Saudações aos membros da mesa
Saudações à Professora Mirleide
Chaar Bahia, homenageada da turma. Saudações a Ester Corrêa, Oradora penso que
com justiça e que em suas palavras soube expressar os desafios que agora,
todos/as vocês tem pela frente.
Minha saudação, claro, especial, aos
alunos, agora professores e professoras de Educação Física 2010, seus
familiares e amigos presentes. Saúdo, também, todos e todas que por caminhos e
descaminhos da vida, não estão presentes aqui mas, com certeza, estão sendo
lembrados em seus corações. Em particular, ao coração de nossa querida Ester
Pina.
Fico feliz em ter a oportunidade de
gozar, mais uma vez, da honra de ser homenageado por mais uma turma de
formandos desta Faculdade que me acolheu em 2008 e vem me colocando inúmeros
desafios, tanto dentro, quanto fora dela.
Com cada turma, um caminho diferente
nos mesmos lugares, quase as mesmas disciplinas, desafios particulares, a falta
de professores em nossa Faculdade, a saída de alguns, a chegada de outros, o
retorno aos que estavam em pós-graduação... Creio que a própria oradora da
turma pôde sintetizar melhor e com mais realismo a história da Turma 2010. Eu,
da minha parte, falarei a vocês, Professores e Professoras de Educação Física,
do lugar de onde estou: o de constante aprendiz de Lutador e Lutadora do
Povo... Esse, aliás, um termo que lamentavelmente vem sendo de um tempo pra cá
achincalhado, desqualificado em diferentes manifestações, algumas até
acadêmicas. Claro, não por aqueles que conseguem olhar e compreender as
contradições deste nosso mundo, destes nossos tempos.
E isso eu tive o privilégio, mesmo em
um tempo curto, de compartilhar com vocês: a franqueza e a fraternidade de
debates espinhosos, difíceis, antagônicos inclusive e que me provaram que não
apenas vale a pena, mas é necessário continuarmos militantes, combatentes,
Lutadores e Lutadoras do Povo, mesmo que sempre aprendizes.
Portanto, ao falar para vocês como
professor, falo, também, como aprendiz de nossa história de convivência.
É comum eu buscar na história da
humanidade as lições que aqui valeriam a pena ser, pelo menos, compartilhadas.
Não seria diferente com vocês. Mas, há uma particularidade que irei destacar
mais ao final de minhas palavras.
Por enquanto, vamos falar do 11 de
abril.
Tem um cara que nasceu em 11 de
abril que, acho, é a cara de vocês. Digo isso, porque lembro a “Banda da 2010”.
Lembro do Djan e da Paula (que mudou de curso) tocando nesta banda. E lembro de
um som em particular que se cantarolava mais ou menos assim:
“Eu tava triste, tristinho / Mais
sem graça que a top-model magrela / Na passarela / ... / Por isso hoje
eu acordei / Com uma vontade danada / De mandar flores ao delegado / De bater
na porta do vizinho / E desejar bom dia / De beijar o português / Da padaria”
Zeca Baleiro é um cara que nasceu em 11 de abril e não apenas
isso, foi a primeira música tocada pela saudosa Banda da 2010 aqui na UFPA.
Pelo menos que eu tenha testemunhado.
A música se fez presente nesta Turma.
Tocamos juntos nas atividades do CONCENO em 2010, testemunhei o som da Banda em
uma recepção de calouros da 2011 quando eu falava o bom e velho mantra “Toca
Raul!”. Tocamos no alojamento do CONCENO em Macapá (Ranielle e Denison mandando
ver) e acho que o Bar Acadêmico deste mesmo evento, com “Que país e esse?”
chamado por vocês que lá estavam, manifestava a música nas veias desta Turma.
Que ela continue acompanhando-os adiante.
Mas, há mais na história desta data
que, agora, também lhes pertence e, ao mesmo tempo, não lhes pertence mais.
Porque a história não pertence apenas a aqueles que a contam e é entendida como
oficial. Fizemos o possível para entendermos e vivenciarmos isso ao longo da
nossa relação acadêmica.
Quero contar a história de 11 de abril
voltando ao tempo e, claro, dividir com vocês as lições que, acredito, possam
ser tiradas dela. E histórias que, se um dia lhes foram contadas – e quase
sempre não as são – foram incompletas.
11 de abril de 2002... Venezuela...
Talvez quisesse falar aqui do dia 13 de abril, mas é o dia 11 que,
inquestionavelmente, nossas lições deste ato são importantes. Nesta data, a
imprensa privada, os grandes ricos daquele país (e de fora) e o apoio intenso
dos Estados Unidos perpetraram um Golpe de Estado, tirando Chavez da
presidência em assalto. Para aqueles céticos, que escutam minhas palavras com o
olhar enviesado de crítica ao militante, é preciso lembrar: Hugo Chavez era um
presidente eleito pelo povo, que conduzia seu governo para atender as
necessidades e anseios de seu povo e fora vítima de um Golpe Civil, Midiático e
Pouco Militar (desconsiderando a presença norte-americana). Foram dias, semanas
que antecederam o Golpe, transmitidos com imagens retorcidas, invertidas,
alteradas com o único objetivo de formar uma opinião homogênea, nacional e
internacionalmente, sobre o que acontecia na Venezuela e, portanto, legitimar o
golpe contra o seu presidente Hugo Chavez. E está acontecendo de novo...
Mas o que ninguém imaginava era o
retorno de Chavez, dois dias depois, nos braços do povo. Aprendemos com a volta
de Hugo Chavez ao Palácio de Miraflores a soberania. Não houve perseguição...
Não houve censura... E a lição de soberania, meus caros professores e
professoras de Educação Física, nós falamos em sala de aula, quando refletíamos
sobre o Estado Soberano.
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Hugo Chaves! Presente! |
Um povo organizado e soberano não se
curva aos interesses do capital. O que vimos em 2002 na Venezuela foi o
representante do povo levado de volta a seu lugar pelos braços do povo,
desmentindo e desmascarando a mídia, o capital e o imperialismo
norte-americano. Vimos um pouco disso ano passado, aqui no Brasil, mas nossa
Imprensa conseguiu se reorganizar mais rapidamente do que naqueles tempos.
O Povo, senhoras e senhores... e
vocês, como professores e professoras que agora já são, tem o compromisso com
essa lição: não aceitem e não permitam que seus alunos, na escola ou fora dela,
acreditem e aceitem tudo sem questionar, sem buscar mais, não apenas
informações, mas conhecimento. E conhecimento, senhoras e senhoras, pode ser
revolucionário. Nas mãos de Lutadores e Lutadoras do Povo, certamente é
revolucionário.
Houve um 11 de abril bem distante em
nossa história. E bem triste também... aqui no Brasil, daqui a alguns dias,
temos a “celebração” do Dia do Índio. Em nossas escolas, principalmente, esta
data é marcada pelas manifestações mais superficiais, em sua grande maioria,
cheia de simbologia exótica e alegórica. É uma data marcada por lei e tals...
Mas, gostaria que vocês jamais se esquecessem deste 11 de abril, não apenas por
estarem oficialmente se formando... Mas que celebrassem também o “Dia da Nação
Charrua e da Identidade Indígena” ("Día de la Nación Charrúa y de la
Identidad Indígena"). É o Dia do Índio uruguaio, uma data nova, do ponto
de vista legal, naquele país (de 2009). Mas, diferente de nossas terras brasilis, ainda que tarde,
reconhecida. Chama-se “Dia da Nação Churrua”, porque em 11 de abril de 1831, o
Povo Churrua foi massacrado em Salsipuedes. Um etnocídio, meus amigos e minhas
amigas, que nossos livros de história não contam. Como eu disse, uma história
triste e que não se limita apenas a essa data e a esse massacre, pois as
consequências pontuais a este povo o seguiu por mais dois anos, pelo menos...
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Últimos índios Churruas, aprisionados e sendo levados para a França... como atração de circo... |
É preciso lembrar: um povo sem história
é um povo sem memória... Um povo sem memória é um povo sem esperança. Essa é a
simples lição da Nação Churrua... Nação Churrua, Presente!
Quero convidá-los a um outro 11 de
abril, também distante, em 1856 e para um lugar também um pouco mais distante.
Falo da Costa Rica, país da América Central. Celebrem este dia, também pelo
povo de Costa Rica. Celebrem essa data em nome de Juan Santamaria, jovem costarriquenho.
Aquele país enfrentava um conflito bélico contra a Nicarágua (com apoio dos
Estados Unidos – de novo o imperialismo) que, naqueles tempos tinha como
presidente William Walker... um norte-americano, que queria conquistar e
escravizar a América Central. Hoje, meus camaradas, na Costa Rica, é o “Dia de
los Héroes”, o Dia dos Heróis... Esse jovem costa-riquenho avançou contra as
tropas inimigas, com uma tocha em mãos, na histórica Batalha de Rivas”.
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Estátua de Juan Santamaria |
Não é fácil ser Herói, camaradas... Parece-me,
inclusive, que em tempos em que até o alienante espaço de realities-show chamam
seus participantes de “heróis”, em que nos aproximamos de eventos que formam
“novos” heróis no esporte (por mais alienados que sejam), falta-nos a
capacidade de dizer quem é Herói verdadeiramente... Eu me arriscaria aqui,
mesmo com o risco de parecer clichê, de parecer ousado demais, de convidá-los a
serem heróis. Precisamos reescrever esse conceito, olhando para a história dos
verdadeiros Lutadores e Lutadoras do Povo.
Mas, afinal, quem eles são?
Aqui no Brasil, teríamos muitos
exemplos de heróis, de Lutadores e Lutadoras do Povo. Hoje, 11 de abril,
completamos exatos 50 anos da eleição, no Congresso Nacional, de Humberto
Castelo Branco... o Primeiro presidente da Ditadura Civil-Militar brasileira,
que durou 21 anos. É importante que percebamos o que foi este período e porque
essa data é importante, inclusive, para vocês. Vocês estão se tornando
Professores e Professoras de Educação Física no ano em que lembramos dos 50
anos do Golpe Civil-Militar em nosso país. Não é apenas o 11 de abril... São 50
anos...
Falamos agora a pouco de música...
Durante 21 anos, não podíamos cantar livremente.
Falamos agora a pouco de povos
indígenas... Sim, eles também foram quase que exterminados durante 21 anos...
Eles não podiam ser livres, como aprenderam a ser...
Falamos agora a pouco de Jovens, de
Heróis... Eles não morreram de overdose, mas não estão entre nós. Durante 21
anos seus sonhos, suas lutas foram silenciadas...
Para mim, particularmente, não é um
tema fácil... Sempre que falo sobre ele com meus/minhas
companheiros/companheiras de luta e estrada, inclusive aqui, entre vocês, falo de
um tempo que não vivi com a consciência do que não vivi nestes tempos. Não vivi
um avô... não vivi uma educação de verdade e formadora da liberdade... Vivi o
medo alheio sem entende-lo, inclusive dentre de minha casa...
Agora, tenho a impressão que
precisamos esperar 50 anos, 50 longos anos para saber cada vez mais o que foi
1964. Do que acontecia antes e do que aconteceu depois.
Mas é possível celebrarmos, com vocês,
essa data. Sim, celebrar! Vocês, aqui em Castanhal, estão recebendo seus
diplomas, de professores e professoras de Educação Física. E o que faz um
Professor ou uma Professora de Educação Física, em país que ainda não aprendeu
a contar e reconhecer sua própria história?
Voltemos às lições anteriores: um povo
sem memória é um povo sem história e um povo sem história é um povo sem
esperança.
Vivemos tempos difíceis, meus e minhas
camaradas... Tempos em que, talvez mais do que nunca, precisamos ficar atentos.
Tempos em que mais do que nunca a juventude precisa ter esperança.
Vocês agora se formam... há um legado
de vida da Turma 2010, como há um legado das turmas anteriores e das que virão.
Mas ainda temos muito que fazer nesta Universidade. Já disse a todos e todas
que pude cumprimentar em suas formaturas e continuarei a dizer durante as
próximas: precisamos pintar essa Universidade de negro, de índio, de camponês,
de trabalhador, de mulher... Precisamos pintar essa Universidade de
Revolucionária. Eram as palavras de Che Guevara após a Revolução Cubana de 1959
quando ia às Universidades em Cuba. Precisamos fazer isso desde o momento que
pretendemos entrar nesta Universidade até o momento em que a ela retornarmos. E
ainda que não acreditem nestas palavras de um comunista, ateu, revolucionário,
pelo menos olhem para esta Universidade... Olhemos para essa Universidade e
vejamos, aqui, neste Ato de Formatura, se está faltando alguém... Quem deveria
estar aqui, quem esteve presente nesta jornada de pouco mais de quatro anos com
vocês e não está aqui...
Eu olho para vocês, eu vejo vocês,
seus familiares e amigos aqui presentes e, sim, eu vejo todos aqueles que
mencionei aqui presentes. Mulheres, Trabalhadores, representantes indígenas, negros,
pobres financeiramente, representantes da terra, da floresta, das águas
amazônicas... Mas, ao mesmo tempo, não os vejo. Precisamos olhar para nossa
Universidade e compreender que ela não é feita apenas de alunos e
professores... Espero ainda pelo dia em que verei na UFPA, aqui em Castanhal,
um técnico-administrativo, um trabalhador ou trabalhadora da limpeza e
manutenção, da biblioteca, do transporte neste Ato, homenageados com nome de
turma, como patronos, paraninfos... e entende-los como não apenas importantes,
mas essenciais à nossa formação...
Realmente ainda temos muito que fazer
por aqui e, por isso mesmo, e à guisa de minhas conclusões, gostaria de refazer
o convite já feito em sala, acrescentado de um que vocês precisam,
inicialmente, procurá-lo dentro de vocês.
Primeiro: voltem à esta casa. Voltem à
esta Universidade... Até podemos ficar em trincheiras opostas, e isso faz parte
da Universidade Pública brasileira. Mas voltem a esta casa... Essa formatura não
pode ser ponto final na formação de vocês.
Mas há um segundo convite, sempre
feito e sempre a faze-lo: convido-os a serem revolucionários. Heróis e
Revolucionários! Esse é o novo 11 de abril! Por tudo o que viveram nesta
Universidade. Por tudo o que não viveram e não perceberam nesta Universidade.
Por tudo o que esta Universidade ainda precisa fazer e, principalmente, sejam heróis
e revolucionários por quem sustenta essa Universidade: o povo brasileiro.
A formação de vocês não acaba aqui. O
que vocês construíram aqui não nos pertence (nós professores) e nem a vocês...
e, por isso, gostaria de terminar essas poucas palavras trazendo um poeta já
conhecido de vocês. Afinal, foi um colega... um companheiro de vocês que lhes apresentou,
em um de nossos Temas Contemporâneos, Bertold Brecht. O escritor da classe
trabalhadora em seu “Sobre a Construção de Obras Duradouras” nos dizia:
“Quanto tempo duram as
obras? Tanto quanto o preciso pra ficarem prontas. / Pois enquanto dão que
fazer / Não ruem.
Convidando ao esforço /
Compensando a participação / A sua essência é duradoura enquanto convidam e
compensam.
As úteis / Pedem
homens (e mulheres, claro)
As artísticas / Têm
lugar pra a arte
As sábias / Pedem
sabedoria
As destinadas à
perfeição / Mostram lacunas
As que duram muito / Estão
sempre pra cair
As planeadas
verdadeiramente em grande / Estão por acabar.
Incompletas ainda / Como
o muro à espera da hera
(Esse esteve um dia
inacabado / Há muito tempo, antes de vir a hera, nu!)
Insustentável ainda / Como a máquina que se
usa / Embora já não chegue / Mas promete outra melhor. / Assim terá de
construir-se / A obra pra durar como / A máquina cheia de defeitos.”.
Quanto tempo dura a turma 2010
da Faculdade de Educação Física da UFPA/Castanhal? Vocês devem durar muito,
muito tempo, camaradas... Pois ainda darão muito o que fazer.
Vida Longa à Turma 2010 de
Educação Física da UFPA/Castanhal.
Vida Longa!