Prezado senhor Caio Mário Paes de Andrade
Secretário Especial
de Desburocratização, Gestão e Governo Digital
Ministério da
Economia
Brasília – DF
Saudações.
Recebi (e acredito que o enorme
conjunto de servidores públicos deste país também) a sua Carta sobre a EC que
define as diretrizes da Reforma Administrativa que vocês (sob a batuta deste
presidente Mequetrefe e de seu “banqueiro-ministro” especulador) encaminharam
ao Congresso, no dia 3 de setembro.
Penso ser educado responder à sua
carta, como era ato comum quando ainda não tínhamos e-mail, zapzap, feicebuque
e todo esse escambal tecnológico de relações mais ou menos sociais. Falo,
obviamente, dos tempos de caneta em punho, envelopes com bordas verde-amarelo e
a língua no selo (que sempre ia para coleções singulares).
Isso em registro, gostaria de tecer
alguns pequenos comentários sobre suas primeiras palavras:
1. É interessante o uso da expressão “Nova
Administração Pública”, como se fosse um eco que insiste martelar nossos
ouvidos, como a dizer “acabou a velha política”. Um governo “novo” que nascia
velho (e, claro, todo meu respeito aos idosos deste país) e que aprofunda a tal
“velha política” do toma-lá-da-cá... é curioso que seu chefe tenha que recompor
sua base legislativa alinhando-se com as velhas raposas políticas (vulgo
“centrão”) para, assim, ganhar fôlego nas propostas que vocês apresentam...
essa, inclusive;
2. A segunda expressão interessante é a
preocupação com a população... “E daí?” para 10 mil mortes e “vida que segue”
para 100 mil mortes por COVID-19 e a proposta de 200 reais de auxilio emergencial
(ou seja, os 600 nunca foi a proposta de vocês) são dois bons exemplos de como
que a tal “preocupação com a população” é só discurso... adoram taxar livros
(obstacularizando-os ainda mais à periferia) mas não tocam numa sombra de pena
dos ricos não taxados... é hipocrisia que chama, né?
3. Coragem para enfrentar grandes temas...
Cês tão de brincadeira, né? Nem COVID (grande pandemia), nem ricos (grandes
riquezas), nem Bancos (grandes especuladores) cês conseguem (não querem, na
verdade) enfrentar e vem colocar no colo dos trabalhadores públicos deste país
que nós somos os grandes temas a serem enfrentados? Coragem para um caminho da
prosperidade de um governo que quer vender tudo? Até a Amazônia (papinho do seu
presidente com Al Gore, alguns meses atrás) cês entregam, inclusive ao garimpo
ilegal... Valei-me, visse?
– E o piadista sem graça é tu, né Russo? (Strovézio)
– É que normalmente tenho que explicar a piada... e a explico. Já isso
daí...?
– Apois... os grandes magistrados, os grandes militares, os “auxílios
paletós” não fazem nem cócegas nesta reforma.
– Estranho conceito de “grandes temas”, Strovézio...
4. Daí, fico a pensar: quem “amarra” o serviço público? O seu colega do Meio Ambiente, que avisa criminosos garimpeiros que serão “pegos na botija” e depois se reúne com eles em Brasília e carona com a FAB? Ou talvez o “foragido de estado” Ex-ministro da Educação que não conseguiu executar dois dígitos percentuais de seu orçamento de 2019 na educação básica? Foram as amarras o seu obstáculo? São os trabalhadores das agências da previdência, cada vez mais sucateadas, que travam o cuidado com a saúde previdenciária deste país? Ah, e enquanto Educação for direito (não plenamente mercadoria), todos os caminhos necessários para seu bom desenvolvimento estarão comprometidos?... Os interesses materiais, financeiros, capitais de fato não fazem nada... nadinha... cut-cut no Estado?
Tem outras expressões aqui que gostaria de desenvolver mais, mas uma
carta não pode ficar muito longa. Eu não vejo problema nisso, mas vai saber se
tu tens disposição, né? É a primeira vez que trocamos correspondência, então,
nem nos sabemos ainda.
Também achei curioso os tais “quatro princípios centrais”:
1) Foco em Servir: consciência de que a razão de existir do governo é
servir à população – já comentei, e não cola, né, Secretário?
2) Valorização dos Servidores: reconhecimento justo, com foco no seu
desenvolvimento efetivo: congelamento de salários hoje (para até 2021) e com uma PEC que em 2016
já trancou por 20 anos qualquer investimento no desenvolvimento público. Que
valorização é essa dos servidores? Esse governo que, inclusive, elaborou dossiê
“fora da lei” e persegue servidores (inclusive dentro dos ministérios) por suas
posições político-ideológicas (garantias constitucionais), quer valorizar quem?
Os seus ideólogos a la Olavão?
3) Agilidade e Inovação: gestão de pessoas adaptável e conectada com as
melhores práticas mundiais: essa, até agora, nunca verdadeiramente estabelecida. Não somos, de
longe, o Estado que mais tem servidores públicos e sua carta nem descreve, com
clareza e objetividade, quais são as “práticas mundiais” a que se refere. Até
pra gente saber, sabe? E entender o comparativo.
4) Eficiência e Racionalidade: atingir melhores resultados, em menos tempo e custando menos... ah, secretário. Esse blá-blá-blá de “fazer mais, com menos dinheiro” sempre, sempre recai sobre o mais lascado. Receita velha para dizer “vamos nos dedicar”, enquanto ricos ficam mais ricos, bancos ganham mais dinheiro, e o Mercado (os grandes, porque os pequenos seu chefe já disse em reunião ministerial que não tá nem aí) sempre ditando que “fico com os anéis, vocês com os próprios dedos”.
Bom... tu sabes, né? Se mandou carta pra mim, tu me conhece: as palavras precisam ser claras e objetivas, ser concretas, sem enrolação... É assim que faço pesquisa, é assim que ministro minhas aulas, é assim que oriento meus alunos, sem embromar. Sei que tem uns que passaram no governo, que inventaram títulos (até apelaram para a igreja para dizer que são mestres), mascararam-se de pesquisadores... mas sabes que isso, comigo, não rola. Então, se puderes dar mais clareza a esses princípios, seus parâmetros, suas raízes etimológicas, epistemológicas, gnosiológicas e ontológicas, fico muito agradecido, visse?
Outra coisa que eu gostaria de entender é se tu achas que eu não quero ver o Brasil avançar e nossa gente prosperar, sabe? É que, sei lá... ficou estranho esse seu comentário sobre a proposta ter sido construída por servidores (aparentemente apenas servidores) e ninguém contestar, por exemplo, essa mania de calcular os nossos salários dizendo que ganhamos mais do que o setor privado e nunca denunciar o setor privado por pagar mal... e porcamente. Só para trazer uma referência (aquilo que faltou nos seus quatro princípios). Mas pior, tipo FEIO-MESMO é deixar de dizer sobre os setores privados (inclusive a Globo, que seu chefão não gosta muito) que estão juntinhos nesta onda de vocês, deixar de registrar o quanto que eles dão ideias (e cartas) para que essa proposta seja construída... francamente! Deixar de dizer a verdade também é mentira, visse? Vai cuidando, seu menino.
Mas, ó... uma das partes mais legais da sua carta foi essa: “Nas próximas semanas, a proposta será debatida no Congresso e todo esforço será feito para que as informações circulem e as conversas avancem”... Olha, se eu não conhecesse as tramas e arti-tramas das relações políticas do congresso, a relação com o centrão e coisa e tal, já estaria achando que vocês fariam Audiências Públicas, debates no Congresso com vários representantes da sociedade, pesquisadores vários (não apenas os seus economistas do Instituto Lemann)... foi bem engraçada essa parte, visse? Kkkk
Por fim, prezado secretário, um registro: o fato de esta tosca proposta
não atingir os atuais funcionários públicos deste país não quer dizer que eu
fique no “ah, tudo bem então... tá firme!”... Solidariedade aqui é diferente
das que vocês estabelecem... Vocês, claro, porque tem um “líder que todos
seguem” (palavras do Mequetrefe, visse? Cobra dele) e fala por vocês quando
ataca imprensa, quanto ataca Universidades, quando ataca “professores que
querem destruir a família” e por aí vai... eu me solidarizo com quem quer vir
ao serviço público dar sua parcela de trabalho e contribuição para a construção
deste país...
Cês bem que poderiam ter coragem de partir pra cima dos grandes ricos,
né? Vai lá, taxa as fortunas deles... Vai dizer que não tez as contas e viu que
vale a pena?
Sim, fiquei curioso: essa tal secretaria de desburocratização, gestão e “Governo Digital”... é daí que se faz a gestão daquele tal gabinete do ódio do presidente? Juro que pensei que era uma salinha ao lado da sala dele, tu acredita?
Por fim, meu caro Caio, aproveitando
que tu és o cara da desburocratização e das ondas digitais e tals, poderia me
dizer por que o Queiroz depositou 89 mil reais na conta da Michele Bolsonaro?
E tu já fostes a um mercado patriota?
Depois me indica tá?
Abraço mais ou menos fraterno.
Russo
PS.: as imagens vieram do bom e velho "pesquisar no google". Se houver problema no uso de alguma, peço desculpas e as retiro se for o caso.
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