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sábado, 18 de abril de 2015

Um filme numa tarde de frio...

"O Evangelho de S. Mateus, em Latim,
que acabamos de escutar
fala sobre o milagre da
multiplicação dos pães e peixes.
Toda uma multidão...
centenas, milhares de
homens, mulheres e crianças,
ricos e pobres,
haviam seguido Cristo durante todo o dia,
para escutar suas palavras. 
Quando começou a anoitecer,
os apóstolos disseram a Jesus:
“diga para esta gente ir até às vilas
para que possam comer e dormir”. 
Cristo lhes disse:
“e por que vocês não dão comida?”.
E eles responderam:
“só há comida para nós,
só temos cinco pães e dois peixes”.
Cristo disse para a multidão sentar-se,
pegou os pães e os peixes,
olhou para o Céu,
abençoou e entregou aos discípulos
para que repartisse entre os presentes.
Havia mais de 5.000 pessoas.
Todos comeram,
e ficaram satisfeitos e
ainda sobraram 12 cestos de comida.”



Trata-se da passagem de “Daens – um grito de justiça”, filme produzido pelos idos de 1993 (só esses dias o conheci) e que fala sobre a vida do Pastor belga Adolph Daens... Não vou contar a história. Outro blogs já o fazem. Basta, aqui, dizer que conta a história deste Pastor em fins do século XIX e início do século XX, em pleno avanço do Capitalismo e de profunda exploração dos trabalhadores em fábricas à época.
No filme, a passagem de S. Mateus é contada por outro padre em Latim.
Na igreja, a burguesia belga, donos das Fábricas de Tecelagem de Aalst/Bélgica e Trabalhadores e Trabalhadoras, jovens, crianças... pobres e famintos/as. Devidamente separados... inclusive homens e mulheres.
“O povo grita: Tenho fome! Em alto e bom som!”, declama o personagem Pastor Dasns.
Após a tradução feita pelo Pastor Dasns, suas reflexões questionam o silêncio dos patrões e da burguesia ante a fome de seus operários (que era conhecida por aqueles), a exploração do trabalho de crianças a partir de 5-6 anos de idade e a Igreja, que rezava a Missa em Latin, como se não fosse prudente os pobres trabalhadores compreenderem as palavras da Bíblia e de Cristo.
Um ato, talvez, revolucionário... Alguns diriam (apenas) Cristão.
Por parte de Cristo, dar para todos os que lá estavam, à sua volta, o pão e o peixe que ele e seus apóstolos tinham.
Por parte do Pastor Daens, traduzir aquilo que a Igreja não lhes traduzia e questionar a fome que seus patrões lhes impunham.
Mas, dar o que se tem, não o que sobra, nestes tempos... em minha humilde e circense opinião (que, facilmente poderia ser contestada pelos cristãos que aqui, vez em sempre – ou não – vagueiam, já que sou ateu), é algo pra lá de raro. E quando muito, ainda que continue sendo o que sobra, é dado por pena... Não por solidariedade.
Mas, o que destaco do filme – e mantendo o diálogo que fizemos a partir de nosso último texto – “Entre o ceticismo e a esperança” – lembrei-me da palavra correta que sempre acompanha a “Esperança”... e que, reconheçamos, passou desapercebida nesta postagem.
O que, parece-me, moveu Pastor Daens, ao traduzir a homilia de S. Mateus em Latim e a presença da burguesia naquela casa (a Igreja) foi, no final das contas, a indignação.
E é a indignação que move, que dá força à nossa Esperança, que a torna concreta e permanente.
Por isso esse Picadeiro, essa Lona Furada é comprometida com a indignação e a esperança de Sem Terras, de Sem Tetos, de Sem Direitos mundo afora. E por nos indignarmos com o que leva, cada vez mais, a Classe Trabalhadora a condições cada vez mais (vale a pena a repetição do termo aqui) degradantes de sobrevivência... por nos indignarmos com a morte de jovens (negros e pobres e favelados em sua maioria), índios, camponeses, quilombolas, ao mesmo tempo que perdem seu direito a moradia... continuaremos a nutrir nossa Esperança.
Um dia após o outro, e entendemos que o ceticismo não cabe em nosso Circo, não conduz a arte de nossos artistas, não emociona os aplausos de nosso pequeno público.
Um filme, numa tarde fria e chuvosa, em Salvador... É... não foi nada mal...
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Marcelo "Russo" Ferreira