Aqui é o local onde o picadeiro tem realidade e fantasia. Os artistas são personagens e pessoas reais. A música perpassa nossa história e nosso povo. É onde sempre nos encontramos... Vida Longa!
RESPEITÁVEL PÚBLICO!
domingo, 8 de novembro de 2009
Conversas ao pé de ouvido de Rudá...
quinta-feira, 5 de novembro de 2009
domingo, 1 de novembro de 2009
Silêncio...

“Tô vendo tudo, tô vendo tudo
Mas fico calado,
faz de conta que sou mudo”
Meu País
(Orlando Tejo / Gilvan Chaves / Livardo Alves)
Silêncio... “estado de quem se cala / privação de falar / taciturnidade (arte de falar pouco)”, segundo o Aurélio... Assim passou o Universal Circo Crítico nas últimas semanas.
Não foi falta de assunto, como diria Oswaldo Montenegro em “Mudar Dói!” (mas não mudar dói muito). Foi apenas silêncio. Penso que, de um jeito ou de outro, mais ou menos (tempo absolutamente relativo em se tratando de silêncio), sozinho ou não, todos tem seus momentos de silêncio. Tive o meu.
Mas, ainda assim, e inspirado na voz de Zé Ramalho, na real, concreta e bela “Meu País”, meu silêncio, e consequentemente o silêncio do Universal Circo Crítico foi apenas de palavras ditas. Mas, sempre vendo tudo, fazendo de conta que somos mudos... mas. também somos mundo.
O silêncio recebeu Mariana no último dia 13 de outubro, a pequena já lutadora do povo, sobrinha de nosso grande Bruno (Brunão), nosso capoeirista humanizador e também lutador do povo que hoje se encontra lá pelas bandas de SC. Nossa pequena Mariana chegou entre nós com muita luta e assim seguirá sua vida, cercada de pessoas que a amam.
Nasceu também Rudá, mais um filho de lutadores do povo (Janine e Antônio) e que chegou com a melhor expressão daquilo que os une, pais e filho: a luta com amor! Em 03 de outubro, chegou Rudá, deus do Amor! Aliás, que dia especial para chegar o pequeno Rudá, vocês nem imaginam...
O silêncio também desvendou a ciência, a docência, a pesquisa... Ah! desvendou também seus olhares. Diferentes, divergentes, antagônicos olhares. E nós continuamos a defender que nem a ciência, nem a docência, nem a pesquisa e todas as ações e reações correlatas, direta ou indiretamente, não neutras. Ainda que digam que sejam neutros pesquisando, nunca o serão. E, ainda que não na sua superação de fronteiras, desvendou-se a ciência (e falo, neste momento, da Universidade Pública e das Entidades Científicas da Educação Física, onde circulo), comprometida com a manutenção do estado da arte de produtores (homens e mulheres) e seus produtos (resultado de seu trabalho) e continuaremos, infelizmente, testemunhando aqueles que formarão homens e mulheres para a subserviência. Eu não farei parte deste grupo.
O silêncio também angustiou. A América Latina, nossos “hermanos” continuam a nos dar lições de democracia e respeito à sua história. Bolívia, Argentina, Paraguai e, mais recentemente, o Uruguai vem abrindo seus podres porões da ditadura, os financiamentos dos EUA (e ainda mantém a Escola de Formação Militar que baseou a formação dos ditadores latinos), a prisão e condenação dos assassinos e torturadores. Nada disso mexeu um centímetro, uma grama, um mililitro sequer da paz e serenidade de seus estados, e o Estado Brasileiro continua guardando os cofres da ditadura a sete chaves. Na única (pseudo)demonstração de ir à fundo das atrocidades daqueles anos de chumbo (a busca de covas no Araguaia), é justamente as Forças Armadas que estão à frente. A soberania do povo brasileiro se fortaleceria imensuravelmente a partir do momento em que ela dominasse sua história... presente, passada e futura.
O silêncio me fez, mais uma vez, enojar diante de nossa mídia e de nosso jornalismo. Por que 7 mil pés de laranja, se foram 3 mil pés...? E eu não disse “só” 3 mil pés. Mas, porque aumentar? Aliás, 0,25% do total de pés de laranja da Cutrale. E por que assentir à farsa dos equipamentos danificados, se foram todos retirados da oficina da própria Cutrale e espalhados pelo pátio para dar a dimensão de dano provocado pelos Sem Terra? O tal do jeitinho brasileiro para recuperar a oficina, repleta de sucata, ás custas dos Movimentos Sociais ou, em última instância, do Estado? Por que não explicar, na notícia, o que significa 1,2 milhões de pés de laranja? Como assim “produtivo”, se é produção para exportação, apenas? Esse silêncio midiático não é justo, não é honesto e não é ético... Mas um Estado que permite que apenas seis grupos controlam toda a comunicação de um país, nada mais respondido.
Durante meu silêncio, minhas pequenas potiguares primas atletas ganharam medalhas. Illaninha pegou um bronze em Ginástica de Solo em Recife e Dinahzinha ganhou ouro e prata nos Estados Unidos (um tal de “Disney Martial Arts Festival” – nome repleto de contradições), em uma competição de Kung Fu. E, claro, as reflexões referentes a Rio 2016 (Olimpíadas ou Jogos Olímpicos?), que já fazem parte de minhas reflexões científicas, acadêmicas, docentes e políticas, passaram a compor as minhas reflexões familiares.
Durante o silêncio, prevaleceu o preceito de Orlando Tejo, Gilvan Chaves e Livardo Alves, em “meu país” que só uma voz de um cabra como Zé Ramalho pra gravá-la e publicizá-la, em detrimento do lixo artístico-musical que constantemente é lançado em nossos ouvidos.
“Um país que perdeu a identidade / Sepultou o idioma português / Aprendeu a falar pornofonês / Aderindo a global vulgaridade / Um país que não tem capacidade /
De saber o que pensa e o que diz / E não pode esconder a cicatriz / De um povo de bem, que vive mal / Pode ser o país do carnaval / Mas não é com certeza o meu país (...) Um país que dizima sua flora / Festejando o avanço do deserto / Pois não salva o riacho descoberto / Que no leito precário estertora / Um país que cantou e hoje chora /
Pelo bico do último concriz / Que florestas destrói pela raiz / E o grileiro de porre entrega o chão / Pode ser que ainda seja uma nação / Mas não é com certeza o meu país”
Tô vendo tudo...
Venham Todos!
Venham Todas!
Vida Longa!
Marcelo “Russo” Ferreira
segunda-feira, 5 de outubro de 2009
A Argentina chora...
El arco de las alianzas ha penetrado en mi nido(O arco das alianças penetrou no meu ninho) /
Con todo su colorido se ha paseado por mis venas(Com todo seu colorido passeou por minhas veias) /
Y hasta la dura cadena con que nos ata el destino(E até a dura corrente que ata nossos destinos) /
Es como un diamante fino que alumbra mi alma serena.
(É como um diamante valioso que ilumina minha alma serena)"
(Violeta Parra)
Esta data ficará na alma e na memória do povo latino-americano, assim como tantas outras datas que, na história deste povo ímpar na luta mundial por justiça e paz, se fizeram presentes de maneira permanente e eterna.
Neste 04 de outubro, nossos hermanos latinos, o povo argentino, homens e mulheres de um país sempre cantado e decantado em terras brasilis, sobretudo na mídia esportiva e política, por seu futebol rivalmente estabelecido em nosso país e pelas constantes perseguições burguesas e conservadoras de nossos analistas políticos.
Há tempos aprendi a descartar profundamente essa relação absurda que temos com nossos/as companheiros/as e camaradas latinos/as, numa explícita postura fazer com que o Brasil “dê às costas” à América Latina. À bem da verdade, postura pseudo-soberana aprofundada pelo sociólogo-presidente que, sem memória, pedia que não o lembrassem de suas outras vidas.
De certa maneira, aprendi a ver o povo argentino, paraguaio, uruguaio, boliviano, venezuelano, equatoriano, peruano, chileno para além do que aquela “caixinha de fazer doido” (como se referia mainha à televisão) nos ensinou, ou pelo menos assim tentou. Aprendi isso principalmente com minha relação de aprendiz e ensinante com o MST e, também, escutando Mercedes Sosa.
A Argentina chora e precisamos aprender com o choro deste povo o real significado de sua história e de sua voz. Assim como devemos aprender a não esconder nossa história debaixo de tapetes morais de taberna. Assim nos ensinou a Argentina, como também o Chile. Essa lição, o Brasil, com sua grandiosidade, não conseguiu aprender.
A Argentina chora a perda de sua voz mais bela, mais real, mais profunda. Deixa-nos Mercedes Sosa, deixa-nos sua bela voz, fica, para nós, a sempre bandeira do povo latino: somos um só, latino, povo latino.
A voz de Mercedes Sosa, em que pese nossa pífia indústria cultural (permitam-me a redundância) ocupa a história dos lutadores brasileiros, numa justa identificação deste com o sangue da América Latina. A despeito do lixo cultural que entra em nossos lares cotidianamente, essa fantástica mulher cantou versos de Violeta Parra (compositora chilena sempre comprometida com o povo sofrido de seu país), Silvio Rodrigues, Joan Baez (que cantou melhor do que ninguém “Don’t Cry for me Argentina!”), Lion Gieco, além de nossos grandes nomes brasileiros, como Chico Buarque e Milton Nascimento.
O Universal Circo Crítico presta sua pequena homenagem a voz dos peregrinos, à voz dos pobres, à voz dos lutadores e lutadoras do povo.
Gracias a La Vida!
Gracias à Mercedes Sosa!
“Só peço a Deus /que a dor não me seja indiferente/ que a seca morte não me encontre / vazia e só sem ter feito o suficiente.
Só peço a Deus / que o injusto não me seja indiferente / que não me esbofeteiem a outra bochecha /Depois que uma garra me arranhou essa sorte
Só peço a Deus / que a guerra não me seja indiferente / É um monstro grande e esmaga / Toda pobre inocência da gente
Só peço a Deus / que o engano não me seja indiferente / Se um traidor pode mais que uns quantos, / que esses não esqueçam facilmente
Só peço a Deus /que o futuro não me seja indiferente, / Desiludido está o que tem que marchar / para viver uma cultura diferente”.
Venham Todas!
Vida Longa à Mercedes!
Vida Longa!
terça-feira, 22 de setembro de 2009
Lições de um tempo que já passou... Um dia de aniversário...
Envelheço na cidade”
(Ira)
São realmente inúmeras as passagens que temos em nossa memória, principalmente quando nos aproximamos ou já adentramos aos novos caminhos daquilo que coloquialmente convencionou-se a ser apelidado como “os entas” (40, 50, 60...). Aliás, foi assim que inaugurei a seção de “Lições de um tempo que já passou”, neste Circo. Inaugura-o falando de uma passagem vivida em idos 3 anos de idade, o pequeno “palhacinho”. O interessante daquela passagem foi a manifestações de amigos ao longo da vida, dizendo que conheciam aquela Rua, aquela “vilinha”... Se o mundo é pequeno, imaginem a Vilinha...
Pelo terceiro ano seguido, passo um 22 de setembro por essas bandas virtuais (a primeira celebração brogueira de meu aniversário foi, na verdade, no saudoso ArcaMundo) e acabei, hoje, por ficar recordando, logo quando estava acordando, as histórias de meus 22’s de setembro’s, talvez não os 40 (não tenho a mínima idéia do que aconteceu no meus primeiros três aniversários, apenas a impressão de que algumas cenas que ficaram em minha memória diziam respeito a eles), mas uma parte significativa deles: criança, adolescente, jovem, adulto... alguns com uma energia palpitando imensuravelmente, outros desafiando-me insistentemente.
Passei alguns aniversários em silêncio. Coisas da vida, a internet ainda não fazia parte de nosso cotidiano; Orkut, então, nem pensar!!!
Particularmente, recordo de um 22 de setembro de lições, mais do que de festa (festa, tipo festa mesmo). Lições que puderam ser celebradas por dias antes e dias depois daquele 22 de setembro, razoavelmente recente.
Passei, em um determinada época de meus ares pernambucanos, um período um tanto quanto recluso. Acho, sinceramente, que todos merecem seus períodos de recluso, e merecem, também, tê-lo no tempo e espaço que acharem necessário. Foi, à bem da verdade, um período interessantemente produtivo, nas minha viagens científicas e musicais, amadurecendo meu trabalho docente (Ah! Que saudades do Projeto Nossa Escola!), a minha luta e seus devidos e necessários aprendizados. Enfim, uma reclusão que não se tratou propriamente de sumir do mapa, mas de algumas coisas e pessoas importantes não estarem tão próximas, mais por meu protagonismo.
Era ainda a virada do ano (ou seja, nove meses antes deste particular 22 de setembro) e estávamos celebrando mais um Natal, mais um aniversário do querido Ardigam “Bucho de Zebra” (como meus amigos da época do Movimento Estudantil chamavam painho), e a vinda de parentes do Rio de Janeiro para aqueles dias. O particular daquele ano? O difícil caminho de reaproximação, após alguns anos de silêncio recíproco. Meses depois, em um final de semana de agosto, em um Dia dos Pais, um livro de presente e, finalmente, o 22 de setembro.
Um dia de certa tranqüilidade, aulas no mestrado, dia de estudos e uma passada na casa de (já reaproximado) painho e Glauce, pois esta havia dito “venha almoçar aqui em casa hoje, visse?”.
Por lá, naquele jeito único, característico de painho, um livro: Chatô! O Feliz Aniversário expresso mais do que na obra literária, expresso mais do que no presentear, ato contínuo e contraditório de consumo e do compartilhar. O Feliz Aniversário em todos os seus pequenos atos, que implicava em dizer, sem pronunciar necessariamente essas palavras, “estamos bem e felizes de novo!”. Palavras nunca ditas, mas eternamente expressadas.
... e ainda não cortei o cabelo, a única coisa que ele queria...
Venham Todos!
Venham Todas!
Vida Longa!
Marcelo “Russo” Ferreira
P.S.: Hoje é aniversário de minha jovem irmã, filha de Glauce. Exatos 10 anos de diferença. Ela está em Angola, longe, longe... Feliz Aniversário, Silvinha.
terça-feira, 8 de setembro de 2009
Carta a um amigo - Belém, 08 de setembro de 2009
Se não lhe faço uma visita...”
(Chico Buarque).
Olá, velho/a amigo/a
Como sempre, espero que esta que agora chega em suas mãos o/a encontre em paz e harmonia, sem nunca perder, claro, a indignação e a esperança, par necessário à vida e à luta por um mundo melhor.
Da última vez que te escrevi, pedia-lhe “desculpas” por tanto tempo sumido. E cá estou de novo, sete meses depois, tendo que pedir-lhe, num tom mais “nordestes” que releve essa nova demora. Os caminhos foram muitos, o trabalho também... Mas nada que concretamente justifique essa ausência. Foi “farrapage”, reconheço... Mas minha memória e carinho por nossa amizade, ah! essa nunca farrapa (percebeste como estou mais para Pernambuco do que para o Pará... mas continuo, firme, forte e feliz por essas terras nortistas).
Da última vez que escrevi para ti, falava que as coisas estavam se ajeitando, mas prometia comentar mais sobre o assunto em uma próxima carta. É, parece-me que, mesmo distante, essa é a “uma próxima carta”.
Os amigos da terra, de lutas candangas, estão se fortalecendo cada vez mais. Organizando-nos em Movimentos Sociais (caso do Movimento Nacional Contra a Regulamentação do Profissional de Educação Física – MNCR, não sei se já comentei isso contigo) ou sempre nos aproximando de outros históricos Movimentos, como o MST (que, aqui no Pará, ainda que não seja exceção país afora, enfrenta só barra pesada), construindo trabalhos com os nossos alunos na Universidade. Já nos “inxirimos” até em organizar um Seminário Interativo, dá pra tu? Neste próximo semestre tem mais.
Que mais? Música, ainda que não esteja compondo, voltou a “compor” (sacou? Compondo, compor... rss) a minha vida. Mais violão, mais música em casa, e uma parada maneira com um grande amigo, um trabalho acústico, bacaninha. Em breve, estaremos fazendo sucesso, espere só p’ra ver. É como Saltimbancos: já estão o Jumento e o Cachorro, só faltam a Galinha e a Gata. “Dórme a cidade / Résta um coração / Misterioso / Fáz-se uma ilusão...”
A minha casa está se arrumando também. Espero, mas espero mesmo, dar de presente à Kaia, Hércules e à mandona – com eles – da Janis Joplin mais um espaço por aqui. Já coloquei um muro na frente de casa, prontinho para receber um portão. Quando isso acontecer, a molecada – meus cães, assim os chamo – poderá ficar mais pela garagem, que, cá p’ra nós, por minha casa ser nascente, é bem mais fresco durante o dia. Depois, com calma, a cozinha, o quarto novo, a transferência do meu escritório para o quarto velho, a ampliação da garagem – mais espaço para a molecada – o quintal com grama, piso no lugar do cimento... Acho até que pode demorar um pouquinho. Mas quem é que está com pressa? Oxi! É meu lado baiano rss.
Na Universidade, as coisas também vão acontecendo, no ritmo e, já era hora, no enfrentamento conceitual necessário. Diga-me, caro/a amigo/a: o que pensas sobre a ciência? Essas semanas que se passaram, em uma lista de discussão que participo na internet (uma sala de bate-papo “sem” tempo real, vamos dizer), um professor daqui destas bandas poetizava “A ‘ciência é neutra’! Isso é papo furado!”. Se puderes visitar, acho que vais gostar do que ele escreveu: http://www.mncrbelem.blogspot.com/. Também andamos debatendo isso dentro da sala de aula, principalmente na disciplina à qual sou titular (Prática de Ensino). Mas, diz aí. O que pensas sobre a ciência?
Ah! Mas teve uma coisa bacana, tu vais até estranhar, mas é da contradição e da dialética mesmo. Estou com uma dupla de orientação de Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) – são seis orientações, 01 co-orientação e umas “ajudinha aí, professor!” a mais – que me colocou numa prova de fogo instigante. Ela (a dupla) diverge de minha base conceitual e a orientação continuou mesmo assim. Por que é bacana? Oras, porque estou fortalecendo a minha defesa de “capacidade de autonomia intelectual” com meus alunos, sobre o que estudam, o que escrevem, contra o que escrevem e isso é fan-tás-ti-co! na formação de jovens universitários, sempre acostumados a receberem os conteúdos como verdades-verdadeiras, imutáveis e inquestionáveis. E, agora, fortalece-se essa capacidade de discordar e, mais ainda, de argumentar teoricamente com seu próprio ponto de vista. Tá certo, tenho uma “perda” do ponto de vista conceitual, mas é assim mesmo, vou aprimorando minha capacidade de argumentação e convencimento, também. Mas, ainda assim, inigualável alegria de provar a meus alunos, por eles mesmoa, que sim, eles podem ser... ser... égua! Ser donos de seu pensamento! Isso é revolucionário, não acha?
Mas me conte: soltaste sua vontade em escrever muitas coisas, sem parar? E as sementes que disseste que levaste do Fórum Social Mundial, estão crescendo? Lembro que comentaste também, na resposta da minha última carta, que irias montar um blog. “A soma das coisas”, se não me engano. E então? Como está esta conta? E a poesia de luta? A indignação poética? Conte-me tudo, ok? Demorei para responder-te, mas não a tempo e velocidade para nossa amizade.
No mais, caro amigo/a: Hércules, Kaia e Janis Joplin vão bem, e o muro subiu um pouquinho. Bom para eles e para os vizinhos, que viviam levando susto, principalmente do Hércules.
Continuo cantando, brincando, lutando (que a luta é necessária) e acreditando, como sempre.
Espero vê-lo/a em breve. Ando com saudades de vocês.
Forte abraço
Marcelo “Russo” Ferreira
P.S.: isso é apenas uma carta. Ajuda para retomar o espaço do Universal Circo Crítico, mas não é, acredito, algo que valha a pena ser plagiado.
Deu na Carta Capital... Anos de Chumbo...
Vire e volta, o tema toma corpo.
Venham Todas!
quinta-feira, 27 de agosto de 2009
Deu no Le Monde...
Jean-Pierre Langellier
No Rio de Janeiro.
Os anos de chumbo (1964-1985), em que reinou a ditadura militar, estão sendo lembrados pelos brasileiros graças ao 30º aniversário de um acontecimento que anunciou o retorno progressivo da democracia: a votação, em agosto de 1979, da Lei da Anistia.
terça-feira, 18 de agosto de 2009
Deu na Carta Capital... Violência e indignação...
“(...) Esses dias de luto e violência têm me levado a refletir mais sobre a favela. Por mais que a violência tenha crescido juntamente com as favelas, elas sempre tentaram manter o que têm de mais valor: a alegria e a força do seu povo. Mas só isso não basta.
Precisamos sair às ruas. Precisamos lutar por dignidade, por respeito, pela vida.
Ultimamente só vejo medo nos olhos das pessoas. Nem mesmo o baile funk tão necessário para descarregar nossas angústias e depressões existe mais. Está proibido pela polícia. Chegaram ao ponto de proibir sua execução em festa domiciliar, nas favelas é claro. É repressão demais! Tenho andado assustado, quase não paro na rua, não vejo meus amigos, me assusto com criança correndo, barulho de moto, gente gritando, com o silêncio. Silêncio esse que diz muito, muita coisa p'ra quem tem sensibilidade. Esperamos pelo dia em que a favela será reconhecida como espaço constituinte de nossa cidade. O Complexo de Favelas da Maré nem sempre foi assim e, por isso, acredito na volta da paz e com ela, a possibilidade de construirmos uma cidade una (...)” (p. 24-25).
Por Francisco Marcelo da Silva – pesquisador do Observatório de Favelas do RJ e morador do Complexo de Favelas da Maré
(Revista Carta Capital, 19 de agosto de 2009 – Ano XV – nº 559)
Um texto sensível e digno. Me remete ao pensamento que sempre (mais um dia, nem tanto outro) me guia: Para se ter esperança, há de indignar-se.
Há de indignar-se com o silêncio de um Estado que insiste em silenciar-se ante a violência do próprio Estado que, por vezes, mata jovens cinematograficamente, assim como o fez nos porões da ditadura.
Há de indignar-se com a violência silenciosa (não tanto assim) de nossa mídia nativa, que auto enfrenta-se a partir de suas Redes com pseudo bandeiras religiosas ao fundo (sempre usadas inescrupulosamente), e com o dinheiro do povo em seu patrimônio, roubando-lhes com promessas que não podem ser prometidas ou com impostos que nunca são revertidos ao bem estar da população.
Há de indignar-se com o silêncio desta mesma mídia ante a golpes de Estado mundo afora, ou com a completude da notícia. Exemplo disso (não percebemos?) é o lixo inglês enviado ao Brasil e devolvido à terra pátria... O Lixo Britânico não cabe mais na África, continente onde, em kg's, foi enviado dois séculos de lixo, pobreza, doença e miséria.
Há de indignar-se com o cada vez mais intenso avanço do latifúndio, que arrasa sistematicamente com a vida deste planeta.
Mas há de indignar-se com a mistura permanente da esperança em nossos corações. A indignação move-nos à luta permanente, e essa será mantida com força e também com alegria. Bem como dizia Makarenko aos seus 300 adolescentes e jovens da Colônia Gorki, à 90 anos atrás: “Eles vão à luta... Que fantástico quando se descobre que pode lutar por alguma coisa”.
Venham Todos!
Venham Todas!
Vida Longa!
Marcelo "Russo" Ferreira
Carta aos estudantes...
“Esse livro é diferente. Quem o ler sem se sentir abalado, comovido e revoltado, por certo perdeu a alma (…). Esse livro é feito de vozes do mundo, vozes que clamam por dignidade, paz e justiça. A quem ficar insensível a essas vozes, peço que chore por si” (Boaventura de Souza Santos – no prefácio do livro Alto de Resistência*).
Meus caros alunos, estudantes daqui e de longe, de hoje e de tempos passados.
Saudações.
Por aqui, nas bandas do Pará, estamos p'ra começar mais um ano letivo, particularmente, com meus alunos da Universidade Federal do Pará – Campus de Castanhal.
Mas, enquanto “planejava” essas palavras, pensei que poderia escrevê-las, também, a alunos que já tive e, já no ápice de minha ousadia, a alunos que não tenho mas, por ventura e caminhos que seguem, passem em frente a essas palavras.
Nos últimos tempos, venho observando a juventude.
A juventude que me encontro semanalmente durante os semestre letivos que regem (não apenas ele) a minha vida profissional.
A juventude que aparece nos comerciais de TV, falando do que esperam da Faculdade onde estão matriculados, sorrindo falando que serão os melhores, que enfrentarão o mercado de trabalho, que passarão por cima dos obstáculos (objetos ou pessoas?) para vencer na vida.
A juventude que, pelo meu capricho de um mês de férias, entre leituras, passeio com os cachorros e tarefas domésticas, assistia nos programas “teens” de rua e de estúdio da MTV e, como num discurso que se basta, escuto um atrás do outro “Ah! Meu!”.
Venho realmente pensando na juventude, no que enfrentam (veja o artigo “Deu na Carta Capital...” desta semana), no que experimentam, no que esperam, no que buscam e fico me perguntando: a juventude perdeu a esperança?
Por que não consigo identificar nos jovens com os quais convivo mais cotidianamente, aquilo que leio embebecido nos livros de Makarenko, Ostrovski e Paco Ignácio Taibó II? O Jovem aguerrido, lutador, vibrante?
Penso, realmente, que não os encontro nos locais por onde ando, nos programas que assisto, só isso... Porque sei que eles existem, sei que estão por aí, mundo afora, na Via Campesina, no Exército Zapatista de Libertação Nacional e nas Ruas da Palestina, enfrentando canhões com pedras.
E é pela certeza deles existirem (porque também já os conheci, já convivi com eles e estou, novamente, em terras novas sob meus pés, reencontrando-os) que resolvi falar a vocês neste início de semestre letivo. Não são exemplos, não são orientações. São possibilidades, construídas pelas lições daqueles jovens, as que aprendi.
Aqueles que lutam, sabem não apenas pelo que lutam, mas, também, sabem que podem lutar. Para tanto, estabelecem, mesmo que ainda semi-letrados, uma outra relação com as letras, com os livros, com aquilo tudo que leem, por vontade ou por obrigação. Aprenderam rápido a lição de Paulo Freire, quando nos ensinava que o livro nunca está terminado. É quando o lemos que ele se aproxima de seu último capítulo e bibliografia. É quando dialogamos com ele.
Aqueles que lutam também nos ensinam que nenhum conhecimento e/ou ensinamento é tão absoluto em si que não pode ser contradito, que não possa ter em sua essência, o contraditório. E, para tanto, esse contraditório só será exposto se também nos expormos. Não precisamos da palavra, da autorização de nossos mestres e doutores para que possamos “questionar o conhecimento”, e nem precisamos dos mesmos títulos. Foi isso que durante séculos tentaram ensinar aos camponeses iletrados deste país, às lavadeiras, aos escravos-livres em seus quilombos, aos bóias-frias, às mulheres, aos faxineiros, aos garis. Sempre tentaram lhes dizer que se não tinham tanto estudo e letramento, tinham que “aceitar a vida como ela é”... satânica ignorância.
Aqueles que lutam também nos ensinam o principal, ainda que não único ensinamento: nada do que está em nossa frente, em nossa volta, está acabado. Acabado no sentido de concluído, não há mais o que modificar, mudar, transformar. Não, meus caros, nada é acabado. Porém, para compreender o que pode ser transformado/a, precisamos conhecê-lo/a e quanto mais o/a conhecemos, mais saberemos transformã-lo/a. Assim, precisamos dominar os conhecimentos os quais temos oportunidade de experimentar, tocar, observar.
Acima de tudo, meus caros. Não é apenas mais um período letivo que temos pela frente, não importa se mais perto ou mais longe de nossas formaturas. E, para além de vocẽs, não importa se já nos formamos, não importa se não estamos mais estudando. Importa que estamos sempre nos deparando com oportunidades de mudança e de transformação. E espero que vocês não apenas consigam enxergar isso, mas, principalmente, optem por fazer parte desta transformação.
E que a juventude possa ter, de novo, esperança.
Venham Todos!
Venham Todas!
Vida Longa!
Marcelo “Russo” Ferreira
* O Livro, recém lançado pela Editora 7, é coordenado por Bárbara Musumesi Soares, Tatiana Moura e Carla Afonso)
quarta-feira, 5 de agosto de 2009
Lições de um tempo que já passou... A primeira aparição do Palhaço...
morando sempre no meu coração /
Toda vez que o adulto balança /
ele vem p'ra me dar a mão”
(M. Nascimento / F. Brant)
São realmente inúmeras as passagens que temos em nossa memória, principalmente quando nos aproximamos ou já adentramos aos novos caminhos daquilo que coloquialmente convencionou-se a ser apelidado como “os entas” (40, 50, 60...). E, mais precioso ainda quando nos possibilitamos a resgatar nosso baú de viagens, experiências, fantasias, medos, coragens, apreciação, emoções desde nossa mais tenra memória até, talvez, dias não tão infantis, adolescentes ou jovens assim... na idade cronológica, claro.
Como estamos falando no Universal Circo Crítico, não poderia deixar de me levar à (na minha memória, pelo menos) minha primeira residência, meu primeiro logradouro, ainda que, à época, isso não me fosse tão útil, já que não escrevia ou recebia cartas, contas, promoções, assinaturas e essas coisas que costumam encher nossa caixa de correio hoje me dia. Aliás, importante lembrar que quando falo em “caixa de correio hoje em dia” não estou a mencionar nossos computadores e e-mail's, que assim – caixa de correio – são também batizadas: correio eletrônico.
Se minha memória ainda prega apenas os abandonos básicos, talvez mais de desatenções do que de memória mesmo, eu deveria ter uns 3 anos. Morávamos na “Vilinha”, uma pequena Rua Sem Saída encravada quase que numa curva da Rua. Dr. Cezar (onde, em outra oportunidade, também morei, entre meus 7 e 10 anos – num apartamento), como quem segue em direção à Bras Leme. Nunca soube quem fôra este cidadão que mereceu uma rua naquele trecho ainda tranquilo do Bairro de Santana. Lembro que, em tempos de ditadura (minha infância e adolescência foram nesses tempos), em um trecho final desta Rua, funcionava, aos domingos, a permitida, organizada e controlada aglomeração de pessoas, também conhecida como “Rua de Lazer”. Lembro de tê-la frequentada alguma meia dúzia de vezes.
Mas a “Vilinha”, ainda está lá... Ou estava, da última vez que passei por aquelas bandas paulistanas, ainda em 2005.
Das minhas proezas de uma pequena criança que demorou a aprender a falar (como pode? Eu entendia direitinho o que falava, mas meus pais, minha irmã, ninguém entendia...) e, quando o fiz, era um antagônico do Cebolinha (não falava justamente o “l”) e sempre colocava o “a” na frente do marrom, formando o par perfeito para o amarelo, o “amarrom”, recordo de sempre me meter debaixo do carro de painho, primeiro um Aero-Íris que ficou com ele exato um mês e, depois, um Galaxie, e atravessar de uma ponta a outra.
Mas é do Universal Circo Crítico que gostaria de mencionar um fato pitoresco e que, possivelmente, seria a primeira impressão de meu gosto pessoal pelo Circo e, em particular, pela figura do Palhaço. Eu fui, aos três anos de idade, um pequeno palhacinho que, numa peça montada por nós (eu, minha irmã Andreia e uma colega da Vilinha que, lamentavelmente, por essas circunstâncias do tempo, não há neurônio perdido que, se recuperado, me faça lembrar seu nome) a ser apresentada aos nossos pais. O palco, o pequeno vão da entrada da casa; a platéia, as duas cadeiras da cozinha colocadas de costas para a rua às quais nossos pais se sentavam (perigosa ação infantil em tempos idos, colocar um militante e a filha/genro de outro militante do “proibido Partido Comunista Brasileira de costas para a rua). A cena final, o Grand Finale de nosso fantástico espetáculo circense que, provavelmente, havia durado cerca de 5 minutos... no máximo: eu, teatralmente cansado, sentando-me na cadeira que, sorrateiramente, seria puxada por minha irmã e sua colega, fazendo-me estatelado no chão em seguida. Aplausos...!
Tinha início a saga do Universal Circo Crítico, ainda que eu, obviamente, não soubesse.
Venham Todos!
Venham Todas!
Vida Longa!
Marcelo “Russo” Ferreira
segunda-feira, 3 de agosto de 2009
Deu na Carta Capital... Sócrates...
Pênalti - Sócrates.
(Emoções à flor da pele)
(…) Há alguns anos, quando um amigo, companheiro do Corinthians, apaixonou-se pela sua futura mulher, transformou-se. Ele, até então pouco preocupado com qualquer coisa que fosse, apegou-se de tal forma a esse sentimento que quase joga fora a sua carreira esportiva. Por paixão, vale tudo!
Poucos dias depois de conhecê-la, tivemos de voar ao Japão para realizar uma excursão de duas semanas. Notamos que ele estava muito diferente do que sempre fora. Em vez de expansivo e alegre, ele estava calado e triste. Encostou-se na sua poltrona, quase nada falou durante as 24 horas de viagem.
Quando lá chegamos, ele provocou o que talvez tenha sido a primeira reunião importante da Democracia Corintiana – para discutir uma possível antecipação para casa e poder revê-la imediatamente.
Alguns argumentaram que aquele gesto poderia atrapalhar os seus planos profissionais e que deveria tentar suportar a ausência da melhor forma possível. Foi quando outro companheiro pediu a palavra. E expôs que em nossa profissão tínhamos de passar por muitas coisas difíceis, pois ficávamos muito tempo longe das pessoas queridas. Nem ao enterro do seu pai ele tivera oportunidade de comparecer em razão da distância que o separava do local da cerimônia. Aquela revelação nos derrubou. E todos se conformaram em carregar a saudade por quinze longos dias
Aquele desespero representava o êxtase, a comunhão de sentidos, a felicidade plena. Nada, nem mesmo a vivência física do sentimento, é maior que aquilo que rumina na alma. Nem o sexo é fundamental. Quando estamos apaixonados, parece que o foco do sentimento somos nós mesmos. Vemo-nos com muito mais carinho e respeito, acreditamos piamente estar acima de qualquer eventual restrição colocada pelo cotidiano. A paixão nos torna fortes como jamais supúnhamos.
E este verdadeiro choque nos potencializa em tudo o que fazemos, inclusive no trabalho. Principalmente para quem pratica algum esporte ou exerce um ofício ligado a qualquer ramo artístico.
Com as emoções à flor da pele, podemos expressar com maior intensidade o nosso talento e o resultado é excelente. Só assim, além da excepcional capacidade funcional, um atleta consegue ultrapassar os obstáculos aparentemente intransponíves como nos Pirineus ou nos Alpes franceses”.
http://www.cartacapital.com.br/app/coluna.jsp?a=2&a2=5&i=4716
O trecho é de um artigo semanal que o Sócrates, ex-jogador do Corinthians e da Seleção Brasileira nas Copas de 82 e 86, escreve semanalmente na Revista Carta Capital e sua reflexão se conduz ao mencionar o limiar do esforço físico que ciclistas experimentam o Tour de France, com longas e íngremes subidas. Conclue que somente a paixão (pelo ciclismo?) é capaz de levar o homem/a mulher a isso.
Durante a leitura, optei por afastar-me, esse semana, das reflexões em torno das notícias da Semana que Carta Capital publica, pois o Sr. Sócrates, como pouco em seus artigos, me provocou reflexões interessantes – em que pese o “principalmente” do penúltimo parágrafo – e, acredito, também o faria com tantos outros leitores.
Da minha parte, a lembrança de ter tido, digamos assim, em meu último grande amor/paixão (quando ainda plainava meu cotidiano em Brasília) um momento importante de transformação de minha vida e pessoa e que, significativamente, foi determinante para o quem sou hoje, para o onde vou, para o que estou construindo, bem como o com quem e contra quem estou construindo. E, apesar do distanciamento ocorrido, sempre sou grato à aquela paixão particular.
Venham Todos!
Venham Todas!
Vida Longa!
Marcelo "Russo" Ferreira
segunda-feira, 27 de julho de 2009
O Universal Circo Crítico... Horizonte...
Já comentei, na última vez que coloquei uma canção por aqui, que é um contexto já relatado em outras passagens: adolescente, com meus 16 anos, no meio do (então) colegial, atleta de remo e o sempre desejo de ter uma banda de rock.
“Horizonte” foi, de certa maneira, uma canção que atravessou os limites da composição silenciosa e fez parte do portifólio do saudoso Afã (que passou a se experimentar apenas em 1989). Uma canção melódica, sem perder a boa tensão do rock, característica da banda.
Mas, o mais interessante desta canção e época é que se trata de uma das primeiras canções bem trabalhadas melodicamente na minha particular relação com o violão. Talvez ainda um pouco ingênua, com poucos acordes, mas bem explorados, vamos assim dizer.
Mas, lembro que foi composta pra uma pessoa à qual recordo seu rosto, sua amizade e a vontade de estar com ela enfrentando a minha incapacidade de “vou beijá-la”... Que viagem!
O contexto desta composição, também, é bastante interessante: O Brasil havia perdido, nos penalts, para a França, na Copa do Mundo do México; à noite, tinhamos um Baile de 15 anos no Salão da Igreja de Santa Terezinha (duas quadras de casa) e um colega (hummm... Cláudio?) era a vontade silenciosa daquela menina, de nome Celina. Saímos do salão, conversando de braços dados e paramos para um abraço. Só um abraço. Até hoje, acho que não era o que ela queria, só um abraço.
No dia seguinte, enquanto a nação brasileira ainda chorava mais uma desqualificação do time de Telê de uma Copa do Mundo, lá estava o velho e bom Di Giorgio de mainha no colo. Sobre Celina, não houve a segunda chance de mais um passeio de braços dados. Mas ela recebeu a canção.
Apresento: “Horizonte”
“Mais uma semana se passa. / Olho as horas no relógio, não vejo o tempo passar. / Meu sonho já se perdeu,/ minha mente dissolveu-se em pensamentos./ Minhas palavras são olhos/ que visam você./ Minhas palavras são cerdas atrás/ de um certo ser.
Olho um horizonte sem espaço de mostrar,/ sem maneira de ter algo de novo./ Olho seus olhos vejo mares sem fim./ Vejo deuses sobre mim./ O horizonte já não se mostra mais./ Foi tomado seu direito./ Uma linha, uma quebra de onda fugaz,/ derramada em meu peito.
Olho um horizonte sem espaço de mostrar./ Sem maneira de ter algo de novo./ Olho nos seus olhos, uma maneira de olhar./ Uma maneira de amar sempre de novo.”
Venham Todos!
Venham Todas!
Vida Longa!
Marcelo “Russo” Ferreira
P.S.: Lembrando que as letras estão registradas em cartório comum. Não vale a pena “plagiar”.
domingo, 26 de julho de 2009
O Universal Circo Crítico... Deu na Carta Capital...
(Peru: A Justiça condena o ex-presidente a sete anos e meio de prisão)
O ex-presidente, que comandou o Peru entre 1990 e 2000, foi um dos heróis do neoliberalismo latino e tentou se reeleger pela terceira vez com o apoio isolado de Fernando Henrique Cardoso na comunidade internacional, repassou 15 milhões de dólares de fundos públicos ao seu antigo assessor Vladimiro Montesinos, envolvido em tráfico de armas e drogas. É a terceira condenação de Fugimore, que cumpre penas de 6 a 25 anos por crimes contra a humanidade."
A história de mais uma condenação de Fujimore me leva a outras histórias na América Latina, como Pinochet no Chile e os militares da ditadura argentina. Foram casos em que se abriu a caixa de pandora dos regimes militares imperialistas nos anos 60 a 80 do século passado na maioria dos países latino-americanos (testemunhada, também, na América Central, no mesmo período até os anos 1990) e se passou a limpo e transparentemente a história de sangue escrita em nome da "liberdade", a ser entendida, à época, como "estarmos livres dos comunistas".
No Brasil, parece que passaremos em branco neste necessário resgate de nossa história recente, ao ponto de nem mesmo o atual teatro armado no Araguaia, onde Governo, Forças Militares e o PCdoB andam com a árdua tarefa de, mais uma vez, procurar as ossadas de militantes assassinadas nos anos 1970. Estranhamente (porque não deveria ser assim, não em tempos atuais), coordenado pelo Comando do Exército e, também estranhamente, com a ausência do Ministério Público Federal e da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República, ou a Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos, essa criada ainda no governo FHC. Como menciona matéria de 22 de julho próximo passado. da mesma Carta Capital, é a raposa procurando sinais da galinhas que roubou do galinheiro.
Não há o que procurar, pois foi o próprio Estado brasileiro, através das Forças Armadas (em particular, a instituição do Exército brasileiro) quem matou e ocultou corpos de militantes e camponeses.
Mas, quando também testemunhamos declarações como a do Deputado Federal pelo PP do Rio de Janeiro, Jair Bolsonaro em 14 de julho último, no interessante mas barulhento MTV Debate, coordenado pelo Lobão, fico com a impresão de que esse será, à bem da verdade, o caminho da história do País. Em determinado momento do Programa, o nobre deputado falava com todas as letras sobre os militantes mortos durante os anos de Ditadura: "e pena que não mataram todos, terrorista que eram".
Com diria Paulinho da Viola, "quando penso no futuro, não me esqueço do passado". Não há outro caminho para o Brasil... Mas, parece, ele insiste em provar que há.
Por essas e outras, aprendo todos os dias a ser um militante.
Ainda falarei mais dos anos de chumbos por esses palcos.
Venham Todos!
Venham Todas!
Vida Longa!
domingo, 19 de julho de 2009
O Universal Circo Crítico... Dia do Amigo...
(M. Nascimento e F. Brant)
Vai ser só amanhã, dia 20 de julho, o Dia do Amigo!
Mas, como boa parte das “Datas Comemorativas” mundo afora, todo dia é dia do/a Amigo/a e, como acredito que todos/as que passeiam por aqui, no Universal Circo Crítico, têm amigos/as, penso que hão de concordar comigo.
O Aniversário de nossos/as amigos/as é, de certa maneira, o Dia de nossos/as amigos e sempre lembramos. Um abraço, um telefonema, um e-mail, a velha (velha?) mensagem no orkut, um cartão, a festa, a cerveja, enfim, comemoramos o Dia DO/A Amigo no seu aniversário.
Também outras datas acabam sendo Dia do/a Amigo/a: Natal, Páscoa, Casamento (quem é casado, o é com amigos/as, não com inimigos, acredito), Dia dos Namorados, Dia dos Pais, das Mães, dos Avós (que será no próximo dia 26 – por que não tem o Dia dO Vô e outro dA Vó???), enfim, o Dia do Amigo (que também é da Amiga) é mais uma daquelas datas que nós, pobres mortais, inventamos até com boas intensões, mas que, no fundo, no fundo, apenas dá destaque a algo que verdadeiramente temos de mais precioso na nossa vida: a(s) amizade(s). E que, pelo menos aparentemente, o consumo ainda não encontrou uma fórmula mágica para lucrar mais.
Foi pensando no Dia do Amigo e, particularmente, nos meus dias de férias, período em que, também, aproveito para retomar algumas leituras e filmes deixadas de lado por um tempo, que me deparei com algumas bonitas lições de amizade.
A Primeira lição vem de “O Caçador de Pipas”, um livro que uma ex-aluna (portanto, uma amiga) da Universidade me presenteou e que apenas neste período pude ler com calma e certa devoção. Logo nas primeiras páginas, a fala de um dos personagens (Hassan) é extremamente significativa: “Por você, faria isso mil vezes!”, fala que se contextualiza ao longo da primeira parte do livro, a infância dele e de Amir, o protagonista central do romance. Mas, mais adiante (sugiro a leitura do livro para entender), ainda que escondido em sua adolescente covardia, o mesmo Amir reflete: “Naquele momento, eu o amei, mais do que jamais amei qualquer outra pessoa (...)”. Quando aprendemos (e como ensinamos aos nossos próximos, amigos ou parentes) a amar nossos amigos? Como é dizer (ou apenas concluir) sobre o amor que sentimos de nossos amigos?
No alto dos meus quase 4.0 de vida, já havia concluído sobre muitos amigos os quais tinha certeza deste sentimento, mas, incrível a fragilidade humana, nunca disse “Eu te amo!” a um amigo, a uma amiga. “Você é especial!”, “Gosto p'ra caramba de tu!”, “Obrigado por sua amizade!”, “Fico devendo essa!”, mas nunca “Eu te amo!”...
E, seguindo a minha ode à literatura destes dias, passou-me por uma hora um pequeno livro infanto-juvenil chamado “Um fantasma ronda o acampamento”, da Editora Expressão Popular. Uma pequena aventura contextualizada no dia-a-dia de um Acampamento Sem Terra, e que conta a história de duas crianças, Mariara (ou simplesmente Iara) e Oziel, mais um terceiro amigo, o adolescente Otacílio e como a amizade entre eles, entre eles e uma pequena cachorra que recém havia parido e deles e de seus pais com a história da Luta de Trabalhadores Rurais Sem Terra, descobre como os Latifundiários tentaram assustar aqueles militantes em uma ocupação de terra. Em determinado momento, sutilmente, a história do pequeno Oziel é contada: assim batizado por seu pai, que era amigo de um militante que havia tombado em Eldorado dos Carajás, Oziel Pereira. E, neste pequeno conto infanto-juvenil, mais uma grande história de amizade entre aquele lutador que tombou (Oziel Pereira) e o pai do pequeno Oziel.
Mas, nesta data, particularmente neste ano, em vários momentos das leituras acima (e não necessariamente durante essas leituras) pensei em todas as amizades que vieram e ficaram, assim como aquelas que vieram e se foram (experiência não tão interessante assim, mas com a qual sempre nos arriscamos, quanto mais confiamos em nossas amizades). Já falei sobre elas em 2008, aqui no Universal Circo Crítico e, também, no ArcaMundo.
Nessas idas e vindas, lembrei-me de uma passagem de um dos filmes que mais me tocaram a alma e o coração. Falo de “V de Vingança” (título extranho para um tema como esse) e, em especial, em uma cena em que a jovem Evey, prisioneira, recebe cartas de Valerie, presa na cela ao lado (outra indicação: assistam). É o final destas cartas, escritas em rolos de papel higiênico, que reproduzo abaixo:
“(...) Parece estranho terminar a vida num lugar estranho. Mas durante três anos eu tive rosas e não pedi desculpas a ninguém.
E morrerei aqui. Cada pedacinho do meu ser perecerá. Cada pedacinho, menos um, o da integridade.
É pequeno e frágil e é a única coisa que vale a pena ter. Nós jamais devemos perdê-lo, nem deixar que o tomem de nós.
Espero que, quem quer que você seja, escape daqui. Espero que o mundo mude e a vida fique melhor. Mas o que mais quero é que entenda a minha mensagem quando falo que mesmo sem conhecer você, e mesmo que talvez jamais conheça você, ria com você, chore com você ou beijo você, eu amo você.
De todo o meu coração, eu amo você.
Valerie”
Feliz Todos os Dias do Amigo!
Venham Todos!
Venham Todas!
Vida Longa!
Marcelo “Russo” Ferreira