Eram tempos
difíceis e desafiosos. Em plena era FHC, de política neoliberal aviltante e de
fortalecimento dos Movimentos Sociais Organizados no Campo e na Cidade, ao
mesmo tempo em que eram profundamente demonizados pela grande mídia burguesa
deste país.
Tempos sombrios
de outra ordem, para não nos esquecermos que a Ditadura Militar foram também
tempos sombrios.
Naquele
ano, já estava profundamente envolvido com a questão campesina e arraigava,
realizado como homem e como educador, meus aprendizados com o Movimentos dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra, o MST.
Durante algum tempo, participei e/ou
organizei o que chamávamos de “Estágio Interdisciplinar de Vivência”...
Passávamos 15 dias morando e convivendo em um Assentamento Rural, aprendendo o
dia-a-dia do trabalho, da educação, da vida em família e em comunidade, das
dificuldades, das celebrações, das contradições de um assentamento, da vida
campesina.
Naqueles tempos, 1997, ainda
acompanhávamos os primeiros meses pós Massacre de Carajás (abril de 1996). E é incrível
como sempre que olho as imagens daquele confronto de Trabalhadores Sem Terra,
com paus e pedras, enfrentando o Estado armado (Polícia Militar) a serviço do Capital
(Vale do Rio Doce e Latifúndios locais) com fuzis de grosso calibre e armas de
fogo, eu sempre me emociono... o que dizer daqueles que sobreviveram ou que tinham amigos e parentes naquele evento.
E era incrível como trabalhadores do
campo, iletrados ou semiletrados, sabiam o valor de proteger os seus e não
temeram a polícia ao verem estendido no chão, o Camponês Amâncio. E é incrível
como a nossa Universidade tem Mestres e Doutores que, em tempos de greve, olham
apenas para si e não para os seus também trabalhadores, que lutam por melhores
condições de trabalho e salário.
A quem serve, a que serve, para que
ser... Contra quem e contra que serve o conhecimento, expresso nos títulos de
Mestres e Doutores???
Era 1997 e lá estava eu, em um
Assentamento Campesino no oeste de Santa Catarina... o violão estava comigo. Expressar
o Amor por um coletivo... um grande aprendizado para um até hoje aprendiz de
lutador do povo.
Tinha que sair música.
Apresento: A Pedra do Oeste:
“O
espaço e o tempo que eu imaginava / emergiam dos efeitos / das ações daquela
tribo. / Naquela pedra eu sentava e escrevia. / Olhava ao Oeste / via um sol a
se esconder / Vermelho... / Sentia em teu cheiro inspiração. / Tão perto e tão
distante / como a sombra e o corpo.
Nossa
ação de reação. / ‘Alguma coisa está fora da ordem’.
Havia
uma ponte em nossos olhos. / Por trás de nossas sombras / existia terra fértil.
/ O labor / refletido em nossas mãos / que acariciavam o sentido / do seu suor.
/ Seu suor! / Gotas que traduzem / um sentimento de paixão... / Não acabou.
Nossa
ação de reação. / Intensamente procura-se a ordem / de Revolução.
Volte
seu olhar se desrealizar./ Sinta as colunas, / compactas e concretas. / A
distância sempre a nos eternizar. / A tribo não morreu / e o poeta está lá. /
Sentindo seu odor me dominando. / Recordo aquela pedra e o sol já escondido. /
Mas o seu tom vermelho me deixou / perdido em teu amor / e dominado na bandeira
de ação.
Grande
ação de reação. / A ordem de desordenar a ordem / Só Revolução”
(“A Pedra do Oeste” - 1997)
Venham Todos!
Venham Todas!
Vida Longa!
Marcelo “Russo” Ferreira
Para não esquecer... essa letra já tem registro, em Cartório. A música está aqui, no meu coração e em minha mente...
A foto aqui foi tirada durante o período de preparação para o Estágio de Vivência em SC.
Ótima a reflexão sobre o esvaziamento das Universidades em greve... por aqui não está diferente, uns heróis da resistência que promovem as ações (sou um deles) enquanto os demais aproveitam para resolver questões pessoais e pouco fazem pelo movimento grevista... mas continuamos por aqui lutando mesmo por estes que nada fazem.
ResponderExcluirAbc,
Legal a foto também... lá em SC
E seguiremos fortes, certo?
ResponderExcluirA Foto é histórica... e tem muita história p'ra contar.
Vida Longa!