RESPEITÁVEL PÚBLICO!

VENHAM TODOS! VENHAM TODAS!

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Conversa ao Pé de Ouvido de Ana Rosa...

“É comum a gente sonhar eu sei
Quando vem o entardecer
Pois eu também dei de sonhar
Um sonho lindo de morrer”
(O filho que eu quero ter – Vinícius e Toquinho)

          Salve! Salve! Pequena Ana Rosa! Serás grande, com certeza.
          E que belo nome, hein? Origem espanhola (Anarosa)... Menina cheia de graça e de visão... Se é assim, como quem acaba de chegar, imagina quando mulher se tornar...
          Cá, das bandas do Norte, acompanhávamos de longe sua caminhada e, tomados de surpresa, já recebe o apelido de “apressadinha”. Aninha papa-léguas, talvez. Mas cuidado! Pode ser que alguns professores queiram se aproveitar desta rapidez de sua chegada e transformá-la precocemente em atleta de corrida de velocidade, ou uma nadadora (já que estavas, até poucos dias atrás, em um ambiente totalmente líquido). Não deixe que isso lhe aconteça e oriente seus pais também: brinque, cresça, corra com o vento e contra ele quando for o caso, mas por diversão, por querer senti-lo brisamente em seu rosto. Role, pule, salte as ondas das praias pernambucanas, cariocas, baianas, onde quer que você encontre um mar pela frente. Seja, como Saramago nos dizia, criança que “em sendo, cresce”.
          Fico sempre muito gratificado quando recebo notícias de chegadas como a sua, pois sempre tem algo ímpar e particular nestas oportunidades: seus pais, assim como os pais de tantos que conversamos até hoje, são mais que amigos amigos (e de longa data). São jovens lutadores do povo. E como tal, nos presenteiam com Ana Rosa, para mostrar e ensinar que a nossa luta é também movida por graça e visão. Sem leveza, sem sutilidade, não se tem projeto histórico, e, não o tendo, não se luta por uma vida melhor a todos e todas e a sua chegada, pequena Ana Rosa, nos brinda e nos leva a celebrar: viva e vida à luta dos trabalhadores do mundo!
          Chegaste em 03 de setembro de 2010, alguns dias atrás. E, como sempre, em nosso picadeiro, nossa homenagem à sua chegada é, também, uma homenagem, com suas alegrias e lições, da história da humanidade. Mas esta data tem inúmeras inspirações e, agora, ganha mais uma: o seu nascimento (apressadinha...).
          Foi em um 03 de setembro que, em nosso país, se avizinhou um dos períodos mais complicados da história de nosso país. Aliás, e que tiremos as lições principalmente, foram alguns significativos 03’s de setembro. O primeiro, se deu quando os jesuítas foram expulsos dos domínios portugueses (na Europa e na América e outras invasões ultramarinas)... Estranha contradição, pois os jesuítas, em nosso nascente país (ainda colônia) foram os principais agentes da educação e economia por onde passaram, ao mesmo tempo que foram, também, da inculturação religiosa e social. Portanto, serviram aos ditames da coroa e da “legitimação” do assalto de nossas riquezas naturais. E há quem diga, até hoje, que os índios eram povos “descivilizados” e, por isso, precisam ser educados e salvos do pecado...
          Mas outro 03 de setembro, mais recente, também marcou a história de nosso país. Foi em 1964 que João Goulart, presidente deposto de seu cargo dois dias antes, por um golpe de estado militar (e que implantou uma longa e sangrenta ditadura em nosso país) fez suas últimas refeições em solo brasileiro para nunca mais voltar, em vida. Ele havia partido para um longo e derradeiro exílio político e, veja que sina, sempre chegando em um país em que a mesma ditadura estava a espreita. Uruguai, Argentina, Chile...
          Assim, pequena Ana Rosa, uma pequena lição que, nem duvido, seus pais serão infinitamente mais competentes em lhe contar: a soberania de um país e a soberania de seu povo não pode ser-lhe tirada nem cultural, nem religiosamente e, muito menos, por força das armas e da violência. Uma lição destas não é cedo demais? Talvez não... pensemos na soberania de sua infância e, sabemos, teremos fortalecida a sua luta e alegria em ser criança.
Mas, particularmente, tenho apreço por um 03 de setembro especial: pelo seu protagonista e por sua, digamos, criação: Leon Trotsky (nome de nascimento: Lev Davidovitch Bronstein), um dos principais lutadores do povo soviético na Revolução de Outubro – a primeira revolução dos trabalhadores na história da humanidade – fundava a Quarta Internacional, no México. E sempre que lembro de lutadores como Trotsky, penso em nossa juventude... E serás jovem, pequena Ana Rosa. E, para tanto, presenteio-te com as palavras de Ademar Bogo, em suas “Cartas de Amor”: “Sentiremos o pulsar de cada coração e a igualdade não terá fronteiras; no dia em que a nossa bandeira, estiver na mão da juventude”.
          Ah, pequena Ana Rosa! Quem me dera ter a ousadia de lhe falar de lições, já que palavras como essas, de Ademar Bogo, sempre estarão perto de ti... Que ousadia tenho eu em lhe dizer “ajude nossos jovens, tão perdidos em dias atuais”?
          Sempre nascem pessoas em 03 de setembro... algumas também se vão nesta data.
          Entre os nascidos, acho justo homenagear Mino Carta, jornalista exemplar e corajoso, editor da Revista Carta Capital. Além dele, e que fantástico, ninguém mais, ninguém menos que Eduardo Galeano. Ah! Foi por isso que te apressaste, hein? E que indescritíveis as palavras de Galeano em seu “Mulheres”, quando escreve sobre “O Amor”: “Quando acabou o longo abraço, um aroma espesso, de flores e frutas, invadiu o ar. Dos corpos, que jaziam juntos, se desprendiam vapores e fulgores jamais vistos, e era tanta formosura que os sóis e os deuses morriam de vergonha”. O que dizer...?
          Foram muitos 03 de setembro até sua chegada... e, claro, acabamos (seus amigos e amigas, os amigos e amigas de seus pais, todos/as os seus companheiros de luta e militância... todos/as os/as lutadores/as do povo) de receber de presente mais um, inigualável e indescritível em sua importância e história.

          Assim é seu dia, Pequena Ana Rosa!
          E por isso a saudamos e dizemos Vida Longa ao 03 de setembro!
          Vida Longa a Ana Rosa!

          Venham Todos!
          Venham Todas!

          Vida Longa!

Marcelo “Russo” Ferreira

P.S.: a canção de epígrafe fala do “filho” (menino)... Mas, como era uma canção que as filhas de meu avô sempre escutaram emocionadas, lembrei-me dela e, assim, lembrei-me do mais próximo dos lutadores do povo que tive na vida e, sem sabê-lo, não o tive mais: Hiram de Lima Pereira.


quarta-feira, 1 de setembro de 2010

1º de setembro...

"O passado também é urgente"
(Guimarães Rosa)



          Na história da Humanidade, o primeiro de setembro é marcado pela invasão hitleana com tanques de guerra até os dentes pela fronteira polonesa e, desta invasão, o mundo testemunhou um dos períodos mais sangrentos da história moderna: A Segunda Grande Guerra!
          Hoje, como uma herança geopolítca deste conflito, a ONU (Organização das Nações Unidas) ainda tem como membros do Conselho de Segurança os mesmos vencedores daquele conflito, ainda que a realidade política mundial tenha sido alterada profundamente...
          Qualquer semelhança com o que hoje, no Brasil, alguns ousam celebrar como “Dia do Profissional de Educação Física” não passam tão distante daquele fato de 1939.
           Ainda que não estejamos falando de “Guerra Mundial”, falamos de assalto violento à luta por uma educação de qualidade, por uma formação comprometida com a transformação social, por uma educação física libertadora...
          Por trás desta data, temos a expressão da opressão, da coerção e da coação, ações idênticas as que o movimento nazista (seguido por Mussolini) empregavam contra povos judeus, tchecos, poloneses, austríacos e disseminavam pelo oriente e América Latina.
          Não existe (ainda que alguns queiram) mais ou menos opressão, mais ou menos coerção, mais ou menos coação... são todas elas violência. Foi assim na II Grande Guerra, é assim com o Conselho Federal de Educação Física e seus regionais (Sistema CONFEF/CREF).
          Não defender, no olhar à história da Humanidade, os princípios no nazismo é, igualmente, não defender os princípios deste sistema, expressão explícita da coisificação do homem e do “trabalhador/a contra trabalhador/a”.
          A lição, é a mesma: aprendermos com a História, passada e presente, o preço de nossa ilusão, ignorância e, principalmente, de nossas próprias correntes!

           Vida Longa à luta contra o CONFEF/CREF!
           Vida Longa à luta contra a Regulamentação do Profissional de Educação Fìsica!
           Vida Longa aos Trabalhadores da Educação e da Educação Física!

           Vida Longa ao MNCR e a todas as expressões de luta dos trabalhadores e lutadores do povo!

           Vida Longa!

           Venham Todos!
           Venham Todas!
Marcelo "Russo" Ferreira

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Conversas por aí... prisão...



"None of us are free, one of us are chained. /
None of us are free. / If you just look around you,/
your gonna see what I say./
Cause the world is getting smaller each passing day./
Now it's time to start making changes,/
and it's time for us all to realize,/
that the truth is shining real bright right /
before our eyes.”
(None Of Us Are Free – Solomon Burke)
(Nenhum de nós é livre, Se um de está preso /
Nenhum de nós é livre / Se você apenas olhar a sua volta /
Você verá o que eu vejo /
Pois o mundo esta ficando menor a cada dia que passa./
Agora é a hora de começar a fazer mudanças /
E a hora para todos nós realizarmos /
Essa verdade está realmente brilhando /
diante de nossos olhos.)


          Um clássico de jazz contemporâneo...
          Uma canção que canta o óbvio: Nenhum de nós poderá dizer que é livre, verdadeiramente livre, se um de nós estiver preso.
          Há alguns dias venho conversando com uma pessoa deveras distante e importante. Algo interessante desta longa amizade: nos conhecemos por um processo de militância virtual. Nos conhecemos sem nos conhecer pessoalmente, apenas nos debates que surgiam por aí, em listas de discussão, sobre temas de toda ordem. E somos amigos imprescindíveis.
          O tema da conversa: preconceito. E minhas reflexões, enquanto trocava reflexões com ela sobre como o homem (bicho-homem, homem-coisa, homem-objeto, homem-Outro e por aí vai) consegue aprender as mais absurdas, imbecis, idiotizantes manifestações e valores da humanidade (e aprende, porque procura evoluir (n)esses valores, achando que está evoluindo) me lembraram desta canção chamada “Nenhum de nós é livre”.
          Daí, nada como a música, sempre inspiradora de minhas reflexões mais profundas, para dizer-nos uma verdade (e não conhecemos essa canção, tão fantasticamente interpretada pelo 70tão Solomon Burke, americano “soul” da Filadélfia... mas o lixo que a industria cultural joga em nossas casas todos os dias, esse sabemos – eu não – de cor): “Não seremos livres enquanto um de nós estiver preso”.
          Mas, quem é este um de nós? E é aí que a reflexão vai longe em viagens que necessitam, inclusive, dizer “quem NÃO é um de nós”?
          Não é um de nós apenas os donos do poder, da imprensa (e da prensa desta), dos meios de comunicação e daqueles que permitem (e se permitem) o emburrecimento alheio para proveito próprio.
          O que aprisiona pessoas que deferem (e ensinam seus filhos a repetirem isso) ofensas, valores, evasivas das mais absurdas a uma mulher que é mãe solteira, simplesmente por ser mãe solteira, talvez sejam as mesmas grades que, em época de eleições, nos empurram candidatos ao legislativo nacional ou estaduais que simplesmente nos deixam perplexos tanto pela estapafúrdia candidatura (exemplo disso é a candidatura da personagem Tiririca, pelo PR de São Paulo, a deputado federal – basta uma pesquisa no Youtube), quanto pela real possibilidade de serem eleitos.
          Nos aprisionamos pelo preconceito a uma mulher que foi vítima de seu amor juvenil, assim como nos aprisionamos pela “desvontade” de pensar um país com a necessidade de profundas e coerentes transformações, ao ponto de, por um lado, apontarmos o dedo para uma pessoa e dizer o que não sabemos dela e, ao mesmo tempo, entregar minha manifestação para o fazer político brasileiro a um artista (EM sua personagem) que diz “não sei o que vou fazer lá, quando descobri, eu te falo”.
          Somos prisioneiros, e não sabemos. E não sabemos, como diria Rosa Luxemburgo, porque não nos movimentamos e, assim, não sentimos as correntes que nos prendem.
          Com isso, perdemos mais do que a oportunidade de conhecer pessoas que lutaram muito para que seus filhos crescessem com dignidade ou de realmente construirmos um parlamento do povo, com o povo e para o povo. Perdemos nossa capacidade de pensar e de lutar pelo bem comum, pelo que serve a todos... e quando falo “todos”, falo dos que estão do lado de cá, os que são “um de nós” e que ainda estão presos.
          Mas, não há porque se entregar. Nossa reflexão não é “derrotista”. Nossa reflexão é militante e aprendiz. Conversas por aí, são assim... nos levam a continuar pensando e a continuar lutando. Não importa o que digam de nós.

          Venham todos!
          Venham todas!


          Vida Longa!


Marcelo “Russo” Ferreira

domingo, 22 de agosto de 2010

Carta a um amigo...

“(...) - Amigo é prá essas coisas
- Tá...
- Tome um cabral
- Sua amizade basta
- Pode faltar
- O apreço não tem preço, eu vivo ao Deus dará”
(Silvio Silva Júnior/Aldir Blanc).


          Salve, Salve, caríssimo/a e velho/a amigo/a.
          Saudações... quanto tempo.
          Mudanças, caríssimo/a... mudanças. Propriamente dito.
          Passei um tempo em silêncio, mas por conta das conjunturas processuais de mais uma mudança de CEP, Endereço, Cidade. Fazendo as contas direitinho, foram, até hoje, 19, nada mais, nada menos do que 19 endereços diferentes, em 6 cidades diferentes de quatro estados, desde os tempos na Vilinha, em Sampa. Já pensei (não seriamente) em me qualificar no ramos de mudanças.
          Lembro de uma canção de Oswaldo Montenegro: “Se você já perguntou, agora muda de assunto. Hoje eu sei que mudar dói, mas não mudar dói muito” que, claro, trata-se de uma canção espirituosa, não física. Ou apenas física. Mas, é um trecho de canção que gosto muito, pois me desafia constantemente e que, nestes tempos de arrumação da nova casa vem me acompanhando. Aliás, arrumada bem virginianamente, diga-se de passagem: livro por livro, quadro por quadro, prateleira por prateleira e por aí vai...
          Mudar-me de Belém para Castanhal tinha elementos, em princípio, pontuais da relação doméstica com a de trabalho. Mesmo sendo uma cidade próxima de onde morava, tornava-se cansativa a rotina de ida e volta, principalmente considerando que a volta era mais complicada, a estrada está mais judiada, cheia de remendos. E ‘tô p’ra ver o lugar onde encontraremos motoristas – profissionais ou amadores – que respeitem suas próprias vidas e a dos outros. Na estrada, então.
          Mas, como ia dizendo, apesar de bem importante (agora, demoro 15 minutos no percurso casa-Universidade, mesmo considerando a possibilidade de pegar vários cruzamentos de sinal fechado), não se tratava apenas de estabelecer uma relação, digamos, mais humanizada de deslocamento casa-trabalho e vice-versa. Tratava-se, também, de realmente dar “organicidade” (na acepção política da palavra mesmo) daquilo que defendemos em nossas vidas, em nossa militância, em nossos Projetos Históricos. Veja se não concorda comigo...
          Primeiro, a própria relação de dedicar-se à militância da sala de aula, da relação pedagógica que denominamos “ensino”. É verdade, e nunca me iludi disso, que temos sempre aqueles/as alunos/as nossos que ou nos testam (isso é muito bom) e/ou que não concordam com nossos olhares e, até mesmo, métodos. Assim, estabelecem a resistência. Por isso mesmo que não podemos deixar de ver essa relação, seja no ensino básico (da qual o Tio Marcelo aqui já vivenciou e tem saudades), seja no ensino superior, como uma relação de militância, não é verdade?
          Mas, também fora desta relação do ensino, outras frentes nos convocam a olhar para o interior (onde eu, particularmente, estou vinculado em nível de atuação profissional). Sempre nos acostumamos a entender que tudo acontece na capital e/ou nos grandes centros urbanos. E nossa juventude, em particular, assim entende. E o que isso significa? Nossos jovens cada vez em maior número e mais rapidamente dão as costas às suas raízes. Não é, também, querer ser romântico ou puritano demais, no sentido de “oh! Neguem a modernidade e os avanços tecnológicos e fiquem no seu interior, naquela vidinha que passa devagar”. Isso, sim, seria de um, no mínimo, bairrismo tacanho, não concorda? Mas é justamente de ver sua raiz como uma vida boa e que precisa ser melhorada, numa relação de conflito e harmonia entre suas tradições e os avanços tecnológicos.
          Ou seja: o interior, pra compor minha decisão de mudança, é um lugar que precisa também de militância, de identidade. Um lugar onde precisamos mais aprender do que “ensinar”. E é interessante isso. Com a estrada que já rodei, os aprendizados e as canções, ainda é um exercício profundo, paciente, pedagógico e militante não vir para o interior com “eu sei de tudo!”, mas, justamente o exercício dialético contrário. Ou contrário dialético... Égua, da viagem! Mas é um “eu sei um tanto assim”, com “vocês sabem um tanto assado” que deve ser priorizado e, claro, trata-se de uma grande aprendizado.
          Mas, é verdade, algumas coisas são pontuais e benéficas por esses novos ares.
         
          A molecada voltou ao bom e velho convívio de varanda. Qualquer dia mando as fotos. Eles realmente se sentem bem melhores em poder passar um final de tarde de fim-de-semana, as noites durante a semana e até mesmo o amanhecer na varanda de casa, vendo o lado de fora da casa com uma perspectiva bem maior de visão. Até o pêlo deles está melhor, bonito (o banho ajuda). Só não levei para passear ainda. Parece característica de interior os “cães pela rua”. Daí, preciso de uma nova maneira de sair tranquilamente com eles.
          Apareça por aqui... é só avisar que abro aquela cachaça (que sabes que aqui sempre é ordem ter uma cachaça de “prêma" p’ra receber os amigos), fazemos um “ajeitadinho” para comer e jogamos conversa afora. Como nos sempre, velhos e futuros tempos.
          No mais, caro/a amigo/a, espero que desculpe o silêncio deste que te escreve. Mudanças são assim mesmo. É verdade que algumas eu as fiz mais rápido. Mas, sei lá, essa foi diferente...

Marcelo “Russo” Ferreira

P.S.: isso é apenas uma carta. Ajuda para retomar o espaço do Universal Circo Crítico e falar com velhos/as e queridos/as amigos/as. Não é, acredito, algo que valha a pena ser plagiado.
Leio mais, tanto minhas literaturas, quanto para o trabalho... Por falar nisso, eu e uma camarada mineirinha (uai! Hehehe) iniciamos um projeto bacana em um Assentamento Campesino da região, do MST. Estamos bastante confiantes que será um belo e grandioso trabalho. Até para “mobilizar” nossos estudantes, em sua pelo menos curiosidade de “o que é que faríamos em um Assentamento? Ah! Vou entrar nessa p’ra descobrir”. Descobrir! Que bela palavra para nossos jovens se apropriarem...

segunda-feira, 21 de junho de 2010

E lá vai Saramago...



“(...) Todos os dias têm a sua história, um só minuto levaria anos para contar, o mínimo gesto, o descasque miudinho duma palavra, duma sílaba, dum som, para já não falar dos pensamentos, que é coisa de muito estofo, pensar no que se pensa, ou pensou, ou está pensando, e que pensamento é esse que pensa o outro pensamento, não acabaríamos nunca mais”.
(José Saramago – Levantado do Chão)




          





           E lá vai José Saramago.
          E vai com toda sua história, gestos, sílabas, sons, pensamentos que nos levam a pensamentos, mais pensamentos... e que, em um pequeno texto de blog, não dá p’ra contar.
          Na última sexta-feira, dia 18 de junho, o Universal Circo Crítico se fez em lágrimas. O mundo, as letras, a luta do povo e seus lutadores perderam um grande lutador, um grande nome, um grande nele mesmo.
          Longe de querermos ser o supra-sumo da obra de Saramago, apenas nos somamos aos seus incontáveis admiradores. E somos isso mesmo: admirador, que, assim como muitos, quando teve a primeira obra em mãos, se encantou. Assim como sempre dizemos à juventude, “toma a sua juventude”, assim o foi com sua obra que, quando tomada em nossas mãos, parecia que nos servia de alento e, ao mesmo tempo, energia para continuarmos lutando.
          Era como, no contraditório, tomar as palavras contadas sobre a luta campesina em terras portuguesas ("[...] o desespero alimenta-se da extenuação do corpo, torna-se forte e a sua força regressa violenta ao corpo [...]”) e alimentar-se de sua obra e filosofia literária para voltar a ela, por suas letras. As letras são sempre a sistematização de alguma coisa, idéia ou imagem e, regressando a elas, regressamos ao princípio daquilo pelo qual lutamos em nossa sociedade, local ou globalmente: pela transformação da sociedade.
          Foram, ainda, poucas as obras que o Universal Circo Crítico conheceu de Saramago: Levantado do Chão, A Caverna, O Evangelho segundo Jesus Cristo, Minhas Pequenas Memórias, Ensaio sobre a cegueira, Todos os Nomes. E em todas essas obras, lições que estão registradas em nossa memória e coração.
          O que aprendemos com o legado de José Saramago?
          Com Saramago aprendemos que o homem, o bicho-homem, ainda é comprado e vendido, e não pelo seu valor. “(...) De cada vez, sabemos, foi o homem comprado e vendido. Cada século teve seu dinheiro, cada reino o seu homem para comprar e vender (...)”. E tão claro, tão inquestionável que assim o é que não conseguimos entender por que, diante de tão clara e inequívoca denúncia, continuamos a nos comprar e a nos vender.
          Com Saramago, aprendemos que as palavras morrem, porque são assassinadas, não porque “se matem”. As palavras são assassinadas porque dizem ao povo, dizem aos seus lutadores “Revolução”, “Igualdade”, “Direitos”, “Reforma Agrária”, “Qualidade”, “Educação”, “Liberdade”. E quando palavras como essas são compreendidas em sua essência, valor e significado, realmente como trampolins de um novo tempo, de um novo homem, de uma nova sociedade.
          Saramago, comunista que era, nos ensinou sobre o capitalismo. E ao nos ensinar sobre a indubitável característica do capitalismo em destruir o homem e o mundo "(...) por tudo quanto fez por nós, um alqueire de feijão, uma saquita de milho, esta galinha a pôr, uma garrafa de azeite, três gotas de sangue” ele também nos disse que precisamos lutar contra o capitalismo. E lutar contra o capitalismo também é lutar contra a mídia brasileira – vendida, burguesa e capitalista – e sua incrível incompetência em questionar, se perguntar e responder “mas, por que ele era comunista?”, ao mesmo tempo que elogia sua obra e sua história.
          Saramago nos ensinou sobre a fome, e o fez dizendo o que é a solidariedade, o que é capacidade verdadeiramente humana de enfrentá-la: "(...) Isto fazemos ao pão quando cai, tomamo-lo na mão, sopramos-lhe de leve como se lhe devolvêssemos o espírito, e depois damos-lhe um beijo, mas não o comerei já, parto-o em quatro bocados, dois maiores, dois mais pequenos, toma lá Amélia, toma lá Gracinda, este para ti, e este para mim, e se alguém perguntar para quem foram os dois pedaços maiores, é menos do que um animal, porque o animal sei eu que saberia”.
          Saramago nos ensinou sobre a infância, sobre as crianças e, mais ainda (e por experiência própria o aprendi), nos disse com a simplicidade de uma criança que “(...) mas as crianças, podendo ser, crescem” e, a cada dia, a cada hora, a cada instante, tiramos a vida de nossas crianças, vendendo sua alegria, sonhos, desejos, criações pelo seu futuro. Estranha contradição, mas verdadeira constatação.
          Saramago nos ensinou sobre o trabalho e a ciência, seu valor, sua dignidade: “(...) e de cada vez que a foice entra no trigo, de cada vez que a mão esquerda segura os caules e a mão direita dá o golpe brusco de lâmina que derrota quase rente ao chão, só altas matemáticas saberiam dizer quanto vale esse gesto, quantos se hão-de escrever à direita da vírgula, que milésimas medem o suor, o tendão do pulso, o músculo do braço, os rins derrancados, o olhar turvo de fadiga, o escalão da soalheira. Tanto penar para tão pequeno ganho”. E nossa ciência, que insiste em dar as costas ao povo e suas necessidades.
          José Saramago nos ensinou a lutar, e lutar não apenas pelo pão a se comer, pelo trabalho a se exercer, mas pela dignidade do pão e do trabalho: “(...) Camaradas, não se deixem enganar, é preciso que haja união entre os trabalhadores, não queremos ser explorados, aquilo que pedimos nem sequer chegava para encher a cova de um dente do patrão, (...) Comendo vem a vontade, falando se aprende a falar”. Lutando, vem a vontade de lutar.
          Saramago, enfim (?), nos ensinou sobre a sabedoria: “O homem que assim se aproxima, vago entre as cordas de chuva, é o meu avô. Vem cansado, o velho. Arrasta consigo setenta anos de vida difícil, de privações, de ignorância. E, no entanto é um homem sábio, calado, que só abre a boca para dizer o indispensável. Fala tão pouco que todos nos calamos para o ouvir quando no rosto se lhe acende algo como uma luz de aviso”. E, por ser comunista, sabia o quanto é importante a sabedoria de um velho.
          Minhas pequenas lições aprendidas não se conterão na infinidade das palavras de Saramago, escritor que comparo a poucos, e, ao mesmo tempo, não consigo compará-lo com ninguém. Apenas alguns escritores que, a partir de agora terão sua companhia e, que assim como nosso camarada lusitano, tanto nos mostrou a importância de dizer de que lado estamos e contra que lado estamos; pelo que lutamos e contra o que lutamos; pelo que celebramos e contra o que celebramos.
          Hoje, o Universal Circo Crítico celebra José Saramago!



          Vida Longa a Saramago!



          Venham Todos!
          Venham Todas!


          Vida Longa!

Marcelo “Russo” Ferreira

terça-feira, 15 de junho de 2010

O Universal Circo Crítico... embaixadores...





“Podemos bater qualquer um, /
até mesmo a equipe mais forte”
(Canção do Challima Glorioso
Seleção da Coréia/1966)





          Qual é a nossa canção?
          Essa foi a primeira pergunta que eu me fiz quando assisti a um documentário sobre a participação da Seleção da Coréia do Norte na Copa de 1966.
          Contexto geral: A Coréia do Sul (capitalista) e a Coréia do Norte (Comunista) entram em conflito, logo após a II Grande Guerra. EUA e Reino Unido apóiam a Coréia do Sul, enquanto que China e a antiga URSS (União Soviética) apóiam a Coréia do Norte. Ambos os apoios, claro, são, também, bélicos.
          Essa guerra durou pouco mais de três anos (de 1950 à 1953) e o resultado dela, além de cerca de 3,5 milhões de pessoas mortas, resulta no que conhecemos hoje, que é a permanência da divisão entre os dois países.
          Anos depois, em 1966, a Coréia do Norte classifica-se para a copa da Inglaterra. O Reino Unido, inicialmente não quer receber aquele país, justamente por ter ficado do outro lado do conflito bélico e, recebendo a delegação futebolística norte-coreana significaria, aos olhos da coroa, reconhecer o país comunista, algo que o Império Britânico não estava muito disposto. A FIFA conseguiu reverter.
          Posteriormente, a realeza britânica não queria permitir que a Bandeira da Coréia do Norte fosse hasteada em qualquer lugar do País, seja no hotel onde a seleção estivesse hospedada, seja na abertura da Copa, seja durante o torneio (hasteada nos estádios)... Novamente a organização da Copa conseguiu reverter. Não queria deixar de ter “a beleza das bandeiras tremulando, enfeitando o país e enaltecendo a Copa”.
          Então, a cartada final da Coroa: os hinos não seriam tocados no início das partidas. Apenas na abertura da competição (onde jogariam a Inglaterra e o Uruguai, que teve o placar de 0X0) e na final, pois acreditavam que a estreante Coréia do Norte não chegaria tão longe.
          O desconhecido time norte-coreano esteve no grupo da União Soviética, Itália e Chile e desde o primeiro jogo, independente das vontades da Realeza Britânica, conquistou a pequena cidade de Middlesbrough e sua população que, durante seus jogos, uníssonamente gritava palavras de força e incentivo à sua seleção. A elite britância, que colocou inúmeros obstáculos à participação do estreante país na copa de 1966, levou o susto necessário de ver a estratégia de não tocar o hino daquele país ser ameaçada quando seus atletas derrotaram a seleção da Itália, eliminando-a da competição. Os jovens atletas norte-coreanos seguriram para as quartas-de-final e enfrentariam Portugal. Perderam, mas não decepcionaram e voltaram ao seus país de cabeça erguida... Foram, para seu país e para seu povo, os embaixadores da Coréia do Norte. Talvez mais do que isso, como diria naqueles dias Li Chan Myong, então goleiro da seleção:
          “Quando eu jogo futebol, eu sou o goleiro. Como o exército que guarda a segurança do seu país, eu guardo todo o meu povo”
          Hoje, assistindo aos preparativos da partida entre o Brasil e a Coréia do Norte (que jogo chato!), notícias de que o presidente deste país não autorizou (ou não autorizaria) seu país a assistir ao jogo. Dependeria do “humor” dele. Égua como nossa imprensa é imbecil. Imbecil porque não apenas seu presidente Kim Jong-il mas os atletas daquela seleção de 1966, recebeu o atual selecionado norte-coreano antes de embarcarem à África do Sul. Seguindo a atitude do Grande Líder da época (Kim Il-sung), foram estimulados a representar seu país e seu povo, ganhando palavras de incentivo dos atletas de 1966.
          Não vi a canção de nossa seleção, a canção que diz de seus atletas, de seu povo, de suas conquistas... Vi, incontestavelmente, uma infinidade de marcas que, juntamente com à também privada marca da Seleção Brasileira (a CBF, à bem da verdade, é uma entidade esportiva privada), dizem quem é que está à frente dos interesses de nosso futebol. Uma dúzia de interesses.
          Mas, não escutei a canção de nossa seleção, de nossos atletas, de nosso povo...
          Se vou torcer pelo Brasil? Sim, vou, porque sempre torci. Mas, sempre torci pelas seleções mais fracas, também e, algumas vezes, também comemorei...
          Que pelo menos possamos escutar essa lição de nossos... companheiros do jogo, o outro time. Sem o outro time, nós não jogaríamos.

          Venham todos!
          Venham todas!

          Vida Longa!

Marcelo “Russo” Ferreira

P.S.: É importante lembrar que em 1966 os países africanos se negaram a participar daquela competição, pois só havia uma vaga e que teria que se disputada com o campeão asiático. Que bom que pelo menos isso, hoje, é diferente.
P.S.2: a foto foi conseguida em: http://esportes.terra.com.br/futebol/copa/2010/noticias/0,,OI4495012-EI15722,00.html#tarticle

domingo, 6 de junho de 2010

Conversas por aí... princípios

“Há algum sentido nesta vida passageira.
Que algum dia nos levará em algum lugar”

(Procuro por uma luz/1987)
Marcelo Russo e Sandro Ricardo)


          Era uma viagem das muitas viagens que faço, acerca de dois anos, de Castanhal (onde trabalho) para Belém (onde moro). Viagem meio enjoada, por conta de uma estrada meio perigosa (o caminho contrário ela é mais inteira, conservada), normalmente já cansado do dia de trabalho e sempre concorrendo com as imprudências e incompetências de outros motoristas... mas, neste caso, é o país inteiro, não tem como fugir (só desistindo de dirigir).
          Nestes dois anos, muitas foram as caronas, quer de alunos (a grande maioria), quer de colegas de trabalho (professores). Conversas de todo tipo, com vários assuntos: meus cães e os cães dos outros, minha vida profissional em PE e Brasília e os desafios do mundo do trabalho dos meus alunos (em breve professores), as viagens de sempre, algumas estórias, os “porqueres” de estarmos aqui e não acolá, orientações de pesquisa e “inxirimentos” nas pesquisas dos outros. De tudo um pouco.
          Também foram muitas as expressões musicais nas minhas caronas. Ah! Isso era claro que iria acontecer: Cordel do Fogo Encantado, Ira, Legião Urbana, Led Zepellin, Queen, Ednardo, Zeca Baleiro, Chico Buarque, Raíces de América, Iron Maden, Paulinho da Viola (ninguém acredita), Saltimbancos, Renaissence, Yes, PFM... Rock progressivo, Música Popular Brasileira, Música Latina, Estórias para escutar, Samba. Até “brega” – com certa resistência, reconheço – já passou nos acompanhamentos das idas a Castanhal e, principalmente, das voltas.
          Nunca pensei nisso, mas daria para escrever um livro de crônicas, “caronas com o professor” (escrito pelos alunos) ou “carona aos estudantes” (escrito por mim). Neste caso, talvez eu desse outro nome. Sei lá, talvez, “quando a carona também é sala de aula”... Coisas de minhas viagens.
          Mas, como eu falava, reflito sobre “uma das muitas viagens” e essa, em particular, provocou a minha decisão de escrever um novo tema no Universal Circo Crítico: Conversas por aí. Tanta coisa a gente aprende conversando, que nem percebemos.
          No “cd-player” (antigamente era toca-fita, mas não chamamos de toca-CD o que colocamos no carro...), Legião Urbana Acústico. Tocava a segunda música, Índios. “Quem me dera ao menos uma vez que o mais simples fosse visto como o mais importante...”.
          Eu, um espírita (mais filosófico do que religioso), marxista, socialista, lutador do povo em constante aprendizado. Revolucionário...? ainda não. São muitas as características para eu atingir este nobre status.
          Ele, aluno de uma das minhas turmas da Faculdade de Educação Física, rapaz mais “quieto” e observador. Evangélico e de uma paz constante e profunda, testemunhada por seus colegas de labuta estudantil.
          A conversa envolvia também o debate religioso e espiritual! O comentário: “essa música é quase uma oração”. E a oração era aquele momento em que você conversava consigo mesmo, com o seu íntimo, dentro de suas particularidades e introspecções, dialogando com seus sonhos, com seu caráter, com suas contradições, projetando algo adiante.
          Princípio! A palavra chave de uma conversa que fez da cansativa viagem de volta a Belém algo agradabilíssimo! Palavra colocada, para duas pessoas bem distintas em seus projetos de homem, mundo e sociedade, sob olhares diferentes para a oração e provocada por uma música dos anos 80 do século passado. A oração que introspecta, a oração que revoluciona.
          Como é interessante isso: duas pessoas, com pensamentos espirituais distintos, possivelmente divergentes, silenciosamente antagônicos (difícil falar em antagonismo em religião: Deus X Lúcifer?) e uma palavra, quase revolucionária (“princípio”), aproxima suas idéias e desejos de um mundo diferente.
          Princípio, que evidencia o “ser” ante o “ter”. Que destaca o coletivo ante ao individualismo. Que busca o abraçar superando o afastar. Que defende o bem, não o bem ingênuo, mas o bem necessário à própria existência da raça humana na terra, em detrimento do mal, aquele que faz as pessoas passarem por cima de quem quer que seja para conseguir seus objetivos, que normalmente resumem-se no ter.
          É assim que ensinamos e aprendemos... É assim, penso eu, que a Universidade (já que falo das caronas com meus alunos) precisava agir, construir-se.
          Ver nossos/as estudantes como sujeitos que não irão (ou que não devam) se vender à estrutura de sociedade que os destrói cotidianamente, mas, sim, como jovens que tem necessidade e capacidade de transformar essa sociedade em busca do bem coletivo.
          Um grande desafio!
          Pois grande é o Princípio!



          Venham todos!
          Venham todas!



          Vida Longa!



Marcelo “Russo” Ferreira



P.S.: a epígrafe é de uma canção escrita junto com um grande amigo dos tempos de Escola. Um dia conto esta história, com a letra completa.