"Constituição
nada, o livro é a bíblia"
(em um adesivo de carro, em Belém)
Que me perdoe (ou não) os cristãos, os mulçumanos e outros inclinados às
questões religiosas para um possível “escorregão” da parte deste espaço
circense.
Sim, iniciamos nosso diálogo já apresentando nossas desculpas. Até porque,
questões de religião ganhou, em nossos tempos atuais, um sonoro “não se
discute” – assim como política e futebol – que, à bem da verdade, vem servindo
muito mais ao emburrecimento de nosso povo do que a sua formação, sua
capacidade de construir um olhar (e não uma mera visão) sobre temas
importantes, ao ponto de naturalizarmo-los de tal maneira que, de tempos em
tempos, eles são profundamente mal-tratados pelos meios de comunicação e,
também, pelo Estado Brasileiro. Algumas vezes, inclusive, conjuntamente
(eleições que tentam pautar temas religiosos ou o esporte que é ou não é neutro
etc.).
Importante sempre lembrar: o Universal Circo Crítico é um espaço amplo e
democrático. E, também, um espaço laico. Afinal, esse apresentador, andarilho e
brincante, sempre aprendiz de Lutador e Lutadora do Povo é ateu, convictamente.
E, para aqueles que não sabiam (não se assustem), o ateu é aquela pessoa que
conduz suas atitudes, posturas e valores independente de ir para o Céu ou o
Inferno quando passar “desta para melhor”. Ou seja, não é nossa vontade de ir
para o Céu ou nosso medo de irmos para o Inferno que conduz nossas posturas e,
sim, são nossos valores, nossa prática como critério de verdade que as conduz.
Pois bom (como diria o saudoso Pantaleão Pereira Peixoto).
Primeiro fato (já está descrito acima,
na nossa epígrafe): A defesa pública de que nossa Constituição não tem mais
valor do que a Bíblia.
Evidente que aqui não pretendo contestar (em que pese o faça) os possíveis
ensinamentos da Bíblia. O farei e o fiz em outros tempos e espaços.
Porém, chama a atenção de que este segmento trava um debate à luz de dizer “às
favas a Constituição”. Consequência disso, dentre outras questões, é a
banalização da violência contra homossexuais (que e também é cometida contra
“migrantes e imigrantes” mundo afora – e Brasil abaixo, como os constantes
casos de violência contra nordestinos em Sampa), que não é diferente à
violência contra a mulher, contra o negro, contra Sem Terra, contra índio,
contra judeus e também contra árabes e por aí vai.
Mas o que importa – e que nos provocou nossa manifestação hoje – é que a coisa
está funcionando... e isso é preocupante.
Em Piracicaba – não se sabe se exatamente dia 31, mas a notícia é desta data –
o Presidente da Câmara Municipal resolveu ler um trecho da Bíblia. Tá, até aí,
tudo bem. Se o Estado é laico (e é), de certa maneira há um (ainda que dúbio)
direito da manifestação religiosa em seus espaços.
Esse Presidente solicita a todos os presentes que fiquem de pé para tal ato, a
leitura da Bíblia... Ok, tá, tudo bem de novo... em que pese a imagem do vídeo
tornado público mostrar o dito presidente... sentado!
Mas o absurdo vem no momento em que um funcionário do Ministério Público, um
cidadão, que assistia à sessão da Câmara Municipal (portanto, em seu pleno
direito) não fica de pé.
Bom, esse não é o absurdo, p’ra falar a
verdade. O absurdo vem na fala do Presidente da Câmara, ao perceber que esse
funcionário do Ministério Público usava de seu direito (ainda que não
entendesse, o tal presidente, desta maneira) de continuar sentado em um local
público, do Estado brasileiro e, portanto, laico.
Eis a postura desse Presidente:
– Peço à segurança que se o cidadão
quiser sair, hã, não quiser se colocar de pé, peça para retirá-lo.
E ele é retirado à força (em que pese
não ter resistido muito) de um espaço público, porque o Presidente da Mesa quis
que todos ficassem de pé para ele (sentado) lesse a Bíblia.
Segundo fato: concomitante ao fato, um
outro cidadão presente à mesma plenária é questionado por estar filmando o
acontecimento, sendo inclusive ameaçado, desveladamente (“Qual é o seu nome?”) por um vereador da casa, por estar usando de
seu direito público em um espaço público.
No dia 31 de outubro, quando vi a
notícia, não encontrava muitas imagens e vídeos sobre o caso. Hoje, após
recuperar meu computador, encontrei coisas interessantes sobre o entorno destes
atos, por exemplo, os munícipes de Piracicaba serem proibidos, do local que
lhes é permitido ficar (e que toda Câmara ou Assembléia tem) E POR NORMA DA
CASA, de fotografar ou filmar as sessões. Incrível...
Por vezes, sinceramente, nós ficamos
sem saber muito bem o que dizer, e não porque não temos argumentos e/ou
convicção de nosso ponto de vista. Mas justamente pelo seu contrário.
Parece-nos tão óbvio que a Casa Pública
da Câmara Municipal de Piracicaba não tem o direito de expulsar qualquer
cidadão que não é contemporâneo de manifestação religiosa A ou B, assim como o
pleno direito de participar de uma Plenária munido de máquina fotográfica ou
filmadora, que ao depararmo-nos com um caso que fere, violentamente (inclusive
com o uso da força policial), esses direitos, realmente nos perguntamos: isso
vai virar moda?... talvez Lei?...
Que possamos exigir IN-CON-DI-CI-O-NAL-MEN-TE
a liberdade religiosa em nosso país (e mundo afora) e, mais ainda, que não
aceitemos a hipocrisia da nossa imprensa e elite burguesa brasileira que
defende a tal Liberdade de Imprensa, desde que apenas a liberdade deles.
A democracia corre perigo. Já falamos
sobre isso inúmeras vezes em nosso picadeiro (http://ouniversalcircocritico.blogspot.com.br/2012/04/como-construir-ditaduras.html)
e mais uma vez convocamos nossos artistas e público (de toda e qualquer
manifestação religiosa, de todos os credos, de todas as raças, mulheres,
negros, sem terra, sem casa, sem nação): Lutemos! Pois se não o fizermos,
ditaduras serão construídas.
Venham Todos!
Venham Todas!
Vida Longa!
Marcelo “Russo” Ferreira
PS.: ao final do vídeo, finalmente o
tal vereador (sempre sentado, que piada) lê o “Salmo 41, versículos 1 ao 3” que
fala sobre os bem-aventurados que cuidam dos pobres... apenas registrando: o
Ateu também “cuida de pobre”... mas isso é outra história...
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O Universal Circo Crítico abre seu picadeiro e agradece tê-lo/a em nosso público.
Espero que aprecie o espetáculo, livre, popular, revolucionário, brincante...! E grato fico pelo seu comentário...
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Vida Longa!
Marcelo "Russo" Ferreira