RESPEITÁVEL PÚBLICO!

VENHAM TODOS! VENHAM TODAS!

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Estão vendendo tudo...






            “Seu dotô uma esmola.
            a um pobre que é são.
            ou me mata de vergonha.
            ou vicia um cidadão”
(Gonzaguinha)






Imaginem... não sonhem, apenas imaginem... (os Paraenses, eu sei, irão imaginar na pele). O horário, o dia e coisas assim, pontuais, podem modificar-se na sua imaginação.
Tarde de domingo. Um domingo de sol e que foi “convocando” uma chuva. Em frente de casa, você e seus amigos e amigas, celebrando a vida, a amizade, as lutas e os aprendizados.
A chuva vem, torrencial e deliciosa. Ninguém resiste. “Todos à chuva”, grita o primeiro... “Vamos todos!”, gritam os demais (parece Saltimbancos). E se deliciam sem parar, até a chuva acabar, ou até que venha a próxima.
Mas, de repente, como que denunciados de um crime bárbaro, aproximam-se carros de polícia, a toda velocidade e anunciam, com voz de prisão:
– Vocês estão todos presos por uso de bem privado!
...
Em fins de 1999 e início de 2000, em Cochabamba, Bolívia, a história registrou (mas fez questão de não ir contando pra todo mundo) e a mídia estava ciente (sem comentários sobre seu silêncio) dos acontecimentos mais importantes e significativos da força popular contra a avassaladora vontade de lucros de empresas estrangeiras e que ficaram conhecidos como “A Guerra da Água!”.
Já vimos uma tuia de reportagens falando que chegaremos a um tempo em que as guerras mundo afora não serão por Petróleo (como é no Oriente Médio, mas que também sobre com a falta física de água), mas, sim, por água, esse bem que cerca de 1 bilhão de pessoas mundo afora sequer tem acesso (falo da potável, evidentemente) e quase metade da população mundial não tem sequer para a higiene pessoal (ir ao banheiro, por exemplo).
Mas entre 1999 e 2000, aqui, no país camarada boliviano, esse confronto, nas ruas, aconteceu. E o pior: o Estado boliviano colocou sua polícia para defender os interesses da empresa americana Bechtel que, além de ter um contrato proposto pela Prefeitura de Cochabamba para administrar a água naquela região, fez exatamente o que nosso convite à imaginação acima propôs: privatizou a água das chuvas, de maneira que o Estado Boliviano à época baixou uma Lei taxando de crime o armazenamento de água da chuva... Portanto, o seu uso, até para banhos.
O Povo se revoltou e durante alguns meses resistiu a permanência da Bechtel (que foi expulsa de solo boliviano) e o Estado retomou a administração do serviço de águas do país. Mas isso não significa vitória .



Então vejamos:
Lisboa, Portugal, Europa (aquele continente que está falindo, de país em país): o Ministro de Estado e de Negócios Estrangeiros de Portugal (sacou? Ministro de Negócios Estrangeiros???) confirmou, no último dia 05 de setembro, a privatização da água no país em 2013.., entenda-se, “privatização dos jazigos de água e sua distribuição”.
E o processo de privatização será o estilo Leilão, tão bem conhecido de todos nós: a melhor proposta leva.
Dizem que é para combater a corrupção do serviço público. Mas, cá p’ra nós, quem acha que as empresas interessadas neste filão de ouro que é a privatização das águas não irão maracutear esse leilão, para baixar o preço final (como foi na Vale do Rio Doce, aqui no Brasil) e comprar um bem natural e de uso contínuo por uma pechincha? E as Leis que se seguirão (como tentaram na Bolívia) para garantir os lucros da Empresa vencedora?

Honduras, América Central: o Presidente Porfirio Lobo aprova a privatização de três cidades hondurenhas, co agentes de segurança, sistema tributário e legislação própria, aberta a investimentos (evidentemente, de fora do país). Assim, as administrações destas cidades poderão ratificar tratados internacionais (ou não, como os de Direitos Humanos) e, também, estabelecer sua própria política imigratória.
Em síntese: seus cidadãos (se é que são) passaram a ser clientes ou funcionários. E os funcionários demitidos, para evitar a pobreza dentro da empresa, ops!, quer dizer, dentro da cidade terão que cumprir com a política imigratória. Só não disseram o que acontece se a Empresa, ops! de novo!, a Cidade falir.
Foi preciso até uma modificação na Constituição do País - portanto, a soberania de um povo sendo orientada por interesses privados, como está sendo na Copa e nos Jogos Olímpicos, aqui no Brasil.

Pera Nissi, Agios Nikolaos e Alexandros, Ilhas Gregas / Grécia: o presidente grego, no avançado processo de privatização de empresas e bens de propriedade estatal, sob a pressão de seus credores (privados) internacionais, irão vender suas ilhas. É, as ilhas... Pra pagar dívida.
Águas, Cidades, Ilhas... América Central e Europa (depois de um estágio neoliberal em terras da América do Sul, mas com brava resistência) estão se tornando bens privados. E em um mundo em que a miséria, a pobreza, a fome, a sede, a falta de habitação e trabalho já é profunda.
Nesse caminho, não me parece tão absurdo assim pensarmos em pessoas sendo presas por tomarem banho na chuva, por caminharem na praia, por não poderem buscar emprego (o que pensar de trabalho) em lugares bons para se viver.
Pior... os artistas e publico do Universal Circo Crítico serão presos se insistir em fazer seus espetáculos em dias de chuva. Só porque insistimos em manter nossa lona de circo rasgada. Talvez, por ser goteira, nos bastará serviços comunitários...
Há algum tempo estávamos devendo essa reflexão em nossa Lona de Circo. O que nos motivou a não deixar o tempo passar mais? O dia 14 de novembro...! Falaremos dele...


Venham Todos!
Venham Todas!

A resistência está nos convocando todos os dias... não tardará nossa luta ser retomada com força nas salas de aula, nas praças, nas ruas... como foi 14 de novembro, na Europa... e será por todo mundo!

Só lembrando...: Belo Monte está bem aqui do lado...

Vida Longa!


Marcelo “Russo” Ferreira

2 comentários:

  1. Oi Marcelo,

    Parabéns, como sempre preciso mas mantendo o sentimento de amor por aquilo que escreves!
    Verdades anunciadas que nós com nossos ouvidos "mocos" nos negamos a ouvir!
    Beijos,
    Nêta

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  2. Minha mais que querida Neta, o nosso picadeiro a saúda... Lembre-se que aprendemos com o seu amor aos cavalos nosso amor aos animais que também brincam em nosso Circo. Portanto, o amor que uso para escrever é aquele que, dentre outras coisas que fazes, usas no trato deste belo animal.
    O que negamos ouvir, bem... somos muitos que gritam e continuaremos a gritar. Somente aqueles que não querem ouvir ficaram imunes... aos gritos, não às suas consequencias.
    Venha sempre em nosso Picadeiro.
    Vida Longa
    Abreijos
    Há braços!

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O Universal Circo Crítico abre seu picadeiro e agradece tê-lo/a em nosso público.
Espero que aprecie o espetáculo, livre, popular, revolucionário, brincante...! E grato fico pelo seu comentário...
Ah! Não se esqueça de assinar, ok?
Vida Longa!
Marcelo "Russo" Ferreira