RESPEITÁVEL PÚBLICO!

VENHAM TODOS! VENHAM TODAS!

sábado, 22 de outubro de 2011

O Universal Circo Crítico... Dilemas da Educação...


“(...) Uma das nossas brigas na História (...) é exatamente esta:
fazer tudo o que possamos em favor da eticidade,
sem cair no moralismo hipócrita,
ao gosto reconhecidamente farisaico”
(Paulo Freire – Pedagogia da Autonomia)


            Nestes tempos últimos, andando pelos corredores da Universidade onde trabalho, me chamou a atenção a quantidade de cartazes pregados nas paredes, alguns inclusive dentro de salas de aula.
            Minha primeira reação, incômoda, foi a de que cada vez mais não nos importamos com o que é ou deixa de ser “sujar”... Cartazes, informativos, avisos são sempre úteis, para um ou para outro. Um Congresso aqui, um grupo de estudos e/ou orações ali, uma atividade no Campus puxado por uma das Faculdades que ali estão, divulgação de edital, seleção para bolsa... Sim, sujamos mas são informações (com pesos diferentes a cada olhar) aparentemente importantes. E talvez por isso não nos importamos tanto com a sujeira.
            Chamava a minha atenção, também, que eles eram colocados à revelia. Seus interessados primeiros (quem promove o evento, quem organiza o grupo) pacientemente vão colocando seus cartazes em lugares – à eles – estratégicos, no sentido de fazer chegar ao maior número possível de pessoas a informação que desejo passar, comunicar... vender.
            Mas, um daqueles cartazes se destacou e, claro, foi alvo de algumas conversas de corredor e, mais pontualmente, de uma manifestação minha institucional. Mas isso (a manifestação) importa menos aqui.
            Falo de um Congresso: Congresso Nacional de Aprendizagem, vulgo CONAP. Um Congresso, no âmbito da Universidade, sempre nos leva a compreendê-lo como um evento que irá aglutinar pesquisadores, professores, intelectuais (distantes ou próximos da realidade e prática social) e, ao mesmo tempo, apresentar este universo de “Congresso” a estudantes universitários, alunos em fase de iniciação de pesquisa etc. Aconteceu entre os últimos dias 14 a 16 de outubro, coincidentemente, no feriado do dia do Professor.
            Falo de um Congresso Brasileiro e, como tal, que nos permite imaginar a presença de pessoas – com o perfil acima – de todo o Brasil, de pessoas que, talvez, conheçamos apenas por livros.
            Falo de um Congresso Brasileiro de Aprendizagem, um tema que a história da humanidade sempre registrou, desde o pensamento mais positivista e “comportamentalista” até o mais revolucionário, com compromisso social e popular. Portanto, um tema importante para a humanidade.
            Discutir a aprendizagem (um universo significativamente grande) em nível nacional em um congresso. Isso acontecendo na região nordeste do Norte brasileiro. Ao “pé” do Cartaz, uma importante informação: “O Maior Congresso Universitário do Norte do País”.
            Sim... isso vale a pena divulgar, em que pese as reflexões sobre a possível poluição nas paredes (inclusive de sala de aula) de uma Universidade Pública.
            Se não fosse por alguns detalhes...:
Inicialmente, falando do cartaz, algumas informações são um tanto quanto “relevanteadas” (ou seja, tornadas mais relevantes que outras). Um exemplo são as atrações nacionais (sim, é importante divulgar a parte cultural de um evento desta magnitude): Mulher Melância (assim mesmo, com acento circunflexo) e Bonde do Tigrão são as principais atrações e divulgadas com espaços significativos no cartaz.
Por outro lado, logo abaixo (no cartaz) a programação de “palestrantes” (é nisso que se ocupa o Congresso... palestras). Até conseguimos ler os nomes dos palestrantes mas, para saber qual tema irão abordar, temos que nos aproximar do cartaz... Não apenas eu, no alto dos meus 42 anos (e usando óculos), mas também todos os que eu perguntava, com o cartaz na mão, “qual é o primeiro tema de palestra?”.
Desta programação destaco o empresário, arquiteto e urbanista (fonte Times New Roman 0,5) Herlon Oliveira, que versará sobre “A Tecnologia a Serviço da Construção Civil e da... Preservação do Patrimônio Histórico”... bem abaixo das atrações acima citadas.
Pode ser que eu esteja ficando velho, mais conservador do que revolucionário (aprendiz de lutador do povo é assim, precisa compreender e enfrentar suas incoerências e contradições). Mas segui compreendendo o cartaz.
As fotos? Além, claro, das atrações culturais (sic!) e dos rostos dos palestrantes (cada um no seu devido tamanho e... perfil), fotos o Hotel (de lado, do alto), foto “da galera” (talvez do CONAP anterior) e das inúmeras outras paisagens locais. E outra informação importante: “Certificado de 30 h e Muito mais...” Muito com “M” maiúsculo...
Não satisfeito, vou ao site do evento (tenho que divulgar...): www.portalconap.com.br. Logo de cara, a festa do Bonde do Tigrão: CONAP FANTASY, na qual “o uso de fantasia é obrigatório”. Para além do óbvio que poderíamos aqui apresentar (as fotos, a programação cultural – valei-me! – os links de interatividade etc.), uma enquete:
“Qual será seu estado civil no CONAP?” e as caracterizações: solteiro – sinal verde; enrolado – sinal amarelo; casado – sinal vermelho. Claro, resolvi votar. Bom, até o momento, casado que sou, pelo menos não sou minoria. Mas, quase ¾ dos votantes já anunciam: o sinal está verde.
Bom...
A sujeira dos cartazes diminuiu um pouco na Universidade. Mas eu ainda fiquei pensando sobre a minha atitude de retirar todos os cartazes que encontrei do CONAP e o prefácio de Paulo Freire que colocamos neste artigo.
O Universal Circo Crítico não é, absolutamente, contra a liberdade de expressão, de organização, de pensamento científico e coisa e tal. Entendemos que temos projetos de homem/mulher, sociedade, mundo e Circo antagônicos deste CONAP. Mas, mais do que isso (e, talvez, por isso mesmo) estamos em trincheiras opostas.
Um congresso assim não pode se alcunhar de “Aprendizagem” e, muito menos de “Congresso Universitário”... Pode ser o “maior outra coisa”...
Mas, precisávamos dividir isso aqui, neste picadeiro...
Fica nossa palavra de ordem: Por uma Educação (que envolve aprendizagem) Popular, Nacional, Unitária e Revolucionária!
Viva (ainda que não exista... ainda) O Congresso Brasileiro dos Lutadores do Povo, a qual este picadeiro será sempre signatário.

Venham Todos!
Venham Todas!

Vida Longa!

Marcelo “Russo” Ferreira

6 comentários:

  1. Esclarecedor o texto Marcelo. Parabéns pela continuidade do CIRCO!!!

    Renilton.

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  2. Robson Bastos24 outubro, 2011

    É meu camarada, essa “colonialidade do saber e do ser” não está presente apenas nos programas dominicais. Trata-se de uma vulgaridade total desse tal chamado “multiculturalismo”, em que o “ecletismo” de saberes invade os campus universitários com uma força absurda, e o que é pior, com o aceite de muitos “intelectuais” que se julgam acima do bem e do mal.
    Agora, eu discordo de você em uma coisa (talvez por não ser tão velho rsrsrsr), essas manifestações descompromissadas com a emancipação dos oprimidos educam sim! Tratam sempre de lembrar, fortalecer, estimular, fomentar o papel da mulher na sociedade e o lugar do/a jovem na relação com o conhecimento, uma relação que historicamente vem sendo combatida, mas que sempre se reestrutura e se infiltra das mais diferentes formas nas mentes da classe trabalhadora. Um outro exemplo disso é os jogos multicampi que a PROEX está organizando para o próximo ano na UFPA (vai uma provocação para o seu próximo texto)
    Parabéns pela análise nesse Universal Circo Crítico!!!

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  3. Há muito tempo não li um texto que fizesse me sentir mais aluna que professora, aliás por um momento sequer lembrei que sou professora. Compreendo seu olhar, mas tmb me lembro de bons seminários misturados com festa, paquera, bares, nunca foi significado de não querer estudar, participar de fato, mas é também que de repente a universidade é a maior parte da nossa rotina. Talvez o desejado seja simplesmente juntar tudo...
    (Claro que prefiro Nação zumbi, Cordel do fodo encantado, Zeca Baleiro, etc.)
    Mas é fato que nos mesmo ambientes de shows escolhi meu tema de iniciação científica, troquei experiências... cresci.

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  4. Caro Renilton...
    Mais do que tentarmos sermos esclarecedores, precisamos vencer a construção de eventos realmente formadores...
    Grato por sua visita ao nosso picadeiro.
    Vida Longa!
    abraços!

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  5. Caro Camarada, amigo, padrinho Robson...
    Velho, é uma grande verdade o que disseste. Claro que isso nos escapou em nossas reflexões, tanto quanto concordamos em Piruteas, mágicas e palhaçadas contigo.
    E a provocação está aceita, até porque somos parceiros nesta trincheira.
    Abraços
    ha braços!
    Vida Longa!

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  6. Olá, querida Suellen.
    Tens razão. A festa, a celebração, a paquera nos eventos são sempre importantes. Nunca fui a um evento científico sem curtir os amigos. Aliás (e o camarada Robson é testemunha e protagosnista disso, assim como muitos de nossos artistas e público), é na festa, na celebração, na dança, na música, nas caminhadas e marchas que sempre celebramos nossa capacidade de lutar e, como educadores/as que somos, a de construir e formar novos lutadores do povo, sendo sempre formados para tal.
    Ficamos felizes das significativas contribuições neste nosso texto.
    Abraços
    Há braços!
    Vida Longa!

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O Universal Circo Crítico abre seu picadeiro e agradece tê-lo/a em nosso público.
Espero que aprecie o espetáculo, livre, popular, revolucionário, brincante...! E grato fico pelo seu comentário...
Ah! Não se esqueça de assinar, ok?
Vida Longa!
Marcelo "Russo" Ferreira