“Futebol é uma alegria que dói”
(Eduardo Galeano)
Lá pelas bandas de 1998, às vésperas da Copa do Mundo da França e, também, das eleições presidenciais e de governos estaduais (que, à época, ainda manteve a população brasileira sedada pela política neoliberal de FHC), escrevia um texto que foi presenteado ao Movimento Estudantil de Educação Física que, também, estava às vésperas de mais um Encontro Nacional de Estudantes, que ocorria em Brasília.
Do ponto de vista de idéias gerais, um ano de derrotas: o Brasil perdia a Copa para a França (nem dei muita bola), FHC se reelegia no primeiro turno (e tempos sombrios se avizinhavam), e a Lei 9696/98 (que regulamentava a Educação Física e pela qual lutamos, incansavelmente, contra) fora aprovada.
Mas, ainda assim, num “verso” permanente “É ano de Copa! É ano de eleição!”, ia discorrendo sobre as idas e vindas que a Copa e as Eleições, no mesmo ano (e assim se seguirá até que o Brasil não vá mais a uma Copa –isso pode acontecer, olha a Venezuela evoluindo no futebol – ou um novo Golpe de Estado acabe com as eleições... ou os dois), conduziam o imaginário e o destino de uma nação e seu povo.
Mas, estamos nos aproximando de um contexto bastante adverso e, há tempos, nossos artistas, parte de nosso público, já vinha perguntando: “E aí? Quando teremos uma pelada no intervalo dos espetáculos do Universal Circo Crítico?”... já era hora.
Da arquibancada é uma expressão que traduz, para nós, uma posição particular, mas que reflete o estado da arte de nosso povo em relação à suas práticas corporais: assistimos (e pagamos, algumas vezes, bem caro) a estranhos espetáculos esportivos, não apenas do futebol; da arquibancada, assistimos a uma série de movimentos que, cada vez mais, institucionalizam a violência em nome do esporte, do símbolo, do ídolo; aliás, da arquibancada, assistimos (algumas vezes, incrédulos) a uma infinidade de atrocidades, barbaridades (barbárie?) profundas ditas pelos heróis esportivos de nossa nação, algumas vezes seguidas de choros maquiados e bem orientados de humildade e arrependimento; da arquibancada – e apenas dela – nos manifestamos independente do que as grandes marcas, a grande mídia esportiva e os dirigentes esportivos querem que saibamos.

É da arquibancada que nossos artistas e estimável público se manifestará, pois a arquibancada ainda consegue ser, em que pese as forças expressas por sinais de intolerância e violência explicitada em defesa de símbolos privados (os clubes que torcemos), um lugar e um tempo de democracia e liberdade (verdadeira) de expressão. Algumas vezes até poderão arrancar os nossos cartazes de “todo mundo sabe, até o reino mineral, que a FIFA rouba! E não tenho que provar nada...”, independente de filmarem (e não vão filmar).
Da arquibancada, nós passaremos a nos expressar vez por outra: dos trabalhadores que, hora aqui, hora ali, entram em greve por melhores condições de trabalho e salário, nas praças e estádios esportivos em construção para a Copa e os Jogos Olímpicos.
Da arquibancada, denunciaremos a violência que a Mídia Esportiva conduz na construção dos heróis sem missão e heroínas sem humildes para defender (e, muitas vezes, são, os “heróis e heroínas” vítimas também).
Da arquibancada, viajaremos sobre os guetos que, assim como na África do Sul, são construídos para afastar a população pobre não apenas das modernas praças esportivas, mas de seu caminho, como vem acontecendo principalmente no Rio de Janeiro, em que comunidades inteiras recebem ordens de despejo para o dia anterior, pois por cima de suas casas (de 10, 20, 30 anos) passará uma via de acesso.
Da arquibancada, falaremos dos demais projetos faraônicos que existem, transformando um esporte alienador e fortalecer de fronteiras sociais em “projetos sociais”, como está surgindo aqui, onde nosso Circo tem sua lona armada, na Universidade Federal do Pará, com algo que vem sendo divulgado como “o maior evento esportivo promovido por uma única universidade no território brasileiro” (fala de um “coordenador”, publicada no site de notícias da UFPA, mas que não encontramos mais... meio estranho isso).
Pano p’ra lona tem... já estávamos em débito com este compromisso.
Venham Todos!
Venham Todas!
Vida Longa!
Marcelo “Russo” Ferreira
PS.: PAra quem não conhece, o Livro de Eduardo Galeano, "Futebol ao sol e à sombra" é uma obra magnífica, para amantes e pesquisadores do tema Futebol...!