RESPEITÁVEL PÚBLICO!

VENHAM TODOS! VENHAM TODAS!

quarta-feira, 13 de junho de 2012

O Tribunal da Terra...






 “E as crianças, podendo ser, crescem”
(“levantado do Chão /
José Saramago)


 
Estávamos em dívida.



Afinal, o Tribunal Popular da Terra aconteceu no Bairro do Capão Redondo (que ficou conhecido pela voz e obra de Ferréz), periferia paulistana, entre os dias 20 e 22 de abril deste ano.
É verdade que os “grandes” meios de comunicação, inclusive para suas “brincadeiras” jornalísticas de dar uma de oposição, ficaram calados. Afinal, tratava-se de colocar no banco dos réus o Estado Brasileiro e sua atuação em defesa de seu povo, principalmente o mais pobre, o mais trabalhador, o mais sofrido.
As acusações:
1. a farsa da “cidade modelo” sobre Curitiba e o despejo de 600 famílias – para atender interesses privados (Grupo CR Almeida e a Prefeitura daquela Cidade) e o assassinato de Celso Eidt, um morador daquela comunidade (conhecida como Fazendinha), debaixo do nariz da PM – isso para não falarmos das fraudes da COHAB-CT (Jardim Sabará/Curitiba), Jardim Itaqui na periferia de São José dos Pinhais e os conflitos com a Mineradora Saara, a comunidade Olga Benário no falido Projeto Novo Guarituba;
2. os Mega Projetos, sobretudo Belo Monte que, mesmo com 14 ações judiciais nacionais e duas internacionais, continua avançando com as obras e a degradação ambiental e expulsão dos povos daquela região;
3. Copa do Mundo e Jogos Olímpicos, com seu avanço em obras e despejos de milhares de famílias, em nome da mobilidade urbana (apenas para garantir essa mobilidade entre a hospedagem – hotéis – e os locais dos eventos), passando por cima de todo e qualquer organização inclusive prevista para esses eventos, como os Conselhos das Cidades, os Conselhos de Gestores de Habitação e o Conselho Nacional da Cidade, privilegiando apenas o boom de interesses empresarias dos patrocinadores oficiais;
4. Pinheirinho/São José dos Campos, caso conhecido nacionalmente e que já caiu no esquecimento da imprensa brasileira e da política nacional, mas que foi conhecida pela ferocidade e violência da PM paulista (com 2 mil homens armados até os dentes e, alguns, sem a identificação no uniforme – obrigatória, para o direito do cidadão) para rever um terreno do falido Naji Nahas. Foram 72 duas horas de brutalidade contra 1500 famílias e suas casas;
5. Povos Guarani e Kaiowá, na região do Mato Grosso do Sul, onde o Cacique Marco Verón foi torturado e morto em 2003 e seu neto, em 2011, emboscado e alvejado na perna. A mesma coisa, ainda em 2011, aconteceu com o Cacique Guaiviry, Nisio Gomes, morto e carregado com mais três crianças. Todos os casos a mando de fazendeiros locais que não respeitam nem mesmo as áreas já demarcadas;
6. Fazenda Cutrale (Iaras, interior paulista), conhecida após a ocupação do MST em 2011 e a derrubada de 1% dos pés de laranja e a encenação de equipamentos já quebrados nas oficinas da Fazenda como fruto da “invasão” do Movimento. A empresa está envolvida em crimes contra o trabalho (inclusive com deúncias de exploração de mão de obra – trabalho escravo), crimes ambientais e contra a economia brasileira.
O Universal Circo Crítico não estava no Capão Redondo entre os dias 20 e 22 de abril. Gostaríamos de estar, de sermos presentes.


Mas, em nome de nosso público e nossos artistas, fazemos a singela, humilde e esperançosa reflexão para a importância deste Tribunal... Popular... da Terra.
Somos um lugar, um tempo, uma história em que sempre nos faremos aprendizes dos lutadores do povo, porque é esse o lado da trincheira que optamos. Dessa condição, apenas o orgulho de afirmar, sem meias palavras, de que lado estamos.
Somos um lugar que, quando iniciamos, já afirmávamos: ele funciona como uma caixinha de surpresas, magias, brincadeiras, equilibristas, animais e o palhaço. Elementos imprescindíveis de um Circo e que tem, nas crianças (as reais e as que estão dentro de nós) seus sujeitos mais importantes. Delas e para elas, nossa reflexão.


Quando poderão brincar as crianças (invisíveis?) da Fazendinha? Quando poderão desenhar magias e fantasias as crianças de Belo Monte? Quando brincarão de correr e se esconder as crianças de todas as comunidades varridas pelos projetos dos Megaeventos Esportivos? Quando experimentarão a fantástica sensação de equilibrarem-se e fazerem-se voar as crianças de Pinheirinho? Quando poderão brincar de subir árvores e nadar nos rios e igarapés as crianças Guarani e Kaiowá? Quando nossas crianças terão frutas, todos os dias, para refrescarem-se após suas inimagináveis brincadeiras de “ser criança”?
Se acharmos difícil responder essas perguntas, imaginemos o quão grandioso será falarmos das crianças xiapas, palestinas, mulçumanas, indígenas, africanas, quilombolas, campesinas mundo afora... e suas famílias... e suas histórias...


Não estávamos no Tribunal... mas sempre estivemos...

Venham Todos!
Venham Todas!

Vida Longa!

Marcelo “Russo” Ferreira


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Espero que aprecie o espetáculo, livre, popular, revolucionário, brincante...! E grato fico pelo seu comentário...
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Vida Longa!
Marcelo "Russo" Ferreira