RESPEITÁVEL PÚBLICO!

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terça-feira, 1 de novembro de 2016

Conversa ao pé de ouvido de Dandara...


Do livro "As Lendas de Dandara"
“Que vai ser quando crescer?
 Vivem perguntando em redor
 Que é ser?  É ter um corpo, um jeito, um nome?
 Tenho os três.
 E sou?  Tenho de mudar quando crescer?
 Usar outro nome, corpo e jeito?
 Ou a gente só principia a ser quando cresce?
 É terrível, ser?  Dói? É bom? É triste?
 Ser: pronunciado tão depressa, e cabe tantas coisas?
 Repito: ser, ser, ser.  Er. R.
 Que vou ser quando crescer?
 Sou obrigado a?  Posso escolher?
 Não dá pra entender.
 Não vou ser. Não quer ser.
 Vou crescer assim mesmo.
 Sem ser. Esquecer”
 (Verbo Ser – Carlos Drummond de Andrade)




Salve, Salve, muitos Salves à nossa Pequena Lutadora do Povo Dandara... Dandara de nossos muitíssimos camaradas Robson e Zaira, a mais nova irmãzinha de Iara e David.
Chegas, hoje... Sim, Chegas exatamente hoje, 31 de outubro.
Chegas como nome de Guerreira em dia de História de Mulheres que lutaram, secularmente...
E nosso picadeiro de terra batida e lona furada de circo celebra sua chegada com o primeiro “conversa ao pé de ouvido” no dia certo... É uma grande festa debaixo desta lona.
E a festa é tanta que, de seu nome, falaremos mais ao final. Por hora, algumas coisinhas que fomos descobrindo deste dia ao qual a sua chegada o faz mais belo e importante.
Dia de saudarmos este que abre as nossas palavras que, talvez, a guiem por algum tempo: Carlos Drummond de Andrade nasceu em um 31 de outubro. Um dos maiores nomes da literatura e poesia brasileira. E, com o poema “Verbo ser” que abre nossos trabalhos, deixamos nossa muito humilde primeira lição: vais crescer, e, te garanto, vais crescer em meio a um universo material e imaterial de pessoas fantásticas, que te recebem com o tamanho da certeza da esperança de um mundo profundamente diferente deste que temos hoje. Tempos estranhos, Dandara. Mas com pessoas lutadoras como e com você... E Luta, sem poesia, digamos assim: até vale a pena, porque a Luta sempre vale a pena. Se se vier com poema.
Então escreva, escreva, escreva muito, pequena Dandara... tudo que vier a sua cabeça, tudo que estiver à sua volta, todos os sonhos que você tiver e, também, aqueles que alcançar...
Escreva como a “Palavra Mágica” de Drummond:

“Certa palavra dorme na sombra de um livro raro
 Como desencanta-a?
 É a senha da vida a senha do mundo.
 Vou procura-la.
 Vou procura-la a vinda inteira no mundo todo.
 Se tarda o encontro, se não a encontro, não desanimo,
 procuro sempre.
 Procuro sempre, e minha procura ficará sendo minha palavra”

O Dia 31 de outubro, claro, tem a música, que sempre fará parte destas conversas inxiridas que temos feito. E, pra ti, hoje, acho que é quase que uma “cantata ao pé de ouvido”, de tanta coisa bacana... Bom, separamos algumas coisas ao gosto deste picadeiro, é verdade.
Uma cantora, negra, a segunda a ser agraciada pelo Óscar americano, Etha Waters também nasceu em um 31 de outubro. Sabemos muito pouco dela, na verdade. Uma de suas principais canções “His eye is on the Sparrow” (Seus olhos estão no Pardal) é um de seus trabalhos mais conhecidos. Tem até uma cena de um filme de nossa (minha, de seus pais) infância e juventude – Mudança de Hábito – em que esta canção é ME-LO-DI-O-SA-MEN-TÉR-RI-MA-MEN-TE entoada nos nossos ouvidos pela ainda jovem atriz Lauryn Hill...
Mas, de mais importante desta mulher – Etha – é que ela venceu um dos (ainda) mais conservadores e racistas eventos do cinema americano nos anos 1950 – atriz coadjuvante, o Oscar... e como atriz coadjuvante.
Bom... nosso picadeiro de terra batida e lona furada de circo, sempre dissemos, é laico. Mesmo este que vos fala sendo ateu, não negamos nem um pouco o que é belo na história da humanidade. E, por isso, deixemos nosso presente, da própria voz de Etha Waters.



Dandara... vamos aqui dar uma dor de cabeça a seus pais e a seus vizinhos... Porque dois bateristas de duas bandas que este inxirido falador gosta muito, que acompanharam parte de minha adolescência, nasceram em 31 de outubro.
Primeiro, Bob Siebennerg, baterista do Supertramp, uma banda que fazia de teclados, pianos e vozes de tons altos e baixos um rock’n’roll particular e belo. E Larry Murray Jr., baterista da sempre presente banda irlandesa U2.

Bob à esquerda, Larry à direita...

Aliás, tem outro baterista, Mikkey Dee, do Motörhead... mas a gente reconhece aqui, rockeira e humildemente: não conhecemos ainda o trabalho deles.
Mas o Supertramp e o U2, sim... e principalmente uma das batidas mais conhecidas por bateristas amadores e profissionais dos anos 1980 pra cá: Sunday Bloody Sunday foi uma canção que foi entoada pela juventude durante anos 1980 e que também significava um grito contra injustiças cometidas pelo Estado... neste caso, o Estado Britânico, na Irlanda.
Uma passeata pacífica em 1972, com 10 mil manifestantes e soldados do exército armadas no caminho, com um único propósito... E anos depois, U2 vem com uma canção que é um verdadeiro e completo poema não apenas sobre aquele “domingo”, mas também sobre a humanidade.

https://livingiseasywitheyesclosed1.wordpress.com/2014/10/17/sunday-bloody-sunday-u2/


Vemos isso o tempo todo por aqui, Dandara. Por isso dissemos que chegas em tempos estranhos e tensos, Mas, também, em meio a pessoas que são profundamente comprometidas com o povo, com os injustiçados, com os trabalhadores... e por isso sempre cantamos as canções necessárias.
E por isso, deixamos este mais uma lição, mais do que um presente... E que outras canções possam ser cantadas por ti, em sua juventude.



De tantos que chegaram em 31 de dezembro, há que tenha partido também, Pequena Dandara. E nossos humildes artistas chegaram ao consenso: neste caso, uma partida que honra a sua chegada. Indira Gandhi, filha do grande e histórico pacifista indiano, Mahatma Gandy.
Uma mulher de liderança política, em um país patriarcal. Premiada com o Prêmio Lenin da Paz (1983-1984), num claro reconhecimento por seu trabalho em defesa do fortalecimento da paz entre os povos. Uma mulher pacifista em um país patriarcal, claro, incomodava... e muito.
Mas é de sua perseverança na educação que tiramos uma grande lição de Indira. É atribuída a ela uma manifestação sobre este tema: “A Educação é uma força libertadora, e na nossa idade uma força democratizante, atravessando as barreiras das classes sociais, suavizando as desigualdades impostas pelo nascimento e outras circunstâncias”.
Assim, pequena Dandara, nunca tenha como “causa natural” as coisas da vida. Sempre procure saber o porquê de cada coisa, situação, fato, história. É assim que sempre agiremos com o mais próximo da justiça.
E nossos artistas também celebram 31 de outubro por seu próprio picadeiro. Mesmo sendo o dia de partida de um dos maiores mágicos do mundo (Houdini), é para nós um grande orgulho poder celebrar essa “conversa ao pé de ouvido” contigo, Pequena Lutadora do Povo Dandara, com algo que está presente neste picadeiro de terra batida e lona furada de circo.
– Opa, Opa! Esta é minha chamada!
– O Espaço é todo seu, meu caro Mágico das Lutas Trabalhadoras!
– RESPEITÁÁÁVEL PÚBLICO! AGORA, A MAIOR DE MINHAS MÁGICAS! O MAIOR CORAÇÃO DO MUNDO SAIRÁ DESTE PEQUENO PICADEIRO PARA CELEBRAR DANDARA!!!!



Mas, o principal deixamos pra agora, nossa Pequena Lutadora do Povo Dandara... Ou seria, nossa “Pequena Rainha Lutadora do Povo”?
Dandara... poucos nomes seriam tão justos, perfeitos, históricos.
A esposa de Zumbi, dos Palmares, tão guerreira e liderança quanto ele. E, numa sociedade como a nossa, machista e patriarcal, em que a história é contada e escrita por homens, brancos, ricos, até mesmo a história de Dandara, mesmo se tratada como mito, tem uma verdade profunda.
Há quem diga que ela é uma expressão de várias lideranças negras e quilombolas, enquanto outros apenas afirmam a falta ou escassez de dados e fontes. Mas, inquestionavelmente, seu nome, Pequena Dandara, está envolta à luta de hoje e sempre, contra o racismo, o machismo e todas as formas de opressão.
Assim, a gente aqui sugere a Robson e Zaira que, após as leituras de fuxico nosso em seu ouvido, que também conte as Lendas de Dandara:



E chegas Dandara em 31 de outubro.
Há quem diga, pelo sentido comercial e estrangeirizado da data, que é o Dia das Bruxas.
Pois bom... que seja.
Afinal, as bruxas sempre foram, à bem da verdade, protetoras da terra, defensoras dos direitos e auto-falantes da verdade. Amavam os rios e os animais, como amavam a lua e o sol. Eram, as bruxas, mulheres de conhecimento infinito e, por isso, lutavam contra a ignorância do povo, dando voz as vítimas das atrocidades dos poderosos.
Essas eram as bruxas, durante séculos. Lutavam contra o que ainda se luta hoje.


O Dia das Bruxas? Nem chega aos pés desta história.
No Brasil, e com muita justiça, é o Dia do Saci-Pererê... o Saci que persegue no mato, fazendo fumaça, fumando cachimbo e que quase despido, pula, some e dança, como criança. Segue seu destino e se esconde na floresta.
E, com ele, vem Matinta Pereira, A Mulher do Alicate, o Curupira e uma infinidade de lendas que, no final das contas, representam ao seu jeito as mesmas lutas das Bruxas na história da humanidade.

Retrato do Saci-pererê" (2007) por J. Marconi

É Pequena e Majestade Dandara... vale muito a pena celebrar sua chegada em 31 de outubro. É por isso que estamos em festa...


  
Vida Longa, Vida Longuíssima, Pequena Dandara...
Vida Longa!

Venham Todos!

Venham Todas!


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Marcelo "Russo" Ferreira