Aqui é o local onde o picadeiro tem realidade e fantasia.
Os artistas são personagens e pessoas reais.
A música perpassa nossa história e nosso povo.
É onde sempre nos encontramos...
Vida Longa!
Já nos manifestamos em tempos anteriores, aliás, desde os bons tempos do Arca Mundo, sobre o 22 de setembro. Normalmente, falávamos do “dia mais feliz de painho e mainha”, brincadeira para falar de nosso dia.
Aos 42 (e acho que já em anos anteriores), celebramos cada vez mais, tanto quanto cada vez mais contidamente, nossos aniversários. Mas, como a história desta lona de circo, de seus artistas que sempre passam por aqui com suas peripécias e malabarismo, com suas poesias, com suas histórias e, claro, nosso sempre estimado público, acabamos sempre pensando em um 22 de setembro diferente de outros.
Nestes tempos de dúvida sobre as relações sociais, sobre o quanto nosso mundo agüenta este consumo desenfreado e vertical, linear (e não se fala muito dos perigos disso)... em tempos em que as Guerras em nome da democracia que, à bem da verdade, é a última vontade de seus generais (que nunca vão ao front) se espalham mundo afora... em tempos de luta contra a desesperança enfrentada nas ruas da Grécia, Irlanda, Espanha, Itália, Inglaterra e os países do Norte da África (nem todos apresentados na nossa mídia tupiniquim, por serem mais difíceis de serem defendidas, haja vista o explícito interesse comercial, e não a defesa de seu povo) e, aqui perto de nós, no Chile, com os bravos estudantes que lutam contra a privatização completa do Ensino Público... em tempos que, cada vez mais, nosso intelectuais críticos ficam em suas confortáveis posições de intelectuais, chamando de infantis, imbecis e ingênuos aqueles que estão, dia-a-dia, na luta cotidiana, pensei em um personagem que, exatamente num 22 de setembro, tombou lutando.
Lembrei-me de Antonio Vicente Mendes Maciel, o histórico líder do Arraial de Canudos, no nordeste baiano que reuniu milhares de sertanejos famintos e desesperançosos e, o que a história sempre deixa de registrar, esquecidos por sua nação, à época, uma República recém investida ao Estado Brasileiro. Eram, aqueles milhares de sertanejos, esquecidos, oprimidos e sem esperança, assim como são os “rebeldes” na Síria, na Líbia, no Egito, na Costa do Marfin. E, cada caso e povo ao seu tempo, buscaram a esperança e a defenderam até o último homem que, no que nos reportamos agora, tombou em Canudos.
Melhor do que muitos, em tempos atuais, Antônio Conselheiro foi um estudioso: das línguas (aprendeu latim, português e francês), professor, um grande amigo dos pobres de sua região (Ceará), pais das próprias irmãs. Caixeiro, escrivão, quase advogado (o que se chamava, à época, “solicitador”)... Também foi um pouco ilusionário, errante de suas próprias convicções e certezas. No fim destas andanças, enfrentou quatro expedições militares do governo brasileiro, tombando, junto com seu povo, na quarta expedição... em um 22 de setembro. Canudos ainda resistiria até 05 de outubro de 1897.
De comum aos tempos de hoje, a união conservadora entre a Igreja, o Latifúndio e a Imprensa, com o Estado sempre a disposição de seus interesses. Há mais de cem anos atrás, era a mesma coisa.
Em 22 de setembro de 2011, me inspira estar firme, forte em minhas convicções e ainda aprendiz delas.
Me inspiram meus amigos, muitos amigos aqui, perto, mais ou menos perto, longe, muito longe na distância física, mas fruto de minhas andanças e amizades sempre preservadas, sempre pertos em meu caminho, convicção e esperança.
Me inspira, ainda que na contradição, minha família que, assim como meus amigos, estão perto e longe. Minha família presente, minha família que já não está entre nós, meu velho e grande avô Hiram de Lima Pereira, mais um “filho de Canudos” que tombou lutando.
Me inspira Tábita... minha esposa, companheira, amiga e, assim como eu, também aprendiz de lutadora do povo.
E muito disso devo à história de Antônio Conselheiro...
“Viva Zapata!/
Viva Sandino!/
Viva Zumbi!/
Antônio Conselheiro!/
Todos os panteras negras/
Lampião, sua imagem e semelhança/
Eu tenho certeza,
eles também cantaram um dia”
(Chico Science – Monólogo ao pé de ouvido)
Por todos os lutadores e lutadoras do Povo, que tombaram e continuam a tombar na luta contra a opressão, o capitalismo, o imperialismo, o latifúndio...
Salve, Salve, nossa Pequena Fernanda Helena, de nome composto, uma pronúncia forte, firme: Fernanda Helena. Daquelas pronuncias que, quando fizeres suas pequenas traquinagens (e espero que faça), escutará com a altivez que, paradoxalmente, lhe dará ate orgulho: “Fernanda Helena, vem já p’ra cá!”... “Vou levar uma bronca da mamãe, mas que meu nome é bonito, é...!” irás pensar.
Nossos artistas e público não conhecem seu pai, mas, conhece sua mãe. Val é a expressão de uma figura decidida e coerente e, não menos, isso nos ajudar a conhecer-te também e, desta maneira, ousar algumas palavras ao seu “pé de ouvido”... Sim, estás certa: pé não tem ouvido e ouvido não tem pé...
Fernanda e Helena. A primeira de origem teotônica (germânica), de um tempo em que este povo (os teutônicos) eram donos de uma parte significativa da Europa. Povo culto nas artes, culturas, ciências e comércio. Mas também de uma história complexa entre Estado e Igreja... Papo p’ra outra hora. Já Helena tem origem grega. Lembra a história de “Helena de Tróia” (a mulher mais bela do mundo), né?
Mas, importante aqui, é vermos em seu nome amor, responsabilidade, serenidade, perspicácia e confiança sintetizam a Luz e Ousadia que estão presentes em seu nome: se tomarmos a expressão de um dos maiores nomes que a história da humanidade já conheceu (mas, por motivos evidentes, pouco aparece nos livros), Wladimir Lenin (“a ousadia é o que dá sentido à vida”), estás com algo a mais para dar sentido a sua vida, além da ousadia, pois ousará sempre para ti e para os outros. Nada mal para quem está começando.
Já que estás chegando por esta bandas pela primeira vez, vamos logo anunciando que sempre procuramos cumprir com a mais humilde tarefa dos artistas do povo, aprendizes de lutadores como sempre nos entendemos: nossas lições.
O Mundo, a história da humanidade, suas tensões e conquistas de milênios sempre nos dão lições importantes, ainda que a humanidade teime e não aprender muito com elas. É como pensar as coisas pequenas de nossa casa, de nosso dia-a-dia e aquelas pequenas “chamadas” que nossos pais, avós e tios ou tias sempre nos dão e, quando insistimos e dá errado, escutamos: “eu te avisei!”. Claro, nem sempre eles estão certos. Se sempre estivessem, de onde sairiam então outros tantos “mais velhos e experientes” que fazem tanto mal ao seu povo?
A humanidade, pequena Fernanda Helena... a humanidade, quando não tira suas lições, padece de repetir sua sina de, de tempos em tempos, recriar suas crises. Em tempos atuais, EUA e Europa que o digam... Mas, as nossas lições são mais humildes, são mais para “tentar aprender, ensinando”... Mas são grandes, em nossa luta por um tempo e mundo melhor para você que chega e os outros que já chegaram e também foram por nós saudados.
Já que estamos falando de ousadia, pequena Fernanda Helena, falemos de um 2 de agosto de um longínquo 216 a.C. Nestes tempos que antecederam o nascimento de um dos maiores revolucionários da história da humanidade (Jesus Cristo, sim, um grande revolucionário) acontecia a Batalha de Canas, uma verdadeira obra-prima de tática de guerra segundo alguns estudiosos. Em terras brasileiras, seria como a saga de Antonio Conselheiro em Canudos. Daí, Fernanda, nossa primeira lição: a ousadia sempre requer prudência, senão se transforma em teimosia e, assim, nada se compreende. Vencer uma batalha não significa vencer uma guerra ou vencer sempre.
02 de agosto, no século passado, colocou frente a frente, em anos diferentes, o paradoxo de um conflito movido pelo poder (que sempre move pessoas, para o lado certo ou para o lado errado): foi em um 02 de agosto, em 1934 que Adolf Hitler ascendeu ao cargo de “führer” na Alemanha. Onze anos depois, em 1945, as grandes potências aliadas, vencedoras da 2ª Grande Guerra Mundial determinavam os termos da rendição da mesma Alemanha, derrotada. 35 anos depois, o Iraque invade o Kuwait e mais uma guerra se inicia. Estes dois conflitos não existe mais, por si. Mas deixaram rastros de intolerância e de ânsia pelo poder que se eternizam e formam fortes raízes em todos os quatro cantos deste mundo... poder e força, pequena Fernanda Helena: palavras que a humanidade aprendeu a combinar muito mal e que, esperamos, saibas entende-las, compreende-as, exercita-as com ousadia e luz, como seu nome o é. O poder e a força podem ser bem combinadas... nos ensine isso, certo?
Assim como você, sempre nascem pessoas em um 02 de agosto. Todo tempo, em todos os lugares do mundo. Outros partem, também. A gente escolhe, sempre, pelas lições:
Foi em um 02 de agosto de 1924 que nascia James Baldowin, um escritor americano, mas de formação profundamente francesa, negro e que ficou conhecido, em sua obra também, por ser um ativo defensor da minoria negra e gay... Isso nos idos dos anos 1960. Hoje, negros e homossexuais continuam perseguidos, amedrontados, mortos por serem negros e homossexuais. Imaginemos isso a 50 anos atrás, hein? Foi em 1979 que ele disse sobre sua terra natal e a França: “Os brancos se dizem perplexos com o holocausto na Alemanha. Não podiam se imaginar capazes de tão grande barbaridade. Duvido, porém, que os negros tivessem essa reação de espanto, pelo menos no mesmo grau. Também aqui, pátria dos direitos humanos, existe racismo. Em Paris há um bairro negro que se parece muito a um gueto nova-iorquino. Os franceses tinham certeza de que não eram racistas, depois veio a Indochina e a Argélia e aí descobriram então que também tinham seus negros”. O preconceito sempre baterá à sua porta, Pequena Fernanda Helena. Só a deixe entrar para ela deixar de existir.
A história de Luta do povo latino-americano, em tempos de ditadura (anos 60 a 80 do século passado) tiveram sua importante passagem em um 02 de agosto. Foi em 1942 que nasceu Isabel Allende. Ela era sobrinha de segundo grau de Salvador Allende, presidente chileno assassinado em 11 de setembro (que nunca aparece nos nossos livros escolares como expressão do terrorismo contra uma nação) de 1973. Sua obra mais marcante (na vida deste pequeno aprendiz de lutador do povo) foi “A Casa dos Espíritos” que, um ano depois de escrita, foi para o cinema, numa bela obra que nos ajuda a compreender como funciona uma ditadura... para nunca mais a querer novamente. O cinema nos proporciona inúmeros aprendizados, Fernanda e esperamos que não seja diferente para ti.
Mas é de outra arte que também vive o 02 de agosto e, neste particular, com honra pernambucana (a terra-coração deste que te fala ao ouvido). Foi em 1944 que Recife nos deu Naná Vasconcelos, um dos maiores percussionistas de nosso país, do tambor de alfaia (do Maracatu) ao Berimbau. E esta lição é das melhores e mais importantes: FAÇA MUUUUUUITO BARULHO, Fernanda. Escuta, ouça, descubra, explore os sons magníficos que o mundo ainda nos proporciona e crie sua música, seu batuque, sua dança... A humanidade sem música e dança, não é humanidade.
E por falar em musica, terminamos esta nossa pequena aventura (que ainda nos proporcionaria muito mais viagens) com a lembrança também musical, mas de partida... e que foi nossa provocação no início de nossas palavras. Afinal, foi em um 02 de agosto, em 1989, que perdíamos a presença do Rei do Baião. Mais rei do que muitos reis e rainhas que por aí se intitularam como tal, em nossa música. Um cantador de seu povo, de sua sina, de seu sofrimento e de sua alegria. É verdade que, do ponto de vista político, se bandeava com certo perfil coronelista, dos tempos de outrora. Mas não representou isso em sua música. Quando pintar o primeiro namorado, daqueles assim que tu tiver uma queda, um chamego bem particular, celebre com um forrozinho pé-de-serra, que vale a pena.
"(...) que as vezes a gente começa uma luta por uma coisa e acaba por ganhar outra (...) Mas para ganhar a segunda, tem de se começar a lutar pela primeira”.
(Levantado do Chão – Saramago)
Salve, salve pequeno Ruan Carlos...
Seja bem vindo, nosso querido e pequeno lutador do povo. Estamos (é, tá certo, sempre dizemos isso... mas é verdade) muito felizes com sua chegada que, em nossas conversas e expectativas, estávamos esperando já fazia tempo. Até achávamos que você “havia esquecido de nascer”... Talvez por isso o seu nome parece-nos tão... preciso. Afinal seu nome vem de João que, como sabemos, é um nome de grande força bíblica e de Carlos que, dentre outros – escolhemos o que melhor nos diz – vem de Lavrador. Se, aparentemente, demoraste a chegar, nada como o tempo do campo, de sua produção, o tempo da semente até a colheira para nos dizer: “o tempo era esse, chegaste na hora que tinha que chegar, pronto, acabado para recomeçar”...
Talvez por isso, caro Ruan, a nossa primeira homenagem deveria ser realmente esta, de José Saramago, numa obra que fala de cinco gerações camponesas e, mais ainda, nos diz: “primeiro Ruan tinha que chegar... agora, as outras coisas, no seu tempo”.
És filho de Simone e Josimar. Sua mãe, me honrou por seu trabalho de conclusão de curso (junto com a miudinha Débora), que fala da infância (professora que é) e, mais ainda, reconhecido com um excelente sem ressalvas... o primeiro com esta característica em minhas orientações. Já seu pai, uma pessoa digna, honrada e coerente. És um pequeno lutador do povo porque assim são seus pais.
Como sempre, pequeno Ruan Carlos, falamos deste dia, o 22 de julho, dia em que celebraremos sua chegada por longos anos. Dia em que a história da humanidade nos brindou com grandes lições. Algumas boas, outras duras. Algumas perdas que nos lembram, algumas conquistas que nos levam ao esquecimento... coisas desta humanidade que tinha a obrigação de ser melhor para recebê-lo... Mas, podemos adiantar-lhe, pequeno Ruan, que é um dia de grandes lições.
Lá pelas bandas de 1298, a hoje Escócia conheceu o seu maior herói: Willian Wallace. Tem um filme (“Coração Valente”) que vale a pena ser assistido, ainda que nós, daqui debaixo da lona, sempre ficamos com um pé atrás sobre a arte cinematográfica ser fiel à história, quando tenta contá-la. Mas, ainda assim, é possível ver o herói que luta não apenas pelo seu povo, mas com o seu povo, até na frente de seu povo. O mundo criou exércitos e, hoje, os conhecemos pelos seus generais. Estes ficam sempre assistindo a batalha de seus subordinados. Não Wallace. Morreu defendendo seus ideais até o último suspiro (isso já em agosto daquele ano). Em um 22 de julho, apenas uma de suas inúmeras batalhas. Dele, a história remete o seguinte verso, originalmente em latim: "Liberdade é a melhor de todas as coisas a ser conquistada, a verdade, lhe digo então: nunca viva com os grilhões da escravidão, meu filho". Eis nossa primeira lição, pequeno Ruan, cuja tradução já nos basta aqui.
Já em 1935, tivemos a criação de algo que está em nossas vidas até hoje, mas que a cultura de nosso povo sempre opta por ignorá-la. Também a TV (que neste horário, é de um emburrecimento enorme) ajuda. Foi em 22 de julho de 1935 que o então presidente Getúlio Vargas criou o Programa de Rádio “A Hora do Brasil”, hoje conhecida como “A Voz do Brasil”. A obra de Carlos Gomes, “O Guarani” tem hoje uma versão mais moderna, com toques regionais. É sempre importante para sabermos das notícias do poder... Mas, como diria o grupo “Joelho de Porco” (1985), “nunca mais vamos ouvir o Guarani!”... mas, é porque não temos este hábito mesmo, cultural, nacional. Então, pequeno Ruan, nossa segunda lição: não deixe que o senso comum te guie, principalmente naquilo que traduzimos como “Jornalismo
A história da humanidade é algo impressionante e, uma pena, cada vez mais pasteurizado. Sua mãe lhe explica, depois, o que é isso, certo? Lembra “pastel”, mas nem tento (hei, por enquanto nada de comer besteira. Só leite, visse?). Em 22 de julho de 1942, temos o registro de mais uma manifestação de intolerância entre a humanidade, quando o primeiro contingente de judeus é removido, do Gueto de Varsóvia (Polônia) para as primeiras experiências doscampos de concentração, que exterminou milhões de pessoas durante a Segunda Guerra Mundial. Hoje, o povo de Israel (com o Imperialismo norte-americano em silêncio) extermina o povo palestino. Nada, nada justifica o extermínio de um povo, nem por seus tiranos, nem pela força de canhões contra badoques... Nossa lição, pequeno Ruan? Bom, num mundo assim, tenha sempre seu badoque (e não mais do que isso) em mãos, certo? Nunca o use contra pessoas ou animais... Se assim o fizeres, permita-nos a franqueza, não serás melhor do que aqueles que promovem a guerra.
Muitos, como sempre, nasceram e/ou partiram nesta data. EntrePapas e filhos de Saddam Hussein que, na opinião deste viajante circense, não são tão diferentes assim... ou não eram, já que não estão entre nós, fisicamente falando.
Preferimos falar de alguns, alguns poucos, mas importantes.
Tem uma pessoa, de muito, mas muito longe, que nasceu neste mesmo dia, em 1972. Ele nasceu numa Ilha chamada Tonga, se chama Ipolito Fenukitau e é atleta de Rugby, um esporte interessante de se assistir (nós gostamos), mas perigoso pra se jogar. Seus atletas dizem que não, mas prefirimos continuar assistindo. Bom, mas nem é tanto por Ipolito, ou pelo Rugby que entendemos este dia importante. Tonga é um país, e para o povo daquele, Tonga significa jardim, ou seja, Ilha de Jardins. Mas, nas palavras de um professor que tive de Introdução à Metodologia Científica e, em períodos anteriores, dirigente de uma (talvez a maior) entidade científica da Educação Física brasileira, lá no meu primeiro ano de Universidade (ainda nos tempos de São Paulo e Sâo Caetano do Sul), Tonga (ou “Ilhas Tonga”, como ele falava em aula, para o riso de meus colegas de sala) significava um lugar perdido onde viviam pessoas ignorantes e sem conhecimento das ciências. Claro que ficamos com a versão de seu povo e, aqui, a lição de todo um povo contra a ignorância da ciência. O nome do professor? Não vou sujar este papo ao pé de seu ouvido, certo?
Um jovem, que procurou vida melhor em outro país (que mundo é esse?) e foi morto pela instituição policial deste mesmo país, confundido com um terrorista, nasceu em um 22 de julho. Seu nome era Jean Charles de Menezes e talvez ele tenha ido, dentre outros motivos, porque tinha nome de príncipe. Mas o nome não ajudou. É estranho, talvez para ti, pequeno Ruan, esta história de terrorismo, né? Como explicar, por exemplo, que em pleno dia de sua chegada, um maluco, num país com fama de pacífico, toque o terror contra sua gente, como foram os Atentados na Noruega? Aqui, pequeno Ruan, entre algo que cada vez mais a humanidade parece temer: o conflito entre privilégios (mesmo que pequenos) de suas regras e a luta pela igualdade. É uma pena que este 22 de julho tenha esta marca. Mas, cá p’ra nós, como sempre fazemos, vale a lição e esperamos que leve em sua vida: a intolerância nunca levará a paz em nossas vidas. Nunca a aceite como algo normal e comum.
A história deu-nos outros grandes e interessantes nomes nesta data, Ruan: Basílio da Gama (poeta luso-brasileiro, que escreveu, dentre outras coisas, “O Uraguai”, obra em que critica os Jesúitas por defender os índios apenas para manter poder sobre eles), Fernando Morais (autor de “Chatô – Rei do Brasil” e “Olga”, obras que espero venhas a conhecer), Torbem Grael (o maior medalhista olímpico brasileiro, num tempo em que o esporte moderno, em particular, o olímpico, está elameado até o pescoço – e não há sinais de limpeza breve) nasceram neste dia. Manuel Ouig (escritor argentino, que conhecemos pela bela obra “O Beijo da Mulher Aranha” e Gianfrancesco Guarnieri (ator e diretor brasileiro, que marcou minha vida com “Eles não usam Black-tie”) partiram neste dia.
Mas, aquele com a qual gostaria que nunca esquecesse, e que o conhecesse, e que o estudasse (e que nasceu em um 22 de julho, a quase cem anos atrás) chama-se Florestan Fernandes.
É incrível, pequeno Ruan, que fico com a sensação de que os grandes, mas os verdadeiros grandes nomes deste país (e, claro, da América Latina) são desconhecidos de nossa juventude e Florestan é um destes nomes, destes homens, destas histórias. Dele, pequeno Ruan Carlos, deixamos uma lição de sua própria infância, o quanto ela foi importante para o homem que se fez:
“Se tinha pouco tempo para aproveitar a infância, nem por isso deixava de sofrer o impacto humano da vida nas trocinhas e de ter résteas de luz que vinham pela amizade que se forma através do companheirismo (nos grupos de folguedos, de amigos de vizinhança, dos colegas que se dedicavam ao mesmo mister, como meninos de rua, engraxates, entregadores de carne, biscateiros, aprendizes de alfaiate e por aí a fora). O caráter humano chegou-me por essas frestas, pelas quais descobri que o “grande homem” não é o que se impõe aos outros de cima para baixo ou através da história; é o homem que estende a mão aos semelhantes e engole a própria amargura para compartilhar a sua condição humana com os outros, dando-se a si próprio, como fariam os meus Tupinambá. Os que não tem nada que dividir repartem com os outros as suas pessoas – o ponto de partida e de chegada da filosofia de “folk” dentro da qual organizei a minha primeira forma de sabedoria sobre o homem, a vida e o mundo”.
Seja bem vindo, pequeno Ruan Carlos, o pequeno lavrador de amigos.
“(...)
- Salve!
- Como é que vai...
- Amigo, a quanto tempo?
- Um ano ou mais...
(Silvio Silva Júnior/Aldir Blanc).
Salve, Salve, caríssimo/a e velho/a amigo/a.
Saudações... quanto tempo, um ano ou mais...
Assim como da última vez em que nos escrevemos, anuncio (e já sabias disso, claro) que mais uma vez esta leva notícias daqui e de mudanças na vida.
Queria escrever-te a mais tempo, mas as coisas foram acontecendo, no trabalho e na vida pessoal e, quando me dei conta, já estava tudo com passos avançados. Até peço desculpas por não ir falando sempre como as coisas e a vida andavam, pontualmente, acontecendo por aqui. Sabes que não é desconsideração à nossa amizade.
Daí, resolvi escrever-te no Dia do Amigo. Mas, veja que ironia, um dia depois, hehehe... releve, certo?
O Dia do Amigo sempre me chama a atenção, sabe? Recebo mensagens daqui e dacolá, e-mail e torpedos de celular. Também pude trocar um abraço de Dia do Amigo durante do dia. Até a molecada (grandes amigos, sei que sabes que tenho Hércules, Kaia e Janis assim) recebeu um abraço e um passeio pelas ruas do Bairro Estrela como forma de celebrar o Dia do Amigo.
Já comentei que tenho muitos amigos, alguns perto, outros distantes (no tempo e na distância) mas que sempre lembro de todos eles e todas elas, assim como sempre o faço quando escrevo a você, camarada do coração.
Canções são enviadas em letras, de Milton Nascimento a Julio Iglesias. Tá, sabes quem que não gosto muito do “Roberto Carlos da língua espanhola” (nem do daqui, das terras tupiniquins), mas, amigo e amiga são amigos e amigas. Aceito na boa o “amigos para sempre lá-lá-lá-lá-lá-lá-lá”.
Aliás, neste último Dia do Amigo (que é da Amiga, também, né?) recebi notícias de quem a tempos não sabia e, agora, posso retornar, falando da vida por estas bandas.
Recebi mensagens de amigos que me levam a viagens impressionantes, me convidando a mostrar-lhes seu louco e santo, seu avesso e seu desejo de conhecermos juntos nossas alegrias e sofrimentos.
Amigos que em longas palavras me revelaram o que sempre recebi: “Amigo é Casa!”...
E visitando-os e visitando-as em seus pequenos infinitos espaços virtuais a demonstração, no Dia do Amigo, de que a capacidade da humanidade de se re-humanizar ainda é latente, ainda é perene. Só precisa extrapolar essa coisa de data. Dias que representam “tempo disso” e “tempo daquilo”...
Hoje, caro/a amigo/a, vivo tempos que, espero, perdurarão, pois tenho uma amiga aqui do meu lado: Mulher, companheira, amante, aprendiz e educadora... E fico pensando o quanto caminhamos em nossas vidas para escolhermos, decidirmos, aceitarmos, alegrarmo-nos com A Amiga (ou O Amigo) de cada um de nós...
Celebro meu Dia do Amigo diferente, mais rico, mais amplo.
Celebro meu Dia do Amigo com todos e todas os meus amigos e amigas de sempre e os novos (que sempre temos amigos novos, não é?) e com ela, Minha Amiga de todos os Dias.
Sabe, caro/a amigo/a...? ainda não sei descrever o que é esta nova fase da vida da gente e, talvez por isso, esta carta que lhe escrevo é apenas para dizer isso mesmo, que na condição de casado, continuo Amigo e agora tens mais do que um amigo para quando escreveres, ligares ou nos visitares. P’ra dizer que estou Feliz com a Amiga que hoje está comigo e feliz por esta dinâmica de minha vida fazer parte, também, de nossa amizade.
Qualquer dia deste falo mais disso.
Por hora, mesmo com um dia de atraso, venho apenas deixar meu mais profundo e verdadeiro abraço, mesmo um dia depois, pelo Dia do Amigo. Até porque, todo dia é dia de abraçar um/a amigo/a, não concorda?
Mande notícias, certo?
Hércules, Kaia e Janis Joplin mandam lambidas e Tábita manda seu afetuoso abraço, ansiosa por revê-lo/a, conhecê-lo/a, compartilhar sua amizade com você.
Vida Longa!
Marcelo “Russo” Ferreira
P.S.: isso é apenas uma carta. Ajuda para retomar o espaço do Universal Circo Crítico e falar com velhos/as e queridos/as amigos/as. Não é, acredito, algo que valha a pena ser plagiado.