“É comum a gente sonhar eu sei
Quando vem o entardecer
Pois eu também dei de sonhar
Um sonho lindo de morrer”
(O filho que eu quero ter – Vinícius e Toquinho)
Salve! Salve! Pequena Ana Rosa! Serás grande, com certeza.
E que belo nome, hein? Origem espanhola (Anarosa)... Menina cheia de graça e de visão... Se é assim, como quem acaba de chegar, imagina quando mulher se tornar...
Cá, das bandas do Norte, acompanhávamos de longe sua caminhada e, tomados de surpresa, já recebe o apelido de “apressadinha”. Aninha papa-léguas, talvez. Mas cuidado! Pode ser que alguns professores queiram se aproveitar desta rapidez de sua chegada e transformá-la precocemente em atleta de corrida de velocidade, ou uma nadadora (já que estavas, até poucos dias atrás, em um ambiente totalmente líquido). Não deixe que isso lhe aconteça e oriente seus pais também: brinque, cresça, corra com o vento e contra ele quando for o caso, mas por diversão, por querer senti-lo brisamente em seu rosto. Role, pule, salte as ondas das praias pernambucanas, cariocas, baianas, onde quer que você encontre um mar pela frente. Seja, como Saramago nos dizia, criança que “em sendo, cresce”.
Fico sempre muito gratificado quando recebo notícias de chegadas como a sua, pois sempre tem algo ímpar e particular nestas oportunidades: seus pais, assim como os pais de tantos que conversamos até hoje, são mais que amigos amigos (e de longa data). São jovens lutadores do povo. E como tal, nos presenteiam com Ana Rosa, para mostrar e ensinar que a nossa luta é também movida por graça e visão. Sem leveza, sem sutilidade, não se tem projeto histórico, e, não o tendo, não se luta por uma vida melhor a todos e todas e a sua chegada, pequena Ana Rosa, nos brinda e nos leva a celebrar: viva e vida à luta dos trabalhadores do mundo!
Chegaste em 03 de setembro de 2010, alguns dias atrás. E, como sempre, em nosso picadeiro, nossa homenagem à sua chegada é, também, uma homenagem, com suas alegrias e lições, da história da humanidade. Mas esta data tem inúmeras inspirações e, agora, ganha mais uma: o seu nascimento (apressadinha...).
Foi em um 03 de setembro que, em nosso país, se avizinhou um dos períodos mais complicados da história de nosso país. Aliás, e que tiremos as lições principalmente, foram alguns significativos 03’s de setembro. O primeiro, se deu quando os jesuítas foram expulsos dos domínios portugueses (na Europa e na América e outras invasões ultramarinas)... Estranha contradição, pois os jesuítas, em nosso nascente país (ainda colônia) foram os principais agentes da educação e economia por onde passaram, ao mesmo tempo que foram, também, da inculturação religiosa e social. Portanto, serviram aos ditames da coroa e da “legitimação” do assalto de nossas riquezas naturais. E há quem diga, até hoje, que os índios eram povos “descivilizados” e, por isso, precisam ser educados e salvos do pecado...
Mas outro 03 de setembro, mais recente, também marcou a história de nosso país. Foi em 1964 que João Goulart, presidente deposto de seu cargo dois dias antes, por um golpe de estado militar (e que implantou uma longa e sangrenta ditadura em nosso país) fez suas últimas refeições em solo brasileiro para nunca mais voltar, em vida. Ele havia partido para um longo e derradeiro exílio político e, veja que sina, sempre chegando em um país em que a mesma ditadura estava a espreita. Uruguai, Argentina, Chile...
Assim, pequena Ana Rosa, uma pequena lição que, nem duvido, seus pais serão infinitamente mais competentes em lhe contar: a soberania de um país e a soberania de seu povo não pode ser-lhe tirada nem cultural, nem religiosamente e, muito menos, por força das armas e da violência. Uma lição destas não é cedo demais? Talvez não... pensemos na soberania de sua infância e, sabemos, teremos fortalecida a sua luta e alegria em ser criança.
Mas, particularmente, tenho apreço por um 03 de setembro especial: pelo seu protagonista e por sua, digamos, criação: Leon Trotsky (nome de nascimento: Lev Davidovitch Bronstein), um dos principais lutadores do povo soviético na Revolução de Outubro – a primeira revolução dos trabalhadores na história da humanidade – fundava a Quarta Internacional, no México. E sempre que lembro de lutadores como Trotsky, penso em nossa juventude... E serás jovem, pequena Ana Rosa. E, para tanto, presenteio-te com as palavras de Ademar Bogo, em suas “Cartas de Amor”: “Sentiremos o pulsar de cada coração e a igualdade não terá fronteiras; no dia em que a nossa bandeira, estiver na mão da juventude”.
Ah, pequena Ana Rosa! Quem me dera ter a ousadia de lhe falar de lições, já que palavras como essas, de Ademar Bogo, sempre estarão perto de ti... Que ousadia tenho eu em lhe dizer “ajude nossos jovens, tão perdidos em dias atuais”?
Sempre nascem pessoas em 03 de setembro... algumas também se vão nesta data.
Entre os nascidos, acho justo homenagear Mino Carta, jornalista exemplar e corajoso, editor da Revista Carta Capital. Além dele, e que fantástico, ninguém mais, ninguém menos que Eduardo Galeano. Ah! Foi por isso que te apressaste, hein? E que indescritíveis as palavras de Galeano em seu “Mulheres”, quando escreve sobre “O Amor”: “Quando acabou o longo abraço, um aroma espesso, de flores e frutas, invadiu o ar. Dos corpos, que jaziam juntos, se desprendiam vapores e fulgores jamais vistos, e era tanta formosura que os sóis e os deuses morriam de vergonha”. O que dizer...?
Foram muitos 03 de setembro até sua chegada... e, claro, acabamos (seus amigos e amigas, os amigos e amigas de seus pais, todos/as os seus companheiros de luta e militância... todos/as os/as lutadores/as do povo) de receber de presente mais um, inigualável e indescritível em sua importância e história.
Assim é seu dia, Pequena Ana Rosa!
E por isso a saudamos e dizemos Vida Longa ao 03 de setembro!
Vida Longa a Ana Rosa!
Venham Todos!
Venham Todas!
Vida Longa!
Marcelo “Russo” Ferreira
P.S.: a canção de epígrafe fala do “filho” (menino)... Mas, como era uma canção que as filhas de meu avô sempre escutaram emocionadas, lembrei-me dela e, assim, lembrei-me do mais próximo dos lutadores do povo que tive na vida e, sem sabê-lo, não o tive mais: Hiram de Lima Pereira.