“O trabalho enobrece o homem”
(Max Weber)
... é?
Foi
realmente incrível.
Ronaldo
(o que chamam de Fenômeno – tá! jogava um bocado!) e Bebeto dizendo que estavam
se doando, doando o seu tempo em pleno lançamento do Programa de Inscrição de
Voluntários do Mundial de 2014 (mas que também envolve a Copa das
Confederações).
Um
espetáculo a parte no lançamento do Programa, na Bahia. Dentre ilustres
presentes, o governador da Bahia, Jaques Vagner, que apertou o cerco contra
Professores do Estado durante os mais de cem dias de greve. Usou o recurso mais
escuso, e que, enquanto estratégia de conflito e confronto, compara-se à
tortura (ele foi perseguido na Ditadura Militar). A tortura serve, dentre
outros, para com o uso da força, tirar o que sequer de sua vítima. Inclusive fazê-lo
desistir de resistir e aceitar o que o seu opressor lhe propõe (“fale onde
estão seus amigos e lhe dou proteção!”). Os professores baianos foram ao
limite, até não agüentarem mais... uma tortura.
Sobre o
lançamento do tal programa, lamentamos mesmo, duas coisas pontuais: a
divulgação superficial, sem reflexões, sem até a mera manifestação de dúvida
sobre o custo benefício de ser voluntário em um evento cujo protagonista principal
(a FIFA) lucrou, em 2011, 68 milhões de dólares. Segundo, a dificuldade de
encontrar na mídia tupiniquim e na rede (artigos, blogs etc.) reflexões mais
sérias. Até mesmo o site da UNE (ah! Que saudade da UNE lutadora!) apóia, divulga
e nada traz de posicionamento sobre esse programa.
Assim que
tornou-se público, iniciamos essa escrita. Como nosso picadeiro, nossa lona não
é tão assim cheia de tecnologias, não deu nem tempo de comentarmos esse
degradante espetáculo que os Megaeventos esportivos (a Copa, aqui) já vem
despertando em nossos artistas e publico. No mesmo dia que se iniciou a
inscrição, o site interrompeu, pois as inscrições foram numerosas. Ou seja, a
FIFA, o Comitê da Copa (presidida pelo voluntário Ronaldo), a CBF já atingiram
seu objetivo: já tem mão de obra suficiente para manter os lucros.
Mas um
terceiro lamento é mais gritante: o Estado Brasileiro (Governo Federal,
Ministérios do Esporte e do Trabalho) aceitarem isso... Mas, como aceitaram? A-ha!
Lei Geral da Copa.
Seria
interessante que a Copa antecipasse a convocação de voluntários:
– Quem quer ser voluntário nas desapropriações?????
– Quem quer ser voluntário nas intimações às
famílias que terão que deixar suas casas para facilitarmos o acesso aos
Estádios?????
Mas, o mais,
de verdade, inquietante é o blá-blá-blá arrogante da FIFA, Comitê Organizador,
CPF etc. de acreditar que é a Copa de 2014 que ensinará ao Brasil o que é ser
voluntário, a tal “cultura do voluntariado”. Como se não tivéssemos (incluindo,
aí, os bem-intencionados, tá?) trabalhadores, estudantes, militantes de Movimentos
Sociais que já não agem sem pensar em lucros para si o tempo todo.
Mas, apesar
da mão-de-obra gratuita já estar garantida para a Copa das Confederações e Copa
do Mundo 2014 (certamente, para os Jogos Olímpicos de 2016), ainda assim,
ousamos afirmar: ser voluntário na Copa é aceitar o aprofundamento da
legitimação do trabalho escravo, aqui e acolá (tivemos um acolá recente, na
África do Sul, última sede da Copa e que amargou uma dívida ao país – e a seu
povo – de 1,2 bilhão de dólares).
O Voluntário
da Copa, à bem da verdade, não se compara ao trabalhador que vende sua força de
trabalho em troca de um salário aviltante mas que sustenta sua casa, sua
família, seus filhos. As condições impostas pela FIFA para qualquer cidadão voluntariar-se
é: (i) pague seus deslocamentos até os locais de entrevista/seleção, treinamento
e trabalho (só o deslocamento no local de trabalho será garantido); (ii) se
responsabilize pela estadia no local de trabalho e; (iii) aceite a
possibilidade de trabalhar mais de 10 horas por dia (mesmo que por 20 dias,
pelo menos).
Nas fazendas
do Maranhão e sul do Pará, os trabalhadores recrutados para de deslocarem de
suas famílias, comunidades atrás de emprego, são obrigados a pagar pelo deslocamento
(trem, ônibus, caminhão).
Nas fazendas
do Maranhão e sul do Pará, a manutenção da estadia também é custeada pelo
trabalhador (que pagam valores exorbitantes, como será exorbitante o custo de
vida nas cidades sedes da Copa) – tá, os voluntários da Copa terão o lanche.
Nas fazendas
do Maranhão e sul do Pará, quem decide o turno de trabalho diário é quem
contrata, não o trabalhador.
Mas,
reconhecemos: o Brasil não inventou isso... o único “mais ou menos” alento!
Sabemos que
é ousadia, e talvez nem tenhamos tanto eco assim em nossas reflexões... Mas que
faz sentido, faz.
Voluntário
na Copa é escravo de luxo. E a “cultura do voluntariado” que querem estimular
no nosso país é a naturalização da exploração altruísta alheia.
E cabe mais
reflexão.
Todos e
Todas!
Não vão à
Copa!
Não vão aos
Jogos Olímpicos!
Venham
Todos!
Venham Todas!
Vida Longa!
Marcelo “Russo”
Ferreira
É uma escravidão de luxo, como você coloca, Marcelo Russo... a FIFA joga com a vontade das pessoas em se realizarem subjetivamente fazendo parte de algo "grande", talvez porque falte sentido em suas vidas pessoais, sugadas que estão de sentido existencial como indivíduos consumidores inseridos nos mecanismos alienantes da indústria cultural...
ResponderExcluirÉ camarada e xará Marcelo.
ResponderExcluirDo ponto de vista de humanidade, solidariedade verdadeira, que é o que acreditamos, falta muito sentido na vida dessas pessoas...
MAs em mundo, em um Projeto Histórico que produz, dentre outros, justamente coisas, fenômenos, sentimentos sem sentido, o enfrentamento vai além de simplesmente lançar uma campanha "não voluntarize-se", não concorda?
Valeu a visita, camarada
Vida Longa!
Abraços
Há braços!