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VENHAM TODOS! VENHAM TODAS!

quarta-feira, 25 de março de 2015

Roda Viva... morrendo.

"Tem dia que a gente se sente
Como quem partiu e morreu.
A gente estancou de repente
ou foi o mundo então que cresceu..."
(Chico Buarque)









            Lembro, quando ainda era uma criança entrando na fase de adolescência, que havia, em casa, uma dinâmica particular com a Televisão. Claro, houve um tempo “nebuloso”, quando a rua ainda não me era o lugar de relações sociais intensas, e os “enlatados” da Globo e da Record (eram os inúmeros seriados americanos que passavam na TV) quase que tomavam conta da programação em casa.
            Mas houve momentos ímpares e interessantes que, de certa maneira, iam construindo meu mundo político e artístico particular. E esses momentos tinham seu lugar de encontro: a TV Cultura de São Paulo.
            Três fatos marcaram minha relação com a TV Cultura, não necessariamente aqui numa relação cronológica ou de qualquer outra ordem.
1. Quando a saudosa banda de Rock de meus tempos paulistanos (o Afã – a qual já postei algumas de suas canções aqui) tocou em um Festival da canção do Liceu de Artes e Ofícios (onde estudava o nosso baterista) e, nos palcos da TV Cultura ganhamos o Festival de 1989 – com Negro Albatroz;
            2. Quando, nos tempos de Colégio Salesiano, participamos do Programa “É Proibido Colar” (e lembro que fizemos uma paródia com a música “Ponteio”;
            3. Alguns programas monumentais que fui assistindo ao longo dos tempos: “Daniel Azulai”, X-tudo, Som Pop (Rock’n’roll de primeiríssima), Ensaio, Viola Minha Viola, o próprio “É Proibido Colar” (com o jovem Antônio Fagundes) e... Roda Viva.
            Cheguei a assistir ainda em minha adolescência o Roda Viva, que sempre passava às segundas-feiras. Lembro uma vez em que nosso saudoso Professor Antônio Carlos (Português e Literatura) nos chamou a atenção sobre o que assistíamos na TV e eu tinha assistido o Roda Viva na véspera (com Leonel Brizola) e comentei em sala... Quase viro o “quadradão” da turma e por pouco não sou “expulso” do fundão.
            Muitos anos se passaram e muitas personalidades de qualidade passaram pelo Roda Viva. Assisti Marilena Chauí, Washington Novaes, o saudoso Milton Santos, a fan-tás-ti-ca entrevista de Sebastião Salgado (quando lançou Êxodos, trabalho seguinte ao fabuloso ensaio “Sem Terra”), Lula (antes de ser Presidente), Almino Afonso, Lobão (ainda com algum miolo no juízo), João Pedro Stédile. Também nomes como Marco Maciel (DEM de Pernambuco, ex-vice presidente de FHC), à qual não convirjo em qualquer patamar político e ideológico, mas que possibilitava debate COM conhecimento... E com entrevistadores que faziam jus ao convidado, inclusive com um perfil que permitia o debate divergente e até antagônico...
            Mas, o “Roda Viva”, nos últimos anos, e sob o domínio político de 24 anos do PSDB paulista está morrendo... e muito.
            Nesta última segunda, com a não mais independente TV Cultura articulada com a Editora Abril e o Panfleto “Veja”, o Programa convidou uma das personalidades mais vazias que já vi no cenário político brasileiro. E, claro, um perfil de convidados (e de mediador) tão superficial quanto sua capacidade (absurdamente ausente) de respeitar a história daquele centro, daquela “cadeira” no meio do Roda Viva.
            Trata-se do tal “criador” do “Vem Pra Rua”, Rogério Chequer.
            Em síntese...
            Nenhuma pergunta sobre “por que fazer o ato em 15 de março?” (teria que dizer da saudade da posse de presidentes da Ditadura ou da Marcha da TFP de 1964).
Nenhuma pergunta sobre “Já que vão pra rua contra a corrupção, por que vocês poupam os casos de Corrupção do PSDB Paulista (Metrô) e Mineiro (Furnas)?”.
Nenhuma pergunta sobre “se vocês são suprapartidários, por que entrar na campanha de Aécio Neves em 2014?”.
Ou “e por que a camisa do Brasil/CBF, se também é representativa da corrupção e ditadura do Futebol brasileiro e para quem o ‘Queremos Saúde e Educação padrão FIFA’ também era para ser endereçado nos atos de 2013?”.
Nenhuma questão que o provoque sobre as primeiras bandeiras de luta de 2013 que era o aumento das passagens de ônibus em São Paulo e a violência policial (acompanhada do descaramento dos Jornalões em mentir sobre o que acontecia nos atos do Movimento Passe Livre).
            Uma bancada de entrevistadores comprometida com o Grande Capital, com os principais Meios de Comunicação – Abril, Estado de São Paulo, Folha de São Paulo – e com a notícia de um lado só.
            E um entrevistado de meia pataca, que é “empresário de apresentação de power point” (mas com grande capacidade de eloquência), que se coloca contra a regulação da imprensa (sem sequer conseguir explicar o que é “Liberdade de Imprensa” e o que ele acha da ação do Governo do Estado de São Paulo – PSDB – na TV Cultura) e que mal consegue responder questões sobre a organização financeira do “Vem pra Rua”.
            Longe, mas uma eternidade de “longidão” do que era o “Roda Viva” de muitos anos atrás.
            Mas, o que sempre preocupa nossos Artistas, de nossa lona de circo furada e nosso picadeiro de chá batido não é apenas o que eles destroem (pois para a destruição do Capital sobre os Trabalhadores, sempre há resistência e Luta, sempre existirão os Lutadores e Lutadoras do Povo)... mas, também – e talvez, principalmente – o que estão fazendo renascer e crescer.
            Ao final do que assisti nesta segunda-feira, dia 23 de março, uma única certeza: a imbecilização ganha força, atrai mentes e corações. Aí, o grande perigo.
            Venham Todos!
            Venham Todas!

Marcelo “Russo” Ferreira

PS.: uma matéria interessante: vale a pena:



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