“Tudo o
que transformo me transforma /
em asas
para eu voar. /
Tudo o
que eu grito em meu suspiro /
só os
loucos podem escutar. /
Minha
insana lucidez...”
(Os indiferentes de Gramsci
Marcelo Russo/1998)
Em
tempos outros, não tão distantes (cerca de 15 anos), acompanhávamos nos
noticiários Brasil afora (da mídia vendida e da imprensa compromissada, claro que com olhares antagônicos), os
enfrentamentos que os Movimentos Sociais Organizados mantinham de norte a sul do país, As greves de Professores (Universidade, Estados, Municípios e até Escolas
Particulares), de Motoristas e cobradores (e lembro da operação tartaruga que
os motoristas de Recife e Olinda realizaram nos idos de 1999 – 100% de ônibus
nas ruas, andando sempre a 20 km/hora), da Petrobrás (que o Governo FHC tentou
interromper a bala), de metroviárias e até operários da Construção Civil.
Naquela
época, resgatava um texto que já conhecia (tardiamente, mas em meu tempo) de
Antônio Gramsci (aquele que a Revista Veja – vamos falir!!! – chamava de
terrorista, em matéria recente). Chama-se simplesmente “Os Indiferentes”,
escrito em fevereiro de 1917 pelo educador italiano.
Em
tempos de greves (Docentes e Técnicos das Universidades, Professores em alguns
Estados do País – os bravos professores da Bahia, em especial homenagem - de Canteiros de Obras dos Megaeventos
brasileiros – que bom seria se as reivindicações ultrapassassem a relação
específica das condições de trabalho – Motoristas, Cobradores e outros
condutores de transporte “público” urbano e até expressões significativas de
Servidores da Segurança Pública e da área da Saúde), tempos parecidos com 15 anos atrás e,
particularmente, com o que vejo e o que não vejo em meu particular local de
trabalho (a UFPA/Castanhal), lembrei-me, novamente, deste texto.
Apenas
reproduzo-o...
Para lembrar aqueles/as que lutam, que
nossa luta é histórica e só terminará quando vencermos!
Para lembrar aqueles/as que lutaram em
outros tempos e agora não lutam mais, (alguns por forças já inexistentes, outros, por assumirem - ou não - outra posição no debate social e político de nosso país) que os princípios, os inimigos e,
principalmente, os/as companheiros/as de lutam ,continuam lutando!
E para lembrar aqueles/as indiferentes
que nunca serão vítimas disso... Indiferentes o são por consciência...
“Odeio
os indiferentes. Como Friederich Hebbel acredito que "viver significa
tomar partido". Não podem existir os apenas homens, estranhos à cidade.
Quem verdadeiramente vive não pode deixar de ser cidadão, e partidário.
Indiferença é abulia, parasitismo, covardia, não é vida. Por isso odeio os
indiferentes.
A
indiferença é o peso morto da história. É a bala de chumbo para o inovador, é a
matéria inerte em que se afogam freqüentemente os entusiasmos mais
esplendorosos, é o fosso que circunda a velha cidade e a defende melhor do que
as mais sólidas muralhas, melhor do que o peito dos seus guerreiros, porque
engole nos seus sorvedouros de lama os assaltantes, os dizima e desencoraja e
às vezes, os leva a desistir de gesta heróica.
A
indiferença atua poderosamente na história. Atua passivamente, mas atua. É a
fatalidade; e aquilo com que não se pode contar; é aquilo que confunde os programas,
que destrói os planos mesmo os mais bem construídos; é a matéria bruta que se
revolta contra a inteligência e a sufoca. O que acontece, o mal que se abate
sobre todos, o possível bem que um ato heróico (de valor universal) pode gerar,
não se fica a dever tanto à iniciativa dos poucos que atuam quanto à
indiferença, ao absentismo dos outros que são muitos. O que acontece, não
acontece tanto porque alguns querem que aconteça quanto porque a massa dos
homens abdica da sua vontade, deixa fazer, deixa enrolar os nós que, depois, só
a espada pode desfazer, deixa promulgar leis que depois só a revolta fará
anular, deixa subir ao poder homens que, depois, só uma sublevação poderá
derrubar. A fatalidade, que parece dominar a história, não é mais do que a aparência
ilusória desta indiferença, deste absentismo. Há fatos que amadurecem na
sombra, porque poucas mãos, sem qualquer controle a vigiá-las, tecem a teia da
vida coletiva, e a massa não sabe, porque não se preocupa com isso. Os destinos
de uma época são manipulados de acordo com visões limitadas e com fins
imediatos, de acordo com ambições e paixões pessoais de pequenos grupos ativos,
e a massa dos homens não se preocupa com isso. Mas os fatos que amadureceram
vêm à superfície; o tecido feito na sombra chega ao seu fim, e então parece ser
a fatalidade a arrastar tudo e todos, parece que a história não é mais do que
um gigantesco fenômeno natural, uma erupção, um terremoto, de que são todos
vítimas, o que quis e o que não quis, quem sabia e quem não sabia, quem se
mostrou ativo e quem foi indiferente. Estes então zangam-se, queriam eximir-se
às conseqüências, quereriam que se visse que não deram o seu aval, que não são
responsáveis. Alguns choramingam piedosamente, outros blasfemam obscenamente,
mas nenhum ou poucos põem esta questão: se eu tivesse também cumprido o meu
dever, se tivesse procurado fazer valer a minha vontade, o meu parecer, teria
sucedido o que sucedeu? Mas nenhum ou poucos atribuem à sua indiferença, ao seu
cepticismo, ao fato de não ter dado o seu braço e a sua atividade àqueles
grupos de cidadãos que, precisamente para evitarem esse mal combatiam (com o
propósito) de procurar o tal bem (que) pretendiam.
A
maior parte deles, porém, perante fatos consumados prefere falar de insucessos
ideais, de programas definitivamente desmoronados e de outras brincadeiras
semelhantes. Recomeçam assim a falta de qualquer responsabilidade. E não por
não verem claramente as coisas, e, por vezes, não serem capazes de perspectivar
excelentes soluções para os problemas mais urgentes, ou para aqueles que,
embora requerendo uma ampla preparação e tempo, são todavia igualmente
urgentes. Mas essas soluções são belissimamente infecundas; mas esse contributo
para a vida coletiva não é animado por qualquer luz moral; é produto da
curiosidade intelectual, não do pungente sentido de uma responsabilidade
histórica que quer que todos sejam ativos na vida, que não admite agnosticismos
e indiferenças de nenhum gênero.
Odeio
os indiferentes também, porque me provocam tédio as suas lamúrias de eternos
inocentes. Peço contas a todos eles pela maneira como cumpriram a tarefa que a
vida lhes impôs e impõe quotidianamente, do que fizeram e sobretudo do que não
fizeram. E sinto que posso ser inexorável, que não devo desperdiçar a minha compaixão,
que não posso repartir com eles as minhas lágrimas. Sou militante, estou vivo,
sinto nas consciências viris dos que estão comigo pulsar a atividade da cidade
futura que estamos a construir. Nessa cidade, a cadeia social não pesará sobre
um número reduzido, qualquer coisa que aconteça nela não será devido ao acaso,
à fatalidade, mas sim à inteligência dos cidadãos. Ninguém estará à janela a
olhar enquanto um pequeno grupo se sacrifica, se imola no sacrifício. E não
haverá quem esteja à janela emboscado, e que pretenda usufruir do pouco bem que
a atividade de um pequeno grupo tenta realizar e afogue a sua desilusão
vituperando o sacrificado, porque não conseguiu o seu intento.
Vivo,
sou militante. Por isso odeio quem não toma partido, odeio os indiferentes.”
(Os
Indiferentes – Antonio Gramsci – fevereiro de 1917)
Venham
Todos!
Venham Todas!... mas não os
indiferentes!
Vida Longa!
Marcelo “Russo” Ferreira
Como nos alerta brecht...
ResponderExcluirEu vivo em tempos sombrios.
Uma linguagem sem malícia é sinal de estupidez,
uma testa sem rugas é sinal de indiferença.
Saudações
Derick carvalho
Salve, CAmarada Derick.
ResponderExcluirEstamos Alertas!
Abraços
Há braços!