Estes dias que se passaram, li uma
matéria-entrevista no site do UOL/Folha de São Paulo sobre a greve nas
Universidades Federais. Era com o Prof. Daniel Aarão Reis, da Universidade
Federal Fluminense.
O interessante das manifestações públicas do
Professor Daniel Aarão são as matérias jornalísticas e, principalmente, as
“chamadas/manchetes”.
– Daniel Aarão Reis afirma que greve federal
não é legítima.
Ou...
– ‘Greve na Universidade só causa prejuízo para
alunos de graduação’, diz Daniel Aarão.
Comunista (ou ex, sei lá), tem uma história de
resistência e prisões durante a Ditadura Civil-Militar brasileira, manifestava
que a greve “carece de legitimidade” (embora os jornalões publicassem “não é
legitima”, o que é bem diferente.
Já sobre a questão de só atingir a graduação,
já não corresponde muito com os fatos, já que temos exemplo de paralização em
algumas pós-graduações (pelo menos na UFPA e na UFBA, isso é certo).
De qualquer maneira, as duas matérias citadas
acima se sintetizam na Carta que o Professor publicou em 24 de maio, às
vésperas do início da paralização do Docentes das Universidades Federais (que
iniciou-se em 28 daquele mês).
Ela é interessante pois reafirma que “Vivemos
hoje, e tudo indica que viveremos nos próximos anos, tempos difíceis do ponto
de vista das relações entre governo e
educação, em geral, e entre governo e universidades públicas, em particular”.
Ou seja, mesmo com as manchetes, o Professora Daniel Aarão concordava que a
coisa estava (e está) feia.
O ponto de vista de Daniel Aarão cumpre, à bem
da verdade, com algumas justiças.
Primeiro, greve no serviço público não tem um
“patrão” a ser atingido, ao estilo capitalista, com riscos de perder seus
vastos lucros com os braços cruzados e, portanto, apenas a população é
prejudicada com greve no funcionalismo público.
Segundo, que a greve nas Universidades Federais
penaliza os cursos de Graduação (não penaliza a pós – o que já evidenciei um
dado de equivocidade sobre isso), mas a pesquisa e a extensão continuam a pleno
vapor.
Terceiro, que a greve impossibilita,
inviabiliza o diálogo da Universidade com a População e que o certo seria a
Universidade continuar funcionando a pleno vapor para garantir esse diálogo.
– E agora tu vai dizer que as justiças
cumpridas pelo Daniel estão injustas, certo? (Palhaço)...
– É, Strovézio... bens me conhece...
Justiça Equivocada primeira: não temos patrão!
Parece-me limitada a percepção do Professor
Daniel Aarão, pois ele estabelece uma leitura linear sobre quem é o patrão.
Oras, se o Estado, no capitalismo, está absolutamente a disposição do Capital,
é mais do que evidente que também combatemos o capital. E daí as questões como
“fechar portões” são importantes, pois normalmente são cursos com “dinheirinho
privado” que se negam a aderir à greve. Algo parecido com operário furando
greve porque tem benesses do patrão.
E para entendermos o quanto que o Estado (o tal
“patrão” do funcionário público), basta um passeio nas operações da Polícia
Federal para percebermos o quanto que o Capital está metido até as orelhas na
corrupção denunciada e não denunciada pela, também, mídia capitalista – e,
portanto, corrupta.
Por outro lado, lembremos que greves de setores
privados também “prejudicam” a população. Greve no Transporte Público
(oferecido por empresas privadas), na construção civil e em alguns setores de
Serviços dão conta disso.
Justiça Equivocada segunda: apenas a graduação
é penalizada.
Sem entrar no mérito dos cursos de graduação
que, histórica e tradicionalmente NÃO param, é preciso compreender que a
Universidade funciona no tripé Ensino-Pesquisa-Extensão. Se um segmento para,
os outros não funcionam a contento. Tem prejuízo explícito.
Mas, mais ainda, é que a análise inicial do
Prof. Daniel não era estanque, ainda que ele talvez não conseguisse “prever” o
que viria pela frente. E, no início de julho, os setores que financiam a
Pesquisa no Brasil (CAPES e CNPq, principalmente o primeiro) anunciaram o
avassalador corte de 75% de financiamento...
– Bom, se a Pesquisa não para por braços
cruzados, agora para porque não tem como continuar (Palhaço).
– Pois é, Strovézio...
Justiça Equivocada terceira: a greve
inviabiliza o diálogo da Universidade com a Sociedade.
Bom... o diálogo já está inviabilizado. Já
comentamos isso por este picadeiro de terra batida (http://ouniversalcircocritico.blogspot.com.br/2015/06/a-greve-iv-universidade-e-praca.html) e
perguntávamos “Que Universidade é essa
que o povo vê? Conhece? Sabe?”.
Oras bolas, cá pra nós: essa Universidade, essa
que ainda é hegemônica em nosso país, seja ela pública ou privada, NÃO dialoga
com a sociedade. O Mercado (o Capital) ainda dita as regras, desde a formação
mais pontual até as engenhocas mais avançadas...
Desde médicos para abrir consultórios e não
devolver à sociedade o que aprenderam para salvar vidas, engenheiros para
construir mansões/condomínios e contribuir com o despejo de famílias pobres de
áreas ocupadas, de agrônomos/veterinários a contribuir com o agronegócio e,
portanto, silenciar ante ao avanço contra o Movimento Campesino e inúmeros
avanços tecnológicos na Saúde, na Educação, na Construção Civil, na Economia
que capitalizam e mercantilizam cada vez mais suas descobertas...
Definitivamente, NÃO, dialogam com a sociedade.
Pode até ser que o Professor Daniel Aarão tenha
sido mais uma vítima de nossa mídia tupiniquim ou da falta de esperança (em que
pese certa manifesta indignação com a situação da Universidade Pública
Brasileira) na Educação Superior desta país...
Mas ele não é ingênuo...
A greve cansa, desgasta justamente aqueles que
lutam pela Universidade, hoje. São Professores, são Técnicos-administrativos,
são estudantes que veem sua universidade, sua sala de aula, seus laboratórios,
seus corredores e querem mais dela. São, também, os terceirizados (porteiros,
limpeza, serviços gerais e seguranças) com salários atrasados, sem direitos e
sendo demitidos, por falta de pagamento das Universidades.
Mas, não podemos dar passos atrás.
– Desculpa, aí, Aarão... estás do lado errado!
Venham Todos!
Venham Todas!
http://www1.folha.uol.com.br/educacao/2015/07/1658820-dilma-corta-verba-para-pre-escola-e-creche-vagas-eram-promessa-eleitoral.shtml?cmpid=compfb
ResponderExcluirOs comentários em nosso Picadeiro sempre serão bem vindos. Independente até da concordância ou discordância de nossas opiniões...
ResponderExcluirMas, pô!
Peço menos assina, né?
– Né, não??? (Palhaço)
– É, Strovézio...