“O Desministérios dos Risos Circenses
avisa: aos que ainda não conhecem muito bem as viagens deste picadeiro
estranharão o “lé” e o “cré” aqui reunidos”
Foi mais ou menos assim:
–
Bom dia, senhor... desculpe-me incomodá-lo... mas, gostaria de pedir uma
pequena ajuda. Meu sobrinho está com câncer e estamos com dificuldades
financeiras. Preciso comprar dois pacotes destes, de frauda, eu só consegui
comprar um...
–
Então você já tem os dois pacotes de fraudas...
–
Oh! Obrigada, moço... muito obrigada.
E,
após acalma-la, peguei o pacote e incluí em minhas compras. Ela falou mais
algumas palavras de agradecimento, agradeceu a Deus (ou Quem ela acredita) e
aguardamos nossa vez na fila.
Ao
sair, escutei as doces palavras vindas de outra pessoa:
–
Pega trouxa!
Dita
como quem quisesse (e quis) dizer que eu caí na maior lorota, numa mentira
deslavada e que a tal estava rindo da minha cara, como quem dissesse a si mesma
“Cara! O Cabeludo só tinha que me dar 10,00, e me comprou o pacote...”
–
Não sou eu quem julgo isso, disparei...
Meio
que como quem quisesse também dizer, mesmo sendo ateu, que se existe alguém (ou
“Alguém”) a julgar o acontecimento, não serei eu o julgado (nem o julgador), a
não ser, pela manifestação acima, a de ser “trouxa!”... O que acho que não me
faz uma pessoa tão ruim assim...
Em síntese: eu "fui
legal"... ao distanciar-me do "a quem" eu fui legal, escutei
"pega trouxa!" e só respondi "não sou eu quem julgo
isso"... Se o ato não foi de pedido de ajuda, mas de oportunismo, isso não
é comigo... ajo conforme meus princípios...
Mas
não se trata aqui de ficar construindo e publicando auto-enaltecimento. Dia
aqui, outro ali, escuto ou leio pequenas e singulares histórias de atos de
solidariedade, bondade, ajuda, apoio etc. Até aqui, neste picadeiro de terra
batida, já contamos nossas histórias.
Quem
lembra de “O Sanfoneiro!”
–
Poderias ter terminado aquela história sem o “do outro lado da rua...”, né?
(Palhaço).
–
Concordo, Strovézio... uma história tão bonita podia dispensar aquele final.
Ou,
mais recentemente, nossas reflexões em “Fazer o bem”... Um quitute, uma noite
chuvosa, uma moradora de rua e uma alegria silenciosa.
Mas,
o que nos leva a esta nova reflexão que, no final das contas, tem a ver com
solidariedade, é uma nova inquietação... uma nova provocação:
Se
é verdade (e não achamos que é) que você precisa fazer o bem para ter, sei lá
de quem, quando, como (parece-me meio invisível demais isso, enfim), ter o bem
de volta, como que uma troca. O que acontece ou aconteceria quando fôssemos
apenas... trouxas?
Um
trouxa foi pego, sensibilizado em seus princípios de solidariedade...
Eu
faço o bem, recebo o bem de volta... então...
Eu
sou trouxa... será que um dia conseguirei, como “compensação” (que é a régua do
“fazer o bem para tê-lo de volta”), fazer alguém de trouxa?
É
isso que conduz, realmente, as práticas sociais das pessoas? O “O mundo é dos
espertos” realmente vigora e vinga? O meu primeiro e, depois, pensamos nos
outros...
Perece-me
que em tempos em que o fascismo sai tranquilamente do armário, o fazer para ter
algo em troca torna-se deveras perigoso... ou não?
Dar
a o lugar no ônibus, independente das cadeiras exclusivas para idosos ou
pessoas com deficiência, seria, no final ao cabo... ser trouxa?
Dizer
ao caixa da padaria “me deste troco a mais” é ser trouxa?
Devolver
a carteira de alguém, com dinheiro dentro... trouxa?
Ajudar
alguém que pede ajuda, mesmo não a conhecendo... um grandessíssimo trouxa!
...
Lutar,
em tempos de greve nas universidades, para que não apenas “eu” tenha aulas, mas
para que os que virão, e os que virão após os que virão e os depois destes
todos, e os depois dos depois também tenham aulas... é ser trouxa?
...
Fazer o bem não pode,
decididamente, ser moeda de troca... nem aqui, perto da gente, nem em defesa de
uma instituição. Mas, se nossa sociedade continua a ser conduzido por vontades
individualistas... ou espertas... como lutar por “fazer o bem” e o bem que
interessa é “bem a si mesmo”? Mesmo quando o faço para ter “a benção”, “o céu”,
“o paraíso” ou sei lá o que como retribuição?
– Pega Trouxa!
Um termo que entendi muito
bem... porque, é verdade, é possível que o pedido de ajuda não fosse tão sério
como fora feito.
Mas... eu julgo as minhas
atitudes, minhas condutas, minhas posturas... Procuro estar sempre atento à
minha prática, pois é meu critério de verdade. E perfeito não sou...
... ainda bem...
Ah! Para os incautos que
não querem entender, nem mesmo sob suas superiores titulações e condição
emérita... Defender a Universidade Pública, Gratuita, Laica, de qualidade e
para todos/as não é “pega trouxa!”...
Venham Todos!
Venham Todas!
Parabéns pelo texto!!!
ResponderExcluir- Grato, "Anônimo"!... (Palhaço)
Excluir- Ô, Strovézio... não sacaneia...
- O que posso fazer?
- Seja sempre bem vindo... adoraríamos que nas próximas visitas, em passando aqui nos comentários (concordando ou não com nossas ideias), deixe seu nome... codinome... alcunha..