RESPEITÁVEL PÚBLICO!

VENHAM TODOS! VENHAM TODAS!

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Dilemas das Relações Sociais: a juventude!



“esse silêncio todo me atordoa /
atordoado, permaneço atento.”
(Gilberto Gil e Chico Buarque)




            Jovens vão a shows, bebem, alguns usam drogas de todo tipo, saem em seus carros e motos a tiram vidas violentamente.
            Jovens atacados por jovens em Universidades e escolas país afora! Ora com facas, ora com capacetes.
            Jovem que entra em escola (onde estudou por cinco anos) e atira, não tão indiscriminadamente, em crianças que estão em sala de aula.
            Gangues numerosas (em quantidade – 25 só na capital paulista – e membros) racistas e homofóbicas crescem nos grandes centros urbanos e atacam indiscriminadamente pelas ruas destas cidades, “exportando” suas práticas e violência.
            Jovens participam de festas que prometem “brindes” (um colar, um ingresso para show) para as meninas que mais ficassem com meninos, em MG.
            Jovens que não conseguem sair do mundo das drogas, do crack e que são mais vítimas do que algozes, mas, mais fácil para nossa sociedade é vê-los como algozes, bandidos e criminosos e, desta maneira, mais fácil pensar em seu extermínio.
            E o esporte, este altar da educação, paz e saúde e que reiteradamente é palco de racismo e homofobia, agora coloca o voleibol brasileiro na berlinda que, até pouco tempo, só noticiava o futebol como palco destas expressões. O atleta Michael dos Santos (Vôlei Futuro), assumidamente homossexual, sendo achincalhado impiedosamente em partida realizada em Contagem/MG.
            Por outro lado (mas do mesmo lado), representantes públicos falam abertamente em imunidade parlamentar para defender a tortura, a homofobia, o racismo, ao ponto de incitarem o ódio até mesmo ao Continente Africano, vítima de uma ocupação européia de séculos a fio e que levou ao seu povo a guerra, a doença, a tristeza, a miséria.
            Já a mídia tupiniquim brinca, espetaculariza, banaliza e comercializa a tal ponto estes fatos que sequer percebemos o absurdo “jornalismo da exclusividade” na tentativa de entrevistar uma criança, saindo abalada da escola, tremendo até a alma, e saber o que aconteceu dentro da Escola Tasso da Silveira, no Realengo/RJ.
            Mídia e Estado (por suas representações públicas, típicas da democracia representativa) investem, e não assumem essa responsabilidade, na divulgação de valores racistas, consumistas e de uma desumanidade tacanha e individualista.
            Basta passearmos pelas ruas, a pé, de carro, de ônibus e percebermos as informações visuais e “escutacionais”. Outdoors de “popozudas” (mulheres de costas e em posição erotizada) ou com a proposição de produtos de padronização de beleza e juventude.
            Comerciais e programas regulares da TV aberta e fechada enfatizam, insistentemente, o TER em detrimento do SER, onde você é o que tem e (que ironia) não o que é.
            A tempos este nosso espaço, nossos artistas e público vem refletindo com mais cuidado estas questões, destacando que temos a sincera, humilde mas CONVICTA sensação: vivemos um tempo em que nossa juventude não tem esperança. E o que é esperança?
            Esperança é aquilo que todos sabemos e não temos a mínima ideia de como tê-la. É compreender que é possível e necessária uma vida melhor para todos e todas. É viver o presente, acreditando no futuro sem enterrar o passado. E o combustível, a força, a principal disposição de fortalecimento da esperança, para nós, é a indignação. Não aquela que nos toca momentaneamente... mas a que nos conduz diuturnamente nossos valores e atos.
            É olhar para os malabaristas e não esperar a hora de aplaudir seus feitos. É olhar para o domador e entendê-lo em sintonia com a natureza, e aplaudir esta sintonia. É rir com o palhaço e com suas brincadeiras e estas não são nem homofóbicas, nem racistas.
            Esperança é não apenas dizer o que espera do futuro, mas o que esperamos e fazemos do presente e o que necessitamos do passado, este também necessário.
            O fato de o Universal Circo Crítico ter esperança na juventude não nos impede nem nos desresponsabiliza da obrigação de denunciar: nossa juventude perdeu a esperança. E esta denúncia é, também, nosso sinal de esperança.
            O Universal Circo Crítico segue em “respeito silencioso”, daquele silêncio que ensurdece. Perdemos, dia a dia, jovens e mais jovens. E não falamos apenas daqueles que tombam: nosso artista Leonan, as crianças do Realengo, os jovens mortos pelas gangs racistas e homofóbicas. Falamos, também, daqueles que estão vivos, perdemos e deixamos seguirem seus caminhos... sem esperança.
            Venham Todos!
Venham Todas!... é necessário!
Marcelo “Russo” Ferreira
           

8 comentários:

  1. Infelizmente tenho que concordar que, não só os jovens, mas principalmente eles, perderam a esperança... E desse modo acabaram matando asfixiados seus sonhos suas perspectivas e em alguns casos lamentáveis a vontade de viver.
    Se não levarmos a sério essas questões continuaremos a caminhar rumo a auto-destruição...

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  2. Patrícia Menezes11 abril, 2011

    Bom...Se eles perderam eu não perdi nem perderei jamais. Tento todo dia "reacender", dentro da minhas possibilidades, o sonho, a esperança, a vontade de viver, a alegria, mesmo que eu nem sempre esteja me sentindo assim. Eles ainda têm tanto pela frente. Minha maior recompensa é olhar pra eles e ver seus olhos brilharem...Eles são como estrelas!Nunca deixarem de tentar, até o último dia tentarei ajudá-los a manter a estrela brilhando...
    Há braços

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  3. Salve, Salve, Diego...
    Bom saber de ti, já que andas em terras distantes.
    Minha provocação vem de sua história, do espaço que construíste desde 2010: "que a gente possa brilhar!"...
    Socialismo ou Barbárie!
    Vida Longa!

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  4. Paty, querida.
    Tens razão, não podemos perder a nossa esperança. Mas perceba: a reflexão do Universal Circo Crítico é que nossa esperança alimente-se de nossa capacidade de indignação, talvez até mesmo no próprio preceito de Che, comandante.
    Nada de perder a esperança... mas sempre atento à esperança que precisamos devolver aos olhos de nossa juventude.
    abreijos
    Há braços!

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  5. Eula Nascimento
    Marcelo muito profunda sua reflexão sobre a desesperança dos nossos jovens brasileiros, mas no contexto sociopolitico de uma sociedade globalizada, excludente, guiada por razões utilitaristas, o discurso neoliberal possui defesas inauditas, e no seu mais sublime espectro, é defendido para a juventude, como a maravilha do mercado. Dai reflito sobre a necessidade de buscar instrumentos teoricos/praticos, atrelados a formação politica e cultural como possiveis vias de enfrentamento. Acredito que Freire, Cabral, Marx precisam ser lidos,revisitados.

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  6. Olá, Eula.
    Seja bem vinda ao nosso espaço, nossa artista costumaz.
    Acho que Patrícia nos ajuda neste sentido, mesmo não citando as re-visitas que sugeres e da qual o Universal Circo Crítico é contemporâneo.
    Enfrentar o fetiche, o individualismo, a competição exarcebada o "tudo e agora" são enfrentamentos que, como educadores que somos, nos deparamos todos os dias... E repito: que nossa indignação seja nossa força e esperança.
    Abraços
    há braços!

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  7. Acho que ouvi esse discurso em outrora ocasião! É sempre um prazer e com grande curiosidade que leio os teus textos! Especialmente em um assunto tão delicado como o desse rapaz( que assasinou as crianças)que está em foque, concluo com minha opnião: além de possivelmente ter sofrido de bullying e não ter superado seus traumas, certamente esse rapaz perdeu suas esperanças enquanto pessoa participante no crescimento da nossa sociedade. É mesmo uma pena, quanto a nós professores cabe as palavras de Patrícia estar sempre "acessos" para dar gás às mudanças necessárias.

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  8. Olá, PAula.
    Nosso Circo é composto, em sua maioria, por educadores de todas as horas. E, claro, a educação é realmente nosso instrumento mais forte e significativo para esta luta cotidiana.
    Ver a vítima naquele rapaz não e negar a sua violência e responsabilidade. Mas apenas afirmar sua violência e responsabilidade de seus atos, inevitavelmente nos leva a não compreender do que ele foi vítima. E, aí, a história se repetirá.
    Mais sujo ainda e ver o quanto a mídia disputou espaço e exclusividade para divulgar vídeos e cartas daquele rapaz... a liberdade de imprensa inconsequente. Ela, a imprensa, nunca se sentirá responsável pelos assassinos que a sociedade produz, e da qual ela é a principal instituição.
    Abraços
    Há braços!

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O Universal Circo Crítico abre seu picadeiro e agradece tê-lo/a em nosso público.
Espero que aprecie o espetáculo, livre, popular, revolucionário, brincante...! E grato fico pelo seu comentário...
Ah! Não se esqueça de assinar, ok?
Vida Longa!
Marcelo "Russo" Ferreira