– (pow) peguei...! Mosca maldita!!!! (Palhaço)
– Calma, Strovézio... o zunido é nome.
– Ah! Foi mal...!
Zyzz, em síntese, era um jovem que largou os jogos em
computadores e passou a malhar até se tornar um fisiculturista. Teve um irmão
preso por porte/comercialização de anabolizantes (e parou aí a história do
irmão). Zyzz morreu subitamente, aos 22 anos. Assim, em três linhas.
Encontrei alguns vídeos dele. Confesso, tive paciência de
jó para assisti-los, pois, na opinião deste humilde (mas não ingênuo)
professor, eram cansativos e vazios... absolutamente vazios. Por isso
cansativos.
Além dos erros bobos de língua portuguesa em algumas
legendas (parece cada vez mais comum isso hoje em dia), eles colocam o tal do
Zyzz apenas dançando (ruas, boates e o escambal), fazendo poses de musculação e
– isolado, mas existiram – gestos obscenos, exercícios e caretas, “outros caras
fortões” e, talvez o que nos interessa para nossas reflexões aqui, seus
depoimentos sobre seu progresso com as meninas.
Destes vídeos, um que é citado como principal chamasse “Zyzz,
o legado”, apontado como um dos mais vistos no youtube. Um legado vazio... e eu
ainda assisti a outros dois.
Neste vídeo-legado, seu depoimento (como estava na
legenfa):
“Todos tem um pouco
de Zyzz dentro de si! Só que ainda não sabem... E para aqueles que dizem que
sou homo, só falam isso por causa do meu corpo. Porquê no final de tudo só vão
dár atenção a isso. ‘Os odiadores irão te odiar’. Então entenda isso. Se você
for definido e SickCunt, você consegue tudo que quiser, as pessoas vão dizer ‘não
gosto de você’. Mas eu não quero saber, entendeu? Se quer ser grande definido,
transar com garotas, ser um sick cunt, não ligue para a opinião de ninguém.
Porquè quem tá vivendo é você. Eles não sabem nada sobre você irmão! É isso que
o Zyzz faz irmão. Isso é a revolução, então vái lá fazer! Seja feliz!”.
Já no texto citado, um trecho também chama a atenção: “O que muitas vezes acontece é que pessoas
com sobrepeso ou magras demais se dão a desculpa de que estão bem e que não
ligam para a opinião de terceiros, o que geralmente é uma besteira pois todo e
qualquer ser humano deseja se enquadrar nos padrões e ser belo na visão dos
outros”.
E fecha com a pérola: ”Segundo
Zyzz, as mulheres gostam mesmo é de ‘caras rasgados’, ou seja, homens com
abdômen tanquinho aparente, baixa gordura corporal e músculos desenvolvidos”.
Enfim, um texto vazio para completar os vídeos vazios.
http://i.ytimg.com/vi/WJIgbKAsER4/hqdefault.jpg |
Ao texto e aos vídeos...
– Haja paciência, hein? (Palhaço)
– Pois é, Strovézio... Pois é...
... comentários os mais diversos. E são neles que a minha
preocupação como professor que forma professores se manifesta de maneira
profunda. Mesmo entendendo que não sou o único e, portanto, não posso me sentir
responsável por aqueles que, como professores que são ou que virão a ser,
seguem caminhos divergentes ou antagônicos aos que tento mostra como melhores.
A ode ao cara por “pegar muitas garotas” (ou o uso de
termos mais chulos) e de “saber curtir a vida” (morrer aos 22 anos????) e a
relação com a musculação pareceu-me a mais intrínseca e importante.
É o corpo se mostrando cada vez mais importante do que o
sujeito? A embalagem melhor que o conteúdo?
Todos querem estar enquadrados aos padrões de beleza?
Será, realmente, que as pessoas que não são saradas,
musculosas e tals não são felizes? Ou não podem ser felizes e saudáveis?
“Pegar menininhas” é o que dá sentido à vida destes que
tem em Zyzz um ícone, uma lenda, um mito ou sei lá que porcaria usam para o adjetivar?
E professores ou futuros professores professam isso?
Sério?
Penso, sinceramente: enquanto valores como essa expressão
de machismo continuar a ter seus ícones, teremos sempre muros enormes a
derrubar.
Parece que conheço alguns de seus fãs... Isso é fato.
Mas, a sala de aula tem destas armadilhas que não temos
domínio: lá estão os machistas, os homofóbicos, os fascistas, os racistas...
Mas ainda bem que tem os indignados, os esperançosos, os solidários.
Vai que aqueles vem zuar no meu ouvido...!?
– Não seria “zyzz-ar”?
(Palhaço).
Venham Todos!
Venham Todas!
Grande reflexão...
ResponderExcluirGratíssimo, querida Maria Cláudia... sempre felizes com sua presença em nosso público!
ExcluirVida Longa!
FUUUUAK!
ResponderExcluirNÃO SEJA UM CARA TRISTE.