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segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Espírito Ceticolímpico...



E chegamos ao final dos Jogos Olímpicos (já que as Olimpíadas já terminaram justamente no início deles).
Como de praxe, o que vimos na grande imprensa jornalística esportiva foi imagens fantásticas e replays de primeiro mundo, somada à velha política do Pão e Circo que, dentre outros, aproveita o espetáculo diuturno de 15 dias para dizer que nada mais acontece fora do Espetáculo Esportivo. Ou o que acontece é só notinha jornalística.
Ah! E a velha burrice de sempre sobre o que, em tese (e bote em tese nisso) deveria dominar próximo a perfeição: um jornalismo esportivo que muito pouco sabe do que noticia.
De cara, não aguentei as inúmeras, incontáveis vezes que escutei frases de “aqui, hoje, na Olimpíada...” ou afins. Não apenas dos jornalistas e âncoras, mas também de autoridades e muitos atletas (e de ponta).
Claro que, para um professor de educação física como sou, saber que nem mesmo atletas, de ponta (alguns “heróis”), conseguem diferenciar Jogos Olímpicos de Olimpíada, incomoda. O que "consola" é que também na Universidade há quem não saiba.
Mas isso, à bem da verdade, é o de menos.
Não assisti muita coisa e das poucas coisas que assisti, deixei a TV no mudo. Concentrado em outras coisas, levantava a cabeça para ver o “quanto tava” de uma partida aqui, outro evento ali. Mas fico pensando se opiniões como a do narrador do confronto entre França e EUA (salvo engano, seu nome era Rogério Pinheiro), no futebol feminino, ao referir-se a uma das zagueiras francesas (“seu cabelo exótico... ou não gosta de pentear”) se reproduziram diuturnamente nas demais transmissões. Não sei a quantidade, mas sei que muitas outras bobagens foram ditas ao vivo.

– Galvão Bueno mandando todo mundo (inclusive um cadeirante) se levantar... (Strovézio)
– Daí pra pior, meu caro palhaço!

Mas, ao final de 15 dias de competições, muitas coisas poderiam levantar sérias e responsáveis reflexões. Sem aprofundá-las (deixemos para os especialistas), apresentamos algumas aqui.

PRIMEIRO: O Futebol Feminino brasileiro foi heroico. E é heroico há muito tempo. Formiga, aos 38 anos de idade, dizia que trocaria uma medalha por maior apoio ao futebol feminino no país... do futebol. Claro que ela e as demais atletas jogaram buscando a medalha. Mas já que ela não veio, algo poderia acontecer.

E aconteceu... na contramão.
Milton Neves, âncora esportivo da Band, após a derrota na semi-final, solta um “querendo xingar, xinguem, mas vamos combinar: futebol de mulher é de lascar, não tem graça nenhuma. A mulher é tão sublime em tudo, menos no futebol!”, defendendo, nesta linha, a troca do futebol feminino pelo futsal (“De Homens!”) nos Jogos Olímpicos.

– E viva Formiga! (Strovézio).
– E a pois...

Os salários e as condições de fortalecimento do futebol feminino se expressam na decisão da CBF (bem que deveria ter uma CBFM, né não?) de acabar com a equipe permanente. Equipe esta que cortou algumas atletas descontentes com a própria CBF, antes dos Jogos Olímpicos.


SEGUNDO: Houve muita polêmica no lance de “bater continência” em alguns hinos (não vi isso no futebol e o voleibol masculino... e, claro, não acho que foi um “ato político”). De um lado, um povo dizendo o quão orgulho tem de atletas que respeitam militarmente o hino ou de serem atletas formados com apoio das Forças Armadas; de outro, aqueles que questionavam esta postura.
Mas, a síntese é simples: não são “Militares” de carreira. Pelo menos não todos/as. Até o reino mineral (e os saudosos da ditadura militar) sabem que era condição para os programas de governo federal (que vão acabar) repassarem recursos a atletas de ponta, em preparação para os Jogos Olímpicos.

– Hey... milico de topete? Tá ruim, né não? (Strovézio).
– É... faz sentido...
E, salvo melhor juízo, todos eram 3º Sargentos...

– Ao atingir o posto de 3º sargento, tornam-se atletas? Ou, ao tornarem-se atletas de ponto, recebem a patente de 3º sargento? Ou, então, ao tornarem-se 3º atletas, tornam-se sargentos de ponta? Hummm.... quem sabe atingem o 3º ponto e tornam-se atletas sargentos... vigi! (Strovézio).
– Atenção, Palhaçada!!!!! Sentindo Alegria!!!!


– Ainda vão fechar o nosso Circo, Strovézio... Não demora muito.

TERCEIRO: As imagens e o silêncio às declarações de atletas: handebol masculino, futebol feminino (como as declarações de Formiga), e de muitos atletas desconhecidos foi um caso a parte. Mas, em geral, o mesmo tom: falta apoio e quando chegam onde chegam, todo mundo quer tirar foto, entrevistas exclusivas e o escambal.
Felipe Wu, Mayra Aguiar, Diego e Arthur (com reservas a este último), Zanetti, Poliana Okimoto, Ágatha e Bárbara, Martina e Kahena, Alison e Bruno, Maicon Andrade, Ezequias Queiroz e Erlon Souza, Rafael Silva (baby) e Rafaela Silva, Thiago Braz, Baby, Robson Conceição mais os coletivos de vôlei e futebol foram os vencedores... Mas não apenas eles.
Não faltaram atletas que chegaram nos Jogos Olímpicos sem ninguém (nós também, reconhecemos... mas pior ainda são os “especialistas”: gestores do esporte, imprensa esportiva etc.) saber sequer o nome, a história, a modalidade, os treinos.
O que dizer então daqueles/as atletas que não chegavam ao pódium... viravam apenas notícia de atualização das competições. Por exemplo, de Wagner Domingos, do arremesso de martelo, que treinava com botijão de gás?
E eis que, de modo profundamente particular e soberano, Caio Bonfim (atleta da marcha atlética, 4º colocado na prova de 20 km), é direto:
“A Olimpíada não é feita só de três lugares. Nós valorizamos por que o capitalismo valoriza, mas o quarto lugar é esplêndido. Então, a minha missão não é vir aqui somente ganhar medalha. Minha missão são várias outras. Meu esporte não é tão popular no meu país, com o quarto lugar nós popularizamos, é mais uma oportunidade pros jovens, é inspiração, é a vontade de Deus, é distribuir o amor pras pessoas, o carinho, o amor de Jesus. Então, minha missão foi cumprida...”.


Como ele mesmo diz, saiu de Sobradinho (DF) e se tornou o 4º do mundo...
Claro, é de se pensar por que não se fez matérias tão completas sobre de onde ele veio, quem treina com ele, o que ele enfrentou (e ele enfrentou preconceito até na véspera da competição) e como ele chegou até esta conquista... Por que pra ele é uma conquista (“o quarto do mundo”) e para nossa imprensa especializada isso não é?

QUARTO: E se a gente pensava que apenas o jornalismo esportivo já era ruim suficiente, eis que aparece um jornalista idiota, Nico Hines (até onde sabemos, americano...)
Este idiota resolve construir uma matéria sobre atletas "gays não assumidos", segundo o próprio, "que não saíram do armário". Usando um aplicativo de relacionamento, ele ia descobrindo atletas que “não saiam do armário”. Tamanha a irresponsabilidade deste idiota, foi não apenas expressar seu preconceito que já é público (inclusive em matérias – além da própria – no portal de notícias “Daily Beast”), mas expor os nomes ou características e origens destes atletas, sem perceber que alguns destes país a homossexualidade é crime capital... Ou seja, não mais apenas um idiota. É pior que isso.

QUINTO: A política... ah! A política.

Em um avento monstruoso e mundial, em que o nosso presidente de meia pataca (mas forte destruidor dos direitos sociais e trabalhistas, dentre outras capachagens ao capital alheias) pede para não ser citado na abertura dos Jogos, fala rapidinho e é vaiado (com a complacência comentarista e silenciosa de nosso jornalismo) e coloca cercas de ferro em suas entrevistas públicas (imagem também bem protegida da imprensa tupiniquim), o mínimo que poderíamos assistir é o “#ForaTemer” e as manifestações afins durante os Jogos.
Mas precisou da manifestação da justiça para que este direito de Livre Expressão fosse garantido, sem o risco de os manifestantes, dentro de estádios, arenas, ginásios etc., serem presos (alguns com força e violência). Mas uma cena nos tocou:


A cena é clássica, e diz tudo.
Mas o que me perguntei inúmeras vezes é: já que as pessoas ao redor da cena discordaram da ação da Força Nacional, por que não começaram, em coro, a gritar “#ForaTemer”??? Mais cinco, mais dez, mais 15 pessoas ali, perto, em coro "Fora temer!"...
Apenas pra ver se viria um batalhão tirar todos de lá? Pelo menos mais 50 soldados, afinal, a proporção na cena era 5 pra 1.

Pra além disso, o técnico do vôlei feminino brasileiro, José Roberto Guimarães (um grande técnico), reclamou. Para ele, manifestação política deve acontecer fora do ginásio e, assim, um “bota fora” foi por ele defendido...
O que diriam os atletas do Bom Senso Futebol Clube que faziam manifestações políticas DENTRO do jogo, nos último Campeonatos Brasileiros?

SEXTO: “Duelo de Vida ou Morte”??? “Nossos heróis”????
Os que perderam seus jogos, suas competições, suas provas... morreram? Os nossos heróis (sem desmerecer a luta de muitos atletas para chegarem aos Jogos Olímpicos... outros, nem tanto, bora combinar) salvaram nosso país dos nove meses de crime ambiental da Vale, ali perto do Rio, em MG e ES? Ou nos salvaram dos Políticos do Congresso Nacional, ou da Câmara Legislativa do Rio? Talvez do Prefeito, que fala bobagem pra governadora de Tokyo (que foi de quimono em recepção oficial - um traje de gala e respeitoso ao anfitrião - e disse que "eu deveria ter vindo de sambista carioca"... aff.)? Ou talvez, pra ficar dentro das arenas esportivas, nos salvaram da corrupção do Esporte Brasileiro?...
Celebraram uma certa (e discreta) despedida de João Havelange... Sério isso? O senhor que ganhou nome de Estádio, mas respondeu a acusação de desvios da ordem de 1 bilhão de dólares desviados do COI abdicando de sua cadeira cativa no COI para, no final ao cabo, a investigação do próprio COI ir pra gaveta?
Com todo respeito (aos que o merecem), heróis de que? Das medalhas? Da “vingança dos 7 X 1”????

Pois bom...

Teve assalto no Rio (e não assalto também)...
Teve vais, choro, fotos, alegrias... é bem Jogos Olímpicos mesmo.
Teve voluntários (reiteramos, “escravos de luxo”, trabalhando até 16 horas por dia), mas teve trabalhadores terceirizados (trabalhando a R$ 50,00 reais por dia) levando gás da Força Nacional, por pura desorganização dos manda-chuvas do Comitê Organizador (que, terceirizando serviços, acaba “não tendo culpa de nada”).
E, agora, tem a ressaca...
E se há quem diga que a ressaca do Carnaval, que dura (oficialmente, claro), quatro dias e meio, já é grande, o que dizer de uma ressaca de 15 dias?

E vem aí os Jogos Paraolimpicos...

Não vai ter a mesma cobertura esportiva, os atletas são mais anônimos ainda, e não houve a mesma política de incentivo sequer à venda de ingressos que teve para os Jogos dos... “normais”...
É um pouco isso... o “espírito olímpico” furta as histórias de muitos atletas, furta a história do povo que sofreu para que as obras acontecessem, furta a realidade de um país que vive o mais descarado e cínico momento de sua história política.

Em tempo... adoramos o esporte. Por isso não gostamos do que fazem dele.

Venham Todos!
Venham Todas!

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