RESPEITÁVEL PÚBLICO!

VENHAM TODOS! VENHAM TODAS!

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Me gritaram "Negra!"


“Racismo e capitalismo
são faces da mesma moeda”
(Steve Biko)

            E hoje é 20 de novembro... Dia em que muitos municípios (ou seja, não o Brasil) celebra o Dia da Consciência Negra, assim mesmo, como “data comemorativa”. Alguns outros tantos, é feriado, assim como em alguns Estados...
            Neste picadeiro, sempre será dias de celebração. Assim como as datas que representem a Luta do Povo contra o poder, a celebração de Lutadores do Povo.
            Mas, tenho (temos) humildade também. Até hoje nos entendemos como APRENDIZES de Lutador do Povo. E não é uma humildade de oportunidade, mas uma humildade de reconhecimento histórico, de nossas raízes, nossos valores, nossos aprendizados, nossa história. Sempre procuramos o machismo, o racismo, a homofobia, o preconceito que está escondido dentro da gente. E ainda os encontramos... e porque procuramos e encontramos, ainda os enfrentamos... e enquanto isso acontecer, seremos aprendizes.
            Sou branco numa sociedade racista, sou homem numa sociedade machista... não tenho nem ideia do que é ser negro, do que é passar pelos constrangimentos pelos quais passa uma pessoa negra. Claro que sei de racismo, da “desmeritocracia” que existe em nossos dias entre brancos e negros, homens brancos e homens negros, mulheres brancas e mulheres negras, homens, brancos e mulheres negras.
            Mas, insisto: busco o racismo que há dentro de mim todos os dias... vigio-o e destruo-o dia-após-dia. E não sou eu, ou este picadeiro, quem irá medir o quanto avanço (porque é isso o que busco)...
            Aqui, neste picadeiro de terra batida e lona furada de circo, humildemente nos esforçamos a dizer que lugar estamos: da Classe Trabalhadora e de todos/as aqueles/as que lutam contra qualquer injustiça cometida em qualquer lugar do mundo seja contra quem for (como diria Che)
            Ademais, o que existe de mais qualificado para este debate, nos colocamos definitivamente no lugar de aprendizes... mas, cometemos nossas ousadias.
            Saudamos essa celebração de 20 de novembro como Solomon Burke. E não é a primeira vez que ele canta por aqui. A beleza musical ao cantar “ninguém de nós é livre enquanto um de nós estiver preso” não é a única impagável canção de liberdade...
            Cantar a Liberdade em tempos de escravidão sempre será um ato de Liberdade propriamente dita.
Cantar a Liberdade em tempos de exploração do homem pelo homem (o trabalhador pelo serviçal dos interesses do capital) sempre será um ato de Liberdade propriamente dita.
Cantar para expor nossos próprios preconceitos sempre será o nosso ato de Luta pela Liberdade.
E cantamos, hoje, com Victoria Santa Cruz... porque ou aprendemos o nosso racismo (o nosso machismo, o nosso preconceito, a nossa homofobia) ou não cantaremos... ou não seremos livres.

ME GRITARAM NEGRA!
Tinha sete anos apenas
apenas sete anos,
que se anos!
Não chegada nem a cinco!
De repente umas vozes na rua
me gritaram “Negra!”
Negra! Negra! Negra! Negra! Negra! Negra! Negra!
“Por acaso sou negra?” – me disse SIM!
“Que coisa é ser negra?” Negra!
E eu não sabia a triste verdade que aquilo escondia.
Negra!
E me senti negra, Negra!
Como eles diziam
Negra!
E retrocedi
Negra!
Como eles queriam
Negra!
E odiei meus cabelos e meus lábios grossos
e mirei apenada minha carne tostada
E retrocedi
Negra!
Negra! Negra! Negra! Negra! Negra! Negra! Neeegra!
Negra! Negra! Negra! Negra! Negra! Negra! Negra! Negra!
E passava o tempo
e sempre amargurada
Continuava levando nas minhas costas
minha pesada carga
E como pesava!..
Alisei o cabelo,
Passei pó na cara,
e entre minhas entranhas sempre ressoava a mesma palavra
Negra! Negra! Negra! Negra! Negra! Negra! Neeegra!
Até que um dia que retrocedia, retrocedia e que ia cair
Negra! Negra! Negra! Negra! Negra! Negra! Negra!
Negra! Negra! Negra! Negra! Negra! Negra! Negra!
Negra!
E daí? E daí?
Negra! Sim
Negra! Sou
Negra! Negra! Negra!
Negra! Sou!
Negra! Sim!
Negra! Sou!
Negra! Negra! Negra sou.
De home em diante não quero alisar meu cabelo
            Não quero
            E vou rir daqueles, que por evitar – segundo eles – que por evitar-nos algum dissabor chamam aos negros de gente de cor
            E de que cor!
            NEGRA
            E como soa lindo!
            E que ritmo tem!
            Negro! Negro! Negro! Negro! Negro! Negro! Negro!
            Negro! Negro! Negro! Negro! Negro! Negro! Negro!
            Negro!
            Afinal
            Afinal compreendi
            AFINAL
            Já não retrocedo
            AFINAL
            E avanço segura
            AFINAL
            Avanço e espero
            AFINAL
            E bendigo aos céus porque duis Deus que negro azeviche fosse minha cor.
            E já compreendi
            AFINAL
            Já tenho a chave!
            NEGRO! NEGRO! NEGRO! NEGRO! NEGRO! NEGRO!
            NEGRO! NEGRO! NEGRO! NEGRO! NEGRO! NEGRO!
            NEGRO!
            Negra sou!”

            O que você é? Quem você é? Pelo que você é?

Viva 20 de novembro!
Venham Todos!

Venham Todas!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

O Universal Circo Crítico abre seu picadeiro e agradece tê-lo/a em nosso público.
Espero que aprecie o espetáculo, livre, popular, revolucionário, brincante...! E grato fico pelo seu comentário...
Ah! Não se esqueça de assinar, ok?
Vida Longa!
Marcelo "Russo" Ferreira